Estava a ver na TV o final do
concerto dos Metallica no Rock In Rio, e um deles regurgitava água (ou
uma bebida qualquer) e cuspia-a para cima dos espectadores todo eufóricos; no
entanto, o pior aconteceu quando um deles abre a boca para receber o líquido
expelido pelo seu ídolo, atitude doentia, submissa e pornográfica. Que eu me
lembre, não há nenhuma
sociedade onde cuspir em cima de alguém não seja um acto de desprezo (tirando
algumas sub-sociedades sexuais sadomasoquistas).
Este incidente despoletou em mim
uma série de reflexões, todas conectas, considerando que são todas manobras para manterem as pessoas ocupadas e abstraídas do realmente importante, que,
no entanto, vou apresentar em quatro grupos temáticos, sendo eles: a histeria colectiva, a juventude controlada, a submissão doentia e os novos deuses e a juventude académica; e vou começar pelo
último.
A TRISTEZA DA JUVENTUDE ACADÉMICA
A única actividade que sei que a
associação académica da minha universidade realiza é: festas! Ah, e quem está inscrito
nela tem descontos no valor dos exames da segunda época e afins (ou seja, podes faltar as aulas e não entregar os trabalhos a tempo que terás descontos depois para o fazer mais tarde). É tudo o que
eu sei… tem outras vantagens ou faz outras coisas? Talvez, mas em seis
anos nunca tive conhecimento disso.
Mas, hey, como já verifiquei lá
em cima, não pretendo falar mal da associação académica da minha universidade,
não, longe de mim essa ideia, pretendo é falar mal do estado académico em geral.
Na minha terra, quando se ouve
falar de uma semana académica é mesmo académica, e a adesão não costuma ser muita, geralmente apenas
um terço da escola ou faculdade adere, metade ou mais fá-lo no último dia, que
costuma ter mais actividades lúdicas; e essa fraca adesão dá-se exactamente
porque na semana académica acontecem actividades científicas ou
pseudo-científicas, palestras e debates sobre determinados temas que se
consideram importantes, não obstante, convém dizer, acabem por ser apenas um
exercício mental para alguns e nada realmente melhore.
os cartazes das semanas académicas são todos deste género, publicitam copos |
Posto isto, fez-me espécie
quando, cá em Portugal, Europa (?), ao ouvir falar da semana académica dar
conta de que académico não tem nada e que é apenas um motivo para
agrupar jovens e dar-lhes de beber até cair em nome do espírito universitário. Até
me admira que Portugal consiga ser mais desenvolvido que o meu país se os seus
académicos são o que tenho visto: a maioria é borrachona, irresponsável e a
semana académica é para mostrar aos bares de má fama de que precisam de se
esforçar mais para manter a reputação. Senão vejamos: há bêbados e bebedores
descontrolados nesses bares, também nas semanas académicas, há passadores e
drogados nesses bares, nas semanas académicas idem, há sexo comprado nesses
bares, e é aí que perdem, porque o há grátis nas semanas académicas (nada contra) e irresponsável
ainda por cima, pois de tão mamados muitos acabam por pensar que o
preservativo, quando se lembram dele, é pastilha elástica.
Não sei se as semanas académicas
são uma tradição secular, embora duvide, considerando que antes as
universidades costumavam estar sob as restritas ordens dos padres e confrades, e
até antes do 25 de Abril (pelo que julgo saber) as restrições sobre
ajuntamentos do género eram outras. Não, não quero e nem estou a justificar
esses tempos, sou a favor da liberdade de se juntarem pessoas quando querem se
juntar e sou a favor do afastamento das regras dos conventos das universidades,
embora ainda tenhamos ficado com as togas e as bênçãos de fitas que mostram
que apesar de ser um antro científico as universidades são ainda católicas no seu âmago, pelo menos as portuguesas (que são as que conheço).
Não levo o estado universitário
tão a sério como antes, aliás tenho uma relação amor-ódio com ele, amor porque
gosto de saber coisas e de estudar e ódio porque preciso de um canudo tutelado
por um desses prostíbulos… desculpem, antros de saber para que esse
conhecimento seja valorizado. Não consigo levar a sério uma instituição que é
apenas uma desculpa para manter as pessoas ocupadas com coisas que nunca irão
usar (enalteço assim os cursos técnicos) e cujo 80% de frequentadores, senão
mais, estão ali não pelo amor ao saber, mas à pesca do estatuto. Sim, estatuto,
ser universitário é ainda um título de respeito, porque associado a isso, no
senso comum, vem a ideia de inteligência, conhecimento e responsabilidade, e
não importa que tenhas menos disso do que um aluno do ciclo, é diferente a
forma com as pessoas olham para ti e falam contigo. Eu já fui tratado diferente
quando se descobriu que andava a frequentar mestrado, apesar das coisas que
costumava dizer não se terem alterado, passaram a ser já ouvidas com mais atenção.
Antes de entrar para a
universidade eu admirava muito os universitários, e quando maior o título mais
eu admirava, depois que comecei a lidar com universitários piores do que eu, e uns tantos professores
doutorados que andam a repetir pensamentos ultrapassados e obsoletos,
arrogantes e quadrados, e que usam mais o argumentum
ad verencundiam (sim, usei o latim para parecer mais inteligente, como fui
ensinado a fazer), ou seja argumento da autoridade, do que um raciocínio lógico
que realmente convença, comecei a perder cada vez mais o respeito que tenho para
o meio.
A universidade é apenas um lugar
para perpetuar estereótipos, boa parte deles disfarçados de científicos (não
estou a dizer que todos os que para lá entram saem tão ou ainda mais vazios do
que quando lá entraram, não, tem muitos bons estudantes – não alunos apenas –
ali dentro) e a semana académica por conseguinte mostra a vacuidade do sistema.
Quando vês pessoas com o traje universitário, podes desconfiar que vão faltar
as aulas nesse dia e estarão num jardim qualquer a praxar ou a serem praxados
ou numa confraternização (leia bebedeira) num bar qualquer.
Dizer-me que és licenciado ou
doutorado era um motivo para te respeitar, academicamente falando, mas depois
de a maior parte das pessoas mais inteligentes que eu conheço não serem
universitários, e por conseguinte os mais estúpidos e irresponsáveis o serem,
perdi o respeito pelo sistema. No entanto, ainda estou a estudar, e aconselho a
qualquer um que possa que o faça, porque preciso de um canudo e só estou a
estudar para o ganhar (pois conhecimentos encontro-os eu mesmo, procurando por
eles), pois a nossa sociedade está desenhada para “facilitar” e valorizar quem tenha um.
Se as universidades e academias
(tirando na semântica brasileira, ginásios) fossem lugares sérios, eu
recomendaria que chamassem de outra coisas às semanas académicas, mas como um
só espelha o outro… bah, que se lixe... eles precisam que os jovens se mantenham inactivos, ou activos a emborracharem-se do que a usar o tempo para pensar e procurar fazer coisas que realmente importem, pois bebem e drogam-se mais à vontade quando sabem que isso está sob a protecção de uma instituição universitária (feitores do progresso e do futuro), e a acreditar neste artigo da ciência hoje, o efeito nefasto ver-se-á principalmente no futuro.