3 de fevereiro de 2012

SEMENTES DE VIOLÊNCIA, Evan Hunter (1954) - 'des'construindo uma sociedade


Reza a lenda que Evan Hunter passou por 13 editoras com o manunscrito de Sementes da Violência tendo sido constantemente rejeitado. Isso aconteceu a muitos grandes escritores com obras que depois viraram clássicos. Entretanto, acredito que eu, no lugar dele, teria refito toda a obra porque treze opiniões negativas de “profissionais”, queiramos ou não, são tremendamente desmotivadoras. Provavelmente (a hipótese ponho eu) os editores, que lhe rejeitaram a obra, apontaram a partes diferentes dela para criticar o todo, de maneira que ele soube juntar os pedaços, fazer as contas e perceber que obra não peca, só que não satisfaz o gosto de todos. Sementes de Violência não é o melhor trabalho literário do mundo, mas é tão bom que traz a pergunta: onde raio tinham a cabeça os editores que rejeitaram o manunscrito?

A trama central é sobre Rick, um professor idealista e cheio de sonhos que acredita ter poder para mudar o mundo, começando no entanto pelos círculos mais pequenos: o grupo de alunos das suas turmas, que espera que alarguem essa influência às suas comunidades, depois às sociedades, e assim por diante até cobrir o mundo. Rick é este idealista a quem calhou a sorte de ter caído talvez no pior sistema de ensino americano: a escola técnica de um bairro social.

Rick tem de lidar com adolescentes, a maioria filhos de emigrantes, que la fora são inimigos uns dos outros, mas dentro juntam-se contra um inimigo comum: o próprio sistema de ensino, personalizado pelos professores.

Hoje essa história é muito vulgar porque já a vimos explorada em livros, filmes, séries e muitas outras espécies de arte que se valem da narrativa, e perdemos de conta as várias versões que vimos, entretanto, apesar disso, Sementes de Violência, ainda mantém o seu brilho, eu disse ainda, porque o livro é de 1943, e com alguma probabilidade foi o primeiro a versar sobre o tema.

A crueza da realidade descrita, as análises e auto-análises de Rick, por vezes vestindo a capa dos alunos para tentar ver pelos seus olhos, tornam Sementes de Violência ainda mais interessante. E o final realista do livro também contribui imenso para lhe acrescentar o seu valor; não os dá um e foram felizes para sempre, ou uma perspectiva do género, mas… enfim, leiam o livro.

Sementes de Violência é um livro para ler, um livro com ensinamentos e cheio de informações, com personagens bem construídos e estranhamente, tirando uns poucos maniqueisticamente desenhados para não gostarmos deles (e mesmo esses), conseguimos criar empatia com todos. Vale bem as horas empregues.
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