8 de fevereiro de 2012

OUTRA TERRA, A, 2011 (Another Earth)


Quem me lê está farto de saber que gosto de ensaios filosóficos, mas não gostei d’A Outra Terra, não por causa do tema, mas pela abordagem, porque de repente comecei a sentir-me untado com banha de cobra.

A Outra… parece-me (e é realmente) dois filmes que foram ligados violentamente por choque lateral, resultando daí que as perguntas que poderia ter levantado permaneceram no caixão estiradas. Vejam por vocês mesmos, vou fazer a sinopse:

Rhoda faz um acidente de viação que resulta na morte da mulher e do filho de um músico famoso. Quatro anos na prisão por homicídio por homicídio involuntário ela saí destruída e destituída de propósito. Então para corrigir o passado entra na vida do destruído músico sorrateiramente e acaba por criar um novo propósito para este, ganhando ela mesmo o seu.

Paralelamente, surge uma Terra para lá do Sol, igualzinha à nossa e a tentativa de contactar essa Terra demonstra que não só era uma cópia exacta da nossa, como as pessoas que lá vivem são também reproduções nossas e tiveram o mesmo percurso.

Esta parte das Terras podia criar infinitas interrogações se os argumentistas tivessem trabalhado apenas nessa premissa, porque a outra, aquela de cima, funciona bem e independente desta, mas não o fizeram. E assim A Outra não tem nada a ver com a outra Terra, e quando muito só faz umas sugestões que faz pedir por mais e, sadicamente, não no-lo dá. O filme mesmo é sobre Rhoda e sobre as perguntas que todo o mundo faz: poderia eu ter uma vida melhor que esta? No entanto prometem um espelho que nos podia mostrar essa possibilidade e logo a seguir cobrem-no com um pano e tudo o que podemos fazer é pensar: só podem estar a gozar comigo!

trailer

Não obstante, A Outra… é um filme digestível, não se se bem, não sei se mal, pois tem um ritmo calmo, quase parado, quase disperso, uma ar experimentalista, fotografia granulada que pretende parecer amadora, por vezes destoante (tem cenas em que os cortes mostram fotografias diferentes parecendo ter sido filmadas em cenários diferentes) deixando a questão se aquilo é um erro ou se tem algum propósito estético ou metafórico (como no filme Mary e Max), afinal está-se a falar de, senão duas terras, pelo menos dois estados de espírito.

E realmente não sei qual é mesmo a questão substancial do filme: se a penitência, se a ressurreição, se o poder regenerativo do amor, se “o que faria um outro eu na minha posição?”. Por isso digo, A Outra Terra é uma bela treta, uma banha de cobra, promete-nos algo, deixa-nos a babar por ele, e não tem a decência de no-lo dar, talvez por não saber como, talvez por nem estar aí para isso. 
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