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20 de maio de 2019

PENSAMENTOS INEXACTOS - CAP. XII

A HUMANIDADE É SIMPLES

A humanidade é tão complicada que acaba por ser simples, ou seja, por ter uma definição simples, ou simplista, resumida em: a humanidade é complicada. Entretanto, filósofos e promotores de autoajuda têm andado a tentar convencer-nos de que não, que a humanidade não é complicada, que nós é que assim a fazemos. Daí põe-se a questão: se nós não somos complicados como conseguimos complicar? Não consigo perceber como é que o simples consegue complicar, da mesma maneira que me faz espécie que Deus, um ente perfeito, tenha criado a imperfeição.

Se o homem fosse simples não teria complicado o seu viver. Tentamos fugir da complicação criando sistemas binários ou dualistas, resumimos tudo em ou bem ou mal, ou preto ou branco, ou ser ou não-ser, ou 1 ou 0, mas todos sabemos que tirando os computadores e as pilhas, nada funciona com dois polos apenas, até mesmo os bebés sabem que por vezes têm de deixar de chorar e de ceder aos caprichos dos pais.

Eu entendo como um insulto à natureza humana chamá-la de simples quando na verdade ela não é, e quando quanto mais complicada mais o homem gosta. Senão vejamos, aplaudimos mais os discursos que não entendemos. “Oh, ele falou tão bem e tão bonito… mas não entendi nada”. Gostamos mais de poemas complicados e com vocábulos que não conhecemos, despendemos tempo a observar e a elogiar um quadro que não nos diz nada, simplesmente porque desconfiamos que haja sempre uma montanha de significados obscuros ou simples quaisquer escondidos atrás dessas coisas que não entendemos, e temos o receio de dizer gritar simplesmente: o rei vai nu! Pois! Vai! Mas e não estiver nu? Se todos o vêm vestido quem somos nós para dizermos que vai nu? Eu vejo-o nu, mas será essa a verdade? Pois! Não se sabe, porque na verdade… na verdade a verdade é verdadeiramente variável, tanto pode ser como não ser sem deixar de ser verdadeira. Eu explico: pense-se nos conceitos da lógica aristotélica e na álgebra booleana dentro da tigela da teoria da relatividade. A observação depende do ponto de vista do observador e o simples facto de haver um observador altera o resultado da observação. Não sei quem disse isso, mas acredito nele. Sendo assim, pode-se dizer que existe o Ser, o Não-ser, o Ser-que-não-é e o Não-ser-que-é, sendo que o Ser-que-é é o Ser, e o Não-ser-que-não-é é, neste caso, em vez de Ser, um reforço à negação do Não-ser. Mas o Ser para um pode, ao mesmo tempo, ser o Não-Ser para outro, como sabiamente se diz: a boa-vida do carrapato é a dor do cão.

Pode-se ver nas últimas frases como é tão complicadamente simples a humanidade. Ou por outras palavras, a humanidade não é simples, nós é que a queremos simples e o less is more, dito por não sei quem [agora sei que é uma frase de Van Der Rohe], é uma ilusão, nós desejamos mais, mais e mais, e cada vez mais complicado, porque a simplicidade é aborrecida. Mas, quando não nos sentimos capazes, queremos tudo simples, pelo menos para nós, os outros que o tenham complicado.

Dizemos que a humanidade é simples, porque preferimos crer que assim seja, acreditando que a fé move montanha. E, se calhar, sim, a fé move montanha… montanha de treta. É uma metáfora, eu sei, não era para ser levada à letra, mas eu diria, os braços movem montanha, a fé só incentiva os braços a moverem, quando o chicote não o faz (o caso do imperador romano que mandou cortar uma montanha que lhe tapava a vista, ou os egípcios que erigiram as montanhas-esfinges). A fé, não importa de que tipo, é um grande motivador e um item muito importante para fazer as coisas acontecer. Que seria de nós sem a fé? Sem a fé e sem a esperança? Até nem sei dizer qual das duas é mais importante ou mais útil, visto que uma gera a outra. 





6 de julho de 2011

PENSAMENTOS INEXACTOS - CAP. X

PERDENDO-ME EM CONJECTURAS

Cortinas de fumo adensam-se ante os nossos olhos, nublando a visão, toldando o juízo, turvando tudo, enfarruscando até a clara compreensão. Pensamos certos, pensamos errados, em qualquer dos casos pensamos como dementes, principalmente quando não pensamos e apenas nos limitamos a aceitar os guias, julgando, no entanto, termos pensado, simplesmente por achamos que escolhemos.

Pensamos, por vezes, ver a enganação, mas na verdade somos aqueles com pedras nos olhos a tirar o pó nos dos outros, e agimos como os donos da verdade, quando na verdade nem estamos certos do que dizemos. Quantas vezes não nos retractámos?, e quantas vezes avançámos para logo a seguir marcharmos à ré? E ainda falamos da fé, criticando e empurrando os que não a têm, e da mesma maneira maltratando os que a têm mais do que nós. Quantas vezes não nos rimos de coisas que não compreendemos? Quantas vezes não respondemos com o irrisório ao absurdo? E quantas vezes não demos direcção errada  e não seguimos por ela orgulhosos demais para perguntar pela certa? E quantas vezes já não dissemos sermos melhores que o bom, e quantas vezes no passo seguinte declarámos o contrário, seguindo pelo oposto? E apesar de tudo isso, ainda usamos da palavra, dizendo sempre ter verdades, dizendo ter verdades únicas; travestimos as mentiras que nos obnubilam o juízo, vestimo-las de ilusórias verdades, usamos a lógica ou a religião, a cabeça ou o coração, misturamos a razão e a emoção, separamos a razão da emoção, e transformamos nossas verdades em não-relativas, mas universais, e condenamos e criticamos aqueles que pensam contrário. 

Mas mexendo em premissas, com silogismos dolosos, provo não existir a verdade, provo não existir a mentira, provo que a até mesmo a relatividade da verdade não existe, ou que é dúbia, ou que é falsa. Socrátes sabia tanto que não sabia o que sabia, mas se ele mesmo sabia que não sabia o que sabia como é que os sábios sabiam que Sócrates sabia? Ou os sábios não sabiam nada e na verdade Sócrates não sabia, ou o Sócrates sabia mesmo e os sábios sabiam errado. 

As verdades não podem ser totalmente verdades, na medida em que podem ser contestadas, será que porque isso acontece podemos dizer que as verdades são também mentiras? Pela dualidade dizemos que por existir o verdadeiro existe também o falso; mas o que é verdadeiro não pode ser falso, negação da contrariedade. 

O falso, no entanto, parece ser a garantia da nossa humanidade, afinal não é raro ouvir: errar é humano – humano, ser imperfeito, logo falso. Mas será que o erro é intrinsecamente ligado à falsidade? Nesse sentido, a verdade, a perfeição, não pode fazer parte da nossa natureza, porque com a verdade seríamos deuses, não admira que Cristo tenha dito: a verdade vos libertará. Contudo, nós nos guiamos pelo falso, aliás tomamos o conhecimento da verdade de uma mentira pelo falso nela existente. Ou seja, uma mentira é uma mentira, mas para ser mentira tem que existir a verdade de que ela é uma mentira, e essa verdade é provada pela falsidade existente na premissa, na inferência ou na conclusão dessa mentira. Talvez seja por isso que a nossa suprema falsidade nos tenha mostrado sempre o contrário do que Cristo disse, que a verdade não nos libertará, pois prendemos e matamos aqueles que têm alguma verdade para nos mostrar, porque nos incomodam, pois preferimos continuar na nossa zona de conforto, por mais ilusória que possamos descobrir que seja. Parece que odiamos a verdade. 

Jesus Cristo afirmou-se ser a verdade e foi morto; será que com a morte dele não terá morrido a verdade? Depende da religião. A verdade é universal? Supostamente sim. A ética é universal? Aristóteles dizia que sim, pois faz os direitos humanos; mas e a humanidade... a humanidade é universal? E então o humanismo? 

Não quero enganar a ninguém, por isso não tento enganar-me a mim mesmo em primeiro lugar; as interrogações lá atrás não são nem retóricas, nem mostras de preocupação, mas simplesmente o reflexo da frase de um sábio que disse algo como isto: sábio não é aquele que diz as respostas certas, mas o que faz as perguntas certas. Então faço perguntas para parecer sábio, faço perguntas para fingir que sei respostas, e que pretendo ensinar, mas não, não pretendo ensinar a ninguém, apenas a mim mesmo. Jogo tantas palavras no papel, concatenações de ideias sem sentido, porque estou a procurar uma luz e não sei onde, por isso não tenho um foco, vou apalpando com os pensamentos todos os assuntos que me propiciem uma reflexão, não procuro coerência na forma de raciocinar, apenas na exposição do raciocínio. Não sei onde está a verdade, mas quero saber identificar a mentira. Quais olhos devo então usar: os da emoção ou os da razão?

3 de setembro de 2010

PENSAMENTOS INEXACTOS - CAP. IX

ESTAREMOS CONDENADOS?

Muito afastados do Juízo, tentando aproveitar-nos da Razão, distantes cada vez mais do humanismo do homem animal, encontramo-nos agora, de tempos em tempos a modificar as morais, a perverter até mesmo o senso inato do bem e do mal, para adequar os nossos actos aos nossos desejos, para dessa maneira dormirmos tranquilos. Escalonamos as nossas falhas em pecados, pecados capitais e pecados mortais, para assim nos convencermos que um pecadinho é só meio pecado, como se pudesse existir um buraquinho que não fosse buraco, ou como se existisse um meio buraco.

Stanley Kubric mostrou que quando começamos a agredir os outros (no início foi por defesa) partimos para o desenvolvimento[1]; Manara, se não estou em erro, desenhou a história do homem sustentada na guerra e no sexo. É por essa razão que me faz mossa tentar perceber por que o humanismo é o que se diz de mais belo no reino animal, se quando deixamos de ser animal e despertamos o nosso lado humano o mundo todo ficou em perigo?

O humanismo aqui não é nenhuma religião nem algum tipo de filosofia; possivelmente aquele senso inato do bem e do mal mas que não contempla apenas homens nossos semelhantes, mas todo o universo alcançado pelas nossas acções. Lei de escuteiro: o escuteiro é amigo de plantas e animais. O escuteiro desenvolve, ou devia desenvolver, o humanismo para, tal como algumas e raras tribos índias, viver em equilíbrio com a natureza, deixar-se envolver por ela e envolver-se nela. Por sermos humanos temos a humanidade, mas vou acreditar que a humanidade não tem nada a ver com o humanismo, vou acreditar que a humanidade é humana, puramente racional e maquiavélica, e o humanismo é animal, emocional e ajuizado.

Não estamos contentes de ameaçar as outras espécies, voltamos para a nossa própria, porque só desse modo poderemos sentir o nosso poder, pois os outros, os irracionais, são indefesos, destruí-los é como bater num bebé, não tem graça e não nos faz sentir forte, mas quando destruímos os nossos semelhantes, aí sim, vem a sensação do poder e com toda a força. E nós somos os racionais. Bonito! Sempre gostava de saber quem definiu o homem como racional, Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray.

Não há conto mais anedótico do que este: homem, ser racional, considerando a Razão defendida por Voltaire ou por Kant algo que libertaria o homem totalmente da animalidade. A Razão que possuímos, ou melhor, a razão que possuímos, tirou-nos da animalidade e amarrou-nos no animalismo. (Que é o animalismo? Leiam o parágrafo mais acima e façam as contas.) Se esta nossa razão é bárbara, tola, infantil e egocêntrica, poderá o homem ser chamado de racional? Comete-se constantemente atrocidade alegando a Razão, mas parece que quanto mais se pensa mais longe dela se fica. Se todo esse nosso pensamento sujo, pecaminoso e cruel é racional, como seria chamado o pensamento de… vejamos quem!... hm, difícil… Madre Teresa (Deus a tenha!, como é hábito dizer n’As Mil e Uma Noites)? Teria ela um pensamento racional ou divinal (eu sei lá se ela era quem mostrava ser, na realidade não acredito no homem, apenas no humanismo)?

Tudo se move, tudo se flui, há sempre o movimento, Heráclito. E todo o universo tende à entropia, não sei qual lei da termodinâmica. Será por isso que a nossa razão é cada vez mais animalista? Será que em vez de efectuar um movimento no sentido positivo está a fazê-lo no sentido oposto? Termodinâmica é física, a razão não, portanto não me parece que devesse sofrer de um efeito físico. Eu sei que a idade enubla a razão, um processo físico que afecta um processo bioquímico, sensorial e perceptorial (na verdade não percebi bem aquele livro de psicologia), pois os pensamentos e as emoções acontecem no sistema límbico, embora eu vou dizer que um ocorre na cabeça e outro no coração; mas também costuma-se dizer que a idade significa sabedoria, principalmente aqui onde vivo[2], ou seja, o desgaste físico vem acompanhado de desenvolvimento intelectual e não da morte de neurónios. A razão, ainda não percebo por quê, mesmo na sua forma imaterial, tende à entropia. A geração espontânea era racional, o geocentrismo era (e ainda é), a física clássica era suma, até quando...

Estaremos condenados a por razões amorais a destruir o mundo, a destruir os outros, e a destruir o futuro?

Ao libertar-se da animalidade o homem prendeu-se nesta prisão medonha chamada o raciocínio, uma ferramenta que possui, mas da qual não quer fazer bom uso. Acredito que o mundo seria mais doce sem a razão, tanto esta como a outra com R maiúscula, acredito que a vida teria mais gosto de ser vivida. Mas, já que, por infelicidade, a possuímos, então por que não se cultiva a Razão, em vez de andarmos a chafurdar na razão?



[1] 2001, Odisseia no Espaço
[2] Vivia na Guiné-Bissau, o povo guineense costuma usar a idade como sinónimo da sabedoria, porque os idosos eram as nossas bibliotecas e detentores de conhecimentos; a tradição oral era consideravelmente forte, pelo menos até aparecer a televisão; porém nas zonas mais rurais, ainda o idoso mantém o seu estatuto de sabedor inatacável, só podendo perder por um viajado; mas quando se é idoso e viajado, então é-se completamente sabedor.

19 de agosto de 2010

PENSAMENTOS INEXACTOS - CAP. VIII

ESTÁ O MUNDO DOENTE OU É O MUNDO DOENTE?


Heal the world/ make a better place/ for you and for me/ and for entire human race…

Foi assim que Michael Jackson o disse. Outros também o disseram, ainda vai haver quem o diga. Infelizmente parecem todos eles aspirantes a médico, sabem que existe uma doença, se calhar até sabem qual é ela, e ainda sabem que o doente deve tratar-se, mas não sabem receitar o remédio.

Qualquer médico que se preze identifica primeiro os sintomas, define o tipo e isola as causas, e só dessa forma consegue receitar o antídoto correcto. Por isso para curar o mundo temos de saber qual é a causa.

O desequilíbrio existente no mundo humano é originado pela emoção ou pela razão? 

A resposta, é claro, a solução não vai apresentar para do mundo a cura. Não, seria positiva e sugestiva, porém não resolveria quase nada, porque a pergunta é para isolar o tipo e só assim poder criar a cura. 

Michael Jackson disse que a cura estaria no amor. O que talvez significasse que o problema está no lado racional, considerando que o amor é emoção pura (mas já vamos ver o amor). Porém, eu fui iludido pelo "Heal the World", com ajuda de um dicionário traduzi a letra toda para português para compreender o que queria a música dizer, tinha doze anos. Acreditei que as crianças podiam mudar o mundo se oferecessem flores aos soldados, mas quando comecei a ver crianças famintas a morrerem de fome na televisão por causa da guerra, percebi o quanto Michael me enganou. 

E não só ele, a própria Nações Unidas que também vende a mesma fórmula; manda soldados bem alimentados, a circular com materiais bélicos de elevado investimento monetário, para patrulhar campos de refugiados onde as pessoas caem de fome; um quadro pintado de antíteses. Preferia que não mandasse para lá soldados? Claro que não. Que mandasse soldados famintos? Também não. Que os soldados fossem sem armas? Ora, não! Então estou a criticar mesmo o quê? Provavelmente a quantidade de dinheiro que se gasta em acções de remediar, em vez de investi-la proactivamente. Parece um negócio a miséria humana. Nós recebemos como ajuda alimentar géneros estragados, tínhamos que secar as múmias dos peixes que enviaram e defumá-las para só assim poderem ser cozinhadas. Então o mundo seria um melhor lugar sem a Nações Unidas? Não sei dizer, nunca conheci o mundo sem ela, mas acho que o mundo seria isto que temos com ou sem ela.


[Era o ano 1999, tínhamos acabado de sair de uma guerra civil. A Nações Unidas distribuíra géneros alimentar aos refugiados e à população em zona de guerra também. Na altura, revoltava-me a porcaria que nos impingiram, principalmente porque via notícia sobre pessoas que doavam milhões para ajudas do tipo, pelo que sentia que pelo menos deviam mandar alimentos que prestassem e não daqueles que tinhas de escolher entre apanhar diarreia depois da sua ingestão ou ficar com fome. No entanto, admirava, e ainda admiro, os voluntários que deixam a paz da sua terra para irem para uma terra em guerra prestar serviços altruístas.]

Dito isto, põe-se a questão: o mundo é doente ou o mundo está doente?

Lendo a Bíblia, o mundo estava doente. Lendo Homero, o mundo estava doente. Lendo quem leu Tito Lívio, o mundo estava doente. Lendo Erasmus, o mundo estava doente. Lendo Voltaire, o mundo estava doente. Lendo Alexandre Dumas, o mundo estava doente. Lendo Hans Hellmut Kirst, o mundo estava doente. Lendo Calvino, o mundo está doente. Lendo Ray Bradburry, o mundo estará doente. Isso não quer dizer que o mundo não está mas é doente?

E a culpa é da emoção ou da razão? Se o homem se resumisse à Razão, como defendiam os iluministas, talvez tudo andasse nos eixos; e talvez se o homem não tivesse a razão, (acreditando que a razão cria motivos, vontades e propósitos) e fosse apenas emoção, cantada pelos românticos, as coisas estivessem bem. Porém, há quem defende que assim não haveria balanço. Mas, na verdade, parece-me que os problemas nascem do facto de o homem ser racional e emocional ao mesmo tempo. Nenhuma das duas é a doença do mundo, mas combinadas são. E cada uma é a cura da outra, se todo o mundo optasse por escolher apenas uma.

Mas então, se nos dessem a escolher, qual seria a mais certa escolha? E sem poder de escolha, e com o mundo doente, como vamos escapar?

21 de julho de 2010

PENSAMENTOS INEXACTOS - CAP. VII


ONDE ESTÁ A FELICIDADE?

Um homem feliz é aquele que no final do dia, ao questionar, igual aos pitagóricos: o que fiz certo?, o que fiz de errado?, encosta a cabeça ao travesseiro consciente de um saldo positivo. 


Há o homem feliz, mas a Felicidade, deixando de lado o cepticismo, não existe. (Bem, isto parece uma convicção céptica.) Ela é como Nirvana, nem Dalai Lama a alcançou, considerando o seu pendente com a China.

No entanto vou chamar de felicidade – grafada à minúscula – àquele estado de espírito temporário que nos deixa feliz: a alegria, o jubilo, o contentamento. A felicidade, relativa no entanto, não é definível; se Hitler ao final do dia dormiu a pensar que matou pessoas suficientes e não tem nada, mas mesmo nada, a abalar-lhe o juízo, causando remorsos ou sentimento de assuntos inacabados, então Hitler é, nesse dia, feliz. Nesse dia, porque no dia seguinte, igual a todo o mundo, pode não o ser.

A felicidade é a soma do passado a dividir pela acção do presente e não existe no futuro; o futuro é um lugar virtual povoado de sonhos, pois nem sequer existe, é o constante há-de vir, para não dizer advir. Quando o futuro chega é presente, como dizia o meu irmão aos sete anos: amanhã é hoje; e mesmo o passado é um fantasma cuja existência foi momentânea e fugaz, quando passou, passou, ninguém pode mais fazer nada acerca dele.

A felicidade exige uma luta constante, uma batalha incessante e diária. Se o homem vivesse isolado, tornar-se-ia mais fácil usar os valores do passado como uma constante para equacionar a felicidade, mas simplesmente porque isso não acontece, e por haver sempre interferências de toda a casta, não existe a constante do passado, mas uma variável que obedece a uma fórmula aleatória e imprevisível até mesmo para a matemática do caos. Acaba por ser uma sombra do gato de Schrodering (ou sei-lá-como-se-escreve). [Na verdade, é Schrodringer.]

Como ser constantemente feliz se pequenas lembranças conseguem escurecer a fraca luz projectada pela concepção da felicidade no nosso senso? Quem nunca lamentou a sorte? Até mesmo Jesus Cristo chorou no horto. O passado pesa muito sobre o presente, e é por essa razão que só podemos ser temporariamente felizes. 


Se neste momento, sem estarmos preparados para a Felicidade, amarrados às lembranças, às querelas, aos ódios e pequenas vinganças (ou grandes), ela chegar a nós, morríamos de comoção; e aqueles mais puros morriam de êxtase.

Para preparar-se para a Felicidade é preciso saber ver o mundo, apoiar o mundo, viver o mundo e viver no mundo. Pois que enquanto, sem nos resignarmos, não aceitarmos que vivemos no melhor dos mundos (não aquele criticada por Voltaire), não podemos tê-la. E a dificuldade maior é viver o mundo e viver nele.

O melhor do mundo aqui pretende ser o único mundo de que dispomos, não o mundo que criamos nas nossas fantasias, não o mundo que se espera depois da morte, não o mundo alicerçados nas esperanças da ciência, mas este aqui de que descuidamos porque acreditamos que há outro melhor que virá por milagre. Religiosos fervorosos só pensam no mundo pós-vida, convencidos de que são rectos para serem merecedores dele, não ligam nenhuma a este nosso aqui, não cuida dele, porque, na sua concepção, céu e terra passarão, só a Palavra não passará, ou seja, este tem os dias contado, e o Fim está próximo. Cientistas ferrenhos julgam que podem descobrir as fórmulas para sintetizar o Paraíso, descobrir a Pedra Filosofal, e replicar o milagre da multiplicação do pão (ou do valor da conta bancária, eu sei lá), de tal maneira que não vivem o mundo, e nem querem nele viver, porque é pestilento, razão porque deve ser melhorado. E nós, perdidos entre a ciência e a religião, não tomamos iniciativas e ficamos a à espera que os nossos padres decidam por nós o Caminho a Seguir (título do meu livro de escuteiro). Acho que ninguém deve ter lido o conto Deus e o Rabino.

Continuando. Aqui, neste mundo, onde se encontra a Felicidade? Na caixa-forte do banco? Na apatia? No bom humor? Na esperança? No amor? Em todos eles? Em nenhum deles? Ou depende da percepção de cada um?

Há pessoas que são felizes na miséria, enquanto há aquelas que acham a miséria a fonte da infelicidade. Mas isso dá-se porque é possível ser-se feliz, mas longe da felicidade. E agora que outro elemento entrou na equação, resta clarificar: A Felicidade não existe, mas a Infelicidade, isso sim, existe. Não tem de haver dualismo em tudo, como ou o Bem ou o Mal. A Infelicidade, embora a liguemos ao Mal, e cause mal, não é necessariamente o Mal, tal como a Felicidade não tem nada a ver com o Bem ou com o Mal, porque se tivesse Hitler não poderia ser considerado momentaneamente feliz.

Será que podemos chamar de feliz a um louco acostumado à camisa-de-forças? Será que tem mais felicidade trabalhar todos os dias, e não poder abandonar-se à preguiça, só porque se deve sustentar a si próprio e à família? Se este homem, ou mulher, que se mata para sustentar a família pode ser considerado feliz, por que não o louco? Aliás, o Homem da Máscara de Ferro do grande Dumas não acabou por se acostumar à máscara?

Uma vez, Prometeu, depois de liberto por Héracles, insone, chorava, com dores de cabeça a clamar pelo pássaro que lhe comia o fígado. Bem, é possível duvidar desta cena, ninguém se acostuma à dor ao ponto de clamar por ela, a não ser, é claro, que seja masoquista; e sendo assim a cena já se torna credível.

A Felicidade (não a real, mas a sua sombra) consiste no engano, toda ela e em toda a sa extensão; ela é como a chuva: cai de pé e anda alagando-se pelo chão. É uma das mais fortes questões antitéticas que existe na nossa vida.
Como podemos comparar a nossa felicidade com a dos homens da pré-história? Ignotto nulla cupido, disse Ovídio (ou pelo menos disseram que disse).

Será que somos mais felizes do que os antropófagos da Nova Zelândia? Como perguntaria Pittigrilli. Será que por termos Internet, computadores, vídeos, música orquestrada, televisão, microondas e etc., somos mais felizes que eles? Podemos ter tudo isso, mas falta-nos pernas de missionários para com elas nos deliciarmos ao jantar. E se a falta dessas pernas não nos torna infeliz, aliás, o mínimo que nos fazia era náuseas, duvido seriamente que eles precisem de microondas para aquecer o missionário só para depois se sentirem feliz.

A felicidade é incerta. Não há um mapa para a obter, não importa quantos manuais se produzem com a promessa de oferecê-la, nem mesmo a Bíblia tem a fórmula para a felicidade, apesar da sua pretensão. Pela Bíblia podemos ver que até a desgraça pode ser a felicidade, isto é, dos outros. A desgraça dos filisteus era a felicidade dos judeus, dos cananeus idem. Não admira que a desgraça dos judeus fizesse a felicidade de Hitler. Nem a Bíblia, repito, nem manual algum ensina a ser feliz; nem Buda, nem Aristóteles, nem Jesus. A felicidade só nós a podemos ter e por nós mesmos, suponho.

Há quem jure de pernas juntas que ela se encontra num amor retribuído e fiel, enquanto outro se sente enjoado pela fidelidade. O homem pode ser feliz com qualquer mulher, desde que a não ame, Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray.

A felicidade, no entanto, quando muito, chateia; quando pouco, não chega; quando nada, precisa-se. Ou seja, ela não é por ser. Por outras palavras, a felicidade ou a Felicidade é nada, só pode ser algo ou ter o valor que lhe atribuímos se nós o fizermos. O problema do mundo não está na sua ausência, mas em nós mesmos.

Então, o que podemos fazer para curar o mundo?

1 de julho de 2010

PENSAMENTOS INEXACTOS - CAP VI


MAQUIÁVEL OU GHANDI

O que procuramos todos, humanos, aqui, enquanto vivos? E o que querem depois de mortos, aqueles que acreditam no além? A mesma coisa: a felicidade. Por isso agimos como agimos para buscá-la, encontrá-la e segurá-la, de tal maneira que muitos vivem felizes no enganoso sofrimento acreditando mais na felicidade pós-vida, pensando que serão depois recompensados por terem neste plano sofrido. No entanto, o que é a felicidade?


Aristóteles já dizia, acerca da felicidade, o que acabei de repetir lá em cima, que ela é a finalidade universal dos homens. No entanto, embora todos queiram ser felizes, embora todos almejem a felicidade, ela não é para um da mesma maneira que para outro. 

A felicidade aristotélica seria a perfeição, a ausência de necessidades, o que o Buda chamaria de Nirvana, mas essa felicidade é apenas um ideal que, ao que parece, ninguém quer se cansar a procurar, pois está muito distante e, aparentemente, destruiria a individualidade, reduzindo a humanidade ao mesmo conceito. Por isso acho que o Paraíso vai ser uma chatice. No entanto, não procuramos a felicidade aristotélica não por medo da perda da identidade, mas por que somos preguiçosos e lentos, acreditamos mais nas frases feitas, cartilhas e catequeses do que nos laivos da razão que por vezes nos perpassa o cérebro. Kant declara que a maioria considera perigoso pensar por si mesmo e prefere confiar nos tutores (ou algo como isso), e eu acredito nele.


O homem não é apenas homem porque não vive isolado, o homem é o homem mais outros homens, copiando a frase de uma pessoa inteligente cujo nome não me lembro (Basset, Cacete ou Urtigas, alguém há-de saber) que reza: eu sou eu mais as minhas circunstâncias.
Daí que na equação humana não se pode singularizar a paixão ou a razão, pois cada acto na busca do eu ou da nossa vontade, mesmo aquela vontade que não é nossa mas nos é imposta, envolve circunstâncias e elementos vários. Reacções em cadeia constantes, infinitas, repercussoras e ininterruptas. Daí à questão: os fins realmente justificam os meios, só um passo.

Tudo o que sei de Maquiavel aprendi-o de um livro de sociologia, que por acaso não era muito explícito, de maneira que resumo a sua teoria, se calhar igual a maior parte do mundo, à frase já citada: os fins justificam os meios. 

Individualista e confiante no espírito da liderança, parece a contradição de Kant, enquanto aquele apela a libertação do pensamento, este convida a seguir o líder, ou convida o líder a impor-se. [Ainda hoje não sei bem qual é o princípio de Maquiavel, podia estar enganado na altura em que fiz o texto, se alguém souber da verdadeira essência da filosofia dele e quiser ensinar-me, estou agradecido]. Ao contrário de Ghandi. Ou melhor, aparentemente ao contrário. Ambos usam meios para atingir um fim; não estou certo, mas como antípodas, vou acreditar que os meios de Maquiavel não têm necessariamente que ser éticos nem morais, enquanto os do Ghandi apelam mais a moral. 

Moral? Ética? Qual é a diferença. A moral vem das regras não escritas, que as pessoas aprendem a viver na comunidade, ensinadas pela educação e assentes numa base religiosa. Enquanto que a ética nasce de regras sociais, para além da comunidade, puníveis por leis escritas, e diferentes entre si. Voltaire conta histórias interessante sobre essa diversidade de leis conforme a diversidade de locais e costumes, e se actualizarmos Voltaire, esses locais seriam agora sistemas académicos ou profissionais onde as diferentes éticas são aplicadas: ética dos médicos, bioética, ética dos psicólogos e até, contraditório, ética religiosa. Isto é outra coisa para falar depois.


[Hoje sei que estava bem errado nessa definição da moral e da ética, ao que parece apenas usei o conceito popular das duas ideias. A moral, afinal, é que é punível por leis, escritas ou do senso comum; a ética, no entanto, é a tendência natural ou a capacidade para praticarmos o bem, a ética seria, afinal, o caminho ideal para atingira felicidade descrita por Aristóteles. Na altura em que fiz este texto ainda não tinha lido Ética a Nicómaco, o que só fiz  recentemente. E só comecei a perceber a ética filosófica que, por acaso, não é atribuível às profissões como usualmente se faz (ética de médicos, ética de chulos, etc.) essas são, como disse a minha professora de Ética, deontologias moralizadas. Mas não quero subverter o meu texto, porque seria trapacear, visto que não tinha os conhecimentos que hoje julgo ter quando o fiz, e que já larguei muitas das opiniões que defendia. Por isso peço que pensem na ética que escrevi como a ética usada comummente de forma errada.]


Voltando a Maquiavel e Ghandi. Maquiavel é do tipo, o fim para não me bateres na outra face é partir-te o braço, e Gandhi (segue o exemplo de Cristo): para não me bateres na outra face dou-te ela mesma para bateres. Ghandi acredita na humanidade, ou se calhar, no bom do lado humano, acredita que um bom exemplo refreia os ânimos violentos. Pascal disse que aquele que oferece perdão é visto com alguém com grandeza de espírito por pessoas virtuosas, mas, por essa mesma razão, acirra mais o ódio da pessoa viciosa, ou sem virtudes. De tal maneira que não acredito que o sucesso de Ghandi tenha sido por oferecer a outra face, e nem acredito que ele seja mesmo diferente de Maquiavel, contanto que uma vez confessou que ajudava uma certa figura importante da política inglesa na Índia a abotoar a camisa, porque ele era-lhe útil para conhecer como funciona o congresso.

No entanto, apesar de tudo, é necessário diferenciar os planos maquiavélicos, dos planos gandhísticos. E considerando o mundo do indivíduo sobre a sociedade em que vivemos, quem devemos seguir, Ghandi ou Maquiavel?


Ambos acreditam que eu sou eu e os outros, só que agem de maneira diferente sob essa premissa. Mas quem não mata uma cobra que lhe entre no quintal (sem ser hindu)?


O que se deve fazer para encontrar a felicidade, sabendo que sem a consciência tranquila ela, ou essa fragrância que emana e que nos atinge fazendo-nos pensar que a encontrámos, é ainda mais ilusória?   

3 de novembro de 2009

PENSAMENTOS INEXACTOS - CAP. V


REMAR CONTRA A MARÉ OU SEGUIR A MANADA


O homem é um ser social, ensinaram-me na escola, nasce, cresce, reproduz (ou não) e morre.

Lembro-me que tive de fazer uma composição sobre o assunto há três anos, na oitava classe [1995], o tema era: o homem deve ou não viver sozinho e isolado dos outros. É claro que eu disse não, e, entusiasmado, lá me pus a discorrer, explicando as razões por que achava que o homem não devia viver sozinho. Eu sei que ainda me faltam muitos anos para poder usar legitimamente a frase: se eu soubesse na altura o que sei agora. Mas, se eu soubesse o que sei, se calhar não responderia que o homem deve viver com os outros… Não!, provavelmente não o faria, porque se o fizesse levava um zero e chumbava à disciplina. Educação Social, chamava-se ela. Era uma disciplina que veio para substituir uma outra de cunho político-partidário: Formação Militante. Ambas tinham como objectivo criar homens capazes de se integrar na sociedade, mas eu, pessoalmente, não aprendi nada com elas, porque as únicas vezes que falava das coisas que me ensinaram eram nas aulas com o professor ou com os colegas quando a prova se aproximava.

O homem é ser social, nasce dentro de uma sociedade e é ensinado pelas regras da dita, e o ensino é de tal forma, que quando não entramos em choque com ele logo cedo acabámos por aceitá-lo quase como um dogma e nunca rechaçamos. Hoje, eu podia ter respondido que o homem deve viver isolado dos outros e justificado que os outros, os antecedentes, são quem corrompe o homem com os seus ensinos e as suas formas de viver. Voltaire era um homem asocial, na medida em que não aceitava as tretas da sua época, era um homem que viveu sozinho. O homem não faria mal a ninguém se não fosse ensinado a fazer mal, a copiar o que vê, ou tentar não ficar para trás na grande corrida da vida, e como o jogo não é leal, ele também não sente a obrigação se o ser.

Os homens que são diferentes, que não querem ser como os demais, nunca triunfam. Cristo andava a pé, arrastando consigo uma multidão de desgraçados, supostamente com sandálias gastas, todo suado e sujo, embora as gravuras o mostrem sempre com um branco imaculado, mas quem estaria assim sempre limpo andando no deserto os quilómetros que ele andava? Se nem tinham água para lavar as mãos, os seus discípulos chegando a comer com elas sujas, onde sairia com ela para tomar banho? Não admira que o mandassem crucificar! Um maltrapilho fedorento a dizer-nos que somos sujos? Olá, olé! Cristo era diferente, resultado: morte na cruz; Sócrates era diferente, resultado: bebeu cicuta; Galileu era diferente, resultado: então, por que não ser igual?; Rambo era diferente, resultado: em todos os três filmes nunca teve paz. Para quê ser diferente se todo o mundo é igual?

Somos julgados por sermos diferentes; enjaulamos pessoas porque não pensam igual a nós, enjaulamo-las porque não ouvimos as vozes que ouvem, e seguimos outras pela mesma razão (intrigante, não?); negamos oportunidades às pessoas porque não têm um bom apelido ou um bom padrinho; despedimos funcionários porque não concordaram connosco; não encontramos trabalho porque não fomos à entrevista de gravata (pelo menos foi isso que li num livro de Dale Carnegie); resumindo: temos de ser o que querem que sejamos, se não o formos, emularemos Camões: miseráveis vivos e talvez glorificados depois de mortos, e isso se deixarmos alguma coisa de valor. Mas quantos têm a oportunidade ou a capacidade de deixar coisas de valor?

Geralmente os que deixam coisa de valor são aqueles que não se deixam levar pela maré, são os que remam no sentido contrário, às vezes são chamados de revolucionários, outras de visionistas, algumas de artistas e algumas outras de loucos. Mas na sua maioria só vem o reconhecimento quando já não precisam dele. E o que se quer é viver, aqui, enquanto vivos, o que vem depois da morte fica fora do nosso conhecimento. 


Então o que devemos fazer para vivermos em paz, seguir a manada ou fazer um caminho solitário? Se formos pela primeira, corremos o risco de ser do tipo que Gabriel o Pensador acusou num dos seus versos: pessoas como eu, conheço mais de mil; se optarmos pela segunda ou acabamos hippies ou internados num manicómio. Será a melhor saída a hipocrisia, aceitar o que convém quando convém, mesmo que isso vá contra o nosso princípio? 


Por outras palavras, será que devemos todos ser maquiavélicos, adequando-nos e adequando os meios, não tendo princípios e apenas olhando para os fins?

8 de junho de 2009

PENSAMENTOS INEXACTOS - CAP. IV


HIPÓCRITAS OU BONS SAMARITANOS

A forma de pensar do Séc. XX é muito pesado e obscuro, mesmo para os praticantes de magia negra (bem, considerem isto como uma tentativa de fazer piada).

Mas a verdade é que quando ninguém confia em ninguém e quando é isso que toda a gente aconselha a toda a gente: não confies em ninguém… mas em mim podes (claro, em mim, porque eu só faço parte do mundo, mas sou diferente, não sou como os restantes), então vemos como as coisas não andam bem por aqui e como a hipocrisia é tão grande quão absurda.

Os hipócritas, como não há continente onde caibam, espalharam-se pelo mundo inteiro e são mais numerosos que os restantes homens, e portanto, passaram eles a ser normais. (Usei o pronome eles não porque me considero fora do grupo, mas porque quero acreditar-me fora). A sociedade está poluída de hipocrisia e a melhor forma de disfarçar é repetir sabiamente na estupidez: faz o que digo e não o que faço. É assim que se pretende dar uma orientação?

Li livros e relatos escritos desde séculos antes de Cristo, a Bíblia Sagrada, Epopeia de Gilgamés, Odisseia, Eneidas, passando pelos séculos mais recentes até ao nosso, e de facto o que percebi é que o homem só foi mudando de vestimentas e de materiais, acessórios, mas que a essência permanece igual. Entretanto, não deixa de ser relevante como até há uns séculos antes cavalheiros davam a sua palavra e mantinham-na, não deixa de ser tocante (absurdo e estúpido, é certo, para mim que tenho a mente lavrada pelo Séc. XX) Egas Mozin ter enfeitado o seu pescoço com uma corda levando a si e a família para o rei da Castela dispor da sua vida. Existiam homens de palavras e a palavra valia ouro, mas hoje, sem assinatura num papel, testemunhas, advogados e, no melhor dos casos, apenas peritos em caligrafia.

A anomalia que nos habita a mente e faz-nos o que somos foi gerada por milhões de hipócritas que passaram por este planeta antes de nós, e como nós não rejeitamos o errado, apenas o aperfeiçoamos para parecer menos errado e dispomos dele para o nosso fim, possivelmente não há em todo o universo ser algum que se bate connosco em termos de malícia e malvadez de espírito… se até mesmo a Deus conseguimos levar à palma.

Por exemplo, imaginemos um Bom Samaritano do Séc. XX.

Estava um judeu espancado, à beira da morte e, à beira da estrada. Passava por ali um palestino (vamos actualizar os factos), ao ver um homem no chão estirado e imóvel, desceu da sua carripana e aproximou-se para ver se os bandidos não tinham deixado nada que se aproveitasse. Porém, ao chegar perto reconheceu que tinha ali um judeu, povo que desde a Bíblia humilhava o seu e que agora está constantemente a criar-lhe problemas por causa da Faixa de Gaza, então enalteceu-se, o seu coração rejubilou de alegria (se não for redundante), iria ajudar um homem que sempre o desprezou, ia fazer com que ele nunca voltasse a desprezar ninguém. A cena até evocava uma criança judia a ajudar Hitler, já todo velhinho, a atravessar a estrada. Oh! Que comovente! Então, o nosso palestino volta para a sua carripana e… vrrrrum!… protch!... espalma com a roda a cabeça do judeu.

Conclusão: os samaritanos de hoje não são nada bons, mete-se com um e está-se tramado. E quem é o culpado? 

A xenofobia, apesar de diferente maneira, marca qualquer homem. O estranho sempre é visto como um ídolo, uma divindade, um demónio ou uma merda. No entanto, as sociedades, mais complexas, dão hoje mais oportunidades para de curar desse mal, mas infelizmente temos muitos séculos de segregação por cima que deixam sementes no inconsciente e que despoleta de quando em quando, variando ocasiões, o nosso senso xenófobo. 

Mas, voltando à questão inicial, quando nos fala um samaritano de hoje, rasgamos o peito para lhe entregar o coração. Temo-lhos vários, encabeçando governos, encabeçando congregações religiosas, encabeçando seitas, escrevendo livros e dando palestras que prometem mundos e fundos, temo-lhos a habitar o mesmo bairro, o nosso vizinho de lado, temo-lhos debaixo do mesmo tecto – quando temos um tecto – e temo-lhos na mesma barraca, ou a partilhar o nosso caixote… e… somo-lhos. Somos hipócritas, com medo da palavra, mas bons samaritanos.

Mas será por isso que o mundo pára? Ou que devemos nós parar se o mundo não o faz por nossa causa?

1 de junho de 2009

PENSAMENTOS INEXACTOS - CAP. III


NA DANÇA DOS LOUCOS


No entanto, pergunto a mim mesmo: quem são os que afinal estão na razão? São os que apodam os outros de louco? Ou os que aceitam o apodo? Enfim, se formos ver bem, o homem geralmente oferece o que precisa para o poder receber depois. Entretanto, na sua totalidade, os homem podem ser assim classificados:

– loucos que se julgam loucos e são loucos.

– loucos que se julgam sãos e são loucos.

– sãos que se julgam loucos e não os são.

e a categoria especial:

– loucos que se julgam loucos e não os são.

Do último grupo prefiro distância, dos três primeiro, não sei dizer qual é o melhor. Mas homens, como sempre os conheci loucos, não sei se tinha nervos para aturar algum são, realmente são, e que, para o cúmulo se julga são.
Ninguém é perfeito, diz o cliché, mas ninguém gosta de se dizer imperfeito ou mesmo de se sentir imperfeito – a não ser, é claro, quando comete um erro crasso e não tem ninguém em quem jogar a culpa. E atitude destas é loucura ou sabedoria?

Também eu pensava que Hitler era louco, até tentei ler o Mein Kampf para ver se tinha laivos de filosofia e inteligência como Voltaire ou Erasmus, e, por acaso, em muitas páginas, tinha, mas não consegui ler a obra toda, porque ainda dentro dela me convenci de que não era Hitler o verdadeiro louco, mas aqueles que o liam, ouviam e viam nele uma espécie de Messias com uma missão divina e glorificadora, antes porque o livro tinha pataratas imensas.

O que é certo porém é que na dança de loucos mesmo que seja a sapiência a marcar o compasso dança-se à loucura.

Por que será que os animais não enlouquecem? Ou enlouquecem? Ouvi falar de vacas loucas, mas não percebi qual foi o padrão usado pelo psicólogo que assim as classificou. Um vez uma vara ficou louca e atirou-se ao mar, disseram que fora possessa por uma legião de demónios a mando de Cristo – que crueldade!, estivesse ali a sociedade protectora de animais ou algo no género, o gajo ver-se-ia numa camisa de onze varas. Percebe-se que essa vara tenha ficado mesmo louca, porque por (e em) princípio porcos não nadam, chafurdam na lama, e nem saltam de precipícios simplesmente porque não saltam. Que os terá feito saltar então? A consciência, supostamente. Quando os demónios lhes entraram no cérebro ou na alma, ganharam a consciência, e ao sentirem o peso dessa consciência, sentiram-se antinaturais, e resolveram saltar, optando pelo suicídio. Porém, como a ciência não acredita em demónios, o que fez que as vacas tenham ficado loucas? Será que é porque lhes põem a ouvir Mozart para estimular a produção de leite? Será que é porque em vez de as deixarem escolher o seu touro escolhem por ela um touro? Será que é porque em vez de ela dar a mamar naturalmente – obtendo o prazer freudiano (?) desse facto – põem-lhe nas tetas mamadeiras? Alguém de certeza sabe.

Se até as vacas, descerebradas segundo se diz, conseguimos deixar loucas, imaginem o que não fazemos aos nossos semelhantes! Algures num ponto da pré-história o homem ficou louco, se calhar foi mesmo quando despertou a sua consciência, ou foi quando Adão comeu a Eva, desculpem, a maçã, e o resto foi simplesmente transmissão de vírus através de diversos factores como a educação e a socialização.

Não simplificamos nada, em vez disso conotamos a simplicidade à pobreza, pobreza criativa, pobreza de espírito ou pobreza de qualquer outro tipo. Quanto mais complicados, mais gostamos. Deus deu duas tábuas de dez leis a Moisés – embora Mel Brooks tenha dito que foram três tábuas de quinze –, apenas dez, mas depois resolveu meter mais regras a observar. Hamurabi tinha outras tantas leis para cumprir, e a sua sociedade, pode-se dizer, vivia equilibrada, hoje temos milhentas vezes mais leis do que Hamurabi, mas a nossa sociedade é a mais complicada e desequilibrada. Ora digam lá se isso não é loucura. Por quê muito para complicar quando poucas podiam resolver tudo? Será que porque pouco não parece ser grandioso?

A grandiosidade é o nosso maior problema. É por sua causa que os homens se dividem e estabelecem classificações. Grupos julgando-se melhores que grupos, sistemas e subsistemas de aproximação e afastamento, indivíduos, famílias, classes, castas, clãs, tribos, etnias, raça, nacionalidade, cor, continentalidade, crença e só por fim a humanidade. E partindo do círculo menor, o indivíduo até chegar a humanidade, as igualdades reduzem-se abismalmente de tal forma que a humanidade parece não existir, embora esteja em voga agora o conceito globalização.

Quando começou tudo? Vai mesmo acabar neste século XX? Enquanto isso deve-se agir em conformidade ou à rebeldia? Loucos são os que remam contra a maré – loucos, loucos e loucos –, mas loucos também são o que se deixam arrastar sem contestar – loucos, sãos, mas loucos.

Qual é saída a escolher neste nosso tempo?

25 de maio de 2009

PENSAMENTOS INEXACTOS - CAP. II


O SENSO DE JULGAR

Não julguem para não serem julgados, disse uma vez o mais sábio homem que alguma vez reportou a história, depois de Leonardo da Vinci.

Que validade tem as opiniões humanas sobre assuntos alheios? Que validade tinha a opinião dos missionários quando acharam que os africanos só seriam salvos se abandonassem os seus cultos para abraçarem os deles?

Todos pretendem ter a capacidade de julgar, todos se sentem com o senso da justiça – coisa que não existe – mas ninguém nota que sabe julgar tão bem como sabe voar.

O homem criou a justiça para poder julgar injustamente em tranquilidade. A constituição, os direitos humanos, a Convenção de Genebra, só servem no papel e, provavelmente daqui a uns bons pares de anos, serão usados como contos para adormecer crianças. Hamurabi já tinha tentado legislar, mas isso não evitou guerras e injustiças, os judeus idem, mas o mal não mudou de aspecto, Péricles, Platão, Aristóteles, muitos mais tentaram. Ainda há quem acredite na justiça?

Os homens com dedo na testa sabem que a justiça é uma fantasia sem a qual os homens sem dedo na testa – incluindo os mutilados – não conseguem viver. Hoje não há, quer dizer, há sim, mas em minoria, homens que crêem na justiça, mas, apesar disso, continuam a pedi-la. Quem entende o homem?

Os advogados, os juízes, os juristas, e toda essa cambada, só defendem o salário e a comissão, não se preocupam em estabelecer a justiça, mas ganhar as causas, e se não defendem os pobres, usando pesos e medidas diferenciadas, é porque ganha-se mais a não condenar ou a não deixar serem condenados os ricos. Se mesmo os grevistas pobres furam greves porque se sentem mais a ganhar com os patrões estando do lado deles do que apoiando os colegas que lutam por um salário mais justo para eles, inclusive, não se vai perceber o acto dos supostos defensores da justiça? Não confundir perceber com compreender.

Quando um político discursa gaba a implacabilidade do governo a fazer justiça, implacabilidade que não garante a imparcialidade, mas granjeia assim confiança, confiança que traz dinheiro, dinheiro que traz injustiça, injustiça que pede pela Justiça, pedido que cria sistemas, sistemas que geram políticos, políticos que falam de Justiça, Justiça que não existe.

Justiça! Bela patarata! A justiça, a que temos a disfarçar-se da verdadeira, é uma ladra, rouba a privacidade, rouba a individualidade, cega a Razão. Desde tempos imemoráveis que se fala dessa fantoche. Dizem até que é cega, ou, que tem olhos vendados, e que anda com uma balança na mão esquerda, para pesar os actos humanos, e uma espada na direita para os castigar. Cega!, nem admiro que a pesagem nunca esteja certa.

A figura que mais se ajusta à justiça é como desenhou um cartonista: uma velha cansada com uma balança a qual falta um prato, uma espada enferrujada e a venda levantada de um dos olhos. Ela, em todo o caso, se fosse verdadeira, está já reformada, se em tempos idos os homens agiam conforme a sua vontade, hoje é ela que se submete à vontade do homem, o homem do poder; primeiro, senhora, agora, escrava.

A justiça é um defeito com que o homem vive; criou-a há incontáveis eras e tanto a ela se acostumou que já pode viver com a sua ausência. Mas, mesmo na definição tosca da actual justiça, o que é ela?

Um juiz que condena o próprio filho é mais justo do que aquele que iliba o seu mesmo o sabendo culpado?

O juiz que condena um filho, se calhar é ético, mas é um insano, pelo menos para mim, porque mal por pior venha o menor. E sei que quem ama é insano, portanto, com um silogismo sofístico podíamos concluir que um juiz que condena o filho fá-lo porque o ama, e logo é justo, ou seja, quem ama é justo. Logo, a justiça encontra-se no amor. Mas, para derrubar o próprio raciocínio, simplesmente temos que pensar que maior insano é quem ama o que não existe, e logo se a justiça não existe o juiz não pode ser justo e não sendo justo, não ama o filho e nem podemos conectar ao amor a justiça.

Ou vejamos esta outra ilustração: um pai que sabe que o filho será a sua desgraça e mata-o para enganar o destino é mais injusto (ou louco) do que aquele que ajuda o seu para que este venha a matá-lo? Laio era cruel quando queria desfazer-se de Édipo? Ou era louco Príamo por ter condenado o bebé Paris? E Hitler… era louco?

Julgue quem saiba, eu copio o Pilatos.


18 de maio de 2009

PENSAMENTOS INEXACTOS


Por exemplo, quem sabe se Homero, quando escrevia Ilíada e Odisseia, acreditava que escrevia verdades sob a direcção de uma inspiração divina, como os autores da Bíblia, ou então que escrevia apenas um romance, quando Hesíodo afirmava que também as musas mentem? Quem sabe se foram os homens que depois acharam que Homero escrevera verdades? Ou as verdadeiras verdades por ele escritas é que depois foram mitificadas? Homero escreveu do seu cérebro ou transpôs para o papel o que os outros diziam?


A razão ou a emoção? A cabeça ou o coração? Devemos aceitar fervorosamente todas as verdades porque há como prova quase uma população mundial que as aceita, ou devemos pensar nelas e rejeitá-las se assim dever ser?, eis a questão.




SOMOS LIVRES OU PRISIONEIROS
A sociedade concede o desejo de ser especial, e somos simples seres seduzidos pelo sucesso social, e sem sequer sabermos forçosos somos sugados, para os sebosos centros devassos, de viscosos sonhos escassos, e vistosos saberes esparsos e conceitos sujos de sermos os sujeitos cujos preceitos serão o centro desta sociedade selvagem.
Conceituosamente, a essência de saber ser um ser saudável sempre será a séria preocupação assente no nosso senso. Tenso, penso que simplesmente é difícil ser o ser social que o nosso cérebro sempre sonha, e saber sentir o sabor que suaviza a seriedade de sermos servos submissos de sádicos conceitos sociais, de segregações raciais, de seleções faciais, separações em espécies físicas: em secos e obesos e altos e baixos, e fortes e fracos e formosos e feios e fiéis e falsos e fixe e fakes… mas no fundo fomos fodidos.
Separamo-nos em espécies, classificadas em sortes diversas, e sempre ansiosos singramos na diferença, e suspeitamos da semelhança. E somos assim separados do saber que concede na existência o sabor da saúde cerebral, independência e sossego social.
E eu sempre indeciso sobre o que é preciso, sabendo que o nosso consórcio solicita muito siso e pouco riso, e eu não friso a causa disso. Eu penso que se deve ser o que se é, não o que sociedade quer que se seja. Eu seria o que sou, não o que penso que eu sou, nem o que querem que seja, mas saberia separar as superfícies e balizas, e conhecer quais as minhas, e quais são proibidas, pois o sarilho com estrilho sempre surge quando se turge a circunscrição. quem são? Quem somos? Quem és? Quem sou?
Sou eu um ser feito, sou um ser perfeito, sim, eu sou perfeito… perfeitamente imperfeito! Sou feito de defeitos, de preceitos, de conceitos que enfeito a jeito de respeito em proveitos escorreitos, pois o leito do meu peito é atreito a preconceitos, que rejeito ou aceito, criados por mim, dados a mim, guardados aqui, compostos e dispostos em postos e repostos e proposto como supostos impostos, e aposto que é o que põe este gosto tosto no meu rosto. Serei um monstro?
Há em mim séries de assonâncias, de consonâncias, de dissonâncias, de ressonâncias, muitas ânsias, e sem fragrâncias, essa dança já me cansa. Com esperança na mudança, sem confiança, de forma mansa nesta balança, o querer ser avança, mas não se entrança nem alcança o que o ser é.
Mas é preciso fugir de pontas, descer, subir, ficar no meio, meditar, pois o mundo está mal, preparar novas formas de viver, computar o mal das sociedades, reparar o ideais entortados, separar o essencial dos acessórios, amparar AS vontades de utopias – quando promovem diferenças – disparar sonhos contra o mal, decidir com escolhas altruístas para presidir a uma boa vida para todos.
A vida reside no espectro. O que é o mundo senão um ícone de sombras? São só sombras que trespassam o nosso sonho e dá-nos a impressão de termos escapado da caverna de Platão.
Eu sei que muitos não me vão entender e vão querer julgar-me.

15 de maio de 2009

INTRODUÇÃO À PSEUDOFILOSOFIA DE PENSAMENTOS INEXACTOS


Li Erasmus tinha praí 16 ou 17 anos, impressionou-me sobremaneira, e posso até dizer que mudou a minha forma de ver as coisas. Nessa mesma época li Voltaire, começando por Cândido, e passando por inúmeros contos. 

Erasmus escreveu Elogio da Loucura, Voltaire, Elogio da Razão, eu pensava que os dois iam entrar em choque, e como Voltaire era muito por mim respeitado, gostava mesmo que me desse um outro ponto de vista, mas não é que um e outro, falando de coisas antagónicas, estavam em sintonia. É certo que Voltaire é posterior a Erasmus.

Ainda, nessa mesma época, continuando a minha busca por um ponto de vista antitético, e fascinado, confesso, por filósofos, filosofias e filosofices, fui parar ao Pensamentos de Pascal. Foi o cúmulo, tinham-me trabalhado bem a cabeça esses três, sem contar com outros que andava a ler nessa altura, e que depois vou identificar a medida que vou fazendo este blog.

O bulício mental que processava nos meus pobres miolos resolveu-se à caneta e papel, e vou aqui passar esses pensamentos. 

Quem já leu Erasmus vai perceber a sua influência na linha como apresentei estes pensamentos... também tenho Pitigrilli aos montes. E... mais, nessa altura, estava a ler um livro chamado Questão Coimbrã, pelo que em muitas partes senti muita vontade de escrever em rimas... e fi-lo, com bons e maus resultados.

O mais engraçado, para mim, pelo menos, é que descobri os textos que vou depois apresentar entre os meus montes de papéis, e ao relê-los, vi que apesar de serem ideias nascidas ou postas por autores diversos na mente de um puto, a minha forma de pensar não mudou assim muito, larguei umas certezas, aprendi outras, mas a maior diferença é: onde antes eu tinha ingenuidade hoje tenho... se calhar, cinismo.

Vou terminar aqui este post, começando por apresentar as reflexões do rapaz que eu era no próximo... só vos peço, não batam muito no ceguinho.