Sei o que significa o Mito da Beleza, conheço a ideia por detrás, todavia não entendo o porquê do mito nesse termo, razão pelo qual sempre me intrigou o título. Bom, quando dei por mim a pensar muito sobre o assunto, resolvi que devia cavar mais ao fundo e conhecer a filosofia ou seja lá o que for que sustenta a teoria. E foi durante essa escavação que descobri o livro O Mito da Beleza, de Naomi Wolf, que suponho ser o introdutor da referência na linguagem comum.
Não li o livro todo, apenas o primeiro capítulo, visto ser o que me interessa para esta reflexão, no entanto gostei da forma de expor da autora e pretendo fazer uma resenha descritiva, ou um resumo do livro, logo que conclua a leitura.
Intriga-me a palavra mito no termo O Mito da Beleza porque… bem, para pôr a limpo o que sabia do mito e da beleza fui a um dicionário enciclopédico para determinar os seus significados (sim, dicionário enciclopédico, embora pareça menos rotundo que uma enciclopédia, parece-o mais que um dicionário; razão da sua escolha). Eis o que encontrei:
MITO: (Blá-blá-blá.) O mito oferece sob a forma de um relato alegórico, uma explicação ou interpretação da realidade cósmica e humana. Mito na sociologia: crenças ou valores de uma determinada sociedade transmitida de geração em geração, conferindo-lhe estabilidade. Neste sentido, é possível falar do mito da liberdade, da lei, do estado, etc.
BELEZA: Abstenho-me de transcrever o que li sobre a beleza, porque envolve filosofia, psicologia, sociologia e outras tantas lógias que, prefiro ficar no termo comum. Beleza é o belo, o agradável que causa uma impressão positiva e faz com que gostemos do objecto contemplado. Há livros imensos sobre o belo, volumes sobre a estética em diversos períodos da História da arte (subentende-se História humana), de maneira que não poderei transpor para aqui o conceito do belo. Entretanto, a beleza que quero aqui referir é a aparência humana.
Eu precisava de fazer isso porque se me perguntassem o que era mito eu simplesmente diria é uma mentira qualquer tomada por real e que pretende significar alguma coisa. E essa minha ideia do mito, significaria que a beleza é uma mentira com que as pessoas se iludem. E de uma certa maneira acho que é mesmo isso que o termo Mito da Beleza pretende transmitir. Posso estar errado, porque já tinha uma ideia formada quando fui ler o livro, e talvez precise de um ponto de vista alheio para contrabalançar. Entretanto, seguindo em frente.
Se a História determina a existência do conceito da beleza e a psicologia também o faz, por que então a beleza é considerado mito? A beleza, é certo, não é universal e nem atemporal (pelo menos a humana; todavia, tenho sérias dúvidas sobre esta minha declaração), mas fruto da cultura e do modismo, de tal maneira que elementos considerados belos em determinadas sociedades não os são noutras? Será por essa sua relatividade, como refere a definição sociológica do mito, que a beleza se considerou mito?
No entanto, vemos que com o desenvolvimento da comunicação e a globalização, esses elementos do belo (ressalvo que estou a referir-me à aparência humana) têm vindo, devida ou indevidamente, a padronizar-se. A arte erótica está cheia de mulheres com o corpo do tipo afro-latino: glúteos cheios, peitos soberbos e costas curvas, até mesmo os mangas e hentais japoneses, povo com mulheres de aspecto delicado, publicitam essa imagem de mulher, Druunas voluptuosas para encher os olhos.
Culpa-se a comunicação social, geralmente o Hollywood de mercantilizar esses estereótipos e padrões de beleza, porém prefere-se não ver que que Hollywood é uma indústria e que como tal trabalha com consumidores e dá-se aos consumidores o que eles desejam para não ter de declarar falência. Hollywood dá-nos o que pedimos, pessoas com padrões de beleza que correspondam ao nosso ideal, ou pelo menos, o ideal ocidental.
Se o classicismo está prenhe de mulher com seios pequenos, pneus e celulite localizados, a contemporaneidade está cheia de mulheres siliconadas, maquilhadas e photoshopadas. Se antes os adolescentes excitavam-se quando viam as Venuses de Ticiano, hoje fazem-no com Pamella Anderson (eu preferia Charlize Theron). A beleza é tão sobrevalorizada na nossa cultura que preferimos mudar de canal de televisão quando a apresentadora não entra nos padrões, e depois somos nós mesmo que nos queixamos da superficialidade. Não pretendo fazer uma apologia de Hollywood, apenas mostrar que não estamos isentos de vivificar o mito (vamos por enquanto chamá-lo assim). E por que o fazemos?
A natureza é bastante competitiva, os seres têm que ser fortes porque a lei da sobrevivência assim o exige, e essa força revela-se tanto entre diferentes espécies – a gazela mais rápida que o leão, para ter hipótese de sobreviver – como entre a mesma espécie – machos-alfas, pavões com penas mais estonteantes, colibris com o trinar mais alegre são os preferidos para o acasalamento. A questão é que a sexualidade nos animais talvez esteja mais marcante na época do acasalamento, enquanto para nós, humanos, acompanha-nos a vida toda (a acreditar no Freud). Tal como os restantes animais temos os nossos parâmetros sexuais, e diferente dos restantes animais o jogo da sedução no nosso caso é duplo, e como não nos guiamos apenas por instinto e feromonas, definimos as preferências através de determinadas directivas.
se a beleza não existe por que essas pessoas parecem bizarras à boa parte de gente? a beleza é relativa, porque elas são belas num dado contexto sócio-cultural
Se parece que um homem prefere casar-se com uma mulher bonita e pobre em vez de uma rica e feia, assim parece que uma mulher prefere casar-se com um feio e rico em vez de um bonito pobre (embora nos dois casos queiram ter o rejeitado como amante – pelo menos a literatura está cheia de exemplos desses). No entanto, a posição da mulher compreende-se melhor, visto que praticamente, apenas nos últimos 30 anos, nos casos mais felizes, a mulher começou a poder fazer a própria escolha e a trilhar percursos antes exclusivos ao homens, ou seja, a sociedade masculinizada e machista não lhe deixava outra opção senão fisgar homem com posse, e séculos de condicionamento não se desfazem de uma hora para outra.
Daqui segue-se para a questão: e por que os homens preferem as mulheres bonitas? Porque a beleza não é um mito, a beleza existe e é apreciada. Pode variar conforme os tempos e as culturas, porém sempre existiu e tal como os pavões, nós também, humanos, somos atraídos por ela. Não há sociedade que não seja escrava da beleza, porque não há ser humano livre de conceitos estéticos. Entretanto, é costume dizer (o que não creio ser verdade), que as mulheres ligam menos à aparência física do que os homens.
Bem, suponho que a diferença entre o homem e a mulher na maneira com se relacionam com a aparência - se é que é assim tão acentuada hoje - se deva ao facto de que o homem possuía o poder (partindo lá dos antigos), e portanto possuir objectos belos fazia parte de mostrar a sua imponência; e como mostraria o seu poder, apresentando palácio sumptuoso, estátuas bonitas, pinturas geniais, sem possuir uma mulher bonita? Atentem-se à palavra posse - e lembrem-se também da sua acepção sexual -, todos sabem que o casamento é um contrato; se hoje se diz mútuo, nem sempre foi assim, o homem sempre comprou a mulher com dotes, e nas culturas onde a mulher era ainda mais subvalorizada era ela que tinha de pagar para alguém a casar – subentenda-se escravizar. Ou seja, tal como as mulheres, os homens também sofreram condicionamento, podiam preferir uma concubina ou amante feia, mas tinham de se apresentar com mulheres bonitas (aliás, todo o mundo não criticou o Príncipe Charles de Inglaterra por preferir Camila à Diana).
Por enquanto, vou parar aqui o post, mas a análise do conceito e do livro continua.