Numa crónica de João Malheiro, Hora Bolas, públicada no Destak de 24 de Maio, ele escrevia todo indignado sobre jornalistas mais novos que não conhecem jogadores que participaram na história futebolística, sem ter em conta que esses, por serem como os chamou, novos, podiam não prestar atenção à Santana que, por acaso, morreu “há vintena de anos”. Acho que nem sequer se lembrou que na faculdade de jornalismo não se ensina a história de futebol e na faculdade história idem. Mas isto sou eu a fazer de advogado do diabo.
Provavelmente lá o senhor tem alguma razão ao dizer que os jornalistas de futebol deviam saber sobre a história de futebol, entretanto, quando ele assina a crónica com o título AMNÉSIA SOCIAL, torna-se irrisório, para não dizer preocupante.
Lá porque o espectáculo de futebol é todo ele coberto pela média significa que ele deva ser regalado para o plano essencial? Quer dizer, não saber de futebol é agora um mal social? Compreendo que a futebolite ataque a maior parte dos cérebros, inclusive de muitos supostamente ilustrados, podendo aqui dar exemplos de, pelos menos dois, professores universitários que faltam às aulas para ir ver benfica-sporting.
Não sei se a ignorância do futebol é positiva, visto que ele faz parte do nosso quotidiano, mas tenho a certeza que não conhecer os jogadores ou a sua história não é nenhum mal, e sei que não ser apanhado de futebolite é ainda menos mal, pelo que assim digo que o mal social não é a sua ignorância, mas ele próprio.
Ontem era pão e circo, hoje café e futebol. O país pode ir às urtigas, pode haver sombras de uma iminente guerra mundial, pode ninguém saber o que é a OPA, ou quem dirige o país, mas não saber quem anda o Cristiano Ronaldo a comer é uma afronta social.
Acho que o senhor Malheiro ficaria menos indignado se o jornalista lhe dissesse que o Big Brother foi escrito em 1984 por um apresentador de televisão.