16 de maio de 2007

MADDIE vs MARIAS

Arrisco a passar-me por insensível, mas não sou, e tenho amigos que o possam confirmar, entretanto vou falar aqui de um tema muito forte, e tenho impressão de que vou ferir sensibilidades, mas espero que não seja por isso que não deva falar disto.

Bom, cá vou eu. Nos últimos dias em Portugal, não há quem veja TV, ouça rádio ou lê jornais... ou ainda, use net... que não saiba que foi raptada uma menina com nome Madalena (escreve-se em inglês, pois ela é inglesa, mas eu não sei escrever o nome dela bem e não queria arriscar-me a errar). Eu sou contra rapto de qualquer espécie, o que quer dizer que o facto de terem raptado Madaleine (acho que é assim que se escreve) choca-me. Porém, todos os dias, recebo mais de quatro mails com fotos dela, mails de carácter de urgência e outras até com poemas dedicadas. Nos jornais... Enfim, a média está infesta de Maddie (é o diminuitivo dela)... Bom, talvez seja melhor usar outro vocábulo, e dizer as coisas noutro tom, só não sei a forma mais politicamente correcta para dizer isto. Mas vamos lá.

Portugal parece estar em reboliço porque desapareceu Maddie, e isso, acho eu, só porque ela se chama Madeleine, pois se fosse Madalena, ou Maria, não se preocupavam assim tanto. A imprensa estrangeira também está em Portugal, não se sabe se realmente preocupada com a pobre Maddie, ou se para curtir umas férias no Algarve disfarçadas de ordem de trabalho, pois na Inglaterra, na França, na Alemanha, no resto da Europa, parece que desaparecem por ano mais pessoas do que aqui, mas porque é que não fazem todo esse alarido lá? Tem alguma coisa a ver com política o facto de estarem a chover jornalistas cá por causa da Maddie? Será que se quer passar a ideia de um Portugal mais vulnerável para mobilizar fundos e ajudas da UE? Esse não é meu ramo, vou deixar de conjecturas.

Na África estão a morrer de fome, de guerra e males de toda a sorte, crianças que o mundo nega; nos países do terceiro mundo, em geral, crianças são raptadas, violadas, exploradas sexualmente, mas não há tanta imprensa à volta disso, e os internautas portugueses estão em paz de Deus.

Mas, isso é compreensível, pois esses países estão muito longe, e o caso Maddie aconteceu debaixo das nossas barbas (no nosso queixo?).
Mas a questão que se põe é: desaparecem em Portugal muitas Marias que não são faladas porque são Marias, outras que nem se sabe que desapareceram porque são filhas de imigrantes ou filhas de pobres.

Não pensem que sou contra Maddie, Deus me livre disso, mas sou contra essa hipocrisia barata e fodida com que se impregna as coisas para provocar outros efeitos. Parece-me que quem na verdade se está a lixar para Maddie, são os seus pais, familiares e amigos. Para a PJ é só um caso, para a Imprensa, uma notícia, para o povo, motivo de conversa, para o internautas, lixo electrónico.
Na verdade, quem é que olha para a cara de outras pessoas nos sítios públicos para saber o que está essa pessoa a sentir, se está a ter ou não um belo dia, com intuito de ajudá-la (mas vou fazer disto a razão de um próximo post, e vou voltar a Maddie). Sendo as pessoas como são, posso crer que encontraríamos com Maddie dez vezes na rua, apesar de termos recebido mil vezes a sua foto na net, e ainda assim não a reconhecíamos, pelo simples facto de que estamos a lixar-nos para as pessoas com quem nos cruzámos.

O texto já está a alongar demais, quando começo a falar, não consigo parar. Só quero acrescentar mais uma coisa, quando vão mandar fotos da Maddie no vosso próximo mail, não se esqueçam de adicionar as fotos das Marias.
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