27 de janeiro de 2010

UM FENÓMENO CHAMADO HAITI

Digam que sou insensível, o que quiserem, mas estou farto do Haiti. Nem sequer percebo essa paranóia toda que gira a volta dele. Começou por ser fonte de audiência, dia depois, quando as televisões exploravam a miséria humana, jornalistas em busca de matérias, estáticos a filmar pessoas soterradas. Odiei ter visto isso. Odiei ainda mais quando nos dias que se seguiram todos os canais de televisão estavam a mostrar as imagens da destruição vezes e vezes.

As pessoas gostam da miséria, volto a dizer, só assim consigo entender o fenómeno Haiti (pois não sei outra maneira de o chamar). Odiei que empresas de Internet se promovessem com Haiti, o twitter a criar páginas de actualizações exclusivas do catástrofe, a dizer que o sismo foi ali relatado em tempo real; o MSN Messenger a fazer publicidades com o mesmo motivo, entre outros tantos.

Está todo o mundo solidário com Haiti, então por que não? Quando se fala da crise económica, que está todo o mundo sem dinheiro, que a gripe desola a Europa, é sempre bem-vindo algo como o que aconteceu no Haiti, para as pessoas sentirem que afinal não estão assim tão mal, que há outras em situações bem piores. Não sei, se calhar não se trata disso (vou fazer fé no género humano, pois não sou misantropo).

É bom que pessoas se autopromovam a custa da desgraça de Haiti, é bom que Haiti encha estádios de futebol, encha anfiteatro de concerto, venda CDs e vídeos, sim, é mesmo bom, principalmente se esse dinheiro chegar aos destinatários. Até é bom que a TMN me peça 60 cêntimos para ajudar Haiti. Porém quando começo a receber cartas correntes para rezar por Haiti, com a pena de sete anos de azar caso não o fizer ou reencaminhar, epá… é demais.

Ainda estou a tentar perceber o que foi mesmo que despoletou a febre haitiana, eu sei que os órgãos de comunicação tiveram muito a ver com isso, mas não vejo o que levou a maioria a embarcar; será moda? É Haiti praqui, Haiti prali, mas ainda não estou a ver resultados sólidos de toda a mobilização feita.

E já agora, catástrofes acontecerem mais recentemente, uns menores, outros tão destrutivos e arruinantes quanto o do Haiti, mas não vi esta furibundice toda. Seriam aqueles menos humanos?
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