18 de abril de 2015

A METAMORFOSE DO DINHEIRO - parte II


A SEGUNDA GRANDE RUTURA surgiu com a revolução industrial, o que criou o sector secundário, e novamente alterou as estruturas sociais. Não significa, no entanto, que todas as transformações anteriormente conseguidas desapareceram. Neste caso, como já estavam plantadas e enraizadas o conceito da propriedade privada e do monopólio, as transformações aconteceram mais para consolidar as vantagens económicas.

A revolução industrial modificou imensamente as configurações sociais: a produção em massa e a velocidade dos transportes influíram significativamente na economia, as pessoas já não precisavam de andar umas três semanas de uma cidade para outra para venderem os seus produtos, os comboios facilitavam essa locomoção, e as indústrias como produziam mais do que a cidade onde estavam situadas podia consumir, simplesmente iam vender os seus produtos para outras cidades. Os comboios e os navios a vapor, aproximaram mais as cidades e o conceito da globalização antes lançado pelos Descobrimentos ganhou mais forma e substância, as indústrias já não tinham que se contentar apenas com a cidade ou o país onde estavam situadas para servirem de clientes, forçaram as fronteiras e novos acordos começaram a nascer.

No entanto, a sociedade ressentiu-se gravemente com estas mudanças, ao mesmo tempo que se desenvolvia, o desemprego aumentou, o trabalho precário também, os servos da gleba deixaram de ser necessários quando as máquinas podiam fazer numa hora o que cinquenta homens faziam num dia, e o controlo da economia mudou de mãos, passando dos senhores feudais para os burgueses, donos de fábricas e de indústrias.

A produção em massa modificou o dinheiro, de metal com um valor real, passou para o papel com um valor simbólico, porque era a única forma de não fazer a economia colapsar, pois não haveria prata nem ouro suficiente para corresponder ao valor dos produtos. É certo que o dinheiro papel não foi produto da revolução industrial, os chineses já o tinham usado e a Itália também, os bilhetes de banco.

O dinheiro papel incentivou a consolidação dos bancos e modificou a própria ideia de dinheiro, de uma moeda metálica com um valor real e tangível, passou para um papel que se desvaloriza conforme as flutuações económicas, uma moeda fiduciária. Antes, uma moeda de ouro nunca perdia o seu valor, porque ouro é sempre ouro, hoje a moeda papel tem um valor real intangível, na medida em que sobe e desce e desvaloriza-se continuamente. Há 40 anos, por exemplo, o valor de 40 euros – ou o seu equivalente em escudos – era muito mais significativo do que hoje. Por exemplo, nos EUA uma nota emitida é formalmente uma dívida do Banco Central dos EUA, o Federal Reserve System, mas ninguém tem a obrigação de trocar esse valor pela quantidade equivalente de ouro. Com o crescimento da economia, na realidade o ouro do Federal Reserve System passou a representar o dinheiro apenas num sentido simbólico, porque na verdade o próprio banco já não tem ouro suficiente para pagar a moeda-papel existente no mercado.

A maior modificação do dinheiro foi que ele se tornou não apenas numa ferramenta de trocas comercias, como passou ele mesmo a ser um produto, originando as especulações bolsistas e outros estratagemas de usar o próprio dinheiro para gerar dinheiro.
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