25 de dezembro de 2011

EXPOSIÇÃO - UTILITAS INTERRUPTA (museu da água)


A primeira coisa que me chegou à cabeça quando adentrei o Museu da Água para ver a exposição Utilitas Interrupta foi: De facto não brincamos quando o negócio é sujar o planeta.

Como me foi explicado pela guia, a exposição trata-se de obras arquitectónicas e de engenharia abandonadas e hoje sem uso; algumas delas abandonadas antes mesmo de começarem a ser usadas, a outras, no entanto, aconteceu, a determinada altura, ao tentar alterar-lhe o “uso”, o projecto acabou abandonado.

«Esta exposição investiga dezassete case studies recolhidos transversalmente em vários ponto no tempo e no espaço. A infra-estrutura tornada obsoleta pela pressão inexorável do progresso tecnológico; a infra-estrutura da paranóia da vaidade, sem propósito excepto enquanto prova da sua própria existência; a infra-estrutura falida dos ideais dignos e das intenções por cumprir; a infra-estrutura frustrada pelo infortúnio e pela catástrofe, deixada em lenta decomposição; a infra-estrutura do absurdo, do cómico e do trágico – histórias de actos em que cura é assumidamente pior que a doença. Se a paisagem é o teatro onde se encena a epopeia da história, estas cicatrizes infra-estruturais são uma eloquente recordação de que a história tal como a conhecemos e apenas um dos inúmeros – e igualmente plausíveis – guiões possíveis.», palavras de Joseph Grima, Curador da exposição.

Eu não diria que todas as obras apresentadas na exposição são falidas de ideais, porque há ali algumas que chamam atenção tanto pela imponência como pela estética e pela forma, entretanto concordo que todas sejam cicatrizes e marcas da “insustentabilidade” humana. Vi, como já tinha referido, sobre obras arquitectónicas e obras de engenharia que ferem a paisagem, no entanto, não vi, e acho que era também interessante, obras que sujam até mesmo o espaço sideral, tais como satélites abandonados no espaço.

A nossa vontade de construir só é comparável à de destruir, e, pelo que parece, não conseguimos construir coisas bonitas sem deixar outras tantas feias por perto. E a estratégia da exposição exemplifica essa ideia muito bem. No Museu da Água, onde a exposição é mais audiovisual e projectada na tela, temos dos dois lados da tela principal, duas outras, uma à esquerda e outra à direita, que projectam uma paisagem árida e uma paisagem “molhada”, ambas as paisagens, porém, naturais. E na tela principal, vemos a alteração da paisagem feita pelo homem.

Tanto a forma da exposição, como a sua ideia manifestam que tudo o que construímos pode ser recuperado, aliás, os museus servem mesmo para recuperar o “passado” e não deixá-lo como um pedaço de lixo que macula o “presente”.

E outra coisa em que pensei durante a visita foi em como o Ocidente, pela sua influência económica, dita o que deve ser construído e o que não deve; digo isto referindo aos hotéis no médio-oriente que começaram a ser construídos e que depois foram abandonados porque ficaram sem potencial turístico devido a zonas onde se encontravam. E também vemos muitas infra-estruturas abandonadas porque o seu perfil económico alterou-se e não tinham mais esse potencial. Ou seja, é, principalmente, a economia que cria o lixo paisagístico, e a arquitectura está entre um dos maiores criadores de lixo no planeta.



P.S.: A exposição já acabou.
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