Como referi no artigo anterior com o mesmo título, estas reflexões começaram por causa de um único incidente. E desta vez pretendo falar da histeria colectiva e peço então que não liguem muito à juventude perdida que aparece no título, e pensem mais em sociedade perdida, que desenvolvo mais aqui.
A HISTERIA COLECTIVA
Não haja dúvidas, nós somos ovelhas, e apenas ovelhas (embora eu goste de me considerar uma ovelha negra – e não, não por causa da minha cor), no entanto, comparados com as ovelhas animas somos ainda mais estúpidos.
A histeria colectiva acontece em diferentes planos: há o plano religioso, há o plano de modismo, há o plano académico ou pseudo-académico (referido antes aqui), há o plano ateísta-científico, o plano cool-nerd-liberal, enfim… mas destaco aqui o plano nacionalista.
Só publico isto agora, mas escrevi-o quando a selecção de Portugal estava ainda nos quartos-dos-finais no Euro 2012. Nas conversas com as pessoas, nessa altura, dois assuntos saltavam sempre: "a crise e o raio dos políticos opressores" e "O Cristiano Ronaldo e A Selecção Portuguesa", este último ditatorialmente inevitável. No entanto, se sabiam todas as vírgulas acerca da selecção, referiam-se à crise de modo genérico, tal como o meu sobrinho faz. Admirava-me que as pessoas não sabiam que novas leis do trabalho tinham sido ratificadas pelo Cavaco e que punham ainda em piores lençóis (posso dizer assim?) os trabalhadores; admirava-me que dos poucos com quem falava e que o sabiam estavam-se nas tintas, preocupando-se mais com a vitória da selecção. Não me admirou que os média não tivessem dado muita atenção a esse facto e estavam mais interessados em fazer reportagens sobre a selecção, pois esse é o trabalho deles: manter as massas massudas e histericamente cegas para o que realmente importa.
O espírito do povo revelou-se bem nesta carta (vídeo acima) de um miúdo à selecção portuguesa (que faz publicidade a uma marca que não queria dizer, pois mesmo a má publicidade é publicidade) onde ele diz que o futuro do país está nos pés dos jogadores… Não importa que a carta tivesse sido o resultado de uma visão muito mais que ultra-limitado de um miúdo (ou dos seus pais que não lhe deram orientação ilustrada) ou forjada pela marca publicitária, a verdade é que a carta é mesmo o retrato do espírito do povo. Senão vejamos, está todo o mundo a vestir-se de verde e vermelho e a acompanhar pela televisão como dorme, como come e como caga a selecção (aposto que nos outros países acontece a mesma coisa) e não dá atenção às coisas que realmente fazem parte da sua vida e das quais dependem o seu futuro. Aliás, algumas até são forçadas a isso, sei de uma empresa que obrigou os seus funcionários a apoiar a selecção, vestindo a camisola, com o risco de incorrer num processo disciplinar; ou seja, mesmo que o funcionário quisesse apoiar outra equipa esse direito lhe é negado.
Disfarçadas de nacionalismo e patriotismo são dadas cordas às pessoas e elas, patrioticamente, adornam com elas o pescoço sem se preocuparem em entender que isso são manobras para criar letargia e não faz sentido. Ok! Eu prefiro que as pessoas andem a sacudir bandeiras nacionalistas por causa de um jogo de futebol do que a pedir para o governo invadir outro país, mas a questão é que quando se está habituado a sacudir bandeiras por um motivo aparentemente inócuo, mais facilmente se sacode por um outro motivo mais… nefasto.
E a eficácia da lavagem cerebral que se revela nesta histeria colectiva vê-se principalmente nos imigrantes africanos, por exemplo, que por uma vírgula põem-se a falar mal de Portugal e dos portugueses e a reclamar de como são lixados, de como o país é racista, que, no entanto, se levantam nos dias de futebol a apoiar o nosso Portugal. Primeiro eu julgava que era hipocrisia, mas depois vi que não, a manifestação é mesmo genuína e eles sentem-se mesmo afectados com as derrotas da selecção, ou seja, deixaram-se levar na corrente e foram apanhados pela histeria, pois nesses instantes sentem-se a fazer parte de algo. E é por essa razão que eu creio que a histeria colectiva acerca da selecção não é necessariamente patriótica, mas resultado de um processo de condicionamento.
E a eficácia da lavagem cerebral que se revela nesta histeria colectiva vê-se principalmente nos imigrantes africanos, por exemplo, que por uma vírgula põem-se a falar mal de Portugal e dos portugueses e a reclamar de como são lixados, de como o país é racista, que, no entanto, se levantam nos dias de futebol a apoiar o nosso Portugal. Primeiro eu julgava que era hipocrisia, mas depois vi que não, a manifestação é mesmo genuína e eles sentem-se mesmo afectados com as derrotas da selecção, ou seja, deixaram-se levar na corrente e foram apanhados pela histeria, pois nesses instantes sentem-se a fazer parte de algo. E é por essa razão que eu creio que a histeria colectiva acerca da selecção não é necessariamente patriótica, mas resultado de um processo de condicionamento.
não tenho nada contra portugal como país ou povo, entenda-se (por isso estão aí as bolas de futebol para contextualizar) |
Há determinadas actividades publicitadas como próprias de uma idade… vou ater-me à juventude… ou seja, para se ser completamente jovem tem que se participar nessas actividades, bebedeiras às sextas, concertos de verão, um pouco de vandalismo ligeiro (alguém percebeu o teor da mensagem da publicidade da geração aleatória da moche? Ou que ela é muito parecida com a série inglesa Skins que retrata uma juventude conturbada e auto-destruidora?), essas imagens são vendidas e o jovens, impressionáveis, tentam integrar-se e seguir à risca, pois querem fazer parte de algo, abafando a originalidade, e diluindo-se na multidão. Mesmo aqueles que gostam de ser diferentes, o mais nerds, por exemplo, que se sentem mais atentos e dizem que percebem que existem essas armadilhas acabam também a fazer filas histéricas, não às portas das discotecas, mas em convenções de banda-desenhadas e afins. Ou seja, a necessidade de fazer parte de um grupo leva as pessoas a ceder à pressão dos pares ou então à dobrar-se perante as generalidades.
Foi assim que saímos da geração rasca para a geração à rasca, seguindo às riscas os preceitos de ser um jovem, pois só quando é tarde é que conseguimos tempo para começar a analisar. Mas parece que os da geração à rasca são apenas os antigos jovens da geração rasca, porque esta nova geração, que tem a idade que tínhamos quando éramos da geração rasca, tem um bounce diferente (também quero parecer cool!), é tão fútil quanto à nossa, porém tecnologicamente armada e ainda cheia de brilhantina (deus do céu!, o que é que muda afinal?).
Um homem é um ser social, portanto participa na sociedade, no entanto quando participar começa a sinonimizar seguir cegamente as tendências é porque alguma coisa está errada; quando olhamos para o que os outros fazem e repetimos, costumamos dizer: por que não?, não me causa mal nenhum…, porém é mesmo nisso que a armadilha se localiza, pois quando o receio do ostracismo te leva à ceder à pressão dos pares, podes estar certo de que já perdeste a tua capacidade de acção, perdeste a vontade, e és um individuo simplesmente reactivo.