20 de dezembro de 2021
MANIFESTO DEPRIMENTE DO MOVIMENTO DEPRESSIVO
16 de dezembro de 2021
DIÁRIO DE UM ETNÓLOGO GUINEENSE NA EUROPA (dia 8 )
15 de dezembro – dia do pretuguês
Tivemos uma coisa aqui chamada Web Summit Con, uma mistura de Sumo e Kumite, onde pessoas pagam muito dinheiro para entrar num ringue ou fazer apostas para conseguir o número de telefone de algum alguém endinheirado. A Camarada Municipal de Lisboa diz que é para ajudar os pobres, só que “con”, na língua dos tugas ingleses, que são os donos desta Web Summit Con significa trapacear e intrujar pessoas. Eu pensava que tinha a ver com homem-aranha, mas afinal, nada disso. Mas vou… hei de pensar sobre isso com mais calma… algum dia… eventualmente.
Bem, antes de mais (ou ‘depois’ de mais, considerando que já escrevi dois parágrafos), nos últimos tempos não escrevi nada e desta vez é por preguiça mesmo… Quer dizer, não é preguiça preguiça propriamente, mas vontade de inação. Acordar de madrugada para voltar à casa à noite não deixa tempo para pensamentos e reflexões, principalmente quando tudo parece acontecer tão rápido, a cabeça fica tão cansada que só se quer ver um filme de Vandam e dormir. Por isso digo que não é preguiça, porque preguiça é um luxo hoje que na Tugalândia é destinado só a alguns. O tio Paulo Bano sempre me disse que a preguiça é uma escolha, mas eu não o entendia. Mas não é só a preguiça que é destinado a alguns, tem outras coisas também.
Muitas coisas têm acontecido por cá que eu deixo passar, não por serem pouco relevantes, mas porque são bastante recorrentes que muitos até pensam que fazem parte da normalidade. Não estou a falar da PSP, nem dos banqueiros tugas que roubam milhões e lesadores tugas que fogem da justiça, e são bem guardados na sua casa, com segurança à porta, enquanto miúdos que roubam telemóveis aparecem mortos na prisão, aparentemente pelos próprios guardas, menos ainda do gajo multado porque filmou um polícia a abusar da sua autoridade sobre pretos. Estou a falar da tugaliose… aquela doença que imbeciliza nacionalistas.
O orgulho tuga é manifestado em quatro elementos: os descobrimentos, o Santo António Salazar, o 25 de Abril e o Cristão Ronaldo e todos eles parecem contraditórios, e todos eles têm estátuas…
… Quê!!!!!? Salazar não tem? Então e aquela da Santa Comba Dão? E aquela dos Descobrimentos, que é tão venerada hoje, não é obra do Santo Salazar? O tio Paulo Bano disse que os tugas quando querem ser conhecidos constroem coisas gigantescas e dizem que é para o povo, mas aquilo fica com o nome deles, por isso andam sempre a inaugurar coisas e a cortar fitas. Parece que ninguém entende que o Santo Salazar não precisa ter a sua cara escarrapachada num jardim qualquer para ser imortalizado? O maior tuga de sempre precisa lá de estátuas quando toda a Tugalândia e os Pão-de-Ló são sua criação… (Errata: não é Pão-de-ló, mas PALOP, só que a maneira como são comidos pela Tugalândia faz deles mesmo pão-de-ló.) A questão das estátuas tem sido uma guerra nos últimos tempos.
Há dias um tal Mário Lúcido Sousa escreveu que Lisboa não era africana o suficiente e que o Marquês de Pombal não sabe falar caboverdiano e só ficava ali na praça, no Tarrafal, sem fazer nada, enquanto miúdos pulavam sobre a sua cabeça, e falou mal das estátuas. Alguns tugas leram e não gostaram e um deles que sofre de tugaliose crónica, um tal Miguel Ventura... não, Miguel Sousa Dav'ares (acho que já não dá mais ares... sabem é aquele gajo que chamou o ex-presidente tuga, o Babaco, de palhaço), sentiu-se ofendido e, num furor agalmatófilo, todo cavaleiro em defesa da honra das estátuas, escreveu uma rabulice contra esse Mário Lúcido de Sousa, onde vomitou tanta besteira e tanto racismo encardido de meter orgulho ao André Tontura.
Eu primeiro pensei, ahhhhh, são todos primos, Mário Sousa, Miguel Sousa, Marmelo Rebelde de Sousa… entre primo e primo não se mete a… o... (como é que rimo?)… eles que são primos que se entendam. Mas depois não entendi nada do que o Miguel Dav’ares dizia, porque… Então Miguel, decida-se, omé. Portugal é colonialista ou não é? Percebo que se deve ter baldado a algumas aulas de história (na verdade, mesmo que tivesse ido às aulas, não lhe iriam ensinar isso), mas os portugueses não morreram em Cabo Verde a lutar contra o fascismo e o colonialismo, ná, ná, menino, eles levaram-nos lá. Os portugueses não morreram em nenhuma das áfricas a lutar contra o fascismo e o colonialismo, eles iam para lá matar uns pretos para evitarem ser presos aqui. Entende, Miguel, entende? Que o menino se tenha baldado às aulas de história até que se compreende, além do mais deixou o liceu há já não sei quantas décadas e na altura era fascismo declarado, por isso, compreende-se que a sua memória possa estar obnubilada, mas, Miguel, como um comentador de atualidades, dizer que Lisboa tem um monumento em homenagem às vitimas da escravatura portuguesa não é estar desinformado? Qual monumento? O Colombo? Olha, os miúdos pretos gostam do Colombo, mas não acho que eles pensam que é um monumento, talvez seja porque foram os seus pais e irmãos que bumbaram duro para o ereger e são as suas mães e irmãs que o mantêm limpo, logo sentem-se no direito de apropriar.
O Miguel Sousa ainda diz que o Lúcido Sousa não sabe usar o pretuguês, a “extraordinária língua que lhe deixámos em herança” (palavras do primeiro), e depois o mesmo diz “não há chicotes nem correntes em minha casa e não oiço uivos de dor vindos da sanzala dos meus escravos”. O Miguel não se decide, quer estar com o pé nos dois lados: faz parte dos que deixaram a língua como herança, mas não tem escravos. Sou dos colonialistas… Mas não sou… Estou lá… Não estou… Estou lá… Não estou… Miguel olha para esquerda e pisca-pisca, Miguel olha para a direita e pisca-pisca.
E o Miguel ainda acha que o português da Tugalândia é que é o tal, quando por todo o mundo há mais gente a falar o pretuguês. Miguel, toda a língua tem as suas variantes e todas as variantes são válidas, mas se quisermos ser democráticos, vamos fazer aritmética básica. Há 10 milhões na Tugalândia a falar português, e desses há um grande número vindo dos Pão-de-Ló e muitos pretos nascidos cá; nos Pão-de-Ló há cerca de 50 milhões (na verdade, boa parte desses não fala a língua), no Brazil são mais de 250 milhões. Por isso, hoje, pela graça que me foi concedida como herdeiro da língua, tal e qual foi concedido ao Miguel, eu, de acordo com a proposta do Apolo do Caralho e do Marinho que Pina, rebatizo a língua como PRETUGUÊS. Podia ser brasileiro, mas considerando que maioria dos brasileiros é preta, então PRETUGUÊS faz mais sentido. E para dar mais solenidade, o dia 15 DE DEZEMBRO passa oficialmente a ser o DIA DO PRETUGUÊS, o que se justifica pelo seguinte:
Quando o Mário Lúcido escreveu que Lisboa não era africana o suficiente, a Camarada Municipal de Lisboa disse: “Não, credo! Nós não somos racistas! Com que então já vos prometemos uma estátua em memória das vossas vítimas e ainda andam com essa boca por aí?”
O que a Camarada Muncipal de Lisboa parece não ter percebido é que um agressor fazer um monumento em memória da vítima é como um gajo entrar na casa de alguém violar a filha desse alguém e depois fazer um monumento à violação no seu próprio quintal e dizer ao pai que é para apaziguar (onde anda a filha no meio disso?). Contudo, acho que não é só a Camarada que não percebe isso, mas muitos dos pretugueses também…
Continuando, a Camarada Municipal, para mostrar como Lisboa é bem africana, resolve fazer no dia 13 de dezembro uma festa para premiar os 100 pretos mais cool da PRETUGALÂNDIA, os pretos com mais seguidores no facegram, os mais influentes … Ahhhhh…
Pera, pera, disseram-me que a iniciativa não foi da Camarada Municipal mas de uns pretos que andam a brincar a individualismo em nome de uma causa que se pretende comunitária e em nome de todo um grupo mal representado. É tudo um processo de reparação, dizem. Maaaaaas… reparação faz-se a nível individual?
Gostaria que a minha mãe tivesse sido nomeada como a empregada de limpeza mais influente de Lisboa, mas penso que essa classe não se considera. Pois, parece que as pessoas que não podem se dar ao luxo de preguiça não são chamadas para este tipo de evento. Afinal andam apenas naquela velha cerimónia de cultuar o próprio umbigo. O Web Summit Con pretuguês. O capitalismo a colonizar as mentes e as vontades.
Por isso acho a Tugalândia complicada, o tuga olha muito para o seu próprio umbigo, não importa a sua cor da pele, defende sempre a tugalidade.
E falando nisso da defesa da tugalidade do tuguismo, há outra batalha para além da dos Sousas, é entre uma tal Grada Kizomba e um tal Nuno Crepes, que é sobre quem é o tuga mais apto para representar a Tugalândia num bi-anal qualquer em Veneza. A Kizomba disse que a melhor maneira de mostrar a Tugalândia é mostrar como é racista, o Crepes disse que a proposta da Kizomba não mostra suficientemente o quão a Tugalândia é racista, e então a Kizomba disse que o Crepes é racista e exige reparação. Maaaaaaaaas… reparação faz-se a nível individual?
De qualquer forma, o que é para reter aqui é que a língua agora é chamada de PRETUGUÊS, e o dia 15 DE DEZEMBRO é o dia. Sabem, é para termos mais feriados: 1 de dezembro, feriado. 8 de dezembro, feriado. 15 de dezembro, toooooma! É o culminar e o balanço da festa dos melhores pretugueses da pretugalândia e para manter o ritmo de sete dias. E uma pena que não dá para antecipar o natal para 22, seria bem cool.
9 de dezembro de 2021
CATORZINHAS... UM PROBLEMA DE HOMENS ADULTOS (cronices crónicas)
4 de novembro de 2021
NÃO É SOBRE NÓS
18 de maio de 2021
HOSSANA AO FILHO DE DAVID - O BRANCO REDENTOR VOLTOU
Quando Jesus chegou a Jerusalém, as pessoas... peraaaa!, filme errado.
5 de maio de 2021
A MÚSICA TAMBÉM PODE SER PROBLEMA
Buba. 2019. 1 de Maio. Praia. Um grupo de jovens sentados, a beber e a conversar, outros a dançar. De repente a música "larga nha kodjon" e os que estavam sentados, rapazes e raparigas, gritaram todos: uaaaaaaaa, e lá se meteram a dançar e a cantar com a música, todos, até crianças.
Bissau. 2021. Abril. Cuntum. Tocava
música lá fora. De repente: "Bo rastam, bo lebam..." e ouvi:
uaaaaaaaa, e toda a gente a cantar e, suponho, a dançar. A música é fixe,
dou-lhe isso, mas a letra é horrível. Claramente escrito por um homem.
Há meses que tenho visto a campanha
"Mindjer i ka Tambur" a tentar sensibilizar as pessoas para assuntos
de violência contra as mulheres. Lidamos constantemente com violências do tipo
que a música invoca, onde mulheres são arrastadas e a suas perucas lhes são
retiradas e ela são violadas, tratadas como carne e não pessoas. Essa música
reforça a prática.
Se fosse uma mulher a escrever e a
cantar a música... bem, continuaria a ser problemático, mas menos... sabem?, a
cada uma a sua preferência sexual.
É assim, já me disseram, é só uma
música, é brincadeira. Não, não é brincadeira. Não digo que a intenção
consciente do autor seja apelar à violação, mas é isso que a música faz.
As piadas, os estereótipos, entre outros
ditos problemáticos reforçam as ideias, porque nunca pensamos que são perigosos
até que se tornam. É como um bebé que quando insulta os outros nos rimos da sua
inocência, até que nos insulta a nós e já não achamos graça e depois notamos
que ele ao crescer normalizou o insulto e depois fica difícil corrigi-lo. Kana
seku...
Não brinquemos com a violência, ou com
coisas que destroem a vida de outras pessoas, ou com coisas que diariamente
causam vítimas.
WJ numa música, "Nha Carta",
romantiza a violência, diz que bate na sua fofa, dá-lhe rasteiradas e deixa-a
fungulida. Isso não é amor, é só violência e sentimento de posse.
Maio Copé canta: "kusta n' bafa
mindjer, ma n' ten di toma noiba". Não, se bafares uma mulher é para seres
preso, não é para casares com a pessoa que violaste. Ahdeuss! Então é assim?
Isso reduz a mulher a um objeto conquistável enfiando-se nele o pénis.
Vi mulheres a dançar e a cantar "bo
rastam, bo lebam", e pensei se não deviam ficar preocupadas, falei com uma
amiga e ela respondeu: "não é sobre mim". É verdade, não era sobre
ela.
Lembro-me de uma música de Tino Trimó
que dizia "si dinheru sta ba na po, mindjeris na kasa ku santchu",
ideia que é ainda veiculada na Guiné. Até o meu irmão mais novo de 20 anos que
não tope nem "koko na kadera" (não tenho problemas com palavrões),
também diz que as raparigas de Bissau só querem dinheiro. E ele tem muitas
namoradas e nenhum dinheiro. Se as mulheres só quisessem dinheiro, mais de 80%
dos guineenses seriam virgens. E os jovens então, uiiiiiiii... Na altura dessa
música do Tino, lembro-me de uma tia responder, quando alguém perguntou por que
as mulheres gostavam do Tino se ele falava mal delas: "Ele canta bem [e
canta e como!] e é sobre outras mulheres, eu não sou assim".
É sempre sobre outras mulheres, mas
quando o estereótipo pega, nenhuma mulher fica de fora, e quando o mal se
espalha, todas as mulheres sofrem, e com elas a sociedade.
Ussumane Grifom escreveu um artigo sobre este
tema de músicas problemáticas e relacionou a causa com a falta da educação
formal (escolas). Eis a coisa, precisamos de nos reeducarmos formal e
informalmente, e discutirmos cada vez mais estes assuntos.
25 de abril de 2021
DIÁRIO DE UM ETNÓLOGO GUINEENSE NA EUROPA (dia 7)
25 de Abril – a revolução d’escravos
Todos os anos, mas todos os anos, no 25
de Abril, os tugas entram na rua para comemorar a Revolução d’Escravos, mas
coitados, acho-os tão confusos que nem entendem as suas próprias datas.
É assim, os tugas disseram que o 25 de
Abril de 1974, foi o dia da Revolução d’Escravos, que os capitães do Abril
foram tomar o poder lá na Grândola da Vila Morena, porque o povo ordena. Na
verdade, o povo nada ordena, o povo é ordenado, porque os tugas não conseguem
fazer nada por si mesmos, precisam sempre e têm mania de capitães, os quais
adoram e até lhes fazem estátuas. Quando chegaram ao Brasil tinham um capitão,
à Guiné, outro capitão, ao Moçambique, mais um capitão, e na Madeira é o
Cristão Ronaldo o capitão.
Os tugas dizem: 25 de Abril de 1974 é a
revolução que trouxe a democracia para o país, e é aí que eu fico confuso… mas
então e o PREC?, e o Verão Quente?, e o 25 de Novembro de 1975?
Vou explicar tintins por tintins.
O PREC era um ogroooooo… hmmmm,
desculpa, esse era o Shrek.
Quando no 25 de Abril se fez o primeiro
golpe de estado… desculpa, revolução, golpe de estado é coisa de terceiro
mundo… a revolução fez instalar no poder um bando de comunistas que diziam: “o
povo é que mais ordena, portanto vamos tirar dos ricos e distribuir aos
pobres”. Os ricos disseram: “calma aí, que história é esse de PREC pra aqui e
PREC praí, o povo que vá ordenar lá no seu quintal e não entrem nas nossas
propriedades que herdamos honestamente com a ajuda da ex-monarquia e do Santo
António Salazar”. E a Igreja disse: “os únicos Antónios que reconhecemos como
santos é o Santo António Vieira dos meninos índios, o Santo António do menino
Jesus, e o Santo António Salazar… quanto ao António Spínola, já vamos ver, se
ele se converter, santificamo-lo.” Claro que o Spínola se converteu, pois a
coisa não fluía como ele queria, e ele intentou um novo golpe contra o primeiro
que tinha dado... uma revolução em Março de 1975, que não correu bem.
O tio Paulo Bano Bajanca disse-me que os
Capitães de Abril na verdade estavam mais preocupados com a sua própria vida, a
sua posição (estava-se a criar demasiados capitães) e o problema de salário, e
que foi isso que motivou o golpe (mas avisou-me para que não dissesse isso em
voz alta em público, porque hoje os capitães são sagrados e algum jihadista tuga
poderá atacar-me).
O tio Paulo Bano ainda disse que os
capitães de Abril estavam na Guiné, no Moçambique e em Angola (a sua maior
parte na Guiné, onde começou tudo), e os que eles chamam turras estavam a
complicar-lhes a vida seriamente e a anular-lhes a vantagem tática militar, e
eles começaram a questionar a "sustentabilidade" da Guerra. Se
estivessem a ganhar a guerra, continuariam a ser capitães de todos os meses,
mas lá nas áfricas. E enquanto eram apenas os soldados limpa-pias, miúdos
brancos pobres e os pretos pobres alistados, que morriam, não havia problema,
dava para continuar a ser capitão, mas quando milicianos alegadamente começaram
a ser nomeados capitães, a coisa começou a feder, os que viriam a ser os de
Abril disseram: “Então, pá, que história é esta, pá, estão a estragar a classe,
pá!”, e depois quando não lhes quiseram dar salários mais chorudos eles
disseram: “Foda-se, Marmelo Rebel… Marcelo Catana, pá, estás a cortar em tudo, pá,
pensas que és o Caço Coelhos ou quê, pá? Mau, mau, menino. Vamos dar-te um
golpinho, pá, ai, vamos. Não sabes que não se deve meter com os militares e com os
ricos, pá, ou queres levar com uma revoluçãozinha, pá?” O Marcelo Catana,
padrinho do nosso Marmelo Rebelde, como não estava atento, foi ele mesmo
cortado, pumba, toma, 25 de Abril. Meteram-se com os militares, golpe de
estado, queriam o quê?
Mas aí é que está a cena, não era
nenhuma Revolução d’ Escravos, mas da burguesia militar ... alguma vez soldados limpa-pias
fizeram golpe? Hmmmmm! O golpe depois foi sequestrado pela burguesia civil. O Zé Povinho
tem lá tempo para revolucionar, ele continua escravo.
Mas é verdade que havia bons capitães,
com ideais mais nobres e mais sociais do que a mera questão do salário e da
classe. Até havia capitães comunistas que queriam abolir mesmo a classe. E
esses juntaram-se lá com os comunistas e começaram a tomar tudo dos ricos e os
grandes donos do dinheiro, amigos do Santo Salazar, bazaram para o Brasil,
outros converteram-se imediatamente ao comunismo, para escapar à inquisição e
começaram a gritar: “Viva a revolução! Viva a revolução!”.
Então os gajos dos PREC disseram-lhes,
“uiiii, ainda bem que concordam, precisamos das vossas terras e dos vossos prédios por
causa dos retornados que estão a chegar em catadupa. E queremos criar
sindicatos para que possam receber melhores salários e não serem assim tão
explorados!”. Os gajos do PREC ainda disseram “ouve lá, tipo a nossa cena é muita
cool e tipo muita alternativo, tipo meio hippie, meio yuppie, meio hipster, tipo, sabem, tipo não queremos um socialismo tipo CCCP (Cuidado Com os Camaradas do Partido), nem
uma cena tipo capitalista, mas, tipo, vamos fazer um socialismo tipo democrático, tipo
o de Bernie Sandes, aliás, tipo, não se esqueçam que tipo até fizemos eleições
já!".
Então os ricos recém-convertidos,
disseram: “Porra, pá, a revolução é bem-vinda, pá, mas que fique longe das
nossas posses, pá. Estão a dar as nossas coisas aos retornados, pá, e eles, pá, nem
são portugueses de verdade, pá! Fechem as fronteiras, pá, eles que voltem para
as suas terras, pá. Precisamos de uma nova revolução, pá".
Então apareceu o Super Mário Só Ares, como salvador dos ricos (ele mesmo, como o Marmelo Rebelde de Sousa, filho de um antigo ministro das colónias), criou uma fundação que foi financiada pelos americanos da TIA que tinham vindo cá passar um Verão Quente em 1975, com barcos e tudo (o que inspirou o Paulo Tortas a comprar submarinos e o Sócrático a ir passar o verão em França, financiado pela MÃE), e pumba, toma, 25 de Novembro. Meteram-se com os ricos, revoluçãozinha, queriam o quê?
(Os tugas e o 25, meu!, desde que Jesus começou essa moda em dezembro, pegou
seriamente)!
Com o 25 de Novembro de 1975, ano e meio
depois do 25 de Abril de 1974, a segunda revolução, correram com os comunistas
do poder, estes ficaram nos sindicatos. Disseram que os comunistas estavam a
comunistar o país e que iriam torná-lo numa Correia do Norte ou numa Venezuela
de Está Ali Né (ou Esta Aline, o tio Paulo Bano não sabe como se pronuncia), e que isso não era democrático, pois os comunistas começariam a
comer criancinhas (isto já foi a Igreja preocupada com a concorrência). O
democrático é deixar os ricos manterem as suas posses e os pobres, o
proletariado e os retornados que se fodam, afinal por que não escolheram nascer
em bons berços, ou por que fizeram um pé-de-meia em vez de bolsos fundos
protegidos pelo Estado? A Igreja, os Espíritos Santos, os Chupalimões, os Souteu
Mayor, entre outros, recuperam os seus poderes e a sua influência e continuaram
na berra, a lixar o povo desde então.
Eis a razão porque não entendo essa
história de que o 25 de Abril foi a revolução que trouxe a democracia, pois
pelo visto, ele iria trazer mas sim o comunismo do Esta Aline. Sendo assim, logo foi o 25
de Novembro que trouxe a democracia. O 25 de Abril ainda falou do povo, mas os
que ficaram com o poder depois do 25 do novembro, só falaram do dinheiro.
Imaginem que em 2021, hoje, chegasse uma massa
de portugueses como a quantidade dos retornados que veio depois do 25 de Abril, sem os comunistas e os esquerdalhas para os acolher, morreriam todos afogados
no mediterrâneo.
Se a revolução do 25 de Abril foi
contrarevolucionada pelo 25 de Novembro, porque se fala ainda do 25 de Abril?
Se o 25 de Abril foi a Revolução d’
Escravos (o que duvido muito), e é representado pelos cravos, o 25 de Novembro
é então a Revolução dos Donos d’ Escravos, representado pelo algodão(?).
Ahhhhh, agora entendi, o primeiro soa melhor e é mais publicitável. Por isso
foi sequestrado pelos contrarevolucionários capitalistas.
Agora andam por aí a dizer que o 25 de
Abril foi para libertar as colónias, ui, que nobreza, e para acabar com os
escravos e outras cenas de opressão, mas como escreve aí um amigo de um
conterrâneo meu, chamado Apolo do Caralho:
"Se por revolução se intende
'rotura radical', em que medida um acontecimento pode assim ser chamado se
mantém tantas coisas do passado como por exemplo um hino e uma bandeira
erguendo inclusive, esses símbolos, à qualidade de 'dogmas' constitucionais que
ninguém pode contestar sob pena de punição? (...) Se por revolução entendemos
momento de acertar as contas e construir novos pactos, porque razão os
criminosos de guerra não foram julgados? Se entendemos que uma verdadeira
revolução só o povo pode fazer, só ele é autor, porque razão tantos títulos de
'heróis' são atribuídos a militares tão só?"
Se Spínola tentou um golpe contra o
golpe que lhe deu fama, e se houve outro golpe que golpeou o golpe de Spínola,
por que ele é visto com um revolucionário e herói português?
Ai que confusão! Vou colocar a cabeça em
gelo e escrever um pedido de desculpa formal aos jihadistas nacionalistas
portugueses.