Não acredito em soluções fáceis para problemas complexos; nem mesmo na ficção, razão porque não gosto de Paulo Coelho, pois com conselhos inconsequentes e impraticáveis pretende que pode mudar o mundo, quando na verdade só muda a sua conta bancária (facto do qual não sou minimamente contra).
A analogia é fraca, mas o que queria com ela era dizer que a resolução dos problemas de Tibete não passa pelo boicote das olimpíadas, pelo menos do meu ponto de vista, o que sustento e fundamento.
Há anos, há muitos, muitos anos, um governador grego (já não me lembro quem, se alguém se lembrar, faça-me saber) instaurou os jogos olímpicos para unificar os povos gregos que andavam em guerra um com o outro. Os jogos eram feitos em honra dos deuses do Olimpo (o que justifica o nome), particularmente, Zeus.
Sabemos que hoje, tudo, por mais pura ideia que tenha sido no início, é usado como máquina de dinheiro ou desculpa para a notoriedade, razão por que os motivos dos jogos olímpicos tornaram-se pervertidos passando a ser uma fonte de rendimento capital, mais do que o conceito unificador dos povos.
A China investiu muito dinheiro e esforço para realizar os jogos, e coube-lhe essa tarefa há sete anos (se não estou em erro), e é certo que se candidatou a ela porque esperava tirar dividendos. Porém, que eu saiba, há mais de 50 anos que a China está no Tibete, mas isso não impediu que há 7 anos lhe tivessem dado o aval para dirigir os jogos; por que razão só agora se levantou a turba para justificar o boicote com os problemas de Tibete? Não vejo outra resposta senão esta: América.
Quero deixar bem claro que não sou a favor de qualquer invasão de um povo pelo outro, aliás eu sou filho de um povo (ex)cravizado e sei como isso funciona e o mal que causa; sou a favor da paz, mas não sou de expor o mal de uns para beneficiar outrem, principalmente quando esse é farinha do mesmo saco.
Está tudo politizado, Dalai Lama está a macular a sua figura fazendo uma espécie de jogo duplo, enquanto banca o Ghandi, os monges vão criando problemas na rua que requeiram intervenção policial; constantemente aparece a dizer que quer dialogar com a China como se esta fosse adversa ao diálogo. Talvez esteja a avaliar mal, mas não vejo senão a hipocrisia política no Dalai Lama desde quando começou a canalizar atenção para ser o Nobel da Paz, fazendo viagens e espalhando santidade, sempre, digo agora eu, com os americanos atrás das cortinas a puxar os cordéis e os cordelinhos.
Mas não tinha vindo aqui para falar do Dalai… A verdade é que a China está a tornar-se um império económico com um sistema social diferente dos americanos, e está a ser uma pedra nos sapatos deste. A América e a UE temem esta ascensão. Actualmente não há produto que não tenha made in China, não há europeu ou americano que não use um made in China, a china está a entrar no mundo e a assustar os americanos. Porém, a UE, menos gananciosa que a primeira, e mais ponderante, não está a favor do boicote.
O boicote dos jogos olímpicos não seria mais nada senão um golpe que desestabilizaria a economia chinesa por algum tempo… mas tempo é dinheiro… aliás, de uma forma ou outra já desestabilizou, porque muitos que antes tinham pensado em ir aos jogos assistir já não irão, porque figuras públicas, como Steven Spielberg (cujo arte admiro, mas esta atitude, arghhh, abomino), são a favor do boicote.
No entanto, pergunto: a América não está no Iraque?, não está no Afeganistão?, não vendem armas que alimentam as guerras no mundo? Por que raio ninguém se lembrou de boicotar os filmes americanos?
Acho que sei a resposta, porque os filmes são para nos distrair e não vamos atentar contra a nossa distracção, pois é-nos essencial. Agora só não entendo porque razão, se não devemos por em causa a nossa diversão, deveremos destruir os sonhos de outras pessoas. Não estou a falar aqui de chineses, mas alguns atletas passaram a vida inteira a prepararem-se para esta competição, podendo ser o seu maior sonho. Já se pensou na frustração deles? Não quero dizer que o povo invadido não se sinta frustrado também e que não devemos pensar nele.
Entretanto, não olhemos para o lado político e económico dos jogos, pensemos antes no espírito da olimpíada e acreditemos que ainda permanece imaculado, e por causa disso e dos atletas, perguntemos: por quê se deve boicotar os jogos olímpicos? Aliás, se a América é o justiceiro do mundo, se invadiu Iraque para fazer cumprir a justiça, por que não invade antes a China?