No entanto, pergunto a mim mesmo: quem são os que afinal estão na razão? São os que apodam os outros de louco? Ou os que aceitam o apodo? Enfim, se formos ver bem, o homem geralmente oferece o que precisa para o poder receber depois. Entretanto, na sua totalidade, os homem podem ser assim classificados:
– loucos que se julgam loucos e são loucos.
– loucos que se julgam sãos e são loucos.
– sãos que se julgam loucos e não os são.
e a categoria especial:
– loucos que se julgam loucos e não os são.
Do último grupo prefiro distância, dos três primeiro, não sei dizer qual é o melhor. Mas homens, como sempre os conheci loucos, não sei se tinha nervos para aturar algum são, realmente são, e que, para o cúmulo se julga são.
– loucos que se julgam sãos e são loucos.
– sãos que se julgam loucos e não os são.
e a categoria especial:
– loucos que se julgam loucos e não os são.
Do último grupo prefiro distância, dos três primeiro, não sei dizer qual é o melhor. Mas homens, como sempre os conheci loucos, não sei se tinha nervos para aturar algum são, realmente são, e que, para o cúmulo se julga são.
Ninguém é perfeito, diz o cliché, mas ninguém gosta de se dizer imperfeito ou mesmo de se sentir imperfeito – a não ser, é claro, quando comete um erro crasso e não tem ninguém em quem jogar a culpa. E atitude destas é loucura ou sabedoria?
Também eu pensava que Hitler era louco, até tentei ler o Mein Kampf para ver se tinha laivos de filosofia e inteligência como Voltaire ou Erasmus, e, por acaso, em muitas páginas, tinha, mas não consegui ler a obra toda, porque ainda dentro dela me convenci de que não era Hitler o verdadeiro louco, mas aqueles que o liam, ouviam e viam nele uma espécie de Messias com uma missão divina e glorificadora, antes porque o livro tinha pataratas imensas.
O que é certo porém é que na dança de loucos mesmo que seja a sapiência a marcar o compasso dança-se à loucura.
Por que será que os animais não enlouquecem? Ou enlouquecem? Ouvi falar de vacas loucas, mas não percebi qual foi o padrão usado pelo psicólogo que assim as classificou. Um vez uma vara ficou louca e atirou-se ao mar, disseram que fora possessa por uma legião de demónios a mando de Cristo – que crueldade!, estivesse ali a sociedade protectora de animais ou algo no género, o gajo ver-se-ia numa camisa de onze varas. Percebe-se que essa vara tenha ficado mesmo louca, porque por (e em) princípio porcos não nadam, chafurdam na lama, e nem saltam de precipícios simplesmente porque não saltam. Que os terá feito saltar então? A consciência, supostamente. Quando os demónios lhes entraram no cérebro ou na alma, ganharam a consciência, e ao sentirem o peso dessa consciência, sentiram-se antinaturais, e resolveram saltar, optando pelo suicídio. Porém, como a ciência não acredita em demónios, o que fez que as vacas tenham ficado loucas? Será que é porque lhes põem a ouvir Mozart para estimular a produção de leite? Será que é porque em vez de as deixarem escolher o seu touro escolhem por ela um touro? Será que é porque em vez de ela dar a mamar naturalmente – obtendo o prazer freudiano (?) desse facto – põem-lhe nas tetas mamadeiras? Alguém de certeza sabe.
Se até as vacas, descerebradas segundo se diz, conseguimos deixar loucas, imaginem o que não fazemos aos nossos semelhantes! Algures num ponto da pré-história o homem ficou louco, se calhar foi mesmo quando despertou a sua consciência, ou foi quando Adão comeu a Eva, desculpem, a maçã, e o resto foi simplesmente transmissão de vírus através de diversos factores como a educação e a socialização.
Não simplificamos nada, em vez disso conotamos a simplicidade à pobreza, pobreza criativa, pobreza de espírito ou pobreza de qualquer outro tipo. Quanto mais complicados, mais gostamos. Deus deu duas tábuas de dez leis a Moisés – embora Mel Brooks tenha dito que foram três tábuas de quinze –, apenas dez, mas depois resolveu meter mais regras a observar. Hamurabi tinha outras tantas leis para cumprir, e a sua sociedade, pode-se dizer, vivia equilibrada, hoje temos milhentas vezes mais leis do que Hamurabi, mas a nossa sociedade é a mais complicada e desequilibrada. Ora digam lá se isso não é loucura. Por quê muito para complicar quando poucas podiam resolver tudo? Será que porque pouco não parece ser grandioso?
A grandiosidade é o nosso maior problema. É por sua causa que os homens se dividem e estabelecem classificações. Grupos julgando-se melhores que grupos, sistemas e subsistemas de aproximação e afastamento, indivíduos, famílias, classes, castas, clãs, tribos, etnias, raça, nacionalidade, cor, continentalidade, crença e só por fim a humanidade. E partindo do círculo menor, o indivíduo até chegar a humanidade, as igualdades reduzem-se abismalmente de tal forma que a humanidade parece não existir, embora esteja em voga agora o conceito globalização.
Quando começou tudo? Vai mesmo acabar neste século XX? Enquanto isso deve-se agir em conformidade ou à rebeldia? Loucos são os que remam contra a maré – loucos, loucos e loucos –, mas loucos também são o que se deixam arrastar sem contestar – loucos, sãos, mas loucos.
Qual é saída a escolher neste nosso tempo?
Também eu pensava que Hitler era louco, até tentei ler o Mein Kampf para ver se tinha laivos de filosofia e inteligência como Voltaire ou Erasmus, e, por acaso, em muitas páginas, tinha, mas não consegui ler a obra toda, porque ainda dentro dela me convenci de que não era Hitler o verdadeiro louco, mas aqueles que o liam, ouviam e viam nele uma espécie de Messias com uma missão divina e glorificadora, antes porque o livro tinha pataratas imensas.
O que é certo porém é que na dança de loucos mesmo que seja a sapiência a marcar o compasso dança-se à loucura.
Por que será que os animais não enlouquecem? Ou enlouquecem? Ouvi falar de vacas loucas, mas não percebi qual foi o padrão usado pelo psicólogo que assim as classificou. Um vez uma vara ficou louca e atirou-se ao mar, disseram que fora possessa por uma legião de demónios a mando de Cristo – que crueldade!, estivesse ali a sociedade protectora de animais ou algo no género, o gajo ver-se-ia numa camisa de onze varas. Percebe-se que essa vara tenha ficado mesmo louca, porque por (e em) princípio porcos não nadam, chafurdam na lama, e nem saltam de precipícios simplesmente porque não saltam. Que os terá feito saltar então? A consciência, supostamente. Quando os demónios lhes entraram no cérebro ou na alma, ganharam a consciência, e ao sentirem o peso dessa consciência, sentiram-se antinaturais, e resolveram saltar, optando pelo suicídio. Porém, como a ciência não acredita em demónios, o que fez que as vacas tenham ficado loucas? Será que é porque lhes põem a ouvir Mozart para estimular a produção de leite? Será que é porque em vez de as deixarem escolher o seu touro escolhem por ela um touro? Será que é porque em vez de ela dar a mamar naturalmente – obtendo o prazer freudiano (?) desse facto – põem-lhe nas tetas mamadeiras? Alguém de certeza sabe.
Se até as vacas, descerebradas segundo se diz, conseguimos deixar loucas, imaginem o que não fazemos aos nossos semelhantes! Algures num ponto da pré-história o homem ficou louco, se calhar foi mesmo quando despertou a sua consciência, ou foi quando Adão comeu a Eva, desculpem, a maçã, e o resto foi simplesmente transmissão de vírus através de diversos factores como a educação e a socialização.
Não simplificamos nada, em vez disso conotamos a simplicidade à pobreza, pobreza criativa, pobreza de espírito ou pobreza de qualquer outro tipo. Quanto mais complicados, mais gostamos. Deus deu duas tábuas de dez leis a Moisés – embora Mel Brooks tenha dito que foram três tábuas de quinze –, apenas dez, mas depois resolveu meter mais regras a observar. Hamurabi tinha outras tantas leis para cumprir, e a sua sociedade, pode-se dizer, vivia equilibrada, hoje temos milhentas vezes mais leis do que Hamurabi, mas a nossa sociedade é a mais complicada e desequilibrada. Ora digam lá se isso não é loucura. Por quê muito para complicar quando poucas podiam resolver tudo? Será que porque pouco não parece ser grandioso?
A grandiosidade é o nosso maior problema. É por sua causa que os homens se dividem e estabelecem classificações. Grupos julgando-se melhores que grupos, sistemas e subsistemas de aproximação e afastamento, indivíduos, famílias, classes, castas, clãs, tribos, etnias, raça, nacionalidade, cor, continentalidade, crença e só por fim a humanidade. E partindo do círculo menor, o indivíduo até chegar a humanidade, as igualdades reduzem-se abismalmente de tal forma que a humanidade parece não existir, embora esteja em voga agora o conceito globalização.
Quando começou tudo? Vai mesmo acabar neste século XX? Enquanto isso deve-se agir em conformidade ou à rebeldia? Loucos são os que remam contra a maré – loucos, loucos e loucos –, mas loucos também são o que se deixam arrastar sem contestar – loucos, sãos, mas loucos.
Qual é saída a escolher neste nosso tempo?