Parafraseando a Bíblia: Sou Deus zeloso, que visito os pecados dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.
Vamos limpar a frase, tirar “deus zeloso” e “aqueles que me odeiam” e vamos evocar Freud para parecermos menos religiosos ou místicos, e ficaremos apenas com: os filhos pagam pelos pecados dos pais. A educação e o carácter dos pais, regra geral, reflectem nos filhos, é claro que há excepções, por exemplo, Michael Jackson, preto, que teve filhos apenas brancos, ou Picasso, que desenhou pombas quadradas, enquanto seu pai desenhava pombas com linhas naturais, ou o pastor homofóbico T.D. Jakes que tem um filho homossexual. Ok, se o primeiro caso se deveu a um desvio do determinismo genético, o segundo e o terceiro talvez se tenham derivado da ausência do determinismo social e da prepotência da vontade. Mas, pufff, basta de teorias pseudo-científicas.
O episódio de hoje foca-se sobre as influências dos pais sobre os filhos, e, acredito, de uma certa maneira dos filhos sobre os pais. George (Ted Danson) a tentar conectar-se melhor com a sua filha, e pelo que percebi, entra sempre em rivalidade com a mãe desta, talvez, inconscientemente, para impressioná-la, aliás, vemos como quer ser ele a amá-la mais a ela do que ela a si.
Temos Ray (Zach Galifianakis ) e Spencer, este leva-o a querer tornar-se num melhor pai, mas, como vimos já em duas temporadas, ele é preguiçoso demais para mudar. Ele quer ser pai, quer, mas “ser pai uma vez por semana é para ele uma actividade muito cansativa, porque não consegue nem tempo para passar pelas brasas por, pelo menos, dez minutos”. Quer dizer, ele não sabe que ser pai é um trabalho em tempo integral e não se pode (ok, talvez se possa) tirar folgas, a razão por que pessoas como ele preferem ser o “tio esquisito”. Ray é tão desligado que troca o filho num parque e nem percebe que o fez, a sua interacção com Spencer no primeiro episódio já tinha sido lamentável, aqui consolidou a incapacidade em ser pai. É claro que fiquei com pena que a mãe de Spencer não lhe permita mais ficar com ele, mas é bem justo, não vá acontecer a ele o que aconteceu o próprio Ray, criado por uma mãe alcoólica.
Jonathan (Jason Schwartzman) está mais que empenhado na sua busca pelo pai, mas, deixou bem claro, isso não que dizer que não ame ao seu pai que o criou. Provavelmente está a reflectir os valores da sua educação, e rendeu uma boa história a sua entrevista na televisão e o encontro com o seu némesis, Louis Green (John Hodgman), que definitivamente ainda não conseguiu superar a sua rivalidade com aquele, e pelo que parece, jamais conseguirá. Suponho, para justificar o seu ódio, que Louis vê no Jonathan a pessoa que podia ter sido para impressionar o seu pai. Aqui aconteceu a linha que deu título ao episódio, a história do “The Black Cock of The Time”, oh, desculpa, “The Big Black Cock of The Time”. Essa parte foi hilariante, a associação que a assistente fez usando o “big” que, conforme Louis, nem ele tinha dito, mas quem anda ou andou por sites porno sabe que nunca aparece a palavra “black cock” sem o “big” a precedê-lo, os famosos “bbc”.
Como sempre a complexidade (?) do “Bored To Death” não se deve à estrutura do trama, mas à característica dos personagens e da sua leitura psicológica. Eis um bom episódio.