Tenho escrito sobre filmes, e embora opine e seja absolutamente o meu ponto de vista, não são críticas, pelo menos no modo tradicional, aliás tento focar-me mais no filme em si, e na mensagem que transmite (ou na sua ausência), ou seja, leio os filmes como se fossem livros.
Comecei por dizer isso acima, porque acabei de ver um filme, uma animação, que não tenho a certeza se entendi, e que não tenho a certeza de saber explicar, mas que apesar disso acho soberbo, e não estou nem aí para a mensagem que me escapou. O Mágico, eis o título (não entendi por que o traduziram assim, se o original é: L'Illusioniste... ou será que é para o diferenciar d'O Ilusionista, com Edward Norton?).
O Mágico mostra a história de um ilusionista francês que por motivos financeiros vai parar na Escócia onde conhece uma jovem órfã, suponho, uma Pele-de-Burro, com quem faz amizade, esta acaba por abandonar o lugar onde estava hospedado para seguir o ilusionista, e este adopta-a. A jovem julga que o ilusionista é um mágico (para quem não sabe, apesar de popularmente as duas parecerem a mesma coisa, não são iguais: um mágico – mago - cria do nada, o ilusionista, este trapaceia - o que faz a tradução do título impróprio, principalmente porque isto é uma das mensagens do filme). E o ilusionista, decepcionado com a sua vida gris resolve criar cores para a vida da órfã, mimando-a de maneira exagerada, satisfazendo-lhe todos os caprichos; e, talvez para dar mais significado à vida, mesmo as pequenas coisas ele fazia em grande, como se quisesse dizer até o mais ínfimo pormenor, ampliado, pode dar um quadro. Por exemplo, se tivesse de passar à órfã nem que fosse uma colher, não a apanhava simplesmente e estendia, mas fazia uma de mágico e uma grande cena e pantomina para no fim resumir-se a entregar a colher.
O filme é sem diálogo, lembrando-me do Idiotas e Anjos, ou melhor há diálogos, mas as palavras são imperceptíveis e, porque os dois falavam línguas diferentes, mas entendiam-se bem, julgo que foi uma maneira do realizador dizer que o amor é a língua universal.
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Pelo meio cruzam-se personagens um tanto caricatos, mostrando a antítese da vida, todos são personagens circenses, três malabaristas (que só pensam ir para cima, mesmo quando descem), um palhaço triste e suicida, um ventríloquo cuja única companhia é o boneco do seu espectáculo. Todos os três, inclusive o ilusionista, são pessoas cuja arte é o divertimento e o riso, mas cuja vida é cinza e triste. Aliás, (spoiler!), vemos que o ventríloquo, desesperado acaba por pôr no prego o seu único amigo e depois vemos que esse amigo só para ele tem valor, ou seja o amor que lhe dirige é que lhe faz importante. E uma outra personagem é um folgado, beberão (suponho), que passa a vida a gaiatar, talvez a personagem mais feliz de todo o filme.
O Mágico é uma animação muito bem feita, as personagens movem-se graciosamente pela história, e graficamente, não atingindo o realismo de um Reinassance, ou de um A Valsa com Bashir, mas parecendo coreografados para o ritmo do filme. A banda sonora, com a música principal que parece tirada de uma caixa-de-música e cria um vazio algo melancólico que faz com absorvamos com mais alma o filme, foi bem escolhida e confere à história uma estrutura sólida e embaladora.
Digo de novo, ainda não sei bem do que falou o filme, ou do que pretende falar, tem umas cenas que não consegui ler bem (algo a Édipo e Jocasta), mas isso nada importa, eu gostei do filme e recomendo. O Mágico é uma história do amor simples (a história, não o amor) e muito bem contada, um filme que deve ser visto.