Deprimidos unidos, jamais serão vencidos.
Deprimidos unidos, jamais serão vencidos.
Deprimidos do mundo inteiro, unamo-nos.
Juntos somos mais fortes e conquistaremos este monte de merda desta sociedade mercantil.
Unamo-nos contra os médicos e contra os psiquiatras e contra as farmacêuticas e, principalmente, contra os gurus e os vigaristas de auto-ajuda que se escondem atrás da capa da depressofobia só para nos entupir de pílulas e conceitos pífios de felicidade, yogados e ahuyascados.
Quem precisa de felicidade? Pfffft!
Sem chacota, mas felicidade no fim das contas é coisa para fracotes. Nós somos fortes, com força à fartote, por isso o nosso mote é navegar neste bote, culpando ou não a sorte.
Navegamos pela vida deprimidos, de peito enchido porque temos costas largas, temos costas fortes e aguentamos a pressão, por isso estamos deprimidos, mas não explodidos. Gente sem vértebra não se deprime, gente sem vértebra se comprime, pois vive no medo e besta, tira os dedos da testa e se suprime perante as regras patetas que a oprime. Mas nós, naaaaaaão, nós ficamos deprimidos, porque tentamos dar sentido a este mundo regido por regras ridículas.
Não dá para ser feliz sem ser egoísta, numa falsa conquista dos prazeres da vida; não dá pra ser feliz sem se ser hedonista e sugar a vida sem amanhã à vista e fazer vista grossa a toda a fossa à nossa volta, e praticar o culto antigo de venerar o próprio umbigo.
Felicidade, pfffft, isso é coisa pra fracotes, nós, deprimidos, nós somos fortes.
Estão a tentar enganar-nos, estão a tentar afundar-nos numa miséria séria e fétida para passarmos por essa vida etérea a sentirmos pena da nossa própria cena, mas é bem claro neste cenário quem é que envenena a quem.
Pensem bem, essa coisa de pensamento positivo, pfffft, é coisa de mente pequena. É claro que estar triste o tempo todo é de um modo um problema, mas estar a sorrir o tempo todo é de todo um problema.
Tanto o riso como o choro lavam a alma, portanto neguemos essa barca onde gente se enfarta nos remos a todos os termos a tentar rejeitar os sentimentos que temos e a chamá-los de prejudiciais.
Há quem ria mais, há quem chore mais, há quem seja capaz de transformar um sentimento num outro de outro tento, há quem veja tristeza na alegria, há quem veja alegria na tristeza, há quem suje a pureza, há quem se refastele com sageza no sujo.
Ninguém está feliz, andam todos por aí a empinar o nariz numa atitude que diz que são os maiorais no sorrir, mas, é, camaradas, tudo a fingir. Tudo a fingir.
Nós, nós temos o dever de manifestar a propriedade da nossa depressão, e com isso acordar o resto da população estrangulada, a quem é empurrada a obrigação de ser feliz.
Deprimidos de todos o mundo, unamo-nos, porque só um idiota, sem capacidade de reflexão e de análise, passa por esta vida, neste mundo demente de fundo deprimente, sem se sentir deprimido.
Quando nos sentirmos sufocados e sem saída, só temos que ver que nesta vida há tanta e muita gente como nós e em cuja voz questões como as nossas são refletidas. Muita coisa assim muda, pois se a nossa alma estiver muda, só temos de pedir ajuda, pois há muitos deprimidos à escuta. Mas livros de auto-ajuda... não, nada, só ajudam a quem os escreve, o teu bolso fica leve, mas a tua alma ainda ferve. Eles só estão interessados em explorar a tua fragilidade, não te querem e nem podem ajudar de verdade, pois, senão, com tantos livros de auto-ajuda, teríamos menos gente deprimida e mais gente autoconsciente, menos gente iludida e menos gente a dizer lérias para ganhar dinheiro com a nossa miséria.
Deprimidos unidos, jamais serão vencidos.
Deprimidos unidos, jamais serão vencidos.
Deprimidos unidos, jamais serão vencidos.