Quem é Boogie, o Azeitoso?
Bem, em poucas palavras: se o feminismo fosse religião, Boogie seria o Satã. Boogie é um assassino de aluguer, um filho da mãe odiento e psicopata que se sente um tonto sentimental porque acaba com uma pessoa ferida que podia ter sobrevivido, que… peraí, se contar quem é o Boogie, vou fazer um spoiler. Bah, aliás, o cartaz não engana a ninguém... só se esqueceu de dizer que é também racista, desenhando os pretos com aqueles traços típicos do tempo em que ainda só diziam "uga-uga" nas bandas desenhadas.
Boogie, O Azeitoso é tão violento que acaba por ser hilariante. E eis o seu pomo de discórdia, suponho, porque muitos poderão pensar que se trata de uma apologia à violência quando, na verdade (ou pelo menos, para mim), é uma sátira ao nosso sistema, e um apontar de dedo à maneira como estamos cada vez mais acostumados com a violência.
Se Tarantino fizesse uma animação, seria Boogie, ok!, boogie não gasta em conversas triviais que dão um ar de realidade à história (mas tirando isso, parece um trabalho feito à base dos trabalhos do mestre), porém faz referências e homenageia vários filmes, vários cartazes e vários géneros: numa das cenas mais soberbas, temos um confronto a la western, que simplesmente delicia, ou a cena perto do final no tribunal, ui. E tem um cena que talvez seja uma referência a Lucky Luke, quando numa confusão com galinha, Boogie perde o cigarro com que andou o filme todo, e fica com uma pena na boca. Resumindo para depois avançar: Boogie roça a genial.
A fotografia, ou o gráfico, sei lá, considerando que aquilo foi gerado no computador e desenhado a mão, é muito boa. Ora cheira a 300 de Snyder, ora a luz de Afrosamurai, Ressurection, e tem umas pontas de Sin City de Rodriguez (ainda tem outras técnicas de animação que já vi em outros filmes mas não consigo lembra onde). O cenário, tridimensional, foi gerado no computador, as personagens foram desenhados à mão, parecendo emprestadas de uma história de Corto Maltese. Mas tudo isso, apesar de emprestados, faz de Boogie único. Bem, não li a BD que deu origem ao filme e não conheço o ambiente do livro, mas que essas referências supracitadas existam... sim existem e bem perceptíveis.
trailer
Não aprendi nada com Boogie, tirando as suas situações violentas que de tão violentas se tornam hilariantes, como já referi, não tem nada de novo, o enredo já é tão batido, com algumas modificações ligeiras, todo ele previsível, mas diverti-me à beça com ele. Outras situações e falas são puramente anedóticas, mas não é que não funcionam, por exemplo (spoilers!), uma cena, uma conversa entre mãe e filha, acerca de Boogie:
Mãe: Ele continua a bater-te?
Filha: (todo apaixonada) Não... não com a mesma intensidade!
Ou esta situação:
Boogie: Espere um minuto McCoy, Gary está vivo, mas não durará... parece um comercial de plasma. Tem uma grande hemorragia.
McCoy: Fala?
Boogie: Disse hemorragia, não verborragia.
McCoy: Faça um torniquete, rápido! Enviarei um médico da companhia.
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Médico: Boa noite! Sou o médico da companhia. Mas este homem está morto! Aplicou o torniquete?
Boogie: Sim. Como a ferida era no peito, apliquei no pescoço.
Boogie, o filme, é todo assim, e não é diferente do protagonista, que a cada dez minutos, vai debitando one-liners bem cómicos, e com algum significado por vezes; a construção dos diálogos mostra que o autor sabe brincar com as palavras e com os seus vários sentidos, mas não sei se isso se deve ao argumentista ou ao autor da banda desenhada que criou o filme. E para quem se importa, é um filme argentino.
Eis um filme para uma sessão de riso com os amigos.