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7 de março de 2021

CARO AMIGO BRANCO (DA NEGAÇÃO)

Caro amigo branco,


Quando me queixo do racismo, não o faço para ser visto, mas é a minha alma que eu dispo, portanto é errado achares que és o alvo de tudo o que eu reclamo, porque tu és um bacano, meu mano, tu és tão és fixe e tão brando, que se matares uma mosca é porque a gaja fez uma coisa tosca.

Caro amigo, tu sentes-te aflito quando eu falo do racismo, e dizes com afinco que o racismo é um mito, blá blá blá isto, blá blá blá aquilo, que somos todos filhos da mesma raça... Pois, mas és tu quem passa, mesmo numa discoteca africana, e eu é que sou barrado à entrada. 

Se achas desconfortável para ti eu falar do racismo, imagina como me sinto, eu que vivo à sombra disso. 

Tu dizes que não vês cor, e eu digo, por favor, vai consultar um doutor, porque há algo de errado com a tua retina.

Caro amigo branco, quando eu falo que Portugal é racista, não estou a dizer que tu és racista, nem que todos os portugueses são racistas, mas estou a dizer que o sistema é racista e está construído sobre princípios racistas e de supremacia divisionista.

Vou dar-te um exemplo: o grande templo da história de Portugal é chamado de Descobrimentos, fala de um tempo de homens valentes que dobraram o mar heroicamente e saíram do continente para levar civilização para outras gentes, foram para outros mundos, através do mar profundo para levar a glória de Portugal para limpar povos imundos. Aliás, o hino nacional de Portugal diz: Herois do mar, nobre povo, nação valente e imortal. Entendes agora? 

Quando a postura oficial de Portugal é agigantar os assaltos do passado e tomá-los ainda hoje, apesar dos factos, não como atos feios, mas em grandes devaneios como feitos perfeitos de um povo eleito, então… Portugal é racista.

Quando te ensinavam na escola que pertences a um povo superior, que levou civilização a povos de cor, que os educou e que os tirou do estado selvagem e os levou para outras paragens e os vendeu em outras paisagens, e que os trouxe para este lado do oceano como escravos, diz-me: o que te vinha ao caco quando tiravas os olhos do quadro e olhavas para o teu colega preto sentado ao teu lado? Não achavas que a tua categoria não podia ser vista na mesma linha com a categoria de um limpa-pias cuja família foi um dia mera mercadoria? 

Tu foste doutrinado para te sentires superior a ele, tu foste doutrinado para sentires que este país te pertence, porque no passado não havia cá pretos. Mas, caro amigo branco, é aí que está o engano, porque mouros ou muçulmanos também já dominaram este pedaço de terra. Percebes agora a fraqueza do delírio do orgulho da tua herança genética que tu chamas de perfeita, só porque não tens uma pele preta?

Caro amigo branco, sabes o que é que acontece quando se junta na mesma gruta políticos racistas, direita extremista, jornalistas racistas, cientistas racistas, brancos com problemas de vista que acham que movimentos antirracistas promovem cultura marxista (sei lá que merda é isto), porque a cor não existe ou porque o racismo não existe? Quando se mistura tudo isto na mesma lista, abre-se a temporada de caça aos pretos, como que aconteceu há pouco tempo e como o que se incentiva neste momento nos comentários ignaros de gente demente na Intenet. 

E é disso que eu tenho medo. E também tenho medo de ti, meu caro amigo branco, cujo negacionismo promove o racismo, e que usas uma peneira de maneira a tapar a vista com vista a não ver como Portugal é racista.

Caro branco, se não fodes, então sai de cima.


4 de novembro de 2017

INVERSÃO DE VALORES

De tempo em tempo inventam-se grupos de palavras gratuitas para serem usados por toda e qualquer pessoa que queira passar por inteligente. Agora a moda guineense (importada, é certo) é esta: "inversão de valores". Ainda não usamos muito a "mudança de paradigma".


Sinto-me enjoado sempre que ouço e leio um intelectual guineense a falar de "valores invertidos". Mas qual inversão? De quais valores? A sério, a Guiné-Bissau alguma vez mudou de procedimentos desde que tomamos dos portugueses aquele pedaço de chão? Não. Fomos tão corruptos, nepotistas, tribalistas e oportunistas armados em espertinhos, como os nossos antigos donos foram.

Alguém me diga um único período na Guiné em que a meritocracia (seja lá o que isso for) tivesse sido regra... uma única vez, por exemplo, em que as bolsas de estudo dadas pelo Governo tivessem sido atribuídas por um concurso limpo e não para os filhos e sobrinhos dos bem-apelidados e do pessoal do Ministério da Educação... uu de um concurso para a função pública.

Pelamordideus, enquadrem bem os discursos para não parecerem ocos, não pensados e gratuitos. A cantiga costumava ser "mudança de mentalidade", hoje "inversão de valores". Mas o que a Guiné precisa mesmo é de uma "inversão de valores", porque aqueles por que atuamos, de valores nada têm.

Alguém me ajude, por favor, pode ser que eu não esteja a ver bem as coisas, por isso pergunto: quais são mesmo esses valores que estamos a inverter?

24 de setembro de 2013

UMA QUESTÃO DE... PROSTITUIÇÃO


A prostituição é uma prática social degradante?, acho que sim, dependendo do contexto., embora a História e a literatura nos tenham apresentado certas damas das camélias, poderosas e influentes, que, não obstante a sua profissão, atingiram um estatuto invejável.

Acredito que, porque a prostituição envolve, inegavelmente, o sexo, e porque o sexo é para nós um assunto que, conforme diz a cartilha, tem de envolver uma afinidade emocional, ou melhor, afectiva, e cumplicidade a nível profundo, devendo ser usado como uma extensão de amor, afigura-se-nos imoral quando é usado como mercadoria, o que revolta de tal maneira que chamamos às prostitutas de mulheres de vida fácil. Porém, cometemos logo com isso uma injustiça, pois não me parece haver nenhuma facilidade em ter de ir para a cama com desconhecidos, que tanto podem ser carinhosos como violentos, limpos como porcos, etc. como etc., em troca de dinheiro. Sei de pessoas que engatam desconhecidos após desconhecidos, mas fazem-no por prazer, e não porque são obrigadas (excluo os erotómanos, que são compelidos a isso por uma necessidade psicológica).

As prostitutas, sim, acho que não precisava de dizer isso, são pessoas como nós, e, não, não é porque são prostitutas que significa serem moralmente mais falhos que o resto de nós, aliás, em termo comparativos, elas prostituem o próprio corpo, enquanto a maioria prostitui a ideologia, a ética, e alguns o próprio país e o povo pelo qual é responsável.

As prostitutas são do nosso meio social, e por isso moldadas pelos mesmos princípios báscicos morais que nós, e o óculo pelo qual as vemos é o mesmo pelo qual elas se veem, daí é que se sentem párias, simples objectos, e perdem a sua auto-estima, principalmente porque estamos nós sempre de facho aceso, prontos para a queimança, a mostrar-lhes o quão miserável é a sua vida, de forma que acabam mesmo a aceitar que são menos dignas e simples dejectos sociais.

Temos prostitutas e prostitutas, eu sei. Há aquelas de luxo, que ganham numa noite apenas um tanto milhares de euros, e eu tenho ainda alguma dificuldade em compreender a prostituição de luxo. (Deixem-me só esclarecer, eu defendo que cada um deve usar o seu corpo da forma que entender, desde que não ponha terceiros em risco, se há alguém disposto a pagar para o que podemos oferecer quando o podemos oferecer, se não vermos problemas nisso, por que não? – os prostitutas políticos estão fora desse plano, porque põem todo um país em risco.) Como estava a dizer, tenho dificuldade em compreender a prostituição de luxo, porque está envolto num clima de falso glamour (ou real mesmo), muitas meninas são enganadas e julgam que vão tornar-se estrelas ou algo como isso e são sugadas por esse mundo, e daí começam a fazer fotos com casacos de inverno e de repente estão a fazer vídeos com as pernas abertas… já estou a tergiversar.

Vi na SIC Radical (um canal orientado para adolescentes) um programa que mostra um bordel, nos States, onde as meninas são exploradas por um casal de meia-idade. Parecem sempre todos felizes e sentem-se importantes porque aparecem na televisão. A ideia passada pelo programa é que aquele trabalho e igual a qualquer outro (sim, e por que não? – concordo que devemos levantar o estigma e as cercas morais sobre o assunto), no entanto, desconsidera todos os demais factores. Desconsidera que aquelas meninas estão a servir a um casal de proxenetas (ou talvez a uma organização mais complexa), visto que a casa fica com boa percentagem dos ganhos, e que a prostituição é “supostamente” ilegal. Além de que o programa está a fazer publicidade aquelas casas e às suas meninas.

Uma curiosidade acerca dos States, parece que só um estado americano tem a prostituição legalizada, mas se o acto sexual for filmado deixa de ser prostituição e para a ser considerado pornografia, que é legal – como se ela não se processasse nos mesmos moldes que a prostituição, como se não fosse sexo em troca de dinheiro. 

Aquele programa desconsidera que a nossa sociedade desvaloriza as prostitutas, por isso vai insistindo em dizer que aquelas meninas são tratadas com respeito e cavalheirismo, mesmo quando elas mesmo dizem aos clientes: podes fazer tudo o que quiseres comigo… “pois pagaste, és o meu dono”. (Aspas minhas). Quando elas mostram que ganharam 2.000 euros por uma sessão de sexo com um cliente que teve ejaculação precoce, o que vão pensar as milhares de adolescentes a ver o programa? Não é melhor largar a escola (que, por acaso, é garantia de nada) e começar a treinar os meus dotes da Fanny Hill (não as literárias, é claro)? Eu sei que há prostitutas que ganham muito mais do que isso, sorte delas, mas são exceções.



Sou a favor da prostituição, mas sou contra o aliciamento expresso que fazem às adolescentes, principalmente porque elas vão ser exploradas por terceiros. Se a prostituição fosse legalizada, e houvesse uma estrutura legal que protegesse as mulheres de abusos tanto dos clientes como de nós cá que as condenamos, eu não veria problemas nenhum nesse tipo de aliciamento, porque saberia que elas iriam trabalhar, manter a sua auto-estima e não seriam postas de parte. Eu sei que pessoas como a Sasha Grey, ou Jenna Jameson, são endeusadas, porque ficaram ricas e são famosas, embora sejam ou foram prostitutas, desculpa, artistas do sexo, mas elas são exceções das exceções.

O que queria dizer é que há diferentes níveis de prostituição, e eu queria aqui a escrever sobre o nível mais baixo, aquele onde as mulheres têm de se vender para sustentar os filhos e os maridos, ou das estudantes que precisam disso para as propinas da faculdade, e acabei por desviar-me.


vidas em saldo - reportagem da sic

Bem, é certo que pode haver uma ou outra que goste mesmo de prostituir-se, que junta o útil ao agradável, mas pelas estatísticas, são casos raros.

Eu acho que a prostituição deve ser legalizada, afinal já existe prostituição legalizada chamada de cinema pornográfico. No entanto, repito, também acredito que vai ser preciso muitas medidas milagrosas para tentar que as mulheres sejam menos exploradas. A legalização da prostituição não deveria ser de maneira a favorecer aos proxenetas, mas às próprias prostitutas, aquelas que ou optam por ela ou são forçadas a ela porque têm de sobreviver. A prostituição por si não é problema, o problema é tirar todas as oportunidades às pessoas, restando-lhe apenas isso para sobreviver. 

Se a prostituição não for legalizada, as prostitutas que só a têm como opção para sobreviver, vão trabalhar nisso a vida toda e no fim, quando forem velhas e acabadas e ninguém as quer, simplesmente ficam lixadas, entretanto, se for legalizada, elas pelo menos podem descontar para o estado e garantir uma reforma ou algo parecido. A prostituição é uma necessidade, má ou boa, mas necessidade (não entendam, necessário, pelamordideus).

Não falei do machismo que envolve a prostituição e nem falei da prostituição masculina, porque tirando aquela referente aos gays, a nossa sociedade chauvinista admira os gigolos, mesmo que secretamente, pois fazem sexo e ainda são pagos para isso.

E qual é a diferença entre a prostituição e a pornografia? por que a segunda é legal e a primeira não?

6 de setembro de 2013

TENTANDO ENTENDER... A CRISE SÍRIA

Um dia, por acaso, estava a acompanhar um debate filosófico entre o meu sobrinho, de sete anos, e o seu amigo, de uns nove ou dez, acerca da mentira, quando o amigo saiu com essa conclusão depois de analisadas as premissas e apresentados os argumentos: “os adultos também mentem, e muito mais do que as crianças”. Não manifestei a minha opinião, pois… onde estaria a solidariedade adultícia se eu confirmasse aos miúdos que eles tinham razão?

Numa analogia similar, considerando que os países ricos são os adultos, e os pobres são os miúdos, cuja opinião não é solicitada, nem levada em conta, eu percebo a solidariedade dos G20 com os americanos na questão de invasão à Síria. Solidariedade sim, porque embora saibam que se trata do interesse económico de um punhado de americanos superricos, aqueles que lucram imenso com a sua máquina de guerra (nada a ver com Van Damme), não vão agir em contradição e tudo o que pedem é um aval da ONU (outro pau mandado dos States). Bem, mas compreende-se, os países ricos têm interesse em não perder o seu domínio, e a melhor maneira de o não fazer é não embater de frente com o mais rico e poderoso deles. Sendo assim, os G20, ou melhor os G19, vão, de qualquer forma apoiar o G1, ou quanto muito, não fazer nada quando este decidir levar a sua avante. Trata-se da solidariedade adultícia.

Pode ter havido ataque com gás sarin na Síria – como pode não ter –, pode ter sido um trabalho tanto do governo i-“legítimo” – como pode ter sido da oposição – (o i- é para dizer ao Passos Coelho que a legitimidade do governo, mesmo que tenha 100% de votos, perde-se quando põe em risco a sua população em benefício de interesses económicos alheios), mas numa coisa todos concordam, milhares de sírios desgraçados estão a morrer massacrados pela ganância de uns quantos. Pois vê-se que tanto do lado sírio como do americanos há muitas coisas a aparecerem que cheiram a completas manipulações.

Diz-se que há mais ou menos 110 mil mortos desde o início da guerra civil síria, mas isso não interessava aos americanos, nem aos G19, são sírios, porra, nem pessoas são. No entanto, quando se fala que uns 100 sírios morreram com gás sarin, levanta-se a América, toda indignada: Isso é uma barbaridade!  Pois, claro que é! Onde já se viu? Matem-se com armas, com canhões, matem-se com garfadas no olho um do outro, aliás, até podem usar a piada mortal dos Monty Python, matem-se à paulada, matem milhões, matem bilhões, porra, mas não usem o gás, pois isso é barbaridade. Gás só é permitido nas prisões americanas, ninguém mais deve usá-lo.

Obama vai atacar a síria, retaliação, disse ele. Mas que raio fizeram os sírios à América para estes terem de retaliar?

Mas todos sabemos que o G1 não se importa com o que os outros pensam, ele apenas faz, no entanto, do lado de cá, vejo notícias sobre a crise síria que me deixam perplexos. Quem entende os média? Num artigo dizem que existem provas que atestam o ataque em Síria com armas químicas pelo governo, para logo no outro dizerem, em letras miúdas, que a ONU ainda não fez exames conclusivas, para logo a seguir, voltarem a carga em letras garrafais que houve provas e ADN sobre o uso do sarin e que o Cameron tem provas conclusivas, como se não soubessem que Powell, Bush e Blair já tinham apresentado provas conclusivas aquando do ataque ao Iraque? Por que carga d’água os média não usam a palavra “alegadamente” quando apresentam essas notícias em vez de servi-las com factuais, sabendo que muitos nem pensam sobre o que ouvem e partem logo do princípio que os jornalistas não mentem (ai, tenho de avisar o meu sobrinho).

A Síria vai ser invadida para fazer um cerco ao Irão? A Síria vai ser invadida para meter medo aos norte-coreanos e aos iranianos? A Síria vai ser invadida porque, pelos visto, a retirada das tropas de Afeganistão poderá criar desemprego para o milhares de mercenários americanos? A Síria via ser invadida por uma posição estratégica contra a Rússia? A Síria será invadida para um teste cabal dos drones e robots de combate? 

Mas quem raio legitimou a América como a polícia do mundo?

Acho que essas (ou algo como isso) deveriam ser algumas das questões que deviam ser levantadas e analisar a legitimidade de um país invadir o outro. Invadam então Portugal, porque o governo está a usar bombas decretatórias para liquidar a população... ai, por favor, não invadam, estava só a brincar.

Que Obama pôde ter mudado alguma da política americana… sim, ele pôde. No entanto, tal como já vaticinara, ele tem de cumprir as promessas feitas as multinacionais que financiaram a sua campanha, e ele é apenas um outro fantoche da grande e verdadeira América (os bancos e as multinacionais).


Tentei aqui entender a crise síria, mas continuo como quando comecei a escrever isto, não entendi nada.




18 de dezembro de 2012

SERÃO OS AMERICANOS HUMANOS?

Uns meses atrás, por causa de umas pessoínhas de uns afegãos que de manhã foram notícia e à tarde passaram à nota de rodapé, eu perguntei: serão os afegães humanos? Claro que não eram, só foram notícia por causa do americano envolvido na questão. Mas desta vez, por todos os envolvidos serem americanos, e por causa de quatro dias da mesma notícia, eu então pergunto: serão os americanos humanos?

Todos sabemos a resposta. Tal e qual os afegãos não são humanos, os americanos também não são; mas se os primeiros são pessoínhas, os segundos são deuses, e é por isso que as suas vidas são tão valorizadas, tão valorizadas, que se tornam notícias mundiais porque vinte crianças morreram (lamentos pelos pais e familiares), quando ao mesmo tempo estão a morrer pessoínhas (crianças, adultos, famílias inteiras) sírias, palestinas, iraquianas e eteceterianas, mortas pelas guerras americanas (ou com o dedo americano), e nem sequer levantam comoção.

Não estou contente com a morte desses meninos inocentes, se passei essa ideia perdoem-me, odeio matanças, não vejo justificação nenhuma em matanças, ao contrário do Bento XVI que falava de violência não justificada, pois para mim todas as vidas humanas importam da mesma maneira.


No entanto, por serem deuses, temos de velar e ficar compenetrados pelas vidas recentemente ceifadas nesse pequeno massacre na América (sim, estou a usar termos comparativos de propósito), e não nos lixarmos pelas outras tiradas pelas armas, pelas bombas, pelos soldados e drones americanos, ou pelos soldados do petróleo, e nem devemos ficar compenetrados pelos sírios que se estão a matar, ou irritados pelos abusos israelitas sobre os palestinos. Isto por quê? Porque pessoínhas não se medem com deuses.

A América é uma terra de deuses, por isso é que pode ser toda às avessas, por isso é que acreditam que as suas emendas publicadas séculos atrás continuam hoje tão boas e com infalibilidade bíblica e dogmática que não precisam de revisão; por isso é que permitem a jovens de 18 anos irem morrer na guerra, entrar em filmes pornos, poder portar armas de fogo e matar os outros, mas não não lhes permitem beber uma cerveja; por isso é que vão levar para a discussão outra vez  a questão de porte de arma, embora todos eles já saibam o vai resultar daí: nada; por isso é que os Obamas e tal vão chorar lágrimas de crocodilo e depois ficarão à espera de uma nova matança; por isso é que esta matança não tem nada de novo, visto ser nada mais do que outro eco.

Para fechar, digo, lamento pelos familiares, mas basta de hipocrisia, as vidas americanas não são mais importantes do que nenhuma outra vida, por isso por quê a tanta hipocrisia mediática em torno do assunto?

13 de agosto de 2012

ERÓTICO OU PORNOGRÁFICO - no plano musical


Nos artigos anteriores em que falei sobre o erótico ou pornográfico, referi-me ao plano cinematográfico e ao plano literário, desta vez pretendo falar dos dois no plano musical. E, vou evitar falar dos vídeos, porque embora sejam complementos da música actualmente entram mais no plano visual, e por não serem cinema, talvez venham a ganhar um artigo independente. Posto isto, avanço:

Eu gostava de Roberta Miranda, acho que ainda gosto, embora já faz um bom tempo que não a escuto. Ela tinha esta música, Atração Fatal, que me custava um tanto cantar em voz alta, por causa das imagens que evoca na refrão que dizia: tou querendo tudo em mim, te sentir bem animal, ai ai ai ai ai… É que eu era muito católico e lá em casa não podíamos usar a palavra S… ok!, sexo, já disse. Para o meu pai dizer sexo implicava vontade de o fazer ou algo assim no género e portanto era palavra proibida… mas qual quê, contávamos entre nós muitas histórias que envolviam sexo, o famoso peixinho, peixinho, na praia de bambadinca e anedotas de traição… enfim.

Essa introdução é só para reforçar o que todo o mundo já sabe: o sexo faz parte da nossa vida, mercantilizada, moralizada, religionizada, poetizada, e de diferentes outras formas. Ao mesmo tempo que a moral estipula o sexo “correcto”, ele nos é apresentado como necessário e fundamental à nossa saúde, e inevitável, sob a tutela da mesma unidade vigilante e moralizadora. Um moralismo hipócrita.

É certo que o tanto o erótico como o pornográfico têm a mesma função: mexer-nos com a libido e excitar os sentidos; e sendo assim muito dificilmente se considera a música como erótico ou pornográfico, todavia, se ficarmos atentos ao seu teor e à sua imagem facilmente vemos isso nelas.

Por exemplo, as músicas de Quim Barreiros ou da Rosinha apesar de virem carregados de um duplo sentido e implicitamente sexuais, dificilmente se podem considerar pornográficas ou eróticas, no entanto, algumas músicas metidas a românticas acabam por não falar dos ditos nobres sentimentos mas de folguedos sexuais, perdendo-se entre o erótico e o porno. Entretanto, considerando que o pornográfico é mais explícito que o romântico, podemos encontrar mesmo na música essa diferença.

Não sei bem em quê se enquadraria a Ai, se eu te pego de Michael Telô, se para mim é pornográfica, considerando as palavras que usa e a insinuação aberta, para alguns não passa de um monte de palavras, entretanto, alguém acredita que essa música seria famosa se não fosse pelo seu tom sexual? Pode-se argumentar que há músicas mais explícitas e sexuais e melhor cantadas e tocadas do que essa do Michael mas não são famosas, para dizer que não foi o componente sexual que lhe deu a fama, mas a verdade é que a dissimulação existente na Ai, se eu te pego faz todo o seu trunfo, como disse uma amiga fã da música: ela não diz nada, mas diz tudo.

Do Brasil temos músicas abertamente pornográficas chamadas de funk, todas dizendo a mesma coisa, e se ouvires cem delas acredito que terás aprendido metade da kamasutra. Mas não é apenas do Brasil que temos músicas dessas, vêm de toda a parte do mundo. Vou citar um exemplo português, feito pelo rapper Valete, com a sua Roleta Russa, onde faz um bem descritivo episódio sexual, para no fim fingir que a ideia por trás de tudo é avisar sobre a necessidade do uso do preservativo… nada a ver uma coisa com a outra, porque quando fazemos um aviso, ilustramos com consequência, e a música era inconsequente. De igual modo temos o rapper Azagaia que fez o mesmo (não me lembro do título) e com melhores resultados, depois de uma extenuante descrição sexual, no fim choca-nos com a ideia de que está a falar da exploração sexual infantil, consegue ser melhor que o primeiro, mas se realmente pretendesse passar uma mensagem não limitaria o público sendo pornográfico. Xeg, por exemplo, com a sua Vaca de Merda, não é nem erótico, nem pornográfico, mas simplesmente ordinário, usando palavras de um adolescente despeitado para fazer toda uma música. Enfim...

Como disse antes, somos invadidos pelo erótico e pelo pornográfico de tal maneira que não sabemos separar as duas coisas, e todos os nossos sentidos são bombardeados por eles, ou melhor, pelo sexo. Quando vemos axe na televisão a prometer sexo fácil, ou vemos uma publicidade de um carro que nos promete mulheres se comprarmos o modelo, e no dia seguinte sentir-mos o cheiro de axe ou vermos a imagem do carro, não conseguimos evitar a sexualização do produto e acordar em nós imagens eróticas. A música faz a mesma coisa connosco e de uma maneira mais substancial.

No entanto, o que me admira acima de tudo é as pessoas continuarem a fazer-se de admiradas e a fingirem não entender a razão das criança serem cada vez mais sexualmente precoces.

19 de junho de 2012

TENTANDO ENTENDER... A CRISE


Muitas vezes ouvi pessoas a dizer: então, se a crise é uma questão de falta de dinheiro, por que não se pode simplesmente imprimir mais dinheiro? Pois, por que não? Bem, porque a estrutura económica decidiu que não é assim tão simples. 

E a verdade é que a crise não é necessariamente uma questão de falta de dinheiro, mas do excesso do mesmo, porque há mais dinheiro  electrónico do que físico e se o físico precisa de ser impresso, o electrónico cria-se automaticamente a partir de uma promessa de dívidas ou juros ou benefícios. Por exemplo: vais sem dinheiro comprar qualquer coisa, o banco autoriza a compra e não te dá dinheiro físico, faz transferência electrónica para o vendedor, e, voilá, essa quantidade que requereste acaba de ser criada, e depois, como vais pagá-la com juros, novas quantidades se criam a partir dessa. E sendo que o que não falta hoje são dívidas, conclui-se facilmente que não é o dinheiro que está em falta, além do mais, se há uma coisa que contraria a teoria do Lavoiser é o dinheiro, ela é a única coisa na natureza que não desaparece (quer dizer, até desaparece dos nossos bolsos), pois não é natural, apenas muda de mão. Portanto a pergunta devia ser: para onde foi o dinheiro?

Considerando isto, entende-se que a crise não existe por falta de dinheiro, mas porque um grupo de bilionários ficou entediado e resolveu monopolizar os bancos, legitimado pelo sistema, controlando a circulação monetária, desequilibrando ainda mais balança desequilibrada, pondo na corda bamba os países menos poderosos, para a partir disso, comprar os governos e ganhar o controlo do mundo. De momento parece que os donos da Europa são a Alemanha e a França (representados por Merkel e Sarkozy), mas se formos mais analíticos percebemos que não são verdadeiramente os dois países que controlam a Europa, mas um punhado de pessoas que usa os dois representantes como o seu pau-mandado. 

Alguém já perguntou a quem responde a Troika? O Banco Europeu, o Banco Central e o FMI são bancos pertencentes a uma coligação de países ou são simplesmente bancos privados (com acções distribuídas por quem as puder comprar, é claro, e que não é qualquer um)? A Troika não responde a nenhum governo ou estado ou coligação de nações, nem nada, a Troika responde a uns grupos de capitalistas que sempre que sentem que lhes está a fugir o controlo, ou se sentem aborrecidos com o estado do mundo, apertam as cordas ao redor do pescoço dos governos que praticamente fazem tudo o que lhes é mandado. Por exemplo, vejamos o caso de Portugal, um país, soberano, que se encontra refém dos bancos.

Não é preciso imprimir mais dinheiro, porque o dinheiro existe, e como já tinha dito, mesmo que não exista, é criado, senão como é que se explica que haja crise e suposta falta de dinheiro e mesmo assim a Troika consegue injectar biliões a qualquer país que se submeta aos seus caprichos? Ou será que eles estão a dar dinheiro que não têm aos países em desespero? Estarão a aplicar um esquema de Ponzi?

Aliás, bem visto as coisas, os bancos funcionam todos à base do esquema de Ponzi, a única diferença é que são legitimados pela lei para aplicar o esquema, porque supostamente pagam impostos, quando na verdade sugam impostos por causa das cagadas constantes dos seus administradores. Vamos ver, o banco promete-te 20% (ou qualquer outro valor) de retorno sobre o teu investimento (reconheço não ser bom com esses termos técnicos, mas creio que me faço perceber) sendo que tudo o que tens de fazer é deixar com eles o teu dinheiro, e sabemos que dinheiro parado não gera dinheiro, ou seja, o que eles vão fazer com o teu dinheiro é salvaguardar a promessa que tinham feito a outrem dando-lhe o seu valor inicial mais o acréscimo em juros proporcionados pelo teu dinheiro, e quando chegar a tua vez, fazem-no com o dinheiro de alguém (ou pelo menos é o que dizem, porque na verdade, eles continuam a criar dinheiro a partir de cada empréstimo que alguém faz, necessitando mais que as pessoas façam empréstimos, sendo os pagamentos simples bónus). 

Imaginemos uma situação (como já aconteceu com uns bancos do meu país): a corrida ao banco, toda a gente ou a maioria resolve ir levantar o seu dinheiro com os benefícios prometidos, o banco colapsa porque não consegue responder a todos os pedidos, além de mais quando o levantamento é feito, o cliente recebe o dinheiro físico e como eles têm mais dinheiro electrónico do que físico, percebe-se o embuste com o qual nos têm controlado. Mas não importa, a eles é permitido o esquema de Ponzi, desde que se unam com os governos nessa ladroagem. E é exactamente o mesmo esquema que a Troika está a aplicar aos governos agora, e eles encontram-se de mãos atadas por terem sido eles a legitimar o processo.

A Troika está a dar o dinheiro que não tem aos governos endividando-os ainda mais? Ou será ela a fabricante mundial de dinheiro? E quem a legitimou como tal? Foi um acordo tácito ou uma espécie de imposição feita com a cumplicidade dos países mais poderosos (ou melhor das pessoas mais poderosas dos países mais poderosos)? O sistema é claramente canibal e está a alimentar-se dos mais fracos.

Não sei a resposta; nem estou a escrever isto para tentar esclarecer nada a ninguém, antes para tentar elucidar-me a mim mesmo, mas uma coisa eu sei: existe dinheiro e a crise é só uma fantasia para destilar mais as classes sociais, acabando com a classe média e as tentativas de homogeneização. 

Algumas pessoas podem pensar que todos poderem usar a net, ou comprar iPod, iPad, iPhone, Ai-meu-deus!, ou assistir a um concerto de um artista qualquer no mesmo estádio, não importa o preço do bilhete, garante a igualdade, mas enquanto existirmos apenas para contar os tostões para uns poucos se refocilarem com o que suamos, não podemos pensar nem na igualdade, muito menos na liberdade. Aliás, mesmo para recebermos o nosso salário, suposta compensação do nosso esforço, somos obrigados a dar pelo menos uns sessenta euros anuais a um banco qualquer (sem falar dos impostos agressivos) porque estão todos de conveniência com as empresas e com os governos. Não te é pago simplesmente o salário para guardares em casa, tens de ir buscá-lo a um banco qualquer. E se falo muito aqui dos bancos é porque eles são os tentáculos dos mais poderosos, como a Troika, por exemplo, e os principais gestores da crise. E note-se que nos países do terceiro mundo quase não se fala da crise, considerando que estão em "crise" constante, a crise afecta principalmente o ocidente (primeiro mundo), pois os restantes já foram e são melhor controlados.  

E por que razão se toda a crise gira em torno dos bancos, parasitas dos povos, ao injectarem dinheiro para salvaguardar o país da crise, injectam-no nesse mesmo sistema bancário que a criou? Não é, no mínimo, ridículo?

Que os governos vão acabar por ser controlados pelas multinacionais e corporativas como a Troika (mais indiscretamente quero eu dizer), se continuarmos como estamos, não há menor dúvidas; estamos cada vez mais perto de uma dominação mundial escancarada promovida por empresários multi-trilionários… pois efetivamente já existe há muito tempo... mas até lá…

5 de junho de 2012

SERÃO OS AFEGÃOS HUMANOS?


Escrevi isto há já uns meses, estava à espera de pelo menos uma semana para o publicar (não gosto muito de escrever enquanto o assunto é polémico, porque assim acaba-se por ser mais rapidamente esquecido, diluindo-se com o fervor), depois não soube onde meti as notas.

Agora que ninguém fala disto, considerando que é um tema já morto e ultrapassado, eu falo (desperte ou não interesse), principalmente porque não é uma coisa pontual, mas regular e do qual tomamos conhecimento, mas preferimos não saber. Adiante.

Quando um afegão mata um americano é terrorismo, mas quando um americano mata dezasseis ou dezassete (nem se sabe precisar) afegãos é colapso nervoso.

No Ocidente é bem conhecido a influência da Ética de Aristóteles, que mais tarde se reafirmaria na “Igualdade, Liberdade e Fraternidade” da Revolução Francesa. O Oriente, infelizmente não fez caso dessa filosofia, ou pelo menos não anda sempre a citar estas três palavras, de maneira que o Ocidente costuma dizer que ele não respeita os direitos humanos.

Sendo assim, pergunta-se: por que carga d’água os afegãos ficaram a reclamar que dezassete deles foram mortos? Eles que nem respeitam os direitos humanos? Que raio querem? Se eles nem se tratam uns aos outros como humanos, aceitando os direitos, porque raio agora querem que os americanos os tratem como humanos? Os afegãos não respeitam as mulheres, abusam das crianças, matam-se uns aos outros, matam-se a si mesmos, têm o próprio país num estado tão caótico tão caótico que, como resultado, interferiu com a estabilidade de uma pobre alma americana, habituada à liberdade e à harmonia no seu país, levando-a a um colapso nervoso.

Bin Laden explodiu as torres (se é que foi ele), bora invadir Afeganistão… Não, não estou a comparar a vida de milhares de dólares com uma mão cheia de afegãos, isso nem me passou pela cabeça, não se compara humanos com direitos humanos com umas pessoínhas que nem têm isso no dicionário. Se alguns afegãos se tivessem sentido revoltados com o que o soldado americano fez à sua gente e resolvessem atacar a embaixada americana teriam de ser exterminados, pois não se pode permitir que a selvajaria destrua a civilização. E se já estão a fazer-lhes um favor levando-lhes a democracia e o macdonald’s para os humanizar, tudo o que deviam fazer era agradecer e portarem-se bem para não levar nenhum soldado americano ao colapso.

E o presidente de Afeganistão ainda teve a lata de reclamar contra o pobre americano e pedir justiça, e nem quis ver que acabou de ser destruída uma família inteira; uma família cujo um dos seus membros daria a sua vida em defesa do glorioso “sonho americano”, mas que agora vai ver-se acusado e terá de passar por sessões psiquiátricas porque não resistiu à tentação de acabar com uns dezassete pessoínhas (afegãos, blarghhh). Será que o presidente não percebeu que só está à cabeça daquele país de pessoas menores porque a Grande América tolera e que sua lei só contempla a sua gentinha e não os americanos? Ainda não percebeu que de soberano o seu país não tem nada quando não pode julgar alguém por um crime que cometeu e tem de ir chorar para a embaixada americana para que isso aconteça? Mais facilmente seria atendido se tivesse ido fazer uma queixa na PETA, e mesmo assim seria difícil obter a justiça, considerando que os afegãos não estão na lista de em vias de extinção. De qualquer forma, saíram a ganhar, porque uma vida afegã só vale cinquenta mil dólares (aliás, eles valeriam menos no mercado), que é a medida de compensação oferecida pelo Obama.

O jornal Metro (ano 6, nº 1618, 12/02/2012) escreveu que seis militares americanos foram mortos por colegas afegãos porque queimaram exemplares de Corão, logo em baixo da coluna sobre a atrocidade que o soldado americano cometeu; fiquei realmente chocado com a notícia, mas pelos motivos contrários ao que o jornal pretendia: desculpar o acto criminoso do americano com um apelo à compreensão e atenuar o impacto com "olho por olho", senti-me revoltado por esta atitude cobarde e desprezível que os média ocidentais têm em relação aos povos orientais (desde que não seja Israel, é claro, ou a Correia do Sul, porque é um aliado contra a Correia do Norte) quando o assunto é relacionado com os EUA.   

Colapso nervoso, disse a América, colapso nervoso repetiram por aqui os média. Colapso provavelmente teve o soldado texano que disparou nos seus colegas, ou, esticando a corda, os putos de Columbine, mas este aqui escolheu outro povo para colapsar sobre; por que não colapsou sobre os seus colegas do aquartelamento? Porque escolheu os pobres e indefesos afegãos? A sério, ganhem coragem (e juízo), ó média, se quiserem continuar sérios, tenham vergonha, deixem de ser partidários e chamem a coisa pelo seu nome, o que aconteceu foi um CRIME DE ÓDIO.

13 de agosto de 2011

A VIOLÊNCIA, A SOLUÇÃO (soneto)

Ensinaram-me de leite na boca, 
Que a violência só resolve nada, 
Pois ela é igual à afiada espada 
Que desune os vínculos que toca. 


Mas vejo que a paz que o mundo invoca, 
Sequer um degrau dessa longa escada, 
Ou desta vida um degrau da estrada, 
Ela, no seu caminhar, se desloca. 


Diziam que por ela, a violência, 
A paz edificada se dissolve 
Apenas em ruínas de decadência; 


Mas o problema melhor se resolve, 
Diz-se hoje, quando a violência fala 
E a clara evidência, apenas, cala.

23 de julho de 2011

in JUSTIÇA (soneto)


«Ninguém julgue para não ser julgado»,
Um homem sábio assim recomendou,
Então o maior dos erros emendou.
Mostrou que o melhor é ser-se guiado

Pela inocência que nos foi entregado.
Um belo conselho nos ofertou:
«Quem ver que nunca na vida pecou
Que o outro seja por ele julgado,

Que se faça do primeiro a atirar
A pedra do pecado sobre alguém,
Que seja do primeiro a castigar

Quem por ele condenamento teve».
Mas se é livre do pecado ninguém
Quem no mundo julgar os outros deve?

16 de julho de 2011

POSSUI-ME, DISSE ELA (soneto)



Possui-me, sussurou ela pra mim,
Envolve-me toda num forte abraço,
Não serei amarga, ser-te-ei melaço,
Prometo dar-te euforia sem fim.

Possui-me, disse em tom de querubim,
Usa a língua e provoca-me um fogaço,
Penetra-me c'alma, ata-me um laço,
Mais florido que Éden dou-te um jardim.

Cara princesa, foi o que a ela falei,
Crê-me, pra ti não sou bom amante,
A outra o meu fogo a dar intentei,

Pois por ela e pra ela o planeta gira,
Mas tu pra todos és tão perturbante...
Perdoa, ó Verdade, se escolho a Mentira.

4 de julho de 2011

ERÓTICO OU PORNOGRÁFICO - no plano cinematográfico


Este artigo é um tanto longo e disperso, porque não o escrevi a pensar em publicá-lo, mas apenas para limpar as ideias. Resolvi dar umas polidas nele e tentar deixá-lo mais coerente, de maneira a poder postá-lo, por isso vou ainda apenas publicar uma parte.


pecado original, angelina jolie e antonio banderas
No cinema, a diferença entre o erótico e o pornográfico costumava ser mais explícita do que na literatura, quer dizer, ainda continua a ser, no entanto, muitas vezes o limite é trasposto e chamam a isso de arte.

Não tenho nada contra a pornografia, nada mesmo, aliás sou um pornófilo e não acho que seja o sexo a razão de existirem tantas pessoas amorais, por isso tanto se me faz como se me fez que quebrem ou não a barreira entre o erótico e o pornográfico no cinema.

Todavia, o que me faz espécie é a hipocrisia que envolve a questão. E desta vez não vou falar de moralistas, porque esses já sabemos mais ou menos como são e como têm medo de sair da sua zona de conforto, mas de artistas, porque se armam em progressivos e cultivam a abertura mental, razão por que promoverem eles um controlo hipócrita vai contra o fundamental da ideologia artística: a liberdade.

Ok! Eu sei que o cinema não é controlado apenas por artistas, mas principalmente por executivos e negociantes; porém quando falamos de prémios do cinema, suponho que nos referimos à parte artística (não falando dos Oscar, é claro), o que se vê nos muitos filmes que nunca conseguirão triunfar no cinema, mas que são premiados nos diversos festivais, principalmente nos europeus.

No entanto, a despeito da arte, hoje para um filme ser premiado em qualquer desses festivais só precisa de uma coisa: sexo; e quanto mais ousado e explícito, mais artístico

Contudo, as limitações existem, duas pessoas felizes a ter sexo nesse antro cinematográfico é pornografia, mas um para de drogados, ou uma adolescente e um cinquentão, ou qualquer outro par ou conjunto que choque os costumes, é artístico, progressivo e leva prémios e menções honrosas... ou críticas acirradas, mas que não escondem o fascínio. 

Se a ideia devia ser mostrar o quanto banal o sexo é, esse tratamento que lhe dão nos festivais acaba por projectar uma ideia oposta, a ideia de importância e sacrossantice, de tal maneira que os argumentistas que vão frequentá-los dão a entender que escrevem primeiro umas cenas de sexo, e quanto mais chocante, melhor, e depois escrevem o resto para contextualiza-las ou interligá-las, metendo umas pitadas de questão existencial, algumas imagens dúbias e sem sentido (mas que todos nós procuramos atribuir um, porque somos sábios demais para reconhecer que o rei vai nu), uns apelos a filosofia e filosofices, um bocadinho de droga, e, ou, o melhor trunfo: a fascinante degradação humana… e, voilá, eis a fórmula para… Cannes, por exemplo. 

Eu sei que os filmes com cenas desses quando lá chegam são vaiados pelos críticos que se mostram chocados, mas já pensaram por que apesar disso continuam sempre a ir para lá?   

Para mim sexo e pornografia são duas coisas diferentes, não obstante a arma da pornografia ser o sexo. No entanto, sexo explícito costumava ser pornográfico, e o outro tipo mais sugestivo, erótico, mas nesses festivais, sexo não é pornografia, nem erotismo, e por mais violência e choque que manifeste, ele é considerado arte. 

E a minha questão é: por quê?

27 de junho de 2011

TER OU NÃO TER FILHOS; EIS A QUESTÃO


Existe uma terra onde as pessoas põem luto quando nasce uma criança e fazem festa quando morre alguém.

Esta é uma alusão casual que aparece no Baudolino, de Umberto Eco sem qualquer impacto no desenvolvimento da história, sendo apenas uma das gotas de um mar de referências a crendices do povo europeu da Idade Média, algumas das quais, de certo modo, perduram até hoje. Porém, o paralelo entre o nascimento e o luto fez-me reflectir, porque a bem ver parece que é o que temos hoje. Passo a explicar.

Não pretendo dizer que uma criança seja realmente um motivo de luto, mas parece que embora os pais beneficiem da alegria da paternidade, há sempre uma flor de luto a benvindar a chegada da criança, se não, o que explicaria a redução da taxa de natalidade na Europa?

No filme Idiocracia (sobre o qual postarei uma leitura um dia) apresentou-se o panorama actual da questão de nascimentos e, em jeito de ficção científica (não tão científica assim), uma das suas possíveis conclusões. Mostra como as pessoas inteligentes planeiam os filhos: primeiro pensam na carreira, depois na segurança do lar e até terem a criança enfastiam-se uma da outra, ou então descobrem que não podem tê-la, ou têm-na, só uma, e ela lhes morre. Resultado: o número de burros aumenta, porque esses não planeiam, só se limitam a fazer filhos, e o dos inteligentes decresce. Ok!, é certo que não é assim tão linear, na questão burrice, digo eu, porque inteligentes podem fazer burros, assim como burros podem fazer inteligentes, mas isso fica para outro fórum.

Na realidade, a Europa, ou o ocidente, não está projectado para ter filhos, o sistema é anti-família e canibal, as pessoas não são mais do que meros gados para o enriquecimento de uma determinada massa. As pessoas são tratadas como investimento económico, têm que render, têm que dar lucro, razão porque quando não o fazem são olhados de revés e tratados como párias sociais. Ter um filho é uma responsabilidade tremenda, porque um filho, quando muito, só dá lucro emocional, e tudo aqui gira em torno do sistema financeiro, onde a emoção praticamente tem o índice zero de importância. Não querem saber que amas os teus e que esses te dão todo o suporte que precisas para aguentar as pressões que te põem em cima, não, isso não interessa, o que interessa é que tu e os teus consumam, consumam e consumam, e para continuar a consumir, têm que se submeter às regras de escravidão de uma empresa qualquer que te vai chupar até ao tutano.


Os governos incentivam o nascimento das crianças, porque a população está a ficar envelhecida, mas será que pensam na questão de envelhecimento como uma ameaça à sobrevivência da humanidade ou como um baixar do lucro? Há aqueles que dão um prémio de uns quantos milhares de euros para aqueles que lhes põem nas estatísticas mais crianças, por exemplo, a Alemanha que estava a dar 25.000 euros por cabeça, o que no fundo, no fundo não passa de uma armadilha. Uma criança chega ao mundo e é começado a ser cobrada até o dia em que partir, ou seja os tais 25.000 euros ainda acabam antes de ele chegar aos sete anos. A creche do meu sobrinho, por exemplo, é mais cara que a propina da minha faculdade, mas eu faço parte de produção e ele não. Não era mais fácil e justo que a creche dele fosse grátis, visto que não pode pagar por ela?

A paternidade na europa é uma questão muito difícil, porque para viver, ou sobreviver, praí 95% das pessoas tem que se matar a trabalhar, não dispondo de tempo para os filhos que põem no mundo, o que se traduz no aumento da quantidade dos pais que julgam que comida, vestida e dormida é tudo o quanto necessitam de garantir aos filhos para serem bons pais, e o elo emocional é assim tão frágil que quando ficam velhos, os filhos preferem metê-los num lar a ter sua companhia.

Agora, voltando ao primeiro parágrafo, será assim tão estranho fazer luto quando nasce uma criança? Não vejo motivos para festa quando morre uma. Mas o ocidente não ajuda em nada na questão de procriação (não estou a falar do acto, que o isso é muito incentivado, não obstante as advertências), porque uma criança, como já dissera, não produz, porém, como têm a certeza de que ela vai crescer, ser formatada (para perpetuar o sistema) e tornar-se produtiva, apostam nela, mas já os idosos é que não têm essa sorte (vou falar disso num outro artigo), e quando um deles morre, chora-se, mas também com uma flor de alívio e de festa.

Estou a dizer para não terem filhos as pessoas que os queiram ter? Não, não estou. Ainda mais que há inúmeros factores envolvidos que ignorei atendo-me apenas ao sistema economicocêntrico (se me permitem o termo). Estou é a dizer que o sistema não está desenhado para ter filhos, ou pelo menos para ter uma família com todas as sete letras, e dificulta imenso essa tarefa, ou seja, precisa de ser trabalhado ou reformulado. O que me lembra a piada: se o mundo fosse bom, as crianças não nasciam chorando.