Escrevi isto há já uns meses,
estava à espera de pelo menos uma semana para o publicar (não gosto muito de
escrever enquanto o assunto é polémico, porque assim acaba-se por ser mais
rapidamente esquecido, diluindo-se com o fervor), depois não soube onde meti as
notas.
Agora que ninguém fala disto,
considerando que é um tema já morto e ultrapassado, eu falo (desperte ou não
interesse), principalmente porque não é uma coisa pontual, mas regular e do
qual tomamos conhecimento, mas preferimos não saber. Adiante.
Quando um
afegão mata um americano é terrorismo, mas quando um americano mata dezasseis ou dezassete (nem se sabe precisar) afegãos é colapso nervoso.
No Ocidente é bem conhecido a
influência da Ética de Aristóteles, que mais tarde se reafirmaria na “Igualdade,
Liberdade e Fraternidade” da Revolução Francesa. O Oriente, infelizmente não
fez caso dessa filosofia, ou pelo menos não anda sempre a citar estas três
palavras, de maneira que o Ocidente costuma dizer que ele não respeita os
direitos humanos.
Sendo assim, pergunta-se: por que
carga d’água os afegãos ficaram a reclamar que dezassete deles foram mortos?
Eles que nem respeitam os direitos humanos? Que raio querem? Se eles nem se
tratam uns aos outros como humanos, aceitando os direitos, porque raio agora
querem que os americanos os tratem como humanos? Os afegãos não respeitam as
mulheres, abusam das crianças, matam-se uns aos outros, matam-se a si mesmos,
têm o próprio país num estado tão caótico tão caótico que, como resultado,
interferiu com a estabilidade de uma pobre alma americana, habituada à liberdade e à harmonia no seu país, levando-a a um colapso nervoso.
Bin Laden explodiu as torres (se
é que foi ele), bora invadir Afeganistão… Não, não estou a comparar a vida de
milhares de dólares com uma mão cheia de afegãos, isso nem me passou pela
cabeça, não se compara humanos com direitos humanos com umas pessoínhas que nem
têm isso no dicionário. Se alguns afegãos se tivessem sentido revoltados com o que
o soldado americano fez à sua gente e resolvessem atacar a embaixada americana
teriam de ser exterminados, pois não se pode permitir que a selvajaria destrua a
civilização. E se já estão a fazer-lhes um favor levando-lhes a democracia e o
macdonald’s para os humanizar, tudo o que deviam fazer era agradecer e
portarem-se bem para não levar nenhum soldado americano ao colapso.
E o presidente de Afeganistão
ainda teve a lata de reclamar contra o pobre americano e pedir justiça, e nem
quis ver que acabou de ser destruída uma família inteira; uma família cujo um
dos seus membros daria a sua vida em defesa do glorioso “sonho americano”, mas
que agora vai ver-se acusado e terá de passar por sessões psiquiátricas porque
não resistiu à tentação de acabar com uns dezassete pessoínhas (afegãos,
blarghhh). Será que o presidente não percebeu que só está à cabeça daquele país
de pessoas menores porque a Grande América tolera e que sua lei só contempla a
sua gentinha e não os americanos? Ainda não percebeu que de soberano o seu país
não tem nada quando não pode julgar alguém por um crime que cometeu e tem de ir
chorar para a embaixada americana para que isso aconteça? Mais facilmente seria
atendido se tivesse ido fazer uma queixa na PETA, e mesmo assim seria difícil
obter a justiça, considerando que os afegãos não estão na lista de em vias de extinção. De qualquer forma,
saíram a ganhar, porque uma vida afegã só vale cinquenta mil dólares (aliás,
eles valeriam menos no mercado), que é a medida de compensação oferecida pelo
Obama.
O jornal Metro (ano 6, nº 1618,
12/02/2012) escreveu que seis militares americanos foram mortos por colegas
afegãos porque queimaram exemplares de Corão, logo em baixo da coluna sobre a
atrocidade que o soldado americano cometeu; fiquei realmente chocado com a
notícia, mas pelos motivos contrários ao que o jornal pretendia: desculpar o acto criminoso do americano com
um apelo à compreensão e atenuar o impacto com "olho por olho", senti-me
revoltado por esta atitude cobarde e desprezível que os média ocidentais têm em
relação aos povos orientais (desde que não seja Israel, é claro, ou a Correia
do Sul, porque é um aliado contra a Correia do Norte) quando o assunto é
relacionado com os EUA.
Colapso nervoso, disse a América,
colapso nervoso repetiram por aqui os média. Colapso provavelmente
teve o soldado texano que disparou nos seus colegas, ou os putos de Columbine, mas
este aqui escolheu outro povo para colapsar sobre; por que não colapsou sobre
os seus colegas do aquartelamento? Porque escolheu os pobres e indefesos
afegãos? A sério, ganhem coragem (e juízo), ó média, se quiserem continuar
sérios, tenham vergonha, deixem de ser partidários e chamem a coisa pelo seu nome, o
que aconteceu foi um CRIME DE ÓDIO.