5 de junho de 2011

DEIXA-ME ENTRAR, 2010 (Let Me In)



Vampiros e humanos, ultimamente, têm convivido muito nos diferentes tipos de arte que conhecemos, talvez apenas a arquitectura ficou de fora; de qualquer modo, o foco aqui é o cinema. Depois do Crepúsculo os vampiros viraram moda de novo, principalmente numa versão distorcida de Romeu e Julieta. Houve filmes, séries e etecéteras sobre o mesmo tema. A melhor série sobre vampiros, para mim, é o Being Human, dos ingleses, é claro, e o melhor filme Romeu-e-Julietiano de vampiros acabei de o ver e intitula-se Deixa-me Entrar.

Deixa-me entrar, conforme a IMDB, é um remake de um filme sueco, Låt den Rätte Komma In, de 2008, do mesmo ano que o Twilight, mas por, infelizmente, ser europeu, não foi muito publicitado.Não vi o original, e se, como é hábito, os remakes são piores do que os originais, então esse filme sueco é nota 11, porque deixa-me entrar só não chega a 10, porque… bem, porque… hum…

Costumo falar apenas do filme em si, mas aqui não há como não referir aos actores, Chloe Moretz, a Hit-Girl  de Kick Ass (alguém se lembra?), e Kodi Smit-McPhee, o filho de Viggo Mortensen n’A Estrada; os dois estiveram bem nos seus papéis e seguraram-nos com maestria de meter inveja a muitos oscarizados, ou seja, se continuarem assim estarão no bom caminho, Moretz pelo menos está, porque projectos não lhe faltam.

trailer

A história do Deixa-me Entrar é mais ou menos isto: Owen, 12 anos, introvertido, voyeur, a sofrer pelo divórcio dos pais e, como se não bastasse, constantemente é bulido na escola por um bando de valentões, isolado no seu invólucro acaba por abrir-se à amizade de Abby, 12 anos (há pelo menos uma coisa de trinta anos ou mais, considerando a idade da foto do seu irmão"?" ou seu primeiro "?" namorado "?" - não se pode dizer que seja irmão ou mesmo primeiro namorado porque a idade da Abby é bastante incerta, visto que as crianças pelo menos do séc. XX sabem o dia do nascimento, podendo daí supor que ela ou é muito muito mais velha, ou é filha de pobres e iletrados)... ok, voltando, Abby é também isolada como Owen, sendo, no entanto, que ela é uma vampira. O filme não tentou esconder isso em momento algum, nem criar falsas expectativas, atirou a verdade logo para o ecrã, fugindo a fingidos suspenses.

Abby é uma vampira de verdade, não daqueles a Blade que se alimentam de sangue sintético ou de Twilight que bebem sangue de animal para parecerem éticos e cool, não, esta aqui precisa de beber, e bebe humanos sem crise de consciência. E o que mais incomoda é que não nem estamos aí para isso, ela podia alimentar-se do elenco todo que estaríamos a torcer por ela, porque ela nos foi apresentada, conhecemo-la e temos por ela simpatia ou empatia, e sabemos os seus motivos. E de igual modo, Owen, isolado, e sofrido, encontra nesse amor incomum todos os motivos para ser feliz e portanto justificar o destruir da vida alheia. Temos uma questão ética muito séria aqui, enrolada com a questão de manipulação de opinião: eu sei que Abby é uma agente de destruição, mas desculpo os seus actos porque quero que sobreviva, além de mais, por ser apresentada como uma criança atrai mais a minha simpatia. 
Apenas uma morte me causou tristeza, porque me foi dado a conhecer a pessoa que morreu, e eu preferia que não se confrontassem, mas gostei mais do resultado mostrado.

Outra situação que temos é o bullying, lembrando-me aquela publicidade  "criança vê... criança faz...", vemos Owen a confrontar o espelho e depois uma árvore de faca em punho, chamando-lhe de menininha, depois percebemos que ele apenas transfere a agressão que recebe do colega bulidor na escola, e mais tarde percebemos que esse colega está é a fazer a mesma coisa. Ou seja, resolver a questão do bullying não é uma tarefa apenas dos professores, mas de toda a sociedade, desde os pais até aos empregadores, que bulem os pais, que bulem os filhos que bulem os outros, estendendo a hierarquia até ao governo.


Tem algumas falhas como eles aprenderem o morse em três tempo (eu em três anos nos escuteiros não o cheguei a aprender), ela ainda vá que é vampira; ou o facto de o irmão(?) ou primeiro(?) namorado (?) da Abby ser um míope com lentes muito grossas, mas que vê bem sem óculos quando põe uma máscara de plástico; e mais umas três ou quatro outras que notei, no entanto, tudo isso é desculpável e não pesa no panorama. 

Deixa-me Entrar, não vou falar da fotografia, não vou falar do ritmo, não vou falar do sentido da justiça do realizador, do qual desconfiamos durante o visionamento, temendo que não tome uma posição acertada no destino das personagens, nada disso vou falar, mas apenas dizer que é um filme que deve ser visto, goste-se ou não do universo mitológico vampírico, porque o filme não se trata de vampiros, mas de nós, humanos. Abby pode ser uma manipuladora cruel, e Owen, de certeza acabará como o míope acima referido, um dia, anos depois, substituído por uma outra criança desejosa de amar e de ser amada, mas nem queremos saber, o que nos preocupa é o que nos é mostrado no momento, no efeito borboleta só pensamos depois de "efeituado".

É um filme cruel, mas um filme de amor, um filme de Romeu e Julieta canibais a cozinhar Darwin, Maquiavel e Aristóteles na mesma panela.
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