O documentário Loos Ornamental, relizado por Heinz Emighloz
é tão maçante e dá mais sono do que ouvir o Vítor Gaspar nos seus monocórdicos
discursos a fazer ensaios fictícios sobre como saldar a dívida com a Troika. Eu explico
(não a parte do Vítor, é claro).
Cinema, do grego, movimento (hoje também tido como o espaço onde se projectam filmes), é uma técnica de
usar uma sequência de fotografias de modo a criar a ilusão de movimento, é uma
forma de contar uma história.
O cinema mudou muito ao longo do
tempo, mas uma constante, desde os primórdios da sua existência, quando os
homens da caverna projectavam sombras nas paredes para contar como é que foi um
emocionante dia da caça, foi sempre o movimento. Cinema é um conjunto de
imagens sequenciais, de fotografias interligadas para dar um sentido, um
conjunto de pontos que forma uma linha, geometricamente falando. E assim
mostra-se, senão superior, pelo menos maior que a fotografia.
Dito isto, quando se vê Loos Ornamental, o que se chega à
cabeça é: mas que raio, isto não é cinema!,
e não no sentido de um filme caseiro qualquer não ser também cinema, aliás, a
própria ideia de filme é violada com Loos Ornamental.
excerto do filme
Podia-se dizer que Heinz Emighloz
simplesmente inverteu o conceito de pôr a fotografia em movimento para fazer cinema, e revolveu pôr o cinema em estática para parecer fotografia. Teoricamente
é um bom exercício de masturbação mental, o conceito, é certo; mas na prática
funciona tão bem como a licenciatura do Relvas. Quer dizer, a licenciatura está
lá porque foi dada e é assim chamada, mas é tão vazia de sentido e sem conteúdo.
Adolf Loos, como aqui já referi,
é o meu arquitecto de eleição, por isso a expectativa com que fui para o
documentário e o entusiasmo eram muito altos, e fomos defraudados, tanto eu
como Loos, considerando que o filme podia ter sido feito em Power Point com
melhores resultados, na medida em que é um conjunto de planos estáticos das
obras de Loos filmadas por uma câmara, e quando não há uma cortina a mexer
tornam-se indistinguíveis de fotografias. As imagens, como se pode ver no
excerto, são intevaladas por uns dez segundos ou mais, e assim, em sequência fazem o filme, sem narrativa e sem música (ai, que chato).
É certo que as obras de Adolf
Loos falam por sim, mas se o próprio dizia que não gostava de fotografias
porque manipulam a visão do espaço, como é que Heinz Emighloz vem fazer-lhe uma
homenagem usando fotografias apenas, quando possui uma ferramenta que lhe
permite ir mais além? (aliás, mesmo que Loos gostasse de fotografias, o filme continua mau) É
como sair de submarino para ir fazer vela (nenhuma conotação com o Portas,
entenda-se.)
Bruno Zevi, no seu Saber Ver Arquitectura (livro do qual ainda
vou apresentar uma resenha aqui), dizia que as revista não ensinam a ver arquitectura
porque falta-lhes a dimensão do movimento, a quarta dimensão, e por isso,
quando Heinz Emighloz pretere da ilusão da quarta dimensão para mostrar
arquitectura, o resultado só pode ser um: mau. E o pior é a ausência de
narrativa e existir apenas o barulho natural de fundo quando filma em espaços exteriores,
o que também não resultou muito bem, pois vários documentaristas (Herzog, por
exemplo) fazem-no e resulta bem, pois cria momento quando o recurso é usado
pautadamente, mas quando é uma constante, aborrece.
Entretanto, o pior de tudo é
mostrar obras de Loos sem falar de Loos.
Loos dizia-se contra ornamento,
mas referia-se às mariquices da art decor
entre outras coisas, porque os seus espaços interiores eram muito bem
ornamentados (e caros, só para quem pudesse pagar), e convinha dizer isso, pois
quem não sabe de Loos, vê o documentário e no final, continua a não saber de
Loos. É necessário falar das técnicas de Loos, das suas ideias, mostrar as
plantas, etc, porque de contrário, o que se obtém é um filme para turistas
comuns (usando a comparação de Zevi), quer dizer, vê-se tudo e mais alguma
coisa, sempre com a pressa de seguir em frente para ver mais, mas sem perceber
claramente a dimensão do que se viu.
Loos Ornamental não seria mau
se tivesse sido uma exposição ou um livro, no entanto, tem uma boa nota no IMDB, provavelmente atribuído por alguns intelectuais, daqueles que mastigam papel e filosofam que não sabe a lasanha porque a realidade é ilusória (os que não vêem que vai o rei nu - adoro esta metáfora). Mau Emighloz, mau.