Parafraseando Jeanne Moreau: A idade não nos protege do amor. Mas o amor, até certo ponto, nos protege da idade.
O tema principal deste episódio foi o choque de gerações, a diferença das idades, o que pode dali nascer e como é visto preconceituosamente pela nossa sociedade. O episódio queria levantar o véu do preconceito, mas a determinada altura acabou por usar ele mesmo o véu, mostrando-se tão preconceituoso com o tema tanto quanto aqueles que aponta o dedo.
Eu sei que “Bored To Death” não é uma série para crianças, de maneira que não há censuras às palavras “cock”, “fuck” e os seus parentes, entretanto apesar disso e apesar dos pénis do Ray, este episódio foi, sei lá, um transpor da fronteira, deixando a série “hardcore”. Não sou contra sexo, nem nada que pareça, mas este episódio, metade ele sexualizado, e não no sentido académico do termo, não foi nada limpo. De um lado tivemos dois trios, um na cama, o outro, voyeur, num telhado a mirar, e do outro lado o Ray (Zach Galifianakis) a ser cantado por uma “grannie” (Olympia Dukakis - muito boa a velhota). Volto a dizer, não tenho nada contra qualquer tipo de sexo consensual, entretanto a forma como essas histórias foram apresentadas não foi justa, pois dava aos intervenientes um ar de tarado, beirando a ridículo e troçando das situações, embora nenhum dos personagens tenha mostrado uma manifestação “fóbica”. Talvez seja um coisa só minha, no entanto não achei nenhuma piada a essas explorações.
E Ray, pelo amor de Deus, Ray é um personagem totalmente detestável, fascinante de um certo modo, mas detestável. No começo da temporada, parecia que ele tinha crescido alguma coisa, mas depois tratou de mostrar logo que é o mesmo sacana egoísta e desprezível se sempre, o que nos leva a Leah… Ainda estou para perceber qual é o fascínio em homens preguiçosos que não lhes respeitam ainda por cima. Será que é para se sentirem “machos” , tipo: sou a chefe da casa, tenho um homem em casa e trabalho para o sustentar? Bem, ao menos fosse por essa sensação de, trogloditamente, vestir as calças, mas quando se tem que voltar para a casa e trabalhar outra vez em casa para fazê-la parecer casa e aturar uma pessoa que só te quer pela tua cama (contigo nela ou semtigo), fico realmente bastante confundido. Eu tinha ficado com pena de Ray da primeira vez que foi posto na rua por Leah, mas, desta vez, nem um bocadinho.
Jonathan (Jason Schwartzman) ainda quer continuar a procurar pelo pai biológico, mas as pistas esfriaram, e fala que está a procurar pelo pai biológico só para nos lembrar que está a procurar pelo pai biológico, mas eu já em lembrava que ele estava a procurar pelo pai biológico, e ele não precisava repetir que estava a procurar pelo pai biológico, principalmente quando o review do episódio já dizia que ele estava a procurar pelo pai biológico. Por outras palavras, não vi razão nenhuma para referirem a essa história (foram umas três vezes, se não estou em erro) se não a iam desenvolver. E até que essa parte não foi um grande problema, o problema mesmo foi tudo o que envolveu Jonathan neste episódio, desde o encontro forçado com a Emily (Halley Feiffer), passando pelo Jonathan Ames pop-up (Brett Gelman), o ladrão de identidade, que surgiu de repente e com o mesmo de repente deu à sola, que não serviu praticamente para nada senão para trazer convidados especiais para enfeitar o elenco.
O mais interessante do episódio foi George (Ted Danson) e a sua história, em todas as suas interacções, tanto com Bernard (David Rasche), como com Antrem (Oliver Platt) e ainda com Emily, que não chegamos a ver, mas sentimos através do próprio. E mais, a sua decisão, no final, em cortar os laços com Jonathan, amarga, no entanto, realista: a amizade perdoa, mas há limites. E a realidade é que George é o pai de Emily e não de Jonathan.
O ponto que mais gostei do episódio mesmo foi o confronto sexual de gerações, que tratado de uma maneira cândida no caso de Bernard-Emily, foi usado de maneira “perversa” no caso Ray-Grannie, e com Jonathan e Ted no meio a fazer o apelo à juventude.
Não entendo nada a relação entre Green (John Hodgman) e Antrem, se o primeiro vê no outro uma figura paterna, este vê naquele, sei lá, um objecto para descarregar frustrações. Green e Jonathan não são muito diferentes, ambos são dependentes de atenção e querem ser aceites por aquela figura que elegeram como exemplo, no entanto não sei dizer se a relação que mantém com essa figura é que os faz ser como são, dependentes, ou se eles seriam como são mesmo sem essa influência.
Eu vi este episódio todo expectante, atento a momentos para dar gargalhadas, no entanto, não me lembro de ter rido em algum momento. Mas isso foi um erro meu, porque não costumo esperar por muitos momentos cómicos da série. E agora que escrevo este reviewnão me admiro muito que tivesse havido praticamente nenhum, visto que o trama parece ter tido mais remendos do que a manta de um mendigo.