24 de setembro de 2013

UMA QUESTÃO DE... PROSTITUIÇÃO


A prostituição é uma prática social muito degradante, todos concordamos, embora a História e a literatura nos tenham apresentado certas damas das camélias, poderosas e influentes, que, não obstante a sua profissão, atingiram um estatuto invejável.

Acredito que, porque a prostituição envolve, inegavelmente, o sexo, e porque o sexo é para nós um assunto que, conforme diz a cartilha, tem de envolver uma afinidade emocional, ou melhor, afectiva, e cumplicidade a nível profundo, devendo ser usado como uma extensão de amor, afigura-se-nos imoral quando é usado como mercadoria, o que revolta de tal maneira que chamamos às prostitutas de mulheres de vida fácil. Porém, cometemos logo com isso uma injustiça, pois não me parece haver nenhuma facilidade em ter de ir para a cama com desconhecidos, que tanto podem ser carinhosos como violentos, limpos como porcos, etc. como etc., em troca de dinheiro. Sei de pessoas que engatam desconhecidos após desconhecidos, mas fazem-no por prazer, e não porque são obrigadas (excluo os erotómanos, que são compelidos a isso por uma necessidade psicológica).

As prostitutas, sim, acho que não precisava de dizer isso, são pessoas como nós, e, não, não é porque são prostitutas que significa serem moralmente mais falhos que o resto de nós, aliás, em termo comparativos, elas prostituem o próprio corpo, enquanto a maioria prostitui a ideologia, a ética, e alguns o próprio país e o povo pelo qual é responsável.

As prostitutas são do nosso meio social, e por isso moldadas pelos mesmos princípios báscicos morais que nós, e o óculo pelo qual as vemos é o mesmo pelo qual elas se veem, daí é que se sentem párias, simples objectos, e perdem a sua auto-estima, principalmente porque estamos nós sempre de facho aceso, prontos para a queimança, a mostrar-lhes o quão miserável é a sua vida, de forma que acabam mesmo a aceitar que são menos dignas e simples dejectos sociais.

Temos prostitutas e prostitutas, eu sei. Há aquelas de luxo, que ganham numa noite apenas um tanto milhares de euros, e eu tenho ainda alguma dificuldade em compreender a prostituição de luxo. (Deixem-me só esclarecer, eu defendo que cada um deve usar o seu corpo da forma que entender, desde que não ponha terceiros em risco, se há alguém disposto a pagar para o que podemos oferecer quando o podemos oferecer, se não vermos problemas nisso, por que não? – os prostitutas políticos estão fora desse plano, porque põem todo um país em risco.) Como estava a dizer, tenho dificuldade em compreender a prostituição de luxo, porque está envolto num clima de falso glamour (ou real mesmo), muitas meninas são enganadas e julgam que vão tornar-se estrelas ou algo como isso e são sugadas por esse mundo, e daí começam a fazer fotos com casacos de inverno e de repente estão a fazer vídeos com as pernas abertas… já estou a tergiversar.

Vi na SIC Radical (um canal orientado para adolescentes) um programa que mostra um bordel, nos States, onde as meninas são exploradas por um casal de meia-idade. Parecem sempre todos felizes e sentem-se importantes porque aparecem na televisão. A ideia passada pelo programa é que aquele trabalho e igual a qualquer outro (sim, e por que não? – concordo que devemos levantar o estigma e as cercas morais sobre o assunto), no entanto, desconsidera todos os demais factores. Desconsidera que aquelas meninas estão a servir a um casal de proxenetas (ou talvez a uma organização mais complexa), visto que a casa fica com boa percentagem dos ganhos, e que a prostituição é “supostamente” ilegal. Além de que o programa está a fazer publicidade aquelas casas e às suas meninas.

Uma curiosidade acerca dos States, parece que só um estado americano tem a prostituição legalizada, mas se o acto sexual for filmado deixa de ser prostituição e para a ser considerado pornografia, que é legal – como se ela não se processasse nos mesmos moldes que a prostituição, como se não fosse sexo em troca de dinheiro. 

Aquele programa desconsidera que a nossa sociedade desvaloriza as prostitutas, por isso vai insistindo em dizer que aquelas meninas são tratadas com respeito e cavalheirismo, mesmo quando elas mesmo dizem aos clientes: podes fazer tudo o que quiseres comigo… “pois pagaste, és o meu dono”. (Aspas minhas). Quando elas mostram que ganharam 2.000 euros por uma sessão de sexo com um cliente que teve ejaculação precoce, o que vão pensar as milhares de adolescentes a ver o programa? Não é melhor largar a escola (que, por acaso, é garantia de nada) e começar a treinar os meus dotes da Fanny Hill (não as literárias, é claro)? Eu sei que há prostitutas que ganham muito mais do que isso, sorte delas, mas são exceções.



Sou a favor da prostituição, mas sou contra o aliciamento expresso que fazem às adolescentes, principalmente porque elas vão ser exploradas por terceiros. Se a prostituição fosse legalizada, e houvesse uma estrutura legal que protegesse as mulheres de abusos tanto dos clientes como de nós cá que as condenamos, eu não veria problemas nenhum nesse tipo de aliciamento, porque saberia que elas iriam trabalhar, manter a sua auto-estima e não seriam postas de parte. Eu sei que pessoas como a Sasha Grey, ou Jenna Jameson, são endeusadas, porque ficaram ricas e são famosas, embora sejam ou foram prostitutas, desculpa, artistas do sexo, mas elas são exceções das exceções.

O que queria dizer é que há diferentes níveis de prostituição, e eu queria aqui a escrever sobre o nível mais baixo, aquele onde as mulheres têm de se vender para sustentar os filhos e os maridos, ou das estudantes que precisam disso para as propinas da faculdade, e acabei por desviar-me.


vidas em saldo - reportagem da sic

Bem, é certo que pode haver uma ou outra que goste mesmo de prostituir-se, que junta o útil ao agradável, mas pelas estatísticas, são casos raros.

Eu acho que a prostituição deve ser legalizada, afinal já existe prostituição legalizada chamada de cinema pornográfico. No entanto, repito, também acredito que vai ser preciso muitas medidas milagrosas para tentar que as mulheres sejam menos exploradas. A legalização da prostituição não deveria ser de maneira a favorecer aos proxenetas, mas às próprias prostitutas, aquelas que ou optam por ela ou são forçadas a ela porque têm de sobreviver.

Se a prostituição não for legalizada, as prostitutas que só a têm como opção para sobreviver, vão trabalhar nisso a vida toda e no fim, quando forem velhas e acabadas e ninguém as quer, simplesmente ficam lixadas, entretanto, se for legalizada, elas pelo menos podem descontar para o estado e garantir uma reforma ou algo parecido. A prostituição é uma necessidade, má ou boa, mas necessidade (não entendam, necessário, pelamordideus).

Não falei do machismo que envolve a prostituição e nem falei da prostituição masculina, porque tirando aquela referente aos gays, a nossa sociedade chauvinista admira os gigolos, mesmo que secretamente, pois fazem sexo e ainda são pagos para isso.

E qual é a diferença entre a prostituição e a pornografia? por que a segunda é legal e a primeira não?

6 de setembro de 2013

TENTANDO ENTENDER... A CRISE SÍRIA

Um dia, por acaso, estava a acompanhar um debate filosófico entre o meu sobrinho, de sete anos, e o seu amigo, de uns nove ou dez, acerca da mentira, quando o amigo saiu com essa conclusão depois de analisadas as premissas e apresentados os argumentos: “os adultos também mentem, e muito mais do que as crianças”. Não manifestei a minha opinião, pois… onde estaria a solidariedade adultícia se eu confirmasse aos miúdos que eles tinham razão?

Numa analogia similar, considerando que os países ricos são os adultos, e os pobres são os miúdos, cuja opinião não é solicitada, nem levada em conta, eu percebo a solidariedade dos G20 com os americanos na questão de invasão à Síria. Solidariedade sim, porque embora saibam que se trata do interesse económico de um punhado de americanos superricos, aqueles que lucram imenso com a sua máquina de guerra (nada a ver com Van Damme), não vão agir em contradição e tudo o que pedem é um aval da ONU (outro pau mandado dos States). Bem, mas compreende-se, os países ricos têm interesse em não perder o seu domínio, e a melhor maneira de o não fazer é não embater de frente com o mais rico e poderoso deles. Sendo assim, os G20, ou melhor os G19, vão, de qualquer forma apoiar o G1, ou quanto muito, não fazer nada quando este decidir levar a sua avante. Trata-se da solidariedade adultícia.

Pode ter havido ataque com gás sarin na Síria – como pode não ter –, pode ter sido um trabalho tanto do governo i-“legítimo” – como pode ter sido da oposição – (o i- é para dizer ao Passos Coelho que a legitimidade do governo, mesmo que tenha 100% de votos, perde-se quando põe em risco a sua população em benefício de interesses económicos alheios), mas numa coisa todos concordam, milhares de sírios desgraçados estão a morrer massacrados pela ganância de uns quantos. Pois vê-se que tanto do lado sírio como do americanos há muitas coisas a aparecerem que cheiram a completas manipulações.

Diz-se que há mais ou menos 110 mil mortos desde o início da guerra civil síria, mas isso não interessava aos americanos, nem aos G19, são sírios, porra, nem pessoas são. No entanto, quando se fala que uns 100 sírios morreram com gás sarin, levanta-se a América, toda indignada: Isso é uma barbaridade!  Pois, claro que é! Onde já se viu? Matem-se com armas, com canhões, matem-se com garfadas no olho um do outro, aliás, até podem usar a piada mortal dos Monty Python, matem-se à paulada, matem milhões, matem bilhões, porra, mas não usem o gás, pois isso é barbaridade. Gás só é permitido nas prisões americanas, ninguém mais deve usá-lo.

Obama vai atacar a síria, retaliação, disse ele. Mas que raio fizeram os sírios à América para estes terem de retaliar?

Mas todos sabemos que o G1 não se importa com o que os outros pensam, ele apenas faz, no entanto, do lado de cá, vejo notícias sobre a crise síria que me deixam perplexos. Quem entende os média? Num artigo dizem que existem provas que atestam o ataque em Síria com armas químicas pelo governo, para logo no outro dizerem, em letras miúdas, que a ONU ainda não fez exames conclusivas, para logo a seguir, voltarem a carga em letras garrafais que houve provas e ADN sobre o uso do sarin e que o Cameron tem provas conclusivas, como se não soubessem que Powell, Bush e Blair já tinham apresentado provas conclusivas aquando do ataque ao Iraque? Por que carga d’água os média não usam a palavra “alegadamente” quando apresentam essas notícias em vez de servi-las com factuais, sabendo que muitos nem pensam sobre o que ouvem e partem logo do princípio que os jornalistas não mentem (ai, tenho de avisar o meu sobrinho).

A Síria vai ser invadida para fazer um cerco ao Irão? A Síria vai ser invadida para meter medo aos norte-coreanos e aos iranianos? A Síria vai ser invadida porque, pelos visto, a retirada das tropas de Afeganistão poderá criar desemprego para o milhares de mercenários americanos? A Síria via ser invadida por uma posição estratégica contra a Rússia? A Síria será invadida para um teste cabal dos drones e robots de combate? 

Mas quem raio legitimou a América como a polícia do mundo?

Acho que essas (ou algo como isso) deveriam ser algumas das questões que deviam ser levantadas e analisar a legitimidade de um país invadir o outro. Invadam então Portugal, porque o governo está a usar bombas decretatórias para liquidar a população... ai, por favor, não invadam, estava só a brincar.

Que Obama pôde ter mudado alguma da política americana… sim, ele pôde. No entanto, tal como já vaticinara, ele tem de cumprir as promessas feitas as multinacionais que financiaram a sua campanha, e ele é apenas um outro fantoche da grande e verdadeira América (os bancos e as multinacionais).


Tentei aqui entender a crise síria, mas continuo como quando comecei a escrever isto, não entendi nada.