17 de junho de 2011

ANA CAROLINA - quando a música casa a poesia


Conheci a Ana Carolina por Chatterton, quando um amigo ma deu a ouvir, dizendo ser muito fixe. Acho que o ponto mais alto de Chatterton, ou pelo menos a razão por que me foi passado era o “puta que pariu” e o “foda-se” que o Seu Jorge dizia. E falando nisso a música foi-me dada como sendo de Seu Jorge. Só depois, quando eu quis mais e pedi ao meu colega o resto do repertório do artista eu descobri, que eram dois, não conhecia Seu Jorge e pensava que era ele quem desdobrava a voz fazendo-a ora grave ora aguda atingindo aquela diapasão, até uma amiga me ter dito que eram duas pessoa e a outra era a Ana Carolina.

Para escrever isto, escutei alguns álbuns de estúdio, e outros ao vivo, da Ana Carolina, contudo, vou falar apenas de quatro: Ana Carolina (1999), Ana Rita Joana Iracema e Carolina (2001), Estampado (2003) e N9ve (2009).

chatterton (ana & jorge)



Ana Carolina tem uma voz espectacular que dobra e articula magistralmente, ok!, por vezes, parece que não aguenta os agudos, quando de repente sai de graves para lá, soando a meio desafinada, porém, a frequência com que faz isso não parece que seja de desafinação mas de intenção, ou seja dá a ideia de que ela também tem as suas limitações vocais mas usa-as para enriquecer o seu trabalho, se não considerarmos as músicas em que ela grita querendo quebrar cristais.


ANA CAROLINA, o disco de estreia, começa logo por arrebatar, com o Tô Saindo, que realmente tira a artista, merecidamente, do buraco de anonimato onde muitos bons artistas passam a vida enterrados. O álbum é bastante introvertido e pessoal, aliás, o seu título não engana a ninguém, ou pelo menos ela expressa-se muito no EU. E o álbum fecha também competentemente com Tô Caindo Fora, fechando assim o livro. Porém, entre a abertura e o fecho, há algumas músicas que não convencem, e algumas outras que precisam de repetidas audições para serem gostadas; porém o que interessa mesmo é que a quantidade das músicas que arrebatam logo à primeira suplanta a destas.

que sera (ana rita joana iracema e carolina)
pena que os vídeos oficiais dela não permitam incorporações, talvez devesse cumprir a vontade dela e não usar estes vídeos alternativos, mas... vou pensar nisso

ANA RITA JOANA IRACEMA E CAROLINA, hum, se calhar devia ser chamado Ana Carolina .2, porque parece que metade das músicas foram feitas para o disco anterior. A vertente é a mesmo, intimista, porém pareceu-me um bocado mais descontraído, mais animado que o disco anterior, porém, como qualquer artista, Ana Carolina tem os seus vícios, neste caso, sonoros, e aqui isso é bastante sentido. Há algumas músicas que parecem a mesma, apenas tocadas em chaves diferentes. Tem músicas neste álbum que gostei mais do que muitas do álbum anterior, mas considerando o conjunto este é o pior trabalho dela. No entanto, aqui também a primeira música e a última parecem fazer um prólogo e epílogo (talvez seja impressão minha).

ESTAMPADO definitiva Ana Carolina como grande música. Os seus vícios continuam presentes, mas quem se rala?, passa a ser o seu toque de marca. O álbum é melhor que os dois anteriores, o que é muito bom, mostrando que a artista evoluiu bem. Atenção, quando falo de evolução, não quero dizer que antes ela não sabia fazer, mas que agora ela faz melhor do que o bom que fazia antes. A sonoridade do estampado é também diferente dos álbuns anteriores, mostrando-se mais ousada e experimental.

dois bicudos (estampado)

N9VE, nove para os menos atento… o que é que se pode dizer do 9? Nove é quase perfeito, quase porque o Torpedo não me convence muito. É verdade que são só nove músicas em contraposição aos 15 de cada um dos três álbuns supracitados, e tem mais participações que todos esses juntos, mas, fogo!, foram nove muito bem desenhados, e dos 9 no 9, destaco 8 Estórias e 10 Minutos, com menção honrosa a Era, com aquela musicalidade e estrutura que me remetem a Mirah (da qual, há coisa de seis meses, quero aqui falar). N9ve, como álbum, é uma obra-prima.

10 minutos (n9ve) 


Ana Carolina é uma artista e pêras, não só tem música e voz, como poesia e alma (e letras que apesar de ser em português não lhe apanho os porquês, coisa da qual já estou habituado nos poetas), uma força interpretativa que hipnotiza visual ou audiomente, ela é demais.

Não sei precisar o género musical da Ana Caronlina que bate no pop, samba, funk (americano, é claro), bossa nova, e ritmos brasileiros que não sei identificar, e por vezes, fusões desses ritmos, porém as músicas dela que mais gosto são os tangos, gosto de todos os tangos dela. De 2008 para aqui, Ana Carolina deve ter sido a artista que eu mais escutei.

Quem nunca ouviu Ana Carolina… Deus do céu!, está à espera de quê. Porém, não faça como eu, compre antes os discos.



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