Quando tinha 12 anos, dois anos após descobrir a minha primeira biblioteca, fizera várias tentativas de escrever, acabando por desistir por diversas razões.
Confiante de que dominava melhor as palavras, aos 16 anos, ainda estávamos em guerra na minha terra, e o sítio onde eu me encontrava era mais entediante que o Paraíso, para me divertir só tinha uma caixa com 40 CDs de música clássica (o que me fez criar ouvidos para esse género), comecei a escrever, para ocupar o tempo, levando-me, no entanto mais a sério nessa arte. O caderno que comecei acabei por perdê-lo depois de uns três meses a riscar nele, na pressa de encontrar um lugar mais seguro, quando a cidade foi atacada, e para dizer a verdade, a minha escrita não ia muito bem, era difícil escrever do nada.
Acabou a guerra, eu tinha 17 anos, e pude voltar para a minha casa de novo, e um encontro com um livro de contos de Mark Twain foi um momento bastante feliz. Mark Twain tem um conto sobre Noé, com ele a ter problemas com um fiscal portuário; inspirei-me nisso, e escrevi uma história com Aladin e o seu tapete que não cumpria nenhuma regra aeronáutica.
Mas isso não me satisfez, porque era um decalque ridículo, resolvi então usar o Noé Bíblico, misturando-o com outros Noés mitológicos para fazer uma história, acreditando que seria mais fácil, pois tudo o que tinha de fazer era reescrever, visto a linha já estar toda montada. Afinal o próprio Pitigrilli tinha escrito um final alternativo para A Dama das Camélias de Alexandre Dumas, sem que isso se considerasse plágio.
Escrevi Noé - O Primeiro Messias, e foi mais fácil do que as minhas primeiras tentativas. E decidi usar a Bíblia como fonte e reescrever o Génesis. E como os autores que mais gostava na altura eram humoristas, e como aquelas histórias só teriam sentido se fossem contado pelo ridículo, não pude escapar de tentar fazer humor com elas. Então escrevi Adão e Eva - O Mundo Perdido, (referência a Jurassic Park) depois soube que Mark Twain tinha escrito também um conto chamado Adão e Eva, li esse conto e imprimi a sua conclusão na conclusão do meu Adão e Eva e retrabalhei o meu, copiando alguns tiques de Mark Twain.
Quando acabei de reescrever o Génesis, sob a perspectiva de Lúcifer, usando com guias livros de Robert Charroux e A História de Deus de Karen Armstrong, ainda criei uma história que explicasse a descoberta do seu diário, e envolvia anjos e demónios que tentavam matar e proteger a prostituta drogada que deveria sofrer inseminação artificial da esperma divina para dar à luz um novo messias, que finalmente resolveria a questão do Apocalipse. Eu estava muito herético na altura, culpa do filósofos que andava a ler.
Entretanto, tive uma recaída religiosa e senti que tinha ofendido gravemente a Deus, e disse a mim mesmo que não acreditava no que escrevi, mas isso não aplacou a minha consciência, fiz então o que qualquer bom cristão faria: apaguei os ficheiros do computador, queimei os manuscritos e parti as disquetes que os continham, para não cair na tentação. Foi difícil, porém senti-me em paz quando acabei de o fazer, tinha 19 anos nessa altura e acabara de mandar para o diabo dois anos de trabalho.
Umas duas semanas mais tarde (não durou muito), ao reler A História de Deus, a minha fé ateia renasceu e quase fiquei louco por causa da asneira que tinha cometido (na altura sentia-me mais à-toa do que ateu). De todo o trabalho, só consegui salvar dois que tinha impresso e dado a um amigo para ler, felizmente ele não os tinha destruído (quando lhe pedi para o fazer, foi mais sensato e disse que ficaria com eles para se rir) e algumas partes das outras que ficaram em computadores onde tinha trabalhado. Depois tentei reescrever de novo a reescrita do Génesis mas já não tinha piada, refiz José - O Pesadelo dos Irmãos (lembrando-me do Freddy Krueger), todavia, ficou seca, portanto desisti; e a história do Apocalipse que serviria de ligação às outras também morreu.
No entanto, como acho que devo completar essas partes que tinha salvo, pois depois de 10 anos, talvez consiga dar um novo sumo às suas piadas (ou não), sem dizer que estou numa crise escrítica (durante 5 não conseguindo escrever ficção, largando sempre as histórias na página 20), e espero que a fórmula funcione de novo e liberte-me a veia literária, vou postar Memórias de Lúcifer, parte a parte, obrigando-me assim a, quando chegar às historias deixadas ao meio, conclui-las.