1 de abril de 2013

LOOS ORNAMENTAL, 2008


O documentário Loos Ornamental, relizado por Heinz Emighloz é tão maçante e dá mais sono do que ouvir o Vítor Gaspar nos seus monocórdicos discursos a fazer ensaios fictícios sobre como saldar a dívida com a Troika. Eu explico (não a parte do Vítor, é claro).

Cinema, do grego, movimento (hoje também tido como o espaço onde se projectam filmes), é uma técnica de usar uma sequência de fotografias de modo a criar a ilusão de movimento, é uma forma de contar uma história.

O cinema mudou muito ao longo do tempo, mas uma constante, desde os primórdios da sua existência, quando os homens da caverna projectavam sombras nas paredes para contar como é que foi um emocionante dia da caça, foi sempre o movimento. Cinema é um conjunto de imagens sequenciais, de fotografias interligadas para dar um sentido, um conjunto de pontos que forma uma linha, geometricamente falando. E assim mostra-se, senão superior, pelo menos maior que a fotografia.

Dito isto, quando se vê Loos Ornamental, o que se chega à cabeça é: mas que raio, isto não é cinema!, e não no sentido de um filme caseiro qualquer não ser também cinema, aliás, a própria ideia de filme é violada com Loos Ornamental.

excerto do filme

Podia-se dizer que Heinz Emighloz simplesmente inverteu o conceito de pôr a fotografia em movimento para fazer cinema, e revolveu pôr o cinema em estática para parecer fotografia. Teoricamente é um bom exercício de masturbação mental, o conceito, é certo; mas na prática funciona tão bem como a licenciatura do Relvas. Quer dizer, a licenciatura está lá porque foi dada e é assim chamada, mas é tão vazia de sentido e sem conteúdo.

Adolf Loos, como aqui já referi, é o meu arquitecto de eleição, por isso a expectativa com que fui para o documentário e o entusiasmo eram muito altos, e fomos defraudados, tanto eu como Loos, considerando que o filme podia ter sido feito em Power Point com melhores resultados, na medida em que é um conjunto de planos estáticos das obras de Loos filmadas por uma câmara, e quando não há uma cortina a mexer tornam-se indistinguíveis de fotografias. As imagens, como se pode ver no excerto, são intevaladas por uns dez segundos ou mais, e assim, em sequência fazem o filme, sem narrativa e sem música (ai, que chato).

É certo que as obras de Adolf Loos falam por sim, mas se o próprio dizia que não gostava de fotografias porque manipulam a visão do espaço, como é que Heinz Emighloz vem fazer-lhe uma homenagem usando fotografias apenas, quando possui uma ferramenta que lhe permite ir mais além? (aliás, mesmo que Loos gostasse de fotografias, o filme continua mau) É como sair de submarino para ir fazer vela (nenhuma conotação com o Portas, entenda-se.)

Bruno Zevi, no seu Saber Ver Arquitectura (livro do qual ainda vou apresentar uma resenha aqui), dizia que as revista não ensinam a ver arquitectura porque falta-lhes a dimensão do movimento, a quarta dimensão, e por isso, quando Heinz Emighloz pretere da ilusão da quarta dimensão para mostrar arquitectura, o resultado só pode ser um: mau. E o pior é a ausência de narrativa e existir apenas o barulho natural de fundo quando filma em espaços exteriores, o que também não resultou muito bem, pois vários documentaristas (Herzog, por exemplo) fazem-no e resulta bem, pois cria momento quando o recurso é usado pautadamente, mas quando é uma constante, aborrece.

Entretanto, o pior de tudo é mostrar obras de Loos sem falar de Loos.

Loos dizia-se contra ornamento, mas referia-se às mariquices da art decor entre outras coisas, porque os seus espaços interiores eram muito bem ornamentados (e caros, só para quem pudesse pagar), e convinha dizer isso, pois quem não sabe de Loos, vê o documentário e no final, continua a não saber de Loos. É necessário falar das técnicas de Loos, das suas ideias, mostrar as plantas, etc, porque de contrário, o que se obtém é um filme para turistas comuns (usando a comparação de Zevi), quer dizer, vê-se tudo e mais alguma coisa, sempre com a pressa de seguir em frente para ver mais, mas sem perceber claramente a dimensão do que se viu.

Loos Ornamental não seria mau se tivesse sido uma exposição ou um livro, no entanto, tem uma boa nota no IMDB, provavelmente atribuído por alguns intelectuais, daqueles que mastigam papel e filosofam que não sabe a lasanha porque a realidade é ilusória (os que não vêem que vai o rei nu - adoro esta metáfora). Mau Emighloz, mau.



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