Reza a lenda que Evan Hunter
passou por 13 editoras com o manunscrito de Sementes
da Violência tendo sido constantemente rejeitado. Isso aconteceu a muitos
grandes escritores com obras que depois viraram clássicos. Entretanto, acredito
que eu, no lugar dele, teria refito toda a obra porque treze opiniões negativas
de “profissionais”, queiramos ou não, são tremendamente desmotivadoras.
Provavelmente (a hipótese ponho eu) os editores, que lhe rejeitaram a obra,
apontaram a partes diferentes dela para criticar o todo, de maneira que ele
soube juntar os pedaços, fazer as contas e perceber que obra não peca, só que
não satisfaz o gosto de todos. Sementes
de Violência não é o melhor trabalho literário do mundo, mas é tão bom que
traz a pergunta: onde raio tinham a
cabeça os editores que rejeitaram o manunscrito?
A trama central é sobre Rick, um
professor idealista e cheio de sonhos que acredita ter poder para mudar o
mundo, começando no entanto pelos círculos mais pequenos: o grupo de alunos das
suas turmas, que espera que alarguem essa influência às suas comunidades,
depois às sociedades, e assim por diante até cobrir o mundo. Rick é este
idealista a quem calhou a sorte de ter caído talvez no pior sistema de ensino
americano: a escola técnica de um bairro social.
Rick tem de lidar com
adolescentes, a maioria filhos de emigrantes, que la fora são inimigos uns dos
outros, mas dentro juntam-se contra um inimigo comum: o próprio sistema de
ensino, personalizado pelos professores.
Hoje essa história é muito vulgar
porque já a vimos explorada em livros, filmes, séries e muitas outras espécies de arte que se valem da narrativa, e perdemos de conta as várias versões que
vimos, entretanto, apesar disso, Sementes
de Violência, ainda mantém o seu brilho, eu disse ainda, porque o livro é
de 1943, e com alguma probabilidade foi o primeiro a versar sobre o tema.
A crueza da realidade descrita,
as análises e auto-análises de Rick, por vezes vestindo a capa dos alunos para
tentar ver pelos seus olhos, tornam Sementes
de Violência ainda mais interessante. E o final realista do livro também
contribui imenso para lhe acrescentar o seu valor; não os dá um e foram felizes para sempre, ou uma
perspectiva do género, mas… enfim, leiam o livro.
Sementes de Violência é um livro para ler, um livro com
ensinamentos e cheio de informações, com personagens bem construídos e
estranhamente, tirando uns poucos maniqueisticamente desenhados para não
gostarmos deles (e mesmo esses), conseguimos criar empatia com todos. Vale bem
as horas empregues.