A primeira coisa que me chegou à cabeça quando adentrei o
Museu da Água para ver a exposição Utilitas Interrupta foi: De facto não
brincamos quando o negócio é sujar o planeta.
Como me foi explicado pela guia, a exposição trata-se de
obras arquitectónicas e de engenharia abandonadas e hoje sem uso; algumas delas
abandonadas antes mesmo de começarem a ser usadas, a outras, no entanto,
aconteceu, a determinada altura, ao tentar alterar-lhe o “uso”, o projecto
acabou abandonado.
«Esta exposição
investiga dezassete case
studies recolhidos transversalmente em
vários ponto no tempo e no espaço. A infra-estrutura tornada obsoleta pela
pressão inexorável do progresso tecnológico; a infra-estrutura da paranóia da
vaidade, sem propósito excepto enquanto prova da sua própria existência; a
infra-estrutura falida dos ideais dignos e das intenções por cumprir; a
infra-estrutura frustrada pelo infortúnio e pela catástrofe, deixada em lenta
decomposição; a infra-estrutura do absurdo, do cómico e do trágico – histórias
de actos em que cura é assumidamente pior que a doença. Se a paisagem é o
teatro onde se encena a epopeia da história, estas cicatrizes infra-estruturais
são uma eloquente recordação de que a história tal como a conhecemos e apenas
um dos inúmeros – e igualmente plausíveis – guiões possíveis.», palavras de Joseph Grima, Curador da exposição.
Eu não diria que todas as obras apresentadas na exposição são
falidas de ideais, porque há ali algumas que chamam atenção tanto pela
imponência como pela estética e pela forma, entretanto concordo que todas sejam
cicatrizes e marcas da “insustentabilidade” humana. Vi, como já tinha referido,
sobre obras arquitectónicas e obras de engenharia que ferem a paisagem, no
entanto, não vi, e acho que era também interessante, obras que sujam até mesmo
o espaço sideral, tais como satélites abandonados no espaço.
A nossa vontade de construir só é comparável à de destruir,
e, pelo que parece, não conseguimos construir coisas bonitas sem deixar outras
tantas feias por perto. E a estratégia da exposição exemplifica essa ideia
muito bem. No Museu da Água, onde a exposição é mais audiovisual e projectada
na tela, temos dos dois lados da tela principal, duas outras, uma à esquerda e
outra à direita, que projectam uma paisagem árida e uma paisagem “molhada”,
ambas as paisagens, porém, naturais. E na tela principal, vemos a alteração da
paisagem feita pelo homem.
Tanto a forma da exposição, como a sua ideia manifestam que
tudo o que construímos pode ser recuperado, aliás, os museus servem mesmo para
recuperar o “passado” e não deixá-lo como um pedaço de lixo que macula o
“presente”.
E outra coisa em que pensei durante a visita foi em como o
Ocidente, pela sua influência económica, dita o que deve ser construído e o que
não deve; digo isto referindo aos hotéis no médio-oriente que começaram a ser
construídos e que depois foram abandonados porque ficaram sem potencial
turístico devido a zonas onde se encontravam. E também vemos muitas infra-estruturas
abandonadas porque o seu perfil económico alterou-se e não tinham mais esse
potencial. Ou seja, é, principalmente, a economia que cria o lixo paisagístico, e a arquitectura está entre um dos maiores criadores de lixo no planeta.
P.S.: A exposição já acabou.