Os Sete Minutos de Irving Wallace é uma obra simplesmente soberba e avassalante, capaz de abalar até mesmo os menos conservadores, na medida em que autopsia comportamentos sociais que sabemos que existem, mas que talvez nunca tenhamos gastado o tempo a observar para lhes entender os porquês.
A obra fala de um livro chamado Os Sete Minutos, que lhe deu o nome, considerado o mais obsceno de todos os tempos (mas é ficcionário), porque usa linguagem franca para explicar episódios de cama. Sete minutos é o tempo médio do orgasmo feminino, ou melhor que a mulher leva para chegar ao orgasmo, (não sei comprovar essa afirmação e nem para aqui importa) e o livro dentro do livro descreve o que passa na cabeça da autora durante esses sete minutos; e como agravante o facto do prazer sexual ser negado à mulher naquela altura, onde boa parte considerava o orgasmo feminino um mito, e quando verdadeiro um perigo à estabilidade social.
O livro estava à venda por um livreiro que foi preso acusado de vender pornografia [a pornografia só foi legalizada nos EUA por volta de 1974]. A acusação é feita por um Promotor público que espera com isso conseguir projecção política, pois é sabido que todo o mundo, quando se fala abertamente do sexo, fica com um pé atrás, embora com os ouvidos distendidos. E para complicar a situação, um rapaz comete uma violação e alega que foi incitado a isso pelo livro. E, por fim, um advogado ambicioso arrisca-se a sacrificar um futuro promissor para defender o livro. Eis a base para uma das mais esplêndidas leituras que fiz este ano [foi em 2006 que escrevi isto]. Li o livro com um pantagruelismo que eu mesmo nem conhecia, 600 páginas em 2 dias.
O autor, Irving Wallace, revela conhecimentos profundos (para mim que sou leigo) sobre a posição do sexo no sistema judicial americano e o mecanismo do sistema em si, e parece ter feito um belo trabalho de base antes de se lançar à escrita d’ Os Sete Minutos. Uma das frases mais sonantes e reveladoras sobre a questão sexo que aparecem no livro é: assassinato é crime [e imoral e antiético], mas escrever sobre assassinato não é crime [nem imoral, nem antiético], sexo não é crime [nem imoral(?), nem antiético], mas escrever sobre sexo é crime [e imoral e antiético]. É verdade que hoje falar sobre o sexo não é crime, mas continua a considerar-se imoral e antiético, pelo menos quando não leva o cunho de científico.
Durante a leitura, dei-me por mim a consolidar a minha opinião acerca das perguntas que já tinha vindo a fazer: será o sexo sujo? Será que a forma de agir que consideramos a melhor não foi simplesmente estipulada por uma cultura exsicada e hipócrita? Até que ponto somos manietados e outorgamos nós mesmos aos mais poderosos o direito de nos usarem como joguetes? Até que ponto o nosso receio de não sermos aceite ou de sermos ridicularizados nos levam a agir por conveniência e a destruir o melhor de nós? Podem crer que fazemos mil outras perguntas durante a leitura.
Ainda vemos no livro como é que as pessoas sacrificam tudo para defender aquilo em que acreditam (as corajosas e são raras), ou outras para esconder-se da vergonha (a maioria)... e vemos também como é que por causa de terceiros se lixam os… quartos.
Embora o sexo esteja tão banalizado hoje na literatura, noutras formas de artes, e na nossa própria vivência, não pensem que o livro esteja desactualizado ou que não ira trazer nada de novo, pois embora o livro fale de sexo em particular, no geral trata da liberdade individual. Acreditem que o livro (foi escrito nos anos 60) é ainda bastante actual e continuará actual por muito tempo, e chocante. Chocante porque embate contra a forma como aceitamos imposições no nosso plano sexual e como ainda sacralizamos o sexo.
Para não me perder em tergiversações baratas, (pois para falar de tudo o que o livro mostra e ensina, eu precisaria de escrever outro livro) digo que depois de ter acabado de ler Os Sete Minutos, senti-me mais inteligente e mais livre e encorajado a enfrentar certos preconceitos que já vinha a considerar estupidez.
Ainda vemos no livro como é que as pessoas sacrificam tudo para defender aquilo em que acreditam (as corajosas e são raras), ou outras para esconder-se da vergonha (a maioria)... e vemos também como é que por causa de terceiros se lixam os… quartos.
Embora o sexo esteja tão banalizado hoje na literatura, noutras formas de artes, e na nossa própria vivência, não pensem que o livro esteja desactualizado ou que não ira trazer nada de novo, pois embora o livro fale de sexo em particular, no geral trata da liberdade individual. Acreditem que o livro (foi escrito nos anos 60) é ainda bastante actual e continuará actual por muito tempo, e chocante. Chocante porque embate contra a forma como aceitamos imposições no nosso plano sexual e como ainda sacralizamos o sexo.
Para não me perder em tergiversações baratas, (pois para falar de tudo o que o livro mostra e ensina, eu precisaria de escrever outro livro) digo que depois de ter acabado de ler Os Sete Minutos, senti-me mais inteligente e mais livre e encorajado a enfrentar certos preconceitos que já vinha a considerar estupidez.