29 de dezembro de 2010

BAUDOLINO, Umberto Eco (2000) - uma história de hoje


Esta visão já tem um ano, só a estou a transcrever.


Fechei Baudolino, de Umberto Eco, um autor muito bom na minha opinião (o que não conta nada, sendo que ele é considerado um dos melhores literatos vivos), que ensina a História e a Filosofia, através das lendas nos seus escritos ao mesmo tempo que vai contando a sua história, pelo menos nas duas das três obras de ficção que li dele: este Baudolino e O Nome da Rosa, mostrando também o fascínio que lhe inspira a Idade Média.


A outra obra que li dele, Apocalípticos e Integrados, diz que detrás da aparente superficialidade com que conta as suas histórias se esconde reflexões sérias, e se esta obra era totalmente académica, a sua revisita em modo mais ficcional, n’A Misteriosa Chama de Rainha Loana, onde ele apresenta um género literário totalmente novo (pelo menos para mim, que não conheço outro exemplo), percebe-se a riqueza das leituras e todo o universo que esse mundo pode conter.

Mas estava a falar de Baudolino. Baudolino, o personagem, é o filho de pobre aldeão que é adoptado por um rei, o arquétipo que a nossa sociedade adora (aquele que os americanos chamariam de self-made-man), o sonho de qualquer pobre, marcando assim o seu lado fabuloso, considerando que os contos de fadas e mitologias diversas estão repletos de personagens como ele. Baudolino é o Gato das Botas (não pensem em Shrek, pelo amor de deus, mas em Perrault), aquele que do nada cria um mundo, tal como um Deus, usando o verbo e mexendo na cabeça das pessoas. Mas ele é humano, rompendo-se assim com as fábulas, não é o pastel bidimensional, mas um homem que por vezes antipatizamos e odiámos e pomos em questão as suas acções. Porém este é Baudolino como personagem.

Baudolino como livro é deveras divertido. A história decorre durante a Idade Média – a Idade das Trevas (como lhe chamam os historiadores) -, as situações e as personagens são tão caricatas que muitas vezes pensámos: como é que as pessoas não viam o embuste atrás disto? Bem, se calhar por que nós da Idade Moderna (Idade da Informação ou das Luzes – não sei como a chamam) somos melhores ilustrados e mais inteligentes. Mas é aí o ponto forte de Baudolino, porque consegue estabelecer comparações e mostrar que somos tão estúpidos, crentes e manipuláveis como os da Idade das Trevas, querendo assim dizer que, provavelmente somos ainda mais estúpidos do que aqueles, porque embora tenhamos informação, deixamo-nos manipular, ou por outras palavras, por sermos muito informatizados, a manipulação vem através dela, tal como na Idade Média ela acontecia pela religiosidade. Em suma, pode-se dizer: os deuses mudaram, mas as pessoas não.

Baudolino viaja pelas lendas cristãs, tal como o Santo Graal, o santo Sudário, entre outras asnices do universo mitológico cristão, inclina-se sobre o espírito universitário, que, surpresa!, ainda não mudou séculos volvidos, ainda olha para a relação do poder entre os reis e reinos (hoje países e políticas), do qual vou citar um episódio: um rei apoia um povo para construir uma cidade, depois alia-se à outra cidade para atacar aquela que tinha ajudado a construir (isto não passa nos noticiários hoje?).

Baudolino não é daqueles livros que te obrigam a voltar a página seguinte com a avidez de o que vem depois, mas instiga a curiosidade obrigando-se a ser folheado por: o que vai inventar depois o personagem (acaba por ser o mesmo, não?). 

Baudolino parece um conjunto de contos, e se calhar é, mas é um romance, uma relegenda de lendas. Uma das grandes perguntas ao ler o livro é: até que ponto o que sabemos corresponde ao que é?



E Baudolino é atemporal, as reflexões que pode despertar sobre os homens de outrora e a forma de agir deles estampam-se à perfeição àquelas que devemos fazer sobre os homens hodiernos.

Baudolino é uma leitura obrigatória para qualquer cristão, considerando que fala da religião, e para qualquer um com olhar para a actualidade.

25 de dezembro de 2010

SÓCIO PERFEITO, O, 1996 (The Associate)

Whoopi Goldberg, aquela mulher, já oscarizada, que já foi um ícone de comédia, provavelmente a preta e a judia mais conhecida nesse ramo de Hollyood durante os anos 90. Hoje não ouço muito falar dela e só tem eentrado em filmes menores (quer dizer, com pouca relevância publicitária), ou em animações, actuando apenas com a voz. Ela era boa no que fazia e era cativante, mesmo quando fazia o mesmo papel em diferentes filmes.

Mas não quero falar de Whoopi, mas sim de O Sócio Perfeito, um filme onde ela participou com Diane Wiest (uma outra actriz que admiro). O Sócio é uma daquelas comédias que não te mata à gargalhada, mas que diverte e que vale o tempo de visualização. Não, não é nenhuma obra prima, e tem tantos lugares comuns como os filmes do género, porém o tema é bastante interessante.


Fazendo uma sinopse: Uma gestora económica é lixada pelo seu subordinante directo que lhe tira todos os louros e acaba despedida. Apesar de muito inteligente e de conhecer os meandros daquele mundo não consegue destacar por um motivo: por ser mulher. O que estou a dizer? Por dois motivos: por ser mulher e, ainda por cima, ser negra. Então ela cria um plano que é inventar um HOMEM BRANCO e fazer-se sócio dele. O resto já sabem, se não viram este filme, devem tê-lo visto em algum outro filme.

Pois bem, o filme é uma forte sátira à sociedade masculinizada e conservadora do mundo de negócios, e uma bela crítica. (Cuidado com spoilers). O filme é todo ele de mulheres, embora os homens apareçam em grande número, mas percebe-se bem que tirando um (o antagonista, que encarna a mundo masculinizado), os restante são só engrenagens para a história avançar.

Temos a protagonista, que já apresentamos. Depois ela tem uma secretária (Diane Weist), tímida e com um ar de parva, mas muito eficiente e inteligente, em quem vemos que a imagem engana e que a falta de oportunidades pode vergar os espíritos (eu disse vergar, porque ninguém liga aos tímidos, preferimos antes os atrevidos e aparentemente desembaraçados, como a protagonista, pois os primeiros parecem passivos).

Temos ainda uma outra mulher, muito inteligente, o que se percebe nos seus diálogos, que não cede, como a secretária, à falta de oportunidades naquele meio, e usa a única arma que acha que tem, a sua beleza para seduzir os homens que triunfam, tornando-se assim numa groupie de luxo.

Ainda temos uma outra mulher, uma repórter (com pouco destaque é claro), que trata do mundo de negócio e detém um grande poder, o poder da média,  mas que se foca mais nos homens, porque mulheres não pertencem às páginas da sua revista.

Ainda temos um travesti a servir de meio termo entre os dois mundo, pois é através dele que tudo se resolve.

A cena final, num clube cujo o salão nunca foi pisado por uma mulher (imagino que não usam "empregadas" de limpeza), vemos todo o preconceito que o filme quer mostrar, as mesas estão todas a ser servidas por empregados negros, o que a câmara trata de destacar, as mulheres, repórteres ou groupies, estão todas fora do salão (isto é redundante).


Ah, quase que me esquecia, ainda temos uma cena onde durante a criação do HOMEM BRANCO pela protagonista, ela lhe quis arranjar acessórios e pensou numa esposa para ele, porque era um acessório necessário, o que resolveu depois não fazer, porque ele estava à procura do AMOR VERDADEIRO que em 67 anos nunca chegou a encontrar, isto, por outras palavras queria dizer, sendo aquele meio como é, é mais provável que os casamentos se realizem por interesse do que por amor.

Não quero dizer que o mundo de negócios, aquele representado no filme, não presta, embora eu não acredite que valha a pena ter mais dinheiro aquele que poderei gastar, mas isso é o que acredito, pois ainda continuo à procura de conhecimentos que nunca poderei usar, ou seja, não sou diferente deles, apenas os objectos de procura são diferentes. Enfim...

O filme é divertido e real, embora pouco realista devido a certas cenas e situações, mas quem quer saber disso? Eu o aconselho senão como uma boa hora de divertimento, pelo menos como motivo para pensar como é injusta a nossa sociedade.


O filme tem já 14 anos, mas será que as coisas mudaram? Duvido, ainda ontem vi n'Os Simpsons (E03S18), de 2006, um episódio com Marge a fazer óptimos trabalhos e o Hommer a levar os louros, porque ninguém queria contratá-la por ser mulher.  

24 de dezembro de 2010

NATAL - LAVAGEM CEREBRAL

Nenhuma sociedade sobrevive sem regras, ou melhor, se a própria natureza é toda ela regrada, ou, se o próprio caos (acreditando no livro de James Gleick) tem as suas regras, não pode a humanidade, mais ínfima do que os dois últimos citado, viver sem as suas regras. 

A ausência de regras, que seria chamado de anarquismo (algo em que não acredito, pelo menos como conceito), não é possível para nós, e pertence ainda (para mim) àquela área por explicar onde entra "por que nascem as estrelas? (tanto as astronómica, como as astrhollywódicas)... estou a tergiversar.

Eu não sou contra as regras, pelo menos aquelas normativas sem as quais a sociedade colapsaria, no entanto as outras, disfarçadas de tradição, que não têm nenhum objectivo prático para as pessoas, senão transformá-las em marionetes causam-me sempre problemas. E uma destas regras chama-se Natal.

Há quem vai dizer que Natal não é uma regra, mas uma celebração religiosa e blá-bla-blá e acompanhar tudo com frases de cartões e tiradas sentimentais, envolvendo famílias, crenças e isso. Eu já fui desse tipo, cresci numa família católica e era muito religioso quando criança (o meu sonho era ser padre). Até os meu 13 gostei de Natal, depois deixou de fazer sentido religioso, quando comecei a entrar em contacto com outras crenças cristãs, como as Testemunhas de Jeová e os Adventistas e analisar o que me diziam, em vez de apenas ouvi-los educadamente. Natal não tem sentido religioso, porque cristammente é uma farsa. E Natal não tem sentido algum, porque historicamente é outra farsa. Sendo então Natal uma farsa, só resta uma alternativa para continuar a ser celebrada: é uma regra. Uma regra sustentada por motivos comerciais. Se no passado quem ganhava era a Igreja, sendo que os crentes acreditavam que a Virgem Maria estaria mais aberta nessa época (não o levem pelo lado ordinário) e seria mais facilmente subornada por presentes para interpor junto a Deus um favor especial ao presenteador, hoje quem ganha são as empresas.

Eu podia gostar de Natal, porque de uma certa maneira deixa as pessoas mais abertas a sugestões sentimentais, o espírito natalício, fazendo-os por momentos acreditar que são capazes de mudar o mundo ou que devem ajudar os mais necessitados, mas não gosto, o espírito natalício é instantâneo e deprimente para aqueles que precisam de ser ajudados. O Natal provavelmente deve ser a altura em que os pobres mais odeiam os ricos, ou mais gostariam de ser ricos, e por essa razão mais embarcam no sentimento de que é normal lixar os outros se o objectivo é atingir a meta moderna: ser rico e poderoso. O Natal é a época onde os meus sobrinhos, de 3 e 5 anos, começaram a sofrer lavagens cerebrais lá na creche que frequentam aprendendo a idolatrar o Natal e a seguir a manada. 

Eu podia gostar de Natal se não fosse uma regra, uma regra que me dissesse que hoje tenho de dar presentes alguém e que sou má pessoa se não o fizer. E eu não gosto de dar presentes por obrigação, mas porque o quero fazer.

O Natal é a época em que, como disse uma amiga, casais que dormem em quarto separados se juntam hipocritamente para fingir que está tudo em ordem. Natal é a época é que durante 23 horas e meia, a pessoa entra em stress constante para no fim do dia, já sem forças, partilhar presentes ao lado de uma árvore (e olhem que isso é um privilégio da classe média) e no dia seguinte levantar-se com mau humor a pensar que vem aí o Ano Novo e que vai ter que pagar aos bancos. Não quero generalizar, pois há quem acredite no Natal e passa o Natal sem essas crises.

O Natal é a minha família estar a chamar-me para ir comprar alguns artigos porque vamos juntar-nos esta noite e fizeram monte de comida que vão deitar fora amanhã porque vai sobrar, razão porque tenho de acabar aqui o post, sem poder afiná-lo.

17 de dezembro de 2010

CALLE 13 - música 100 em 100

O meu género musical preferido não é determinado nem determinável, de tempo em tempo vem-me uma pancada por um género musical ou por algum artista e é o que mais consumo. Há uns dois anos o meu género musical foi tango, e foi nesse dias que conheci CALLE 13, atráves do Tango del Pecado, a letra era muito divertida e o ritmo, aquela mistura de reggaeton e tango, despertou-me curiosidade sobre ele. Procurei por músicas de CALLE 13 e transferi a minha pancada de tango para reggaeton.


tango del pecado (residente o visitante)


CALLE 13 lançou em Novembro passado o seu quarto álbum, Entren Los Que Quieran, e, José, Maria e Jesus!, é um álbum 100, ou 98, considerando que apenas umas duas músicas são trémulas, trémulas em comparação com as restantes do mesmo álbum, porém, considerando o conjunto dos álbuns são muito bons.

CALLE 13, começou com o álbum Calle 13 (2005), apresentando logo uma sonoridade destacada dos restantes reggaetoneros. O próprio reggaeton, que só por si é uma fusão de música caribenha, funk, reggae e não sei quantas, foi à mão de CALLE 13 fundido com outros ritmos latinos: tango, mambo, salsa, e outro não sei quantas, e ganhou um brilho sonoro aliciante, pela sua frescura, ousadia e diferença.

O segundo álbum Residente o Visitante (2007), que são os nomes dos dois integrantes, foi uma escorregadela, tentaram repetir a fórmula, e não inovaram muito, saindo dali um álbum aborrecido, com uma quatro canções que se salvam, e suportável apenas pela letra provocatória, satírica e, por vezes, ordinária, porém, mesmo assim, adormecida em relação à do álbum anterior.

p'al norte, ft orishas (residente o visitante)


No terceiro álbum, Los de Atras Vienen Comigo (2008), que também podia ser chamado Calle 13 pt. 2, conseguiu recuperar reformulando a fórmula do primeiro álbum e aventurando-se mais, conseguiu um álbum sonoramente bem melhor que os dois anteriores, com letras mais ácidas, mais incisivas e provocatórias, porém mais afastado da crítica social que fez nos dois primeiros álbuns.

Com este Entren Los Que Quieren (2010) CALLE 13 reformulou-se, reinventou-se, experimentou-se, desafiou-se, e conveceu-se a si mesmo e a mim também que é um génio musical (bem, eu já estava convencido que era). Neste álbum, CALLE expandiu-se experimentando sonoridades alternativas, conhecidas e desconhecidas, desde músicas que lembram aos desenhos da Disney, passando pela sonoridades mandinga, árabe ou indiana, latina, rock, e um som perdido entre o samba de Brasil, o semba de Angola (este mais discreto), gumbé de Guiné, funaná de Cabo-Verde (isto porque ouvimos o som onde estava uma pessoa de cada um destes países e cada um reclamou que o ritmo pertencia ao seu país), na verdade é um ritmo carribenho, merrengue.

vamos a portarnos mal (entre los que quieren)


Não sei mais o que dizer, já estou a perder o fio.

Eis um álbum que deve ser ouvido. Eis um grupo que merece ser escutado. Destaque para El Hormiguero.

Estou ansioso pelo quinto álbum de CALLE 13, esperando que a evolução se mantenha.


bónus
calma pueblo (entren los que quieren)

Em termos de nota de rodapé:
Residente, o vocalista, possui uma dicção muito boa, que apesar de falar em espanhol é facilmente compreendido por português.
As capas dos álbuns, tirando a do Residente o Visistante, são sempre provocatórias.
Tanto o nome Calle 13, como os nomes Residente e Visitante, têm por trás uma história.

15 de dezembro de 2010

MOS DEF - RAP como raramente se vê

Muitos pensam que fazer rap é apenas cantar RÁPido em cima de umas batidas RÁPidas, e fazem isso e dizem-se rappers, e não é que não são tendo em conta a produção actual dessa forma artística (não quero falar da história do rap, pois não sou do tipo que defende que para se ser um rapper tem que se conhecer a sua história, acho isso uma treta), porém RAP, acrónomo de RHYTHM AND POETRY, significava isso mesmo, música e poesia, agora pareque só tem música e pouca poesia, mais prosaísmo vazio (deixem-me dizer que rimas não fazem poesia); talvez seja o HIP HOP, que foneticamente se confunde com o verbo HEAP UP (ou seja, talvez não signifique apenas "mexer as ancas", mas também "rimar"), é que legitima o prosaísmo. Houve uma progressão ou regressão no RAP, não sei dizer bem, em termos rítmicos, certamente progrediu, até perder boa parte da musicalidade, centrando-se em formatos radio friendly, em termos líricos, hum... hum-hum.

the boogie man song (the new danger)


Bem, alguns rapper ainda hoje defendem o RAP na sua essência inicial, e não estou apenas a falar do conteúdo verbal, mas da musicalidade, e desses MOS DEF é um exemplo.
MOS DEF não é um rapper fácil de ouvir, para quem está acostumado ao hits que batem na rádio e na TV e não sabe inglês (pois se souber inglês pode ser cativado pela letra), mas na falta dessa habilidade, tem que se gostar de ritmos alternativos.

umi says (black on both side)

MOS DEF começou a cantar há muito, muito tempo, em 1998 fez o primeiro álbum, com Talib Kweli, Black Star, pelo menos foi o que li na Wikipedia. Entretanto, só há uma semana é que o conheci, musicalmente falando, pois já tinha visto filmes dele e já sabia que era rapper. Há uns cinco anos tentei ouvir MOS DEF, mas apanhei umas música insípidas dele e desisti (na altura não tinha a sensibilidade musical que agora possuo), nunca mais tentei, até há umas semanas, ouvindo-o em parceria com K'naan (de quem irei falar num outro post), na música America, resolvi visitá-lo. Comecei com o primeiro álbum, Black Star, depois Black on Both Side (1999), True Magic (2006), e logo para Static (2009), não sou nenhum perito, mas posso dizer que teve uma boa evolução, embora o seu "flow" não pareça ter evoluído.

MOS DEF parece enterrado no RAP dos anos 90, mas aí é que se destaca, mistura essa musicalidade soul, funk cru, hip hop moderno, entre outros que não sei identificar e não me vou atrever a fazer e faz a boa música que faz.

sun, moon strars (true magic)

Quanto ao conteúdo da música, o meu inglês não é nada bom, e o sotaque dele e o modo de falar arrastado também não ajudam muito, mas fui ler as letras e, deus do céu!, o meu respeito pelo homem aumentou consideravelmente, porque ele consegue fazem mesmo o RAP, e tem boas mensagens. Sem dizer que não se limita à formatação da indústria.


quiet dog bite hard (ecstatic)

MOS DEF é para ouvir, reovuir e voltar a ouvir. Dos quatro álbuns só desgostei de umas 9 músicas (achei umas desinteressantes, algumas insípidas e outras fracas, mas trata-se de um universo de mais ou menos 60 músicas), porém dos álbuns gostei mais do TRUE MAGIC. 

bónus
what's beef (black star) 

E foi bem difícil escolher as músicas para aqui deixar.

6 de dezembro de 2010

SRPSKI FILM, 2010 (A Serbian Movie)

O que é a arte?

Teses, dissertações, monografias, tratados e não sei quantas espécies de abordagem foram feitos para determinar o que é a arte. A complexidade da arte, aliada ao sentido subjectivo, relativo e cultural do belo e da estética, sem falar da temporalidade, fazem com que a arte não possa ser definida numa única linha.


Serbian Film discute a arte algures na sua duração, ou pelo menos cria ensejos para o visionador reflectir sobre a arte. Nem todo o cinema é arte, aliás o próprio filme o diz através de uma actriz porno que perdeu o gosto pela câmara, ou qualquer coisa parecida, porque a produção pornográfica decaiu artisticamente. Se a pornografia é arte é uma questão discutível, mas não agora.

Uma definição habitual da arte é: aquilo que nos tira da nossa zona de conforto. Pois bem, se é meramente isso então SERBIAN FILM é arte, porque o consegue, e como! E, pela maneira de conduzir o filme, SERBIAN pode muito bem ser considerado artístico, porém, quando vemos um filme e nunca mais o queiramos ver, e até queremos esquecer que o vimos, podemos dizer que é um filme artístico, ou pelo menos, um bom filme? Eu cá não sei.

SF abre com uma cena gratuita de sexo, duas pessoas saem do bar e põem-se a comer furiosamente, para logo mostrar que não há gratuidade nenhuma nela, quando vemos que é um filme porno e um menino de uns seis ou sete anos está a assisti-lo. O choque maior vem logo a seguir quando descobrimos que o homem no filme é o pai do menino que o está a assistir. Enfim, só esses primeiros minutos eram suficiente para qualquer psicanalista elaborar teses de como no futuro essa criança seria afectada. E só esses minutos dariam já uma boa curta-metragem, sem perder o carácter chocante, pois é um filme completo, uma história com pés e cabeça. Porém o realizador resolveu que devia por mais minutos no filme, e a montanha russa descontrola-se; não o descontrolo da parte do realizador, pois ele soube aguentar o filme até o fim, mas descontrolo da parte de quem vê, da minha neste caso.

trailer



O filme é sobre um actor porno (casado e pai de um menino, com um irmão que lhe inveja a virilidade) retirado do negócio, mas que continua nostalgicamente a ver os seus filmes, lembrando a época da glória. Apertado por dinheiro, a convite de uma actriz com quem costumava trabalhar, resolve aceitar uma proposta para fazer um filme inovador, sob o conselho da própria esposa. A partir daí vemos a degradação humana num dos seus aspectos mais nojentos, e não me refiro ao sexo, mas ao hedonismo exagerado e ao apoteose do desejo. O filme começa a apresentar uma lista de desvios sexuais, com a câmara a fazer um trabalho cruel e chocante. Eu que vejo os filmes de Ruggero Deodato enquanto vou mastigando qualquer coisa, não tive estômago para este, andei a pular as cenas, até ao final. Passei a correr por pedofilia, estrupo, um parto ao vivo, estupro do recém-nascido com o cordão umbilical por cortar, necrofilia, deus do céu!


Não estou certo do que seja arte, e já vi filmes de merda sem conteúdo, apenas procurando chocar, este aqui apresenta algo como um conteúdo, e pode suscitar várias abordagens, mas era preciso ser tão gráfico? Por outras palavras, não sei dizer se SERBIAN é arte ou bom filme, e repito uma das questões que ele mesmo apresenta: a arte define-se pela violência?



Para quem ainda não viu, pelo amor de Deus!, não veja!

BOLEIA PELA GALÁXIA, À, 2005 (The Hitchhiker's Guide to the Galaxy)


A resposta para o sentido da vida é 42.

Foi um supercomputador que o disse após sete milhões de anos de computação intensa. A questão que tantos filósofos, cientistas, religiosos, espiritualistas e não-tem-mais-que-fazeristas têm posto ao longo dos séculos finalmente foi revelado. Se não acreditar, vê isto:


Acabei de ver À BOLEIA PELA GALÁXIA e, há já algum tempo que não me divertia tanto a ver um filme. Depois de muitas desilusões cinematográficas tenho preferido os filmes de animação (digital ou tradicional), e principalmente os orientados para crianças (japonesa de preferência). Tenho visto ultimamente mais comédias que não me fizeram rir e a última comédia (refiro-me aos filmes recentes) que me fez rir e pensar ao mesmo tempo foi A Invenção da Mentira, pois há uns seis meses atrás, através dos torrents revisitei os filme dos Monty Python e vi os que ainda não tinha visto, e esses fazem rir e pensar.


À BOLEIA PELA GALÁXIA, segundo a wikipedia, foi escrito por Douglas Adams e foi adaptado de uma séria de livros (escritos pelo mesmo) que foram adaptados de um programa de rádio (feito pelo mesmo), eu só soube disso depois do filme ter acabado, pois durante o visionamento eu só dizia: "Uau! felizmente uma escola dos Monty Python a funcionar em perfeição", pois o filme só me lembrava O Sentido da Vida destes,  e porque das aproximações do estilo pitoniano em filmes que já vi só gostei do The Onion Movie. Porém, afinal o autor era contemporâneo destes e inclusive chegou a trabalhar com eles, ou seja, desenvolveram juntos a escola.

trailer



Eis um filme que recomendo a quem ainda não viu. A abertura e o fecho são... são um espectáculo: os saltos dos golfinhos e o desabrochar da natureza, respectivamente, são simplesmente orgásmicos, mesmo que estivessem descontextualizados do tema.

O que aprendemos no filme?

1. Que afinal somos experimentos dos ratos e que a terra pertence a eles, e que somos partes de um supercomputador que solucionará para eles o sentido da vida (inversão directa para a forma como usamos os ratos - e outros animais - em laboratórios).

2. Que a felicidade não importa, mas sim a fama.

3. Que as mulheres nascem equipadas para saber ver o ponto de vista alheio.

Mas essas são as mensagens mais inócuas do filme, aliás, nem sei se são mensagnes, pois só servem para pôr ao ridículo os nossos dogmas e certezas .... Eu não consigo em poucas palavras interpretar (a minha) todas as sugestões do filme, pois algumas imagens me escapam. Entretanto, o ponto de partida do filme põe em xeque a nossa legitimidade em destruir o planeta em nome do desenvolvimento: Consideramos os animais e outras espécies menos desenvolvidos por isso não hesitamos em destruir os seus habitat em nome do nosso interesse; no filme, extraterrestres que nos consideram ridículos não hesitam em destruir o nosso planeta para abrir uma via rápida. Devemos nos queixar, quando a nossa prática é similar?

Enfim, apesar de escrito em 1978, o tema do livro continua tão fresco, e para dizer a verdade, se formos actualizar, a realidade hoje é ainda mais cartunesca.


3 de dezembro de 2010

REVOLUÇÃO ANTI-BANCO

A ideia é simples: levanta todo o teu dinheiro e o teu banco afunda. Se os bancos afundarem vão-nos mandar a todos para o desemprego? Quero ver isso.

A crise económica que hoje vivemos, dizem, acontece por causa dos bancos. E o que fazem os governos poderosos?, injectam mais dinheiro nos bancos para os fazerem levantar de novo, porque são eles que verdadeiramente sustêm a economia, ou o sistema económico.

Antes que comece a dizer asneiras, suponho que devo parar de falar agora, ainda mais que me sinto preguiçoso hoje e com raciocínio lento.

Bem, eis aqui um vídeo de um ex-futebolista, Eric Cantona, onde ele faz um sugestão bastante simples para accionar uma revolução. Pode ser que ele apenas tenha feito uma declaração inócua, pórem foi levado a sério e grupos organizaram-se à volta disso, e marcaram um dia para accionar a revolução: dia 7 de Dezembro.



É claro que há sempre falhas em qualquer argumento e senãos em qualquer iniciativa ou actividade, mas eu proponho que entremos na "revolução" e vamos todos sacar o nosso dinheiro ao banco. É claro que tal não vai ser possível, porque:

1. Os bancos (em Portugal) só permitem, pelo menos via multibanco, que se levante 700 € por dia.

2. Quando se pretende levantar uma quantia exagerada (entenda-se, correspondente a mais ou menos uns três salários médios), ou seja aquela a que menos da metade da população tem acesso, tem que avisar com antecedência, para eles mobilizarem o dinheiro.

3. Os bancos na verdade não têm dinheiro, têm mais títulos electrónicos. A maior parte das compras acontece por cartões de multibanco, cartões de crédito, às vezes até por cheques, os salários são pagos por títulos electrónicos e não por dinheiro vivo, de maneira que os bancos não conseguirão pagar-te se fores sacar o dinheiro. (alguém viu Zeitgeist 2?)

Apesar disso, proponho que vamos ao banco no dia 7 de Dezembro, limpar a nossa conta, deixem lá ficar 1 € ou coisa parecida, para o caso do banco sobreviver. Isto seria pior (ou melhor) que  uma greve geral, pois os bancos com medo, teria de baixar as taxas, os spreads e não sei que mais, porque verão que a população pode controlá-los a eles ao invés do que tem acontecido.

E mesmo que não consigas levantar sempre poderás preencher o livro de reclamação.

Entrem no jogo.

12 de novembro de 2010

E O ÓSCAR VAI PARA...


Não me ocorreu nenhum título melhor para este artigo, aliás, confesso o título até parece uma injustiça para o pessoal lá do Hollywood, na medida em que eles claramente negoceiam o fingimento. Por isso, finjam que estamos a falar de fingidores profissionais e vamos em frente.

Carlos Pinota, para quem não tenha lido jornais ou visto TV ultimamente, é o jornalista proxeneta que está na ribalta por motivos errados, errados na visão da nossa sociedade hipócrita. O senhor foi indiciado porque gere sites (ou site, não sei bem) de prostituição, numa palavra mais bonita, por lenocínio.

Na sua lista foi encontrada nome de políticos, juízes e figuras importantes, pelo menos é o que diz o jornal Correio da Manhã, que cita várias vezes o nome de Carlos Pinota, mas nenhuma o dessas figuras.

Pois bem, o caso é este. Porém a mim faz-me mossa que o senhor Carlos seja indiciado por lenocínio e os jornais portugueses, o próprio Correio da Manhã (CM), não sejam; qual é a diferença entre a publicidade das duas entidades? Em termos de acessibilidade o CM é mais acessível do que o site de Carlos, que segundo o primeiro, cobra por volta de 170 Euros para publicitar uma prostituta. Não sei se Carlos ganha alguma percentagem da venda dos seus publicitandos (ou lá como se diz), mas tirado essa parte, faz a mesma coisa que o Correio da Manhã, mas como ele não tem a protecção do governo é feito réu, e o CM não, e ainda por cima o CM pode ir cobrir o acontecimento e falar sobre ele nas suas páginas, quando nas páginas seguintes tem exemplos caricatos da mesma actividade do réu (nem sei se fui literariamente coerente aqui).

A pergunta que continuo a fazer é: Por que raio o governo abençoa uma actividade para uns e a impede aos outros? Isto lembra-me uma frase de Pitigrilli: o ladrão quando quer roubar infrige uma lei, o governo quando quer roubar promulga uma lei (ou algo como isso). Será que ao CM é permitido lenocínio só porque paga impostos e é um dos jornais mais vendidos do país? Ainda estou a pensar no assunto.

Uma outra questão é sobre os figurões cujos nomes constam dessa lista. Eu não tenho nada contra a prostituição e todo esse alarde que se faz à volta do assunto para mim é simplesmente fruto de moralismo exacerbado misturado com preconceitos religiosos, portanto, é normal para mim que constem nomes nessa lista, e de figurões, considerando o dito valor que os trabalhadores de prazer pagam para serem publicitados por Carlos. Só acho também hipócrita que são essas mesmas figuras de destaque que atacam a prostituição em primeiro lugar a e à porta aberta, conhecendo bem o alcance das suas palavras, para depois usarem o serviço às escondidas. Deviam ir todos para a cadeia para aprenderem. 

Ainda outra questão é o jornal Correio da Manhã (não sei de outros) referir-se às prostitutas brasileiras. Carlos não publicita prostitutas, não, que ideia!, publicita prostitutas brasileiras. Não se trata apenas do CM, todos os jornais e os media portugueses (temendo exagerar se disser sociedade portuguesa) tem essa tendência de associar prostituição às brasileiras. Não tive acesso às publicitandas de Carlos, não sei se são mesmo apenas brasileiras, mas a prostituição em Portugal não é praticada apenas por elas. 

Essa publicidade negativa das brasileiras é perigosa. Este vídeo de Francisco Menezes (comediante que eu prezava muito, mas que caiu na minha consideração depois disso) em resposta a umas declarações em vídeo da Maité Proença, demonstra essa ideia que se tem das brasileiras. 


Aliás, pessoalmente já fui testemunha de um ataque directo, em tom de brincadeira, de um português a um brasileiro, dizendo aquele: Não conheces nenhuma brasileira?, ganha-se muito com o Pinto da Costa. Ao que este responde: Pelo menos ganham algo, pois as portuguesas eu como de graça. Na altura eu nem percebi o que queriam dizer um ao outro, só depois de ele me ter explicado é que apanhei a peça.

Voltando então à questão principal, o melhor era parar com esse fingimento de anti-prostituição, ou então indiciar também o Correio da Manhã e outros tantos órgãos da média, por "pecado" duplo: o de lenocínio  e o da propagação de preconceito. Aliás nem sei se publicitar é lenocínio.


13 de setembro de 2010

NEGRO QUE QUIS VIVER, UM, Richard Wright, (1945) - contrariando os deuses


Um Negro que Quis Viver (Black Boy, no original) de Richard Wright, é uma leitura espectacular. Um livro enleante e sugestivo que nos prende logo na primeira página através da perspectiva de um puto de quatro anos. 


O narrador com um estilo arrebatante, uma prosa fácil, e muitas vezes poética, e um humor peculiar, consegue fazer-nos sentir que valeu a pena as horas gastas com o seu livro.

Um Negro que Quis Viver é uma história de luta, de revolta, uma história da metamorfose da inocência, enfim, uma história que podia ser usada numa conferência com o tema: como levantar a cabeça estando enterrado na merda. O livro leva-nos a perguntas como: por que razão para vivermos em paz temos que estar sempre de acordo com o que os outros querem? Até que ponto somos diferentes uns dos outros (por exemplo, temos cenas de pretos oprimidos pelos brancos a oprimirem por seu turno os judeus)? Por que temos de limitar as nossas ideias só porque outros não concordam connosco? Até quando vamos ter de agir por conveniência? Enfim, muitas outras perguntas.

O livro é autobiográfico, e para mim é a biografia mais literária que alguma vez li... falo assim, porque a vida de qualquer pessoa pode dar um livro, mas a forma de contar essa vida... recomendo que se leia o livro para perceber o que quero dizer. Pode até ter sido que ele inventou muitos episódios, porém o mais importante (pelo menos, julgo eu) não é a verdade sobre os factos biográficos terem acontecido com ele, mas os factos em si.

AS MINHAS LEITURAS

Há dez mil anos atrás quando Hi5 era para a comunidade lusófona (e não só) o que é hoje para o mundo o facebook... Ok! Vou recomeçar...

Há quatro anos atrás, porque me tinha sido ofertado uma colecção com 218 livros, da editora Unibolso, porque tinha descoberto um grupo literário no Hi5, e porque estava seco em termos de inspiração (tinha feito uma merda de um romance muito mal escrito com mais de 300 páginas, em apenas dois meses, para um concurso literário que perdi), eu consumia muitos livros e à alta velocidade para resgatar a chama e partilhar com os outros boas leituras, tendo recebido deles boas sugestões também.

Bom, nesse período, escrevia uma opinião sobre as minhas leituras a, pelo menos, um livro por semana, pois chegava, às vezes, a ler quatro por semana, dependendo do volume e da consistência (Saramago costumava ser mais lento de se ler).

Aconteceu, no sábado, ao googlar-me a mim mesmo (quem nunca se googlou?), fui parar a um desses grupos de literatura onde opinado sobre leituras, e resolvi pescá-las para aqui. E vou postar uma primeira.

11 de setembro de 2010

SKETCHUP 8



Há muito tempo que procurava notícias sobre Sketchup 8, queria ser um “beta tester”, mas não tive esse privilégio; porém há umas duas semanas recebi um newsletter da Google a avisar do lançamento do Sketchup 8 e fui imediatamente baixar o programa para testar.

O que há de novo? Bem, eles têm um vídeo a explicar o que há de novo. Mas, para dizer a minha justiça (que pode não ser justa), Sketchup 8 desiludiu-me.


Depois de ter experimentado o Bonzai 3D, que alia a simplicidade de Sketchup à complexidade de Nurbs, julguei que o novo Sketchup traria também os nurbs, mas não trouxe; além disso, há muitos rubys que são extremamente práticos, que podiam ser adoptados tal como aconteceu nas versões anteriores, como ferramentas de raízes e não aconteceu. É certo que as ferramentas novas têm a sua practicidade, mas eu esperava mais, senti-me defraudado, volto a dizer.

O que é de bom, no entanto, é que, experimentando o Sketchup 7 e 8 no meu AMD Athlon de 2002, 256 MB de memória, o tempo de reacção do Sketchup 8 foi menor, não fiz um benchmark, mas posso jurar que o Sketchup 8 responde mais rápido.  Além disso, o pesadelo de modelos pesados é pratica e totalmente resolvido pelo Sketchup 8 (quem já fez modelos grandes com muitos pormenores sabe do que estou a falar, ou quem já usou árvores em 3D muitos detalhados nos modelos), tenho um trabalho de 48 MB, cujos cujos layeres tinha que colocar invisível para só assim poder manejar, o que por vezes criava problemas quando queria usar a opção copiar, pois só se copia os layeres visíveis. Uma operação de normalmente 5 minutos custava-me uns bons 20 minutos no SU7, porém o SU8 (vénias à retaguarda), permite-me manipular esse modelo com todos os layeres visíveis, transformando os 20 minutos em uns 7 ou 8 (comparativamente falando). E funciona com todos os plugins e rubys que funcionam no SU7.

Já o Layout 3 apresenta siginificantes melhorias, mas quanta gente usa o Layout do Sketchup para documentar os trabalhos? Em dois anos, eu só usei uma vez (mas isso sou eu), e 90% dos colegas que usam Sketchup parece que nem sabem que isso existe.

Daí que digo: o Sketchup 8 pode não ter melhorias aparentes à primeira vista, pode me ter desiludido, mas é bem melhor que o Sketchup 7 (estou a chover no molhado). Ah, quem estou a enganar?, vale a pena o upgrade só para melhorar o tempo da resposta, corrigir uns bugs, e, provavelmente, ganhar novos bugs.

3 de setembro de 2010

PENSAMENTOS INEXACTOS - CAP. IX

ESTAREMOS CONDENADOS?

Muito afastados do Juízo, tentando aproveitar-nos da Razão, distantes cada vez mais do humanismo do homem animal, encontramo-nos agora, de tempos em tempos a modificar as morais, a perverter até mesmo o senso inato do bem e do mal, para adequar os nossos actos aos nossos desejos, para dessa maneira dormirmos tranquilos. Escalonamos as nossas falhas em pecados, pecados capitais e pecados mortais, para assim nos convencermos que um pecadinho é só meio pecado, como se pudesse existir um buraquinho que não fosse buraco, ou como se existisse um meio buraco.

Stanley Kubric mostrou que quando começamos a agredir os outros (no início foi por defesa) partimos para o desenvolvimento[1]; Manara, se não estou em erro, desenhou a história do homem sustentada na guerra e no sexo. É por essa razão que me faz mossa tentar perceber por que o humanismo é o que se diz de mais belo no reino animal, se quando deixamos de ser animal e despertamos o nosso lado humano o mundo todo ficou em perigo?

O humanismo aqui não é nenhuma religião nem algum tipo de filosofia; possivelmente aquele senso inato do bem e do mal mas que não contempla apenas homens nossos semelhantes, mas todo o universo alcançado pelas nossas acções. Lei de escuteiro: o escuteiro é amigo de plantas e animais. O escuteiro desenvolve, ou devia desenvolver, o humanismo para, tal como algumas e raras tribos índias, viver em equilíbrio com a natureza, deixar-se envolver por ela e envolver-se nela. Por sermos humanos temos a humanidade, mas vou acreditar que a humanidade não tem nada a ver com o humanismo, vou acreditar que a humanidade é humana, puramente racional e maquiavélica, e o humanismo é animal, emocional e ajuizado.

Não estamos contentes de ameaçar as outras espécies, voltamos para a nossa própria, porque só desse modo poderemos sentir o nosso poder, pois os outros, os irracionais, são indefesos, destruí-los é como bater num bebé, não tem graça e não nos faz sentir forte, mas quando destruímos os nossos semelhantes, aí sim, vem a sensação do poder e com toda a força. E nós somos os racionais. Bonito! Sempre gostava de saber quem definiu o homem como racional, Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray.

Não há conto mais anedótico do que este: homem, ser racional, considerando a Razão defendida por Voltaire ou por Kant algo que libertaria o homem totalmente da animalidade. A Razão que possuímos, ou melhor, a razão que possuímos, tirou-nos da animalidade e amarrou-nos no animalismo. (Que é o animalismo? Leiam o parágrafo mais acima e façam as contas.) Se esta nossa razão é bárbara, tola, infantil e egocêntrica, poderá o homem ser chamado de racional? Comete-se constantemente atrocidade alegando a Razão, mas parece que quanto mais se pensa mais longe dela se fica. Se todo esse nosso pensamento sujo, pecaminoso e cruel é racional, como seria chamado o pensamento de… vejamos quem!... hm, difícil… Madre Teresa (Deus a tenha!, como é hábito dizer n’As Mil e Uma Noites)? Teria ela um pensamento racional ou divinal (eu sei lá se ela era quem mostrava ser, na realidade não acredito no homem, apenas no humanismo)?

Tudo se move, tudo se flui, há sempre o movimento, Heráclito. E todo o universo tende à entropia, não sei qual lei da termodinâmica. Será por isso que a nossa razão é cada vez mais animalista? Será que em vez de efectuar um movimento no sentido positivo está a fazê-lo no sentido oposto? Termodinâmica é física, a razão não, portanto não me parece que devesse sofrer de um efeito físico. Eu sei que a idade enubla a razão, um processo físico que afecta um processo bioquímico, sensorial e perceptorial (na verdade não percebi bem aquele livro de psicologia), pois os pensamentos e as emoções acontecem no sistema límbico, embora eu vou dizer que um ocorre na cabeça e outro no coração; mas também costuma-se dizer que a idade significa sabedoria, principalmente aqui onde vivo[2], ou seja, o desgaste físico vem acompanhado de desenvolvimento intelectual e não da morte de neurónios. A razão, ainda não percebo por quê, mesmo na sua forma imaterial, tende à entropia. A geração espontânea era racional, o geocentrismo era (e ainda é), a física clássica era suma, até quando...

Estaremos condenados a por razões amorais a destruir o mundo, a destruir os outros, e a destruir o futuro?

Ao libertar-se da animalidade o homem prendeu-se nesta prisão medonha chamada o raciocínio, uma ferramenta que possui, mas da qual não quer fazer bom uso. Acredito que o mundo seria mais doce sem a razão, tanto esta como a outra com R maiúscula, acredito que a vida teria mais gosto de ser vivida. Mas, já que, por infelicidade, a possuímos, então por que não se cultiva a Razão, em vez de andarmos a chafurdar na razão?



[1] 2001, Odisseia no Espaço
[2] Vivia na Guiné-Bissau, o povo guineense costuma usar a idade como sinónimo da sabedoria, porque os idosos eram as nossas bibliotecas e detentores de conhecimentos; a tradição oral era consideravelmente forte, pelo menos até aparecer a televisão; porém nas zonas mais rurais, ainda o idoso mantém o seu estatuto de sabedor inatacável, só podendo perder por um viajado; mas quando se é idoso e viajado, então é-se completamente sabedor.

19 de agosto de 2010

SE O INFERNO EXISTISSE

Num dos livros de Robert Charroux, não me lembro qual, ele falou de uma crença que dividia o homem em três: corpo, alma e espírito; e parece-me que uma das ramificações do judaísmo, continuo sem saber precisar, também divide o homem nesse mesmo formato, e ainda diz que o espírito liga a alma ao corpo e encontra-se no sangue, o que justifica as leis do Levítico que exigem o sangramento do animal antes de comer e a não ingestão de sangue. Mas isto talvez seja mais adequado para um debate religioso.

Eu não sei como o homem realmente é dividido, mas colo-me a Platão e divido-me em dois: corpo (matéria) e mente (ideia). A ideia platónica seria a alma e ela seria imortal; no entanto, espero que Platão esteja enganado, pois se o Inferno existisse seria a alma imortal ou a mente que sobrevive ao corpo, ou seja, o homem estaria dividido em corpo e inferno.

Acho que nunca pensei realmente na divisão do meu “eu” quanto nos últimos dias. Quando comecei a dar conta que realmente a mente e o corpo são divisíveis e não apenas quando morremos.

Por ter feito muitas directas por causa da faculdade, acabei com o relógio biológico tremendamente desregulado. O meu corpo exigia dormir, mas a minha mente sabia que tinha que ficar desperta para poder responder aos desafios em que me fui meter. Isso levou com que as duas partes ficassem em total desacordo. Às vezes durmo nas horas impróprias, principalmente quando estou a ler, o que nunca me acontecia, eu que quando deitava a mão a um bom livro podia passar dois dias em jejum e sem dormir até acabá-lo. Acho que, de uma certa maneira, a minha mente culpa a faculdade deste problema e dá dicas ao corpo para dormir, e este dorme; só que traiçoeira, a mente desperta enquanto o corpo está a dormir e começa aí o pesadelo.
Ultimamente tenho estado a despertar do sono e a não conseguir mexer-me, porque o corpo continua a dormir, e por mais que tente acalmar-me, acreditando que ele vai despertar também em breve, sou tomado de pânico, e nesses momento penso no que deve ser a morte. Como nesses momentos a mente e o corpo não se alinham, começo a alucinar e às vezes procuro reconstruir o ambiente, para perceber onde realmente estou e a minha exacta posição na cama, no sofá, seja lá onde for, e quando consigo isso, geralmente acordo, mas muitas vezes parece-me que estou em outro sítio ou tenho por perto pessoas que não estão lá, e então fico a migrar de alucinação para alucinação. Outro truque é forçar o movimento, depois de algumas tentativas frustrantes e frustradas que parecem sugar-me a toda a energia do corpo, lá consigo acordar-me.

Eu não tenho pesadelos convencionais, porque tenho sonho lúcido, mas aí também se encontra o problema, porque mal perceba que estou a dormir a mente sente que já não necessita da ilusão da "realidade dormida" e então desperta-se.


Lembro-me de ter lido sobre uma experiência em que isolavam estudantes, anulando-lhes os cinco sentidos, deixando-lhes apenas um botão para carregar em caso de pânico (acho que se chamava terapia de flutuação), e o único que se aguentou um dia inteiro quase teve um colapso nervo. Esses sabiam que estavam numa experiência e mesmo assim entravam em pânico, mas eu quando durmo e de repente me vejo acordado e sem corpo, penso (das últimas vezes já não penso muito, estou a acostumar-me já): será que morri?
As únicas coisas que consigo controlar quando isso me acontece são a respiração e, com muito esforço, o olho direito (não sei por quê). Vejo o que se passa à minha volta sem poder interagir, inspiro e expiro para ter a certeza de que não morri e fico a desejar que alguém faça um mínimo barulho, ou que algo de novo entre no meu campo de visão para me despertar.
Se o Inferno existisse, digo de novo, seria assim: estar com a mente a funcionar e com o corpo mudo – uma mente que durante toda a sua existência aprendeu a comandar o corpo, uma mente cuja existência é habitualmente assegurada pelo corpo, uma mente que se sente sem propósito sem o seu corpo para fazer o que deseja. Sim, é o Inferno, espero que quando o corpo morre nem a mente sobreviva. Pois, se agora fico com medo de dormir por ser recorrente este problema, o que o agrava ainda mais, nem imaginam o tamanho do medo que tenho de morrer e a minha mente sobreviver.

PENSAMENTOS INEXACTOS - CAP. VIII

ESTÁ O MUNDO DOENTE OU É O MUNDO DOENTE?


Heal the world/ make a better place/ for you and for me/ and for entire human race…

Foi assim que Michael Jackson o disse. Outros também o disseram, ainda vai haver quem o diga. Infelizmente parecem todos eles aspirantes a médico, sabem que existe uma doença, se calhar até sabem qual é ela, e ainda sabem que o doente deve tratar-se, mas não sabem receitar o remédio.

Qualquer médico que se preze identifica primeiro os sintomas, define o tipo e isola as causas, e só dessa forma consegue receitar o antídoto correcto. Por isso para curar o mundo temos de saber qual é a causa.

O desequilíbrio existente no mundo humano é originado pela emoção ou pela razão? 

A resposta, é claro, a solução não vai apresentar para do mundo a cura. Não, seria positiva e sugestiva, porém não resolveria quase nada, porque a pergunta é para isolar o tipo e só assim poder criar a cura. 

Michael Jackson disse que a cura estaria no amor. O que talvez significasse que o problema está no lado racional, considerando que o amor é emoção pura (mas já vamos ver o amor). Porém, eu fui iludido pelo "Heal the World", com ajuda de um dicionário traduzi a letra toda para português para compreender o que queria a música dizer, tinha doze anos. Acreditei que as crianças podiam mudar o mundo se oferecessem flores aos soldados, mas quando comecei a ver crianças famintas a morrerem de fome na televisão por causa da guerra, percebi o quanto Michael me enganou. 

E não só ele, a própria Nações Unidas que também vende a mesma fórmula; manda soldados bem alimentados, a circular com materiais bélicos de elevado investimento monetário, para patrulhar campos de refugiados onde as pessoas caem de fome; um quadro pintado de antíteses. Preferia que não mandasse para lá soldados? Claro que não. Que mandasse soldados famintos? Também não. Que os soldados fossem sem armas? Ora, não! Então estou a criticar mesmo o quê? Provavelmente a quantidade de dinheiro que se gasta em acções de remediar, em vez de investi-la proactivamente. Parece um negócio a miséria humana. Nós recebemos como ajuda alimentar géneros estragados, tínhamos que secar as múmias dos peixes que enviaram e defumá-las para só assim poderem ser cozinhadas. Então o mundo seria um melhor lugar sem a Nações Unidas? Não sei dizer, nunca conheci o mundo sem ela, mas acho que o mundo seria isto que temos com ou sem ela.


[Era o ano 1999, tínhamos acabado de sair de uma guerra civil. A Nações Unidas distribuíra géneros alimentar aos refugiados e à população em zona de guerra também. Na altura, revoltava-me a porcaria que nos impingiram, principalmente porque via notícia sobre pessoas que doavam milhões para ajudas do tipo, pelo que sentia que pelo menos deviam mandar alimentos que prestassem e não daqueles que tinhas de escolher entre apanhar diarreia depois da sua ingestão ou ficar com fome. No entanto, admirava, e ainda admiro, os voluntários que deixam a paz da sua terra para irem para uma terra em guerra prestar serviços altruístas.]

Dito isto, põe-se a questão: o mundo é doente ou o mundo está doente?

Lendo a Bíblia, o mundo estava doente. Lendo Homero, o mundo estava doente. Lendo quem leu Tito Lívio, o mundo estava doente. Lendo Erasmus, o mundo estava doente. Lendo Voltaire, o mundo estava doente. Lendo Alexandre Dumas, o mundo estava doente. Lendo Hans Hellmut Kirst, o mundo estava doente. Lendo Calvino, o mundo está doente. Lendo Ray Bradburry, o mundo estará doente. Isso não quer dizer que o mundo não está mas é doente?

E a culpa é da emoção ou da razão? Se o homem se resumisse à Razão, como defendiam os iluministas, talvez tudo andasse nos eixos; e talvez se o homem não tivesse a razão, (acreditando que a razão cria motivos, vontades e propósitos) e fosse apenas emoção, cantada pelos românticos, as coisas estivessem bem. Porém, há quem defende que assim não haveria balanço. Mas, na verdade, parece-me que os problemas nascem do facto de o homem ser racional e emocional ao mesmo tempo. Nenhuma das duas é a doença do mundo, mas combinadas são. E cada uma é a cura da outra, se todo o mundo optasse por escolher apenas uma.

Mas então, se nos dessem a escolher, qual seria a mais certa escolha? E sem poder de escolha, e com o mundo doente, como vamos escapar?