Era uma vez uma lebre e uma
tartaruga que se desafiaram para uma corrida. A lebre, muito rápida, em três
tempos já estava perto da meta, deixando a tartaruga a comer poeira, porém,
gabarolas como era, achou que ainda podia tirar uma soneca antes de acabar a
prova. O resultado: ficou a dormir, enquanto a tartaruga, nos seus passos
lentos, a ultrapassou, cortando a meta. Sim, basicamente é isto. A fábula é bem
antiga e quem não a conhece deve ser da geração Toy Story, ou seja, viu mais
desenhos de que leu livros ou ouviu contos.
Quando vi o título fiquei
curioso, A Tartaruga e A Lebre - A Revanche do Século fiquei curioso, uma história tão simples e tão básica, que truques poderão torná-la interessante? Bem, e não é que não a fizeram interessante.
Eis a sinopse: 15 anos depois da
famosa corrida, acontecimento que teve um destaque televisivo, a Lebre, ou devo
dizer, o Sr. Lebre que ainda não conseguiu recuperar-se da trágica decisão de
ter dormido no momento da corrida, e o Sr. Tartaruga, que ainda puxa lustro à
sua vitória, ainda mantêm uma rivalidade constante, metendo toda a família ao
barulho. E eis que há uma outra corrida na cidade e os dois resolvem participar
com os seus filhos, o Sr. Lebre para dar a revida, o Sr. Tartaruga, para
mostrar que o seu lema devagar e constante, com o qual ganhou a vida,
continua a ser o mais indicado e que vai ridicularizar o vizinho… sim, os dois
são vizinhos.
Ri-me o filme todo, situações
engraçadas não faltaram. Tem umas piadas adultas que, no entanto, são bastante
inocentes, nada como a erecção de Lorde Farquuad ao ver a imagem de Fiona no
filme de Shrek.
trailer
Ainda aproveita para ensinar que
a dança é o remédio para o mal do mundo. Não é para ser tomado à letra, mas a
verdade é que o mote é: faz amor e não a
guerra, um tanto hippie, porém real. Os conflitos nascem da competição. Não
sou contra a competição, no entanto, a maior parte é supérflua e alteia mais
barreiras do que as derruba; por exemplo, a competição para ser o mais rico do
mundo, resulta em empobrecer milhares para chegar a esse ponto. Os vizinhos
competem, os países competem, irmãos competem entre si, quando se se unissem
mais facilmente chegariam a um objectivo que pudesse satisfazer a ambos e
manter o clima de dança. Houve um momento no filme que se ouve uma frase como
esta: bomba neste país. A frase,
casual e deslocada, mostra no entanto o descontentamento e o cepticismo em
relação à melhoria deste planeta e a unidade e harmonia. Hum… o meu texto está
muito animado e com uma, sei lá, ingenuidade utópica marcante, e devo isso ao
filme, mérito dele.
Ainda temos referências ao mundo
televisivo, aos cameramens que filmam
desgraças sem ajudar, como se fossem documentaristas da National Geographic,
dos paparazzos, e da incidência da média na vida privada que eleva à catastrófica
um simples problema de uma figura pública. Algumas piadas ácidas e situações que remetem para o estado actual da coisas, não entendíveis pelos mais desatentos, porém que fazem a boa graça do filme.
Quanto à parte técnica, A Tartaruga e A Lebre, tem uma
animação é bem fluída, mas a modelação parece bem tosca, dando a entender que
os produtores não tinham muito dinheiro (bem, também o filme foi direito para o
vídeo), pois pareciam mais bonecos de plasticina do que modelos computorizados.
Gostei bastante do filme e é bem divertido, faz rir e aguenta bem os seus
setenta minutos. Um bom filme para ver com as crianças.