13 de junho de 2015

PESSOAS VS. MERCADOS

Não é incomum ouvir os políticos dizerem: Isto não é bom para os mercados. No entanto, raro é ouvi-los dizer (e alguns nunca o disseram na sua vida política): Isto não é bom para o povo.

E isso por quê? Resposta simples: qualquer político que fale qualquer coisa sobre beneficiar o povo é chamado logo de populista, o que é bastante mau, porque ser chamado de populista é o pior insulto para a classe política.  Vá-se lá entender a razão, pois quando um político fala em nome da democracia (poder do povo), ele chora geme, rasga as vestes e bate no peito, em altos brados e grandes prantos de que está a trabalhar para o povo, pelo povo e com o povo… Porém, não quer ser chamado de populista. Claro que não, visto que isso não é bom para os mercados.

Quando, no entanto, um político fala de mercados, as pessoas menos atentas pensam nos mercados que frequentam no seu dia-a-dia, algumas até julgam que não ser bom para o mercado significa que vai faltar pão, leite ou papel higiênico nos supermercados, e isso assusta-as.  Todavia, o mercado de que os políticos falam é o mercado de ações, o mercado financeiro gerido e controlado por uma elite capitalista de semideuses, onde se divertem a controlar os governos soberanos (ou que se dizem soberanos, mas não o são de verdade). Nesses mercados o povo não entra, nem tem palavra. São os mercados onde a mercadoria é o próprio dinheiro, mercados onde usam o dinheiro para fazer dinheiro, um mercado que parece mais um casino, chamam-no de bolsa de valores, sede em Wall Street, onde os semideuses (ou super-ricos) divertem-se a apostar sobre a estabilidade dos países e das empresas menores para fazerem mais dinheiro ou perderem algum, e aliás até chamam isso de jogar na bolsa - e é mesmo um jogo. E como se sabe, nos casinos a banca ganha sempre, nesses mercados não é diferente, a banca ganha sempre, ou os bancos, para usar um termo mais familiar. Quando os políticos dizem os mercados, eles falam dos bancos, que são os seus gestores.

Os bancos importam, as pessoas não. Vejamos o caso da Grécia: não vão deixar a Grécia servir o seu povo, porque os mercados interessam mais do que o povo grego (e todos os demais), e os média, ao serviço dos seus senhores, aterrorizam as pessoas com presságios macabros e apocalípticos, fazendo-lhes acreditar que a existência dos bancos e da ligação aos principais bancos do mundo (FMI e Banco Mundial) é fundamental para a sua sobrevivência. Vergadas por este terrorismo governamental e institucional as pessoas acabam por voltar-se contra aqueles que as querem beneficiar. O povo grego tem medo de sair da União Europeia ou do Euro Grupo, e esse medo vai acabar por levar-lhe a voltar-se contra o seu governo atual, que tem a infelicidade de ser populista. Os média ocidentais estão a trabalhar para isso. Quando entrevistam os gregos na televisão, os entrevistados acham sempre que o governo deve ceder perante os bancos, porque mostra o bom senso, nunca entrevistam ninguém que pareça entender e explique a manipulação que os bancos estão a fazer sobre os povos, tanto o grego, como europeus e mundiais.

Se o governo grego atual insistir na sua posição até ao ponto de rotura, ou voltar-se para economias como a China ou a Rússia, o cenário mais plausível vai ser uma guerra civil na Grécia. Quem se lembrar do risco da guerra civil que o Verão Quente teve em Portugal decerto sabe que esses capitalistas e os grandes bancos não se importam com os povos e ganham sempre, quer em clima de paz ou de guerra num país. E eles têm este lema: se não podes viver infeliz connosco, não viverás feliz com mais ninguém. Fizeram isso na Indonésia, fizeram em Cuba, fizeram isso até na Rússia Comunista, estão a fazê-lo na Ucrânia… e em muitos outros países do mundo.

As pessoas não importam, os bancos sim. É o lema do governo atual. Estão a vender tudo, a privatizar o país. Até os espaços públicos agora são privados, para andar de carro temos de pagar o imposto de circulação, que é canalizado para empresas privadas que fazem a manutenção das estradas, estradas essas que foram construídas com nossos impostos, e em alguns casos pagamos ainda portagens sobre estadas que construímos e para as quais pagamos a manutenção. Para estacionar na rua tens de pagar a uma empresa qualquer, principalmente nos grandes centros urbanos. Para ter um painel solar em casa tens de pagar não só pelo painel com uma taxa para ter o direito de obter a luz do sol. Não tomas banho e bem bebes água em casa sem pagar por ela (o problema não é pagar pela manutenção da infraestrutura, mas pagar para que os privados tenham dinheiro para irem brincar no casino que chamam de bolsa).

A TAP acabou de ser vendida, porque dava prejuízo ao estado, disseram. Agora que foi vendido vai passar a dar lucro ao estado? Não. Não vai, e não ouvi ninguém a falar disso. O que ouvi foi que era necessário vender a TAP pelo bem da própria TAP, não pelo bem do povo. Temos uma classe política que pensa mais nos mercados do que nas pessoas e continuamos a fazer pouco dos políticos que assumem uma postura populista.

Não vai ser fácil para nenhum partido político ser populista, quando esse partido que ser parabenizado pelos bancos donos da União Europeia como bom aluno e cumpridor, porque a União Europeia não defende o povo, mas interesses privados, aliás é só voltar para sua a origem para verificar isso. A União Europeia sempre foi uma organização privada para interesses privados, ela nasceu como Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, união de empresas específicas, depois mascarou-se em união de países europeus. Agora a União Europeia encontra-se na mão de dois bancos principais e a sua comissão, a TROIKA, que já não gosta deste nome, bancos privados para interesses privados.


Como já pressagiou alguém: vai ser privatizado o país inteiro, até chegar a um ponto onde as pessoas já não aguentem mais serem preteridas, vai acontecer um novo 25 de Abril, onde tudo vai ser nacionalizado de novo, para logo a seguir começar a caminhada das privatizações (mas para isso precisaríamos das Forças Armadas, o único grupo que os politicos temem mais do que os bancos). Afinal se há alguma coisa em que o povo seja mestre é em ter memória curta e preguiça para pensar por si.