21 de abril de 2011

SETE MINUTOS, OS, Irving Wallace (1969) - sexo não é crime

Os Sete Minutos de Irving Wallace é uma obra simplesmente soberba e avassalante, capaz de abalar até mesmo os menos conservadores, na medida em que autopsia comportamentos sociais que sabemos que existem, mas que talvez nunca tenhamos gastado o tempo a observar para lhes entender os porquês. 

A obra fala de um livro chamado Os Sete Minutos, que lhe deu o nome, considerado o mais obsceno de todos os tempos (mas é ficcionário), porque usa linguagem franca para explicar episódios de cama. Sete minutos é o tempo médio do orgasmo feminino, ou melhor que a mulher leva para chegar ao orgasmo, (não sei comprovar essa afirmação e nem para aqui importa) e o livro dentro do livro descreve o que passa na cabeça da autora durante esses sete minutos; e como agravante o facto do prazer sexual ser negado à mulher naquela altura, onde boa parte considerava o orgasmo feminino um mito, e quando verdadeiro um perigo à estabilidade social.

O livro estava à venda por um livreiro que foi preso acusado de vender pornografia [a pornografia só foi legalizada nos EUA por volta de 1974]. A acusação é feita por um Promotor público que espera com isso conseguir projecção política, pois é sabido que todo o mundo, quando se fala abertamente do sexo, fica com um pé atrás, embora com os ouvidos distendidos. E para complicar a situação, um rapaz comete uma violação e alega que foi incitado a isso pelo livro. E, por fim, um advogado ambicioso arrisca-se a sacrificar um futuro promissor para defender o livro. Eis a base para uma das mais esplêndidas leituras que fiz este ano [foi em 2006 que escrevi isto]. Li o livro com um pantagruelismo que eu mesmo nem conhecia, 600 páginas em 2 dias. 

O autor, Irving Wallace, revela conhecimentos profundos (para mim que sou leigo) sobre a posição do sexo no sistema judicial americano e o mecanismo do sistema em si, e parece ter feito um belo trabalho de base antes de se lançar à escrita d’ Os Sete Minutos. Uma das frases mais sonantes e reveladoras sobre a questão sexo que aparecem no livro é: assassinato é crime [e imoral e antiético], mas escrever sobre assassinato não é crime [nem imoral, nem antiético], sexo não é crime [nem imoral(?), nem antiético], mas escrever sobre sexo é crime [e imoral e antiético]. É verdade que hoje falar sobre o sexo não é crime, mas continua a considerar-se imoral e antiético, pelo menos quando não leva o cunho de científico.  
recentemente, em 2009, um livro que reproduzia esta imagem de um pintor francês na capa foi apreendido e proibido de vender pela PSP, porque foi considerado ofensivo, quando qualquer  banca de jornais que se preze expõe revistas pornográficas ou eróticas sem que isso seja considerado atentado ao pudor
Durante a leitura, dei-me por mim a consolidar a minha opinião acerca das perguntas que já tinha vindo a fazer: será o sexo sujo? Será que a forma de agir que consideramos a melhor não foi simplesmente estipulada por uma cultura exsicada e hipócrita? Até que ponto somos manietados e outorgamos nós mesmos aos mais poderosos o direito de nos usarem como joguetes? Até que ponto o nosso receio de não sermos aceite ou de sermos ridicularizados nos levam a agir por conveniência e a destruir o melhor de nós? Podem crer que fazemos mil outras perguntas durante a leitura. 


Ainda vemos no livro como é que as pessoas sacrificam tudo para defender aquilo em que acreditam (as corajosas e são raras), ou outras para esconder-se da vergonha (a maioria)... e vemos também como é que por causa de terceiros se lixam os… quartos.


Embora o sexo esteja tão banalizado hoje na literatura, noutras formas de artes, e na nossa própria vivência, não pensem que o livro esteja desactualizado ou que não ira trazer nada de novo, pois embora o livro fale de sexo em particular, no geral trata da liberdade individual. Acreditem que o livro (foi escrito nos anos 60) é ainda bastante actual e continuará actual por muito tempo, e chocante. Chocante porque embate contra a forma como aceitamos imposições no nosso plano sexual e como ainda sacralizamos o sexo.


Para não me perder em tergiversações baratas, (pois para falar de tudo o que o livro mostra e ensina, eu precisaria de escrever outro livro) digo que depois de ter acabado de ler Os Sete Minutos, senti-me mais inteligente e mais livre e encorajado a enfrentar certos preconceitos que já vinha a considerar estupidez. 
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