30 de maio de 2011

MOBY DICK, Herman Melville (1851) - como pescar baleia e empatar a vida


Esta, como boa parte das minhas observações sobre os livros, já tem idade, escrevi-a, em 2006, e é por ela que o publico, como um conselho para não falar nem bem, nem mal de livros que não tenhas lido e concluído (quer dizer, se não o conseguires concluir, julgo que podes falar mal). Vai ela:


Quando eu tinha 14 anos li Moby Dick de Herman Melville na versão juvenil, e não gostei lá muito, aliás, não gostei nada, pois não via piada nenhuma num tresloucado que saía do seu território para ir arpoar uma baleia no território desta, parecia-me o abuso dos colonizadores, hoje parece-me o abuso americano; era como ler uma tourada.
 
Mas como sempre deparo com Moby Dick como uma das obras-prima dos clássicos da literatura, tanto em outros livros, como em filmes, achei que devia lê-lo de novo, acreditando que hoje estou mais maduro, literariamente falando. Entretanto, o livro era volumoso, 660 páginas, o que me mete medo logo à primeira, e de uma certa maneira parece-me um desperdício, pois posso ler seis livros no mesmo espaço de tempo que vou gastar para ler esse, o que é mais económico e frutífero (se os seis não forem livros de Paulo Coelho[1]).

Entretanto, resolvi não economizar e ler o Moby Dick. O que dizem na síntese sobre o livro é que se trata da história de um pescador que tenta a todo custo caçar a baleia que lhe comeu a perna (e foi isso que mais fez com que eu não tivesse decidido a lê-lo), porém, essa descrição é uma injustiça para o livro, pois que Moby Dick é muito mais profundo que uma história de ódio e obsessão.

Ainda estou a ler o livro... ainda só li dois sexto dele, mas garanto-vos que é uma leitura que vale a pena. Parece um manual de pesca, mas tirando essa parte técnica, está a revelar-se uma viagem no espírito humano.

E para acrescentar mais palavras digo que a prosa do autor é esplendida, às vezes simplista, outras arranjada, mas apanhando-lhe o ritmo é cativante.

P.S.: Só não gostei que tivesse chamado a um preto de anjo das trevas (mas perdoo-lhe isso, porque ele é um fruto da sua época).

…………………


Bem, uns dois dias depois larguei a obra, porque tornou-se chata pa caramba, não parecia um manual de pesca, era mesmo um manual de pesca, tinha uma parte onde ele falava de peixes que parece um piscis-zoólogo (ou lá como os doutos os diriam), eu julgava que lhe tinha apanhado o ritmo, mas cansei-me a meio. Definitivamente para mim, não é um bom livro, mas se se procedesse a cortes no livro, deixando para lá o dispensável, para mim seria realmente uma obra, talvez não prima, mas sobrinha.

Apesar de não ter gostado do livro, reconheço a sua profundeza e a sua atemporalidade, séculos sobre séculos amontoarão e o homem continuará sempre a correr atrás das suas baleias, alguns por ódio, outros por ilusão, outros porque têm de participar na corrida, afinal somos todos Ahabs, laborando energicamente para atingirmos as nossas metas; a essa leitura chegamos se olharmos Moby Dick por uma outra vertente e não a explícita do livro. 


Por alguma razão Moby Dick é um clássico considerado obra-prima, mas não é um livro que eu recomendo.



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[1] Depois de tanta recomendação e bem-falação de alguns dos poucos amantes de livros que eu conhecia, meti-me a ler Paulo Coelho, O Alquimista para abrir, não entendi o tanto entusiasmo acerca do livro, porém continuei a ler o autor, e li cinco títulos e gostei apenas de Monte Cinco, mas até que era capaz de salvar metade de Verônica Decide Morrer; eu sei que os críticos invejam qualquer artista que comece a ter visibilidade, por isso decidi ler todo o Paulo Coelho que me fosse parar às mãos, depois do primeiro, para poder dizer com alguma isenção que não gosto dele ou para encontrar aquela chama que fascinava os outros, para não ser como os ateus que desprezam toda a Bíblia sem nunca o terem lido. No entanto, prefiro Paulo Coelho a Hemingway.

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