Por que prefiro animações aos filmes real motion(?)? Ora, simples, porque a maior parte dos filmes para… não vou dizer adultos, para não ser confundido com pornográfico… portanto, os filmes para gente graúda tratam-nos como miúdos, enquanto a animação para miúdos tenta tratar-nos (sim, nós, também me considero criança) como graúdos, e quando vamos a eles, não o fazemos à espera de construções grandiosas ou profundas, personagens complexas, etecétera, porém de fábulas simples e directas, bastante óbvia e de fácil digestão.
Nesse espírito é que fui ao Panda do Kung Fu 2, em 3D, e senti-me bastante realizado. É claro que o primeiro PANDA foi muito mais divertido em termos de comédia, pois estivemos cinco pessoas (só?) na sala, três eram crianças, e fui o único que me ri o sessão todo, e, por incrível que pareça, das piadas mais óbvias e pastéis. Houve aqui piadas forçadas como o Louva-a-Deus que insistia na história de uma fêmea para lhe comer a cabeça, o que talvez tivesse graça se o público soubesse que as louva-a-deus matam os seus machos depois da cópula, arrancando-lhe a cabeça (o quê? pensavam que só as aranhas, viúva-negra, faziam isso?). Como comédia ficou aquém do primeiro, mas no que se refere à acção é muito melhor construído e mais divertido que o primeiro, com uns toques a Jackie Chan, não apenas como actor de voz, mas também na coreografia das lutas e na mímica do panda, e que coreografia!
A história do Panda de Kung Fu 2 é esta: Po, depois de no primeiro filme nos mostrar que podemos ser o que queremos se não limitarmos o espírito e a vontade, aqui ensina que o passado é apenas um lugar e o hoje é que nos constrói, e no hoje o que conta não é o que fomos ou o que poderíamos ter sido, mas o que somos e quem são os que nos amam e apoiam. Acho que contei a moral do filme, em vez de fazer uma sinopse… Avante… Houve um regresso às origens, contando como Po foi parar à responsabilidade do seu pai adoptivo e tudo o que estava por detrás disso, apresentando um inimigo ainda mais mortal que o tigre do primeiro filme, por ser inteligente, tecnólogo e belicista, o qual só podia ser vencido conquistando a paz interior. Será que é uma metáfora dos argumentistas para dizer que neste mundo materialista cultivar a espiritualidade nos ajudará a viver melhor? Eu sei lá.
Tecnicamente, bem, qualquer filme em 3D, quer dizer, modelado no computador, que se preze apresenta os seguintes elementos: luz (clareiras, alvoradas, ocaso, nevoeiros, poeiras, etc…), água (ou líquidos, ou vidros) - abusando da cáustica - e, recentemente, detalhes. E Panda de Kung Fu 2 apresenta com maestria os três elementos, ficando atrás da Lenda dos Guardiões, de Zack Snyder, quanto à água e luz, e talvez perdendo para o Carros 2 no que se refere a detalhes (neste caso, os elementos do envolvente). No entanto, ver os pelos do Shi-fu ou de Po, seco ou molhado, cria uma vontade de lhe acariciar tamanho é o realismo. E a técnica usada na abertura do filme e nos flashback também funcionam muito bem e são visualmente atraente pelo kitsch.
Em resumo e conclusão: Panda de Kung Fu 2 cumpre competentemente a sua função: entretém. Apesar de alguns erros de edição e da normal dificuldade de trabalhar com estereoscopia no que se refere à questão de distância, que provavelmente só incomoda a uns pouquíssimos, não se fica indiferente durante a sessão. Não me parece o melhor filme actualmente no cinema, mas é uma boa opção e um bom filme de acção, com lutas a filmes de Hong Kong, com perseguições que reduzem Ong Bak a uma miséria, com direito a nitro e tudo, não estivéssemos ainda na era de Velocidade Furiosa, e para melhorar, com uma maior carga dramática para melhor humanizar as personagens.
Panda de Kung Fu 2 quase cumpre o que promete, porque se tem o dobro da acção, do drama(?), apenas possui metade da comédia.
P.S.: Depois do cliffhanger no final, fiquei curioso sobre o que vai sair no terceiro filme.