Começando do fim, Defendor não é dos filmes: oh!, ganda filme!, mas dos: ohhhhh!, e não o ohhhhh! de desilusão, mas aquele de comoção, positiva, perceba-se.
Saiu Kick-Ass, saiu Defendor, por ambos terem “super”-heróis sem poder, não se pôde evitar comparações entre os dois, aliás, dizem que este segue a linha do primeiro; mas para mim, não há conclusão mais errónea, na medida em que Defendor e Kick-Ass são totalmente diferentes, além de que Defendor só demorou foi em chegar aos cinemas.
Kick-ass é uma comédia de acção, e Defendor é um drama cómico, e é esse o seu ponto fraco, pois não se decide nem por um nem por outro, o seu aspecto sombrio e meliante pediam que fosse mais drama, entretanto a peculiaridade do protagonista é por si cómico. Todavia, não é certo dizer que Defendor baseou-se no Kick-Ass tomando dele o herói sem poder e sem desenvolvidas capacidades físicas, porque já havia heróis assim muito antes no cinema (alguém se lembra de Blankman – e Other Guy –, embora este tivesse mais geringonças que Dados d’Os Goonies, ou de Zebraman?).
Largando isso e ficando no filme. Defendor é um super-herói caseiro, (não do tipo homem-aranha que costura o próprio uniforme, porém parecendo mais confeccionado por profissionais), que nem um uniforme colorido consegue arranjar, tendo mesmo que desenhar o seu símbolo, no peito, com fita-cola, e uma pintura na cara que lhe dá mais o aspecto do lémur de Madagáscar (no entanto, apresenta um bom look, remetendo ao Flash Jay Garrick em luto), e as suas armas são vespas, berlindes, e uma maça. Esse é o lado cómico, porque, na verdade, o filme é um hino à inocência, ou à ingenuidade (eu sei lá), uma apologia à honestidade e à certeza de fazer o bem, acreditando que uma pessoa pode mudar o mundo, se tiver a verdade e a justiça do seu lado. Eu bem gostava de acreditar nisso.
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Se Defendor fosse representado no tempo dos gregos, seria uma espécie de tragicomédia; é Sansão e Dalila, sendo Sansão aqui careca, mas sem noção disso, e Dalila, apesar de prostituta não é bem traiçoeira. Um filme sobre a amizade, sobre os limites (só existem quando os aceitamos – consideração um tanto ingénua, em todo o caso), e sobre nós mesmo que não lutamos contra (contra o quê? não sei, a cada um o seu problema).
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Não sei se uma atitude a Defendor seria o ideal para curar os problemas da nossa sociedade, e não estou a falar de ataques físicos aos problemas, mas do acreditar da inocência e da honestidade, porque como diz uma linha do filme, embora como um ensinamento negativo: da próxima vez que entrar numa briga, leva uma arma!, pois a nossa sociedade não joga limpo e ser Defendor é entrar nu num ninho de vespas. De qualquer maneira, eu acredito em Defendor, embora também acredite que a maneira de lutar da maioria é levar flores ao cemitério para carpir quem tem a iniciativa.
Defendor é um bom filme, no seu primeiro minuto já nos fisga e estamos prontos para seguir a viagem, e o seu ponto mais é Woody Harrelson, a fazer o melhor papel que sabe fazer: o de desequilibrado (não que esteja a diminuir o homem, mas na verdade, em 90% dos filmes dele que vi é desequilibrado ou então incomum, e eu gosto dele). As situações, muitas vezes, apesar de caricatas, parecem genuínas. No entanto digo de novo, o mal do filme é não se decidir pela comédia ou pelo drama, levando-se a sério em determinadas alturas para se perder em burlesco noutros, mas mantendo-se sempre verosímil, apesar de certos lugares-comuns.