Iaí pipoles,
lembram-se da história daquele homem que foi morto, ressuscitou para acabar com todo o Mal e salvar a toda a gente, mas em vez disso lixou tudo, porque uns começaram a fazer guerras em seu nome, outros contra ele? Pois bem, eis a história deste episódio.
O complexo de Messias é um tema sempre interessante, porque praticamente todas as pessoas, em algum ponto da sua vida o desenvolvem, mesmo quando sofrem de “baixa-estimite” aguda, e principalmente nesses casos, criam essa fantasia para contrabalançar, aliás, foi o que Mac (Daniel Kaluuya) contou a Neil (Johnny Harris), para descobrir que afinal tinham esse ponto em comum, porque este também julgava que era a reencarnação de JC. Porém, duas coisas pode acontecer quando uma pessoa que se julga Messias descobre que não é, mas que outra talvez o seja: ou passa para uma adoração doentia ou então desenvolve um alto teor de inveja ou ódio. Não sei dizer qual é o caso de Neil em relação Paul (Iain De Caestecker), mas sei dizer que Neil sempre se sentiu com um chamado divino e não tem dúvidas que precisa de ir até aos extremos se for necessário para fazer o trabalho que Deus lhe mandou fazer, o que não admira nada, pois Papas, Rabinos, Pastores e Ayatalas têm, ao longo da história, cometido atrocidades por um sentimento similar.
Paul tornou-se tão importante, tão importante que todos esperam alguma coisa dele, o que o frustra ainda mais, porque ninguém leva em consideração que ele não faz ideia do porquê das coisas pelo que está a passar e tem de lidar com tudo isso e processá-lo, mas apenas continuam a jogar sobre ele os seus receios, as suas esperanças e frustrações, esperando que dê numa de Neo e reescreva o Matrix.
Onde as séries ou filmes costumam apostar na acção para criar tensão e movimento, “The Fades” apostou em diálogos ou monólogos (o que, por exemplo, foi praticamente a conversa ente Anna – Lily Loveless - e Mac) e conseguiu o mesmo efeito.
Eu costumo não me preocupar com os heróis, acreditando que sempre conseguirão sobreviver, e nem com as pessoas próximas do herói, mas depois de Jay (Sophie Wu) ter sido morta por Neil, pá, fiquei mesmo receoso que fossem mais longe e resolvessem matar ou Mac ou Anna, principalmente por causa da dica de Neil ao matar Jay – “esta é dispensável” –, pois como abriram o jogo nesse ponto, receei que se mostrassem ainda mais ousados.
Não vi utilidade nenhuma no pai do Mac ou mesmo na mãe do Paul, estiveram ali é claro, mas é como não estivessem. Mac precisava do pai para dizer que se sente sozinho e abandonado, no entanto, nem precisavam pôr ali uma pessoa para passar esse sentimento, bastava que não a mostrassem; a mãe de Paul, idem, ela era preciso para percebermos porque Anna lhe trata mal a ele, ou seja, que esse tratamento derivava de inveja e do sentimento de abandono, visto que ela sempre pareceu mais empenhada no irmão do que nela, tendo o irmão ainda por cima o apoio do amigo Mac, ficando ela sozinha tendo que construir todo o seu forte e nomear-se a rainha, quando na verdade lida com medo de abandono. Aposto que ela também se sentia JC, ou talvez MM.
Já receava que, com o êxtase do sexo, Sarah (Natalie Dormer) perdesse o controlo e tentasse trincar Mark (Tom Ellis), porque não cheguei mesmo a acreditar que a relação desse certo. No entanto, apesar de natural a reacção de Mark em fugir do que não entende, pois ele passou por muito: soube que a esposa morrera, depois falou com a alma dela, ao contrário da sua crença, e depois viu-a outra vez em carne e osso, e depois quase foi comido por ela (logo depois de ter sido comido por ela), achei um tanto cobarde da parte dos argumentistas terem-no feito fugir, porque era muita complexidade para explorar… mas, bem, considerando que Sarah depois ascendeu, provavelmente o caso Mark não poderia não ter mais sumo para dar.
Eu compreendi a posição de John (Joe Dempsie) em não querer ascender. Depois de mais de setenta anos a tentar entrar neste mundo, por que raio ele quereria sair logo depois de ter conseguido o seu intento, ainda mais, quando tem o bónus de ser imortal?… ou quase imortal.
Continuo a achar que o episódio mais tenso de todos foi o quarto, mas aqui, tal e qual a dica que Mac deu na abertura, através do seu tom, quando fez o “review” da semana anterior, este episódio era para ser melancólico (sim, notei essa particularidade, o tom que Mac adopta no início costuma ser o tom do episódio), e foi melancólico. Consolidou ou deu mais corda às histórias da maior parte das personagens, o que foi interessante, significando que até no fim ainda tinha algo para contar, até no fim ainda mostrava um princípio, e resolveu algumas pontas soltas.
“The Fades” fechou bem a temporada. E interessantemente deixou aberta uma frincha: com o que será que Paul mexeu? O que vai trazer ele para a terra? O Inferno (considerando o céu vermelho a fogo)? Eu esperava que alguma coisa acontecesse ao John e ele não conseguisse ascender e se tornasse mais forte – porque acreditava num clifhanger para uma segunda temporada – e fiquei um tanto incomodado quando ascendeu, depois pensei que Neil se tinha transformado em alguma coisa ruim (quer dizer, desconsiderando a parte em que sucumbiu à loucura e matou Jay ou babava de raiva enquanto falava com Alice), mas não foi… como mostrei no início do parágrafo, não faço ideia do que está por vir, mas digo que seja o que for provocou-me bruta curiosidade. E espero estar aqui para escrever sobre a segunda temporada.