13 de setembro de 2010

NEGRO QUE QUIS VIVER, UM, Richard Wright, (1945) - contrariando os deuses


Um Negro que Quis Viver (Black Boy, no original) de Richard Wright, é uma leitura espectacular. Um livro enleante e sugestivo que nos prende logo na primeira página através da perspectiva de um puto de quatro anos. 


O narrador com um estilo arrebatante, uma prosa fácil, e muitas vezes poética, e um humor peculiar, consegue fazer-nos sentir que valeu a pena as horas gastas com o seu livro.

Um Negro que Quis Viver é uma história de luta, de revolta, uma história da metamorfose da inocência, enfim, uma história que podia ser usada numa conferência com o tema: como levantar a cabeça estando enterrado na merda. O livro leva-nos a perguntas como: por que razão para vivermos em paz temos que estar sempre de acordo com o que os outros querem? Até que ponto somos diferentes uns dos outros (por exemplo, temos cenas de pretos oprimidos pelos brancos a oprimirem por seu turno os judeus)? Por que temos de limitar as nossas ideias só porque outros não concordam connosco? Até quando vamos ter de agir por conveniência? Enfim, muitas outras perguntas.

O livro é autobiográfico, e para mim é a biografia mais literária que alguma vez li... falo assim, porque a vida de qualquer pessoa pode dar um livro, mas a forma de contar essa vida... recomendo que se leia o livro para perceber o que quero dizer. Pode até ter sido que ele inventou muitos episódios, porém o mais importante (pelo menos, julgo eu) não é a verdade sobre os factos biográficos terem acontecido com ele, mas os factos em si.

AS MINHAS LEITURAS

Há dez mil anos atrás quando Hi5 era para a comunidade lusófona (e não só) o que é hoje para o mundo o facebook... Ok! Vou recomeçar...

Há quatro anos atrás, porque me tinha sido ofertado uma colecção com 218 livros, da editora Unibolso, porque tinha descoberto um grupo literário no Hi5, e porque estava seco em termos de inspiração (tinha feito uma merda de um romance muito mal escrito com mais de 300 páginas, em apenas dois meses, para um concurso literário que perdi), eu consumia muitos livros e à alta velocidade para resgatar a chama e partilhar com os outros boas leituras, tendo recebido deles boas sugestões também.

Bom, nesse período, escrevia uma opinião sobre as minhas leituras a, pelo menos, um livro por semana, pois chegava, às vezes, a ler quatro por semana, dependendo do volume e da consistência (Saramago costumava ser mais lento de se ler).

Aconteceu, no sábado, ao googlar-me a mim mesmo (quem nunca se googlou?), fui parar a um desses grupos de literatura onde opinado sobre leituras, e resolvi pescá-las para aqui. E vou postar uma primeira.

11 de setembro de 2010

SKETCHUP 8



Há muito tempo que procurava notícias sobre Sketchup 8, queria ser um “beta tester”, mas não tive esse privilégio; porém há umas duas semanas recebi um newsletter da Google a avisar do lançamento do Sketchup 8 e fui imediatamente baixar o programa para testar.

O que há de novo? Bem, eles têm um vídeo a explicar o que há de novo. Mas, para dizer a minha justiça (que pode não ser justa), Sketchup 8 desiludiu-me.


Depois de ter experimentado o Bonzai 3D, que alia a simplicidade de Sketchup à complexidade de Nurbs, julguei que o novo Sketchup traria também os nurbs, mas não trouxe; além disso, há muitos rubys que são extremamente práticos, que podiam ser adoptados tal como aconteceu nas versões anteriores, como ferramentas de raízes e não aconteceu. É certo que as ferramentas novas têm a sua practicidade, mas eu esperava mais, senti-me defraudado, volto a dizer.

O que é de bom, no entanto, é que, experimentando o Sketchup 7 e 8 no meu AMD Athlon de 2002, 256 MB de memória, o tempo de reacção do Sketchup 8 foi menor, não fiz um benchmark, mas posso jurar que o Sketchup 8 responde mais rápido.  Além disso, o pesadelo de modelos pesados é pratica e totalmente resolvido pelo Sketchup 8 (quem já fez modelos grandes com muitos pormenores sabe do que estou a falar, ou quem já usou árvores em 3D muitos detalhados nos modelos), tenho um trabalho de 48 MB, cujos cujos layeres tinha que colocar invisível para só assim poder manejar, o que por vezes criava problemas quando queria usar a opção copiar, pois só se copia os layeres visíveis. Uma operação de normalmente 5 minutos custava-me uns bons 20 minutos no SU7, porém o SU8 (vénias à retaguarda), permite-me manipular esse modelo com todos os layeres visíveis, transformando os 20 minutos em uns 7 ou 8 (comparativamente falando). E funciona com todos os plugins e rubys que funcionam no SU7.

Já o Layout 3 apresenta siginificantes melhorias, mas quanta gente usa o Layout do Sketchup para documentar os trabalhos? Em dois anos, eu só usei uma vez (mas isso sou eu), e 90% dos colegas que usam Sketchup parece que nem sabem que isso existe.

Daí que digo: o Sketchup 8 pode não ter melhorias aparentes à primeira vista, pode me ter desiludido, mas é bem melhor que o Sketchup 7 (estou a chover no molhado). Ah, quem estou a enganar?, vale a pena o upgrade só para melhorar o tempo da resposta, corrigir uns bugs, e, provavelmente, ganhar novos bugs.

3 de setembro de 2010

PENSAMENTOS INEXACTOS - CAP. IX

ESTAREMOS CONDENADOS?

Muito afastados do Juízo, tentando aproveitar-nos da Razão, distantes cada vez mais do humanismo do homem animal, encontramo-nos agora, de tempos em tempos a modificar as morais, a perverter até mesmo o senso inato do bem e do mal, para adequar os nossos actos aos nossos desejos, para dessa maneira dormirmos tranquilos. Escalonamos as nossas falhas em pecados, pecados capitais e pecados mortais, para assim nos convencermos que um pecadinho é só meio pecado, como se pudesse existir um buraquinho que não fosse buraco, ou como se existisse um meio buraco.

Stanley Kubric mostrou que quando começamos a agredir os outros (no início foi por defesa) partimos para o desenvolvimento[1]; Manara, se não estou em erro, desenhou a história do homem sustentada na guerra e no sexo. É por essa razão que me faz mossa tentar perceber por que o humanismo é o que se diz de mais belo no reino animal, se quando deixamos de ser animal e despertamos o nosso lado humano o mundo todo ficou em perigo?

O humanismo aqui não é nenhuma religião nem algum tipo de filosofia; possivelmente aquele senso inato do bem e do mal mas que não contempla apenas homens nossos semelhantes, mas todo o universo alcançado pelas nossas acções. Lei de escuteiro: o escuteiro é amigo de plantas e animais. O escuteiro desenvolve, ou devia desenvolver, o humanismo para, tal como algumas e raras tribos índias, viver em equilíbrio com a natureza, deixar-se envolver por ela e envolver-se nela. Por sermos humanos temos a humanidade, mas vou acreditar que a humanidade não tem nada a ver com o humanismo, vou acreditar que a humanidade é humana, puramente racional e maquiavélica, e o humanismo é animal, emocional e ajuizado.

Não estamos contentes de ameaçar as outras espécies, voltamos para a nossa própria, porque só desse modo poderemos sentir o nosso poder, pois os outros, os irracionais, são indefesos, destruí-los é como bater num bebé, não tem graça e não nos faz sentir forte, mas quando destruímos os nossos semelhantes, aí sim, vem a sensação do poder e com toda a força. E nós somos os racionais. Bonito! Sempre gostava de saber quem definiu o homem como racional, Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray.

Não há conto mais anedótico do que este: homem, ser racional, considerando a Razão defendida por Voltaire ou por Kant algo que libertaria o homem totalmente da animalidade. A Razão que possuímos, ou melhor, a razão que possuímos, tirou-nos da animalidade e amarrou-nos no animalismo. (Que é o animalismo? Leiam o parágrafo mais acima e façam as contas.) Se esta nossa razão é bárbara, tola, infantil e egocêntrica, poderá o homem ser chamado de racional? Comete-se constantemente atrocidade alegando a Razão, mas parece que quanto mais se pensa mais longe dela se fica. Se todo esse nosso pensamento sujo, pecaminoso e cruel é racional, como seria chamado o pensamento de… vejamos quem!... hm, difícil… Madre Teresa (Deus a tenha!, como é hábito dizer n’As Mil e Uma Noites)? Teria ela um pensamento racional ou divinal (eu sei lá se ela era quem mostrava ser, na realidade não acredito no homem, apenas no humanismo)?

Tudo se move, tudo se flui, há sempre o movimento, Heráclito. E todo o universo tende à entropia, não sei qual lei da termodinâmica. Será por isso que a nossa razão é cada vez mais animalista? Será que em vez de efectuar um movimento no sentido positivo está a fazê-lo no sentido oposto? Termodinâmica é física, a razão não, portanto não me parece que devesse sofrer de um efeito físico. Eu sei que a idade enubla a razão, um processo físico que afecta um processo bioquímico, sensorial e perceptorial (na verdade não percebi bem aquele livro de psicologia), pois os pensamentos e as emoções acontecem no sistema límbico, embora eu vou dizer que um ocorre na cabeça e outro no coração; mas também costuma-se dizer que a idade significa sabedoria, principalmente aqui onde vivo[2], ou seja, o desgaste físico vem acompanhado de desenvolvimento intelectual e não da morte de neurónios. A razão, ainda não percebo por quê, mesmo na sua forma imaterial, tende à entropia. A geração espontânea era racional, o geocentrismo era (e ainda é), a física clássica era suma, até quando...

Estaremos condenados a por razões amorais a destruir o mundo, a destruir os outros, e a destruir o futuro?

Ao libertar-se da animalidade o homem prendeu-se nesta prisão medonha chamada o raciocínio, uma ferramenta que possui, mas da qual não quer fazer bom uso. Acredito que o mundo seria mais doce sem a razão, tanto esta como a outra com R maiúscula, acredito que a vida teria mais gosto de ser vivida. Mas, já que, por infelicidade, a possuímos, então por que não se cultiva a Razão, em vez de andarmos a chafurdar na razão?



[1] 2001, Odisseia no Espaço
[2] Vivia na Guiné-Bissau, o povo guineense costuma usar a idade como sinónimo da sabedoria, porque os idosos eram as nossas bibliotecas e detentores de conhecimentos; a tradição oral era consideravelmente forte, pelo menos até aparecer a televisão; porém nas zonas mais rurais, ainda o idoso mantém o seu estatuto de sabedor inatacável, só podendo perder por um viajado; mas quando se é idoso e viajado, então é-se completamente sabedor.