Iaí, pípoles, lembram-se daquela história da irmã popular que não se dá bem com o irmão impopular e da gaja lambe-botas da irmã popular que está apaixonada pelo irmão impopular e pela popularidade ao mesmo tempo e não sabe como gerir isso? Ok! É um dos plots que veio a arrastar desde o primeiro capítulo de “The Fades”. Comecei por este plotporque, acredito, foi desenhado justamente para criar o efeito teen, tipo aquele adolescente nerd que vira super-poderoso, o sonho de qualquer um com baixa auto-estima ou vítima de bullying.
No entanto, para melhor escrever sobre a série, acho que devo descrever os plots principais:
Paul (Iain De Caestecker) é um adolescente desajustado, que sofre de enurese, que tem uma onda de “I see dead pípoles”, frequenta um psicólogo que como todos os psicólogos tenta fazer-lhe acreditar que a sua situação reporta de problemas paternos. O seu melhor amigo é Mac (Daniel Kaluuya – cujo trabalho tenho admirado), que, por não ver “dead pípoles”, não tem a desculpa de Paul para ser deslocado, e era o único que não acreditava que este fosse maluco, mas especial.
Neil (Johnny Harris) é um dos Angélicos, um dos especiais que vêem “dead pípoles” e funcionam como guardas-fronteira entre o mundo destes e o nosso, e sua equipa era formada por Sarah (Natalie Dormer) e Helen (Daniela Nardini), cada um deles com um poder especial, sendo o daquela de ver o futuro, e o desta de curar (dando uma de John Coffey do “The Green Mille”), e ambas mortas, mas errantes. Neil topa com Paul e resolve fazer-se do “professor”, transformando-o numa espécie do “Aprendiz do Feiticeiro”, fazendo-lhe acreditar que ele é uma peça eminente na batalha apocalíptica iminente, e que precisa de abandonar a vida como a conheceu.
Ok! Até aqui nada de muito estranho, mas eis senão quando resolveram entrar naquele mundo de coincidências típico das banda-desenhadas que por vezes não passam de situações metidas à força. Por exemplo Mark (Tom Ellis), professor de Paul e Mac, é casado com Sarah, que foi morta pelos Fades (os zombies espirituais) e cuja morte está a ser investigado pelo agente… (hum, não me lembro o nome)… que é o pai de Mac. Ou dois putos fazem troça da dupla Paul-Mac (PM) e logo a seguir são mortos e comidos pelosFades, tipo uma situação de justiça poética (ou lá como seria chamado). Para mim, isto é forçar a barra.
Mas, tudo bem. Vamos ver, os adolescentes resolvem organizar um festa (acto típico dos filmes de terror), e, coincidência, junto ao acampamento (?) dos Fades, tornando-se todos eles carne para canhão, para permitir ao Paul revelar-se como o Messias rejeitado (só receava que fizessem como os americanos onde só sobrevive quem é virgem ou que não faz sexo sem preservativo ou que o faz só com uma pessoa). Ou pelo menos era isso que se estava à espera, mas acaba por não acontecer nada (acreditando no preview do próximo episódio) e fica-se com a impressão: ou estes gajos estão a gozar com os clichés ou não sabem o que estão a fazer. Eu digo que senti algum anti-clima por nada ter acontecido naquela festa porque estou super-habituado a que aconteça em cenas do género (Ok! Dou-lhes um ponto, por me tirarem da minha zona de conforto e por gozarem comigo).
Não aconteceu assim muita coisa neste episódio, ok, passamos a saber mais sobre os personagens, todos eles, tirando os típicos e estereotipados, que por mais que lhe passem demãos de tinta, não mudam, como a Anna (Lily Loveless – Naomi de Skins, alguém?), irmã azeda de Paul, que, aposto, lá pelo último episódio vai dizer que só invejava este e por isso se comportava de maneira odiosa com ele, não parecendo em momento algum que moram na mesma casa ou foram criados juntos.
O que se destaca no episódio são os diálogos e o Mac, que domina com a sua personalidade a série, tornando-se o personagem mais divertido e interessante, e as situações hilárias como quando, na festa da Anna, um gajo pergunta a Neil: “Por que estás aqui?” E ele: “Estou a tentar manter o rapaz com quem me preocupo salvo das forças das trevas.” E aquele: “É assim que chamam agora à Anna?” Este pequeno diálogo, além de cómico, faz um retrato psicológico de Neil e da sua sinceridade e ingenuidade, e ao mesmo tempo, mostra que Anna não só espezinha o irmão, como todos os outros é temida por estes. Aliás, boa parte dos diálogos dão pistas tanto para o trama como para conhecermos os personagens. E gosto disso. Outra parte que achei divertido foi o diálogo entre Mac e Paul sobre o sonho deste, ao ver nele a irmã nua e morta na sua cama, melhor ainda a desculpa de Paul: foi uma nudez parcial. Ou quando Mac diz algo como isto: somos demais, porque não há ninguém mais desprezados que nós em toda a escola.
Continuo a achar que são muitas personagens e o drama que querem atribuir a cada um deles vai acabar por ficar sem lugar; continuo a achar algumas situações demasiadas forçadas, por exemplo, os Fades atacaram os rapazes que buliram PM e comeram-nos, no entanto, atacaram Neil e deixaram-no intacto, será que é porque precisam de informações? Será que Helen juntou-se aos Fades, ou está a criar um grupo à parte? Continuo a achar as coincidências a roçarem ao ridículo, mas continuo a gostar do “The Fades”, principalmente agora que as peças estão a tomar lugar no tabuleiro.
Neste episódio passou com Neil a assediar Paul a largar a vida como a conhecia, e este finalmente acaba por resolver não abandonar os seus, mas a virar uma espécie de Peter Parker ou Clark Kent (se calhar deviam dizer Constantine ou Blade, tendo, em vez de vampiros, fantasmas), e a mostrar que tem todos os poderes dos Angélicos juntos. Acreditando no preview do próximo episódio, acredito que “The Fades” será mais divertido, visto que os argumentistas estão a atirar com todas as armas que possuem e parece que não se estão a conter para o final.
E destaque para a apresentação do review da semana anterior feito por Mac. “Supernatural” consegue ser original com “Then” e “Now”, mas o estilo deste review, sei lá se é original, arrasa. Venha o próximo episódio.
publicado em TVDependente