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5 de janeiro de 2014

APESAR DO MEU AMOR

Eu jurei que serias sempre tudo,
O meu tudo tu serias sempre;
E falei que iria dar-te o mundo,
O mundo que tenho dentro;
E sonhei vivermos sempre juntos,
Juntos para todo o sempre,
Mas acordei, e foi como um vulto,
Só que na alma te tenho no centro.

Vivi cego te amando,
Criando na mente sonhos belos,
Mas depois fui notando
Que com o real não tinham elos;
Tropeçando, mas avançando,
Continuei a criar no ar castelos,
E com alma fui lutando
Para erguidos lograr sustê-los.

O meu sonho caiu em terra,
Desfez-se em mil grãos de areia,
E da mágoa destempera
Tenho minha alma cheia.
A minha alma triste berra,
A realidade a torpedeia,
E nas mágoas se enterra,
Com dores a andar-me na veia.

Depois de tudo que eu falei,
Pelo céu e pelo mar até jurei,
Pode ser mesmo que exagerei,
Pois té os astros eu invoquei;
Depois de tudo o que prometi,
Partindo fizeste-me mentir,
Apesar do amor que estou a sentir
Vou-te tirar de onde te meti. 

15 de dezembro de 2011

JUDAS, O OBSCURO - Thomas Hardy (1895) - um orgulho da literatura


Thomas Hardy, que é não é de quem vou aqui falar, é provavelmente mais conhecido por Tess de d’Ubervilles, um livro que, há muitos anos já, tentei ler, mas não me despertou muito interesse e acabei por abandonar (sim, sempre tive dificuldade em ler prosas muito descritivas que por vezes beiram a técnico, mas isso é outra história), porém Judas, O Obscuro poderia até ser o seu livro mais icónico. 

Judas… é uma tragédia, uma história de amor cativante e perturbante por parecer vívido e real. Eu costumo aconselhar àqueles a quem recomendo o livro que, a dois terços do fim, cessem a leitura, a não ser que gostem de levar com murros no estômago.
As mais clássicas tragédias, Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Píramo e Tisbe, tiveram o seu final resultante de um erro, de um desencontro, e isso faz com que Judas… se destaque grandemente nesta categoria porque resulta de uma deliberação.

Judas… não é um livro que acaba logo depois de fechar as capa, principalmente porque a última frase é tão ou mais perturbadora que o livro todo (considerada depois de toda a leitura, é claro).

Porém, Judas… tem uma fraqueza: o início, um tanto morno e que não prende logo a atenção. No entanto, lá pelo segundo capítulo, só queremos chegar as últimas páginas, e quando estamos perto delas desejamos estar no meio do livro, não queremos nunca que acabe, tal é o embalo. E mesmo o teor descritivo do livro, as paisagens, a arquitectura, a cidade, que a mim me chateia imenso, torna-se delicioso. As análises psicológicas dos personagens, a sua descrição e tridimensionalidade são outros pontos forte dos livros.

A história de Judas…, já agora, é sobre um rapaz chamado Judas, que deseja ser maior do que o sítio onde nasceu, porém, muito ingénuo acabou em laços que não desejava, e que depois encontra a libertação na sua prima, outra pessoa que, tal como ele, tem grandes aspirações.

Judas, O Obscuro, foi o livro mais fascinante que eu li em 2006 (quando escrevi estas notas), aliás, até uma amiga minha, devoradora insaciável de Nicholas Sparks confessou-me, depois de lhe ter emprestado o livro que nunca tinha lido igual.

Eu sei que para o, provavelmente, melhor livro que já li, no seu género e mesmo fora dele, este post não é brilhante e falta-lhe entusiasmo, no entanto, isso não me impede de garantir: Judas, O Obscuro é uma obra-prima, uma leitura obrigatória.

21 de agosto de 2011

DONA DO MEU AMOR


– O que o traz por aqui
A esta hora, meu senhor?
«Das pombas por aí
Vim ver o resplendor.»

– Por aqui nunca passam
Tais pombas, meu senhor,
Pois os homens as caçam
Co’ esp’rito matador.
Pombas cá nunca vi,
diga, o que o traz aqui?

«Sobre a terra o seu fulgor
vim pras ’strelas que vazam.»
– Inda as ’strelas se atrasam,
Brilha o sol com calor.

Nunca algo igual eu vi,
Diga, o que o traz aqui?
«Pla flor aqui eu vim
Que enrica este jardim,
E pla ave que há em mim
Pondo o alegre em ruim.»

– Rosas não vi, senhor,
nem ave tão cantor,
nem jardim tão s’dutor,
Diga o certo, senhor.

«Pois, só vê cá balelas,
Mas não menti, senhora;
As pombas e as estrelas,
Vejo-as mesmo agora,
A ave, o jardim e a flor
Você é, dona do me’ amor.» 


19 de maio de 2011

MÁGICO, O, 2010 (L'Illusioniste)


Tenho escrito sobre filmes, e embora opine e seja absolutamente o meu ponto de vista, não são críticas, pelo menos no modo tradicional, aliás tento focar-me mais no filme em si, e na mensagem que transmite (ou na sua ausência), ou seja, leio os filmes como se fossem livros.

Comecei por dizer isso acima, porque acabei de ver um filme, uma animação, que não tenho a certeza se entendi, e que não tenho a certeza de saber explicar, mas que apesar disso acho soberbo, e não estou nem aí para a mensagem que me escapou. O Mágico, eis o título (não entendi por que o traduziram assim, se o original é: L'Illusioniste... ou será que é para o diferenciar d'O Ilusionista, com Edward Norton?).

O Mágico mostra a história de um ilusionista francês que por motivos financeiros vai parar na Escócia onde conhece uma jovem órfã, suponho, uma Pele-de-Burro, com quem faz amizade, esta acaba por abandonar o lugar onde estava hospedado para seguir o ilusionista, e este adopta-a. A jovem julga que o ilusionista é um mágico (para quem não sabe, apesar de popularmente as duas parecerem a mesma coisa, não são iguais: um mágico – mago - cria do nada, o ilusionista, este trapaceia - o que faz a tradução do título impróprio, principalmente porque isto é uma das mensagens do filme). E o ilusionista, decepcionado com a sua vida gris resolve criar cores para a vida da órfã, mimando-a de maneira exagerada, satisfazendo-lhe todos os caprichos; e, talvez para dar mais significado à vida, mesmo as pequenas coisas ele fazia em grande, como se quisesse dizer até o mais ínfimo pormenor, ampliado, pode dar um quadro. Por exemplo, se tivesse de passar à órfã nem que fosse uma colher, não a apanhava simplesmente e estendia, mas fazia uma de mágico e uma grande cena e pantomina para no fim resumir-se a entregar a colher.

O filme é sem diálogo, lembrando-me do Idiotas e Anjos, ou melhor há diálogos, mas as palavras são imperceptíveis e, porque os dois falavam línguas diferentes, mas entendiam-se bem, julgo que foi uma maneira do realizador dizer que o amor é a língua universal.


trailer


Pelo meio cruzam-se personagens um tanto caricatos, mostrando a antítese da vida, todos são personagens circenses, três malabaristas (que só pensam ir para cima, mesmo quando descem), um palhaço triste e suicida, um ventríloquo cuja única companhia é o boneco do seu espectáculo. Todos os três, inclusive o ilusionista, são pessoas cuja arte é o divertimento e o riso, mas cuja vida é cinza e triste. Aliás, (spoiler!), vemos que o ventríloquo, desesperado acaba por pôr no prego o seu único amigo e depois vemos que esse amigo só para ele tem valor, ou seja o amor que lhe dirige é que lhe faz importante. E uma outra personagem é um folgado, beberão (suponho), que passa a vida a gaiatar, talvez a personagem mais feliz de todo o filme.

O Mágico é uma animação muito bem feita, as personagens movem-se graciosamente pela história, e graficamente, não atingindo o realismo de um Reinassance, ou de um A Valsa com Bashir, mas parecendo coreografados para o ritmo do filme. A banda sonora, com a música principal que parece tirada de uma caixa-de-música e cria um vazio algo melancólico que faz com absorvamos com mais alma o filme, foi bem escolhida e confere à história uma estrutura sólida e embaladora.

Digo de novo, ainda não sei bem do que falou o filme, ou do que pretende falar, tem umas cenas que não consegui ler bem (algo a Édipo e Jocasta), mas isso nada importa, eu gostei do filme e recomendo. O Mágico é uma história do amor simples (a história, não o amor) e muito bem contada, um filme que deve ser visto.

11 de março de 2011

MARY E MAX, 2009 (Mary and Max)

Mary and Max… a melhor comparação que encontro para o filme é o tango, não a música, mas a dança, ora com movimentos calmos, calculados e sensuais, ora com enérgicas, fugazes e impacientes.

Eu esperava uma história a Disney quando comecei a ver o filme, alguma fantasia como Coraline, principalmente porque ambos são em stop-motion e ouvi falar de ambos na mesma altura, e a surpresa foi tanta e muito positiva quando o filme nem passou por perto. Contado por um narrador é uma animação... "cadavérica"... feita para adultos.

Mary e Max é um filme de amor, o melhor que vi este ano (ainda estamos em Março, espero ver melhores ou pelo menos outros à altura até ao final do ano), o amor entre duas pessoas, um senhor de meia-idade (44 é meia-idade?) e uma menina de oito anos, três meses e nove dias, que, apesar de não se conhecerem, têm muito em comum: falta de amigos, uma específica série de desenhos animados e chocolate. Mas isso é só o ponto de partida para a torrente de emoções que se despencam ao longo de hora e meia. Com um bom ritmo, uma fotografia pálida, e a animação dos personagens um tanto tosca, sem referir a banda sonora que por vezes atribui alguma teatralidade ao filme (destaco – spoilers! – a cena da primeira carta de Max e a que antecede a ressurreição de Mary, simplesmente soberbos), todos esses elementos destacam o lado “anormal” dos personagens e do tema a tratar. Julgo que a história funcionou melhor assim do que se tivesse uma foto mais convencional e colorida e animação fosse mais vivida. Também note-se que a própria fotografia mostra dois mundos diferentes, o mundo de Max é todo ele cinza, ou seja, irremediavelmente sem remédio, enquanto o mundo da Mary é mais animado, é castanho, significando perspectivas futuras.

O filme trata do desequilíbrio social, congelando a parte do amor, dos que não se conseguem encaixar, dos marginalizados ou auto-marginalizados que não conseguem ser normais; e todos os normais do filme tinham a sua anormalidade, como foi mostrado: o vizinho era homofóbico (na verdade agorafóbico, como a Mary depois aprendeu); a mãe era cleptómana e bêbada; o pai, que tem um trabalho monótono, praticava taxidermia, para curar a sua monotonia, quando na verdade só a agrava; Damien era gago (a sua revelação final não se foi intenção do realizador mostrá-lo com anormal, o que eu apontaria como um erro, ou como uma espécie de epifania, o encontro libertador consigo mesmo). São todos pessoas normais.

No entanto, porque Max é um "aspie", sofre de síndrome de Asperger, ou seja tem dificuldades em exprimir e interpretar emoções, tendo uma mente muito literal, e não compreendendo as interações sociais não faz com que precise de ser arranjado, ou que seja anormal, como os outros pretendem, pois é tão normal como qualquer um.

Vemos que praticamente, como diria Sartre, o inferno são os outros, todos os problemas destas pessoas é porque, de algum modo não se encaixam no padrão social, e não respondem ao que lhes é exigido, diluírem-se na normalidade. Por exemplo, a marca da máquina de lavar pratos da Vera é “Dishlex”, que remete à dislexia; os livros que Ravioli lê são todos de auto-ajuda e um deles, posso dizer, foi escrito por Dale Carnegie (uma autoridade nessa área); jogam os estereótipos como parte da do processo da normalização. Note-se que Max consulta um psiquiatra, e a presença deste é tão constante no filme, como o nome de Jesus numa missa de Natal, e eu suponho que isso foi intencional, para mostrar que os psiquiatras e a normalidade são hoje, respectivamente, os sacerdotes e religião moderna. O mendigo por exemplo, que tenta vender abraços, conselhos, beijos, até no final perceber que ninguém quer isso, visto que ele continua onde está, acabando por se contentar por pedir as pessoas para guardarem o seu dinheiro (bem, a sociedade não é assim tão honesta).


trailer

E a razão de o realizador usar muito da escatologia é algo que não entendo. Temos durante o filme todo coisas a saírem ou a entrarem pelo ânus, será que quis dizer com isso que embora pretendemos a normalidade escondemo-nos de coisas normais? Por exemplo, houve um momento em que comparou um peido com a honestidade. Ou uma das palavras preferidas de Max ser “testículos”, ou a fruta “cumquat”, não são provocações à normalidade e para deixar os normais desconfortáveis, visto que ele está a escrever para uma menina de mais ou menos onze anos? E assim também temos o tema da pedofilia visitado, embora não tão aprofundado. Podíamos repreender – spoilers! - embora o façamos, a Vera de não querer que Max comunique com a filha?

Mary e Max é soberbo, começa por ser uma comédia inteligente, mas como qualquer boa tragédia(?), prende-nos, faz-nos gostar dos personagens, leva-os a superarem-se para logo depois fazer uma viragem para o ângulo oposto, e deixarem-nos desconfortáveis. Houve uma cena, lá perto do fim, com a Mary, tão carregada de tensão e magistralmente dirigida - e não consigo imaginar música mais perfeita para ela - que me deixou de respiração suspensa e aperto no estômago, e só isso podia valer o filme todo.

spoiler visual


Como não consigo seguir uma linha de pensamento sequencialmente clara, vou terminar aqui. Acredito que há mais no filme do que aquilo que consegui captar, embora não me tenha referido aqui a todos os elementos alegóricos que encontrei, ou pelo menos, há mais referências que me passaram despercebidas, no entanto, o que ficou é muito intenso. E sem ver o filme pelo lado analítico das mensagens, cinematograficamente falando, é um bom filme e hora e meia bem aplicada, banda sonora bem escolhida, fotografia adequada ao tema, em suma: uma obra-de-arte.

14 de fevereiro de 2008

E O AMOR É...

O Amor tem várias definições conforme os seus definidores.

Entretanto, seja como for, todas essas definições têm algo em comum: o amor é sempre alguma coisa. Ninguém se lembra que o amor podia ser apenas amor, e não o transvertir em definições duvidosas que dependem de uma determinada época para serem aceites. E eu como não sou diferente dos demais, também defino o amor à minha maneira.

Após um longo tempo de análise e passeando por diversas perspectivas do amor, cheguei á conclusão de que o amor é meramente uma desculpa para as pessoas terem sexo de consciência tranquila. Devo explicar? Não tem problema, cá vai ela.

Quando se pergunta por estas bandas o que é amor, duvido que a pergunta se refira ao tipo de amor que os irmãos têm entre si, que os pais têm para os filhos (ágape dos gregos), que os amigos têm (aliás, isso até é chamado de amizade, os gregos: filia), porém do amor erótico (eros, dos gregos – parece que eles são mais inteligentes e sabem diferenciar melhor estes sentimentos), ou melhor, para desanuviar o termo desse tom pesado: o amor entre homem e mulher.

Agora, se estivermos de acordo quanto ao que disse lá em cima, vamos pensar: qual é a manifestação suprema do amor erótico? Quando os namorados pedem prova de amor, o que é que pedem? Nos filmes, quando duas pessoas estão apaixonadas ou se amam como é que o mostram? Acho a resposta óbvia: fazem sexo, e para não se sentirem sujas ou imorais, preferem o termo: fazer amor. 


Mas todos sabemos que a fisiologia dos dois actos é o mesmo, e mesmo quando um dos dois pensa que está a fazer amor (com floreados) outro pode pensar que está a fazer sexo (seco e directo). Agora, falando do sexo; com quem é que as meninas sonham perder a virgindade? Com a pessoa que amam, a pessoa que vai ficar ao seu lado a vida inteira (eh, eis outra característica do amor ou da lavagem cerebral social).


Agora, basta disso tudo. Pensando na nossa condição de animal e tendo o sexo como um acto que nos é natural (embora muitos não o considerem uma necessidade homeostática porque, dizem, ninguém morre de não fazer sexo), e vindo no tempo até aparecerem as religiões que proíbem relações sexuais e fazem do sexo um acto impróprio e imundo a não ser quando praticado com o cônjuge (posteriormente – porque não se pôde domar o animal – com a pessoa que se ama). 

Todos sabemos como os romanos e os gregos glorificavam o nu, e como o nu agora é visto de través; como os templos indianos eram ornamentados com figuras kamusútricas sem que isso ofendesse a ninguém (aliás, hoje fazem as delícias dos turistas); em suma, depois do cristianismo o sexo tornou-se mau, muito mais mau do que sempre foi. 


Fomos educados a vê-lo assim e não podemos fazer nada contra isso. Mas também nos foi ensinado que sexo é puro e divino quando é praticado com amor… e é disso que estou a tentar falar há muito tempo. 


Quando vemos num filme ou numa leitura duas pessoa a terem sexo, valorizámos mais isso quando a história diz que existe amor entre elas, aliás, até somos mais tolerantes com os homossexuais quando dizem que se amam. Aliás, quando queremos ir para a cama com uma pessoa, não é dizendo-lhe que a amamos o caminho mais rápido?