22 de fevereiro de 2008

O MITO DA FÉNIX

Os egípcios conheciam boinu, ave que em certas auroras levantava-se imponente em direcção ao disco áureo do Sol. Era boinu anunciante de boas notícias. Quando ela aparecia, sabiam logo que haveria colheitas férteis e que as crianças que fossem geradas nessa altura receberiam uma bênção especial, tornar-se-iam excepcionais.

Boinu fazia conexão entre as duas entidades mais respeitadas pelos egípcios, o Nilo e o Sol, o deus Rá; levantava-se de um e voava em direcção ao outro. Por essa razão, boinu acabou por ser identificado com o Sol.
Porém, foram os gregos que chamaram à ave de Fénix (vermelho) - o passáro do fogo, e lhe atribuíram as características que agora a patenteiam. Fénix, a ave que ao morrer se deixa consumir pelo Sol, para renascer das suas cinzas. O primeiro trabalho da Fénix consistia em levar as cinzas da sua antecedente ao Heliópolis (etimologicamente, cidade de Sol, geograficamente, Cairo).




O que me faz evocar o mito é ter encontrado nele certas similaridades com o ciclo da vida do homem. Qualquer um que tenha alguma vez entrado em contacto com a mitologia grega, sabe que nela pode encontrar infinitas metáforas sobre qualquer assunto da vida, só tem que explorá-la; e é o que vou tentar fazer aqui.

O que me chamou atenção no mito da Fénix, é ela ter de levar as cinzas do antecedente, ou progenitor, para Heliópolis. Foi a partir desse ponto que comecei a fazer a minha leitura, e minha interpretação varia conforme os ângulos pelos quais observei. Vou apresentar uma das leituras, e vou chamá-la:


As Sandálias do Pai

A Fénix renascida leva as cinzas do pai para Heliópolis (acho que é escusado apresentar analogias entre o Hélio-Sol e o sucesso-Sol – ainda mais que agora quando somos realizados, somos astros). Pois bem, nós fazemos igual à Fénix.

Pode ser que a primeira coisa que passe pela cabeça da nova Fénix seja: um mundo lindo para explorar, e tenho de levar as cinzas deste sacana para o outro lado do planeta. Ou seja, a primeira coisa que lhe aparece logo á sua chegada ao mundo é um dilema: fazer a vontade do pai em vez de a sua própria. Talvez até pergunte: por que razão o gajo não foi morrer logo no Heliópolis e me poupou ao trabalho? Mas não importa a rebelião que lhe afecte o espírito nesse momento, pois quando chegar a sua hora, ele não se vai lembrar que deve poupar ao trabalho a Fénix que lhe vai suceder, não se vai dar ao incómodo de voar até ao Heliópolis para dar o seu último suspiro. Não! Procurará o sítio mais agradável da sua vida, para aí morrer, mesmo que isso signifique voar até ao Plutão.

Os pais enquanto filhos, revoltam-se muitas vezes, não querem seguir os pais deles; mas quando chega a sua vez, querem que os filhos calcem as sandálias deles. Já li livros em que as pessoas dizem: eu sou a sexta geração de militares na minha geração. Isso diz que ele tem calçado as sandálias do pai. Ou seja, são as fénix renascidas, continuaram a tradição.

Ouroboros, representa o retorno perpétuo
e o seu conceito é identificável ao da Fénix



Os pais banqueiros querem que o filho faça o curso de gestão; os pais com clínicas querem que os filhos sejam médicos; pais advogados querem filhos advogados; pais artistas querem filhos iguais; mas atenção que falo aqui de pais que triunfaram. Pois, os que não triunfaram querem que os filhos sigam outros caminhos, enquanto que esses desejam que nos aventuremos pela mesma trilha, porque, pelo menos, julgam eles, estão certos que triunfaremos também nela. Nós falamos de controlo; falamos de pais que não querem que os filhos façam os caminhos deles, mas que lhe sigam os passos. Mas não é mais cómodo assim: levar as cinzas dos nossos pais? Quem faz o seu próprio caminho sabe como é isso é difícil, é igual a chegar numa floresta cerrada para abrir uma estrada, tendo como ferramenta de trabalho apenas uma corta-unhas.

Porque sei que quando o texto é muito as pessoas não lêem, vou publicar ainda apenas esta parte. Posteriormente, desenvolvo as minhas reflexões sobre As Sandálias do Pai, antes de passar para outras paragens, mas sempre seguindo o Mito da Fénix.
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