Mostrar mensagens com a etiqueta universidade. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta universidade. Mostrar todas as mensagens

1 de novembro de 2018

SINTIDUS - REVISTA DE ESTUDOS CIENTÍFICOS E INTERDISCIPLINARES (1º número)


Durante muito tempo só existia uma revista científica na Guiné-Bissau, ou melhor, produzida na Guiné-Bissau: Soronda, uma revista do INEP, que desde 1986, durante 10 anos foi semestral, fez uma pausa de um ano, voltou em 1997 e durante 8 anos tornou-se anual; fez outra pausa de 13 anos e voltou a publicar em 2017, e só espero que não mantenha a frequência.

Para não deixar a Soronda sozinha, eis que aparece, em 2018, SINTIDUS (Revista de Estudos Científicos e Interdisciplinares da Universidade Lusófona da Guiné), que publicou o primeiro número, em formato eletrónico e, agora, físico.

É hábito estudantes (guineenses) dizerem que não há muito material científico sobre a Guiné-Bissau, eu não concordo, quer dizer, em certas áreas há mais que em outras, e podia-se produzir mais. Sem falar da Soronda que contraria essa ideia, a SINTIDUS está a mostrar também agora que ela não é verdadeira.

A Revista nº 1 tem artigos de qualidade e de relevância sobre a Guiné-Bissau. Sem dizer que tem a pinta de fazer os resumos todos em kriol. Estudantes, investigadores e curiosos hão de gostar das matérias. 

O primeiro número consiste da observação sobre a observação da Guiné do ponto de vista de um “observador ou investigador” português, e passa pela relação entre os fulas e o mandingas no Kaabu, que apesar de analisar o passado é bastante pertinente para a situação atual e para a compreensão a parte da nossa sociedade, passando pela literatura e análise social pela escrita, ainda pela questão do kriol e da necessidade de normalizar a sua escrita, e também pela questão da justiça na Guiné-Bissau e relação entre o poder do estado e o poder tradicional nessa esfera, até ao assunto das alterações climáticas e seus indicadores, o que é bastante importante, considerando o que vimos neste último ano em Bissau. Por fim, a revista fecha com um ensaio fotográfico sobre a cidade, que apenas critico porque quer mostrar a África através da Guiné-Bissau, quando nem pode mostrar a Guiné-Bissau através de Bissau, por causa da miríade cultural guineense, o que me faz bradar: “DEUS DO CÉU!, ÁFRICA NÃO É UM QUINTAL NUM BAIRRO! ÁFRICA É IMENSA, PAREM COM SIMPLIFICAÇÕES”.

SINTIDUS encontra-se agora em formato físico e pronto para ficar na tua biblioteca e auxiliar-te nas tuas investigações e se não o quiseres aí, podes sempre adquiri-lo para oferecer a um amigo, e para isso precisas apenas de escrever sintidus.revista@gmail.com ou (se estiveres em Bissau) contactar +245 955977108 ou ir à Universidade Lusófona perguntar, ou mandar menino.

Aproveita e vai comprar que o número é limitado. Kim ki tchiga prumeru siti ku liti bas di kama di si mame.

Eu já tenho o meu. Na verdade, tenho mais dois outros outros e vou oferecer um à primeira pessoa que me responder a esta pergunta: Si kinkinhin kankanhan i “prenhada bambu n’ utru”, nton ke ki kankanhan kinkinhin? Pa konvensim, bu tem nam k' kontam kal ki signifikadu di es dus palabra.

O segundo livro, para ser justo para os meus amigos não falantes de kriol, vai para quem responder a esta pergunta: “uma meia meia feita, outra meia por fazer, quantas meias são?

N.º 1, 2018
AUTOR
ARTIGO
Raul Mendes Fernandes
Manuel Bívar & Sadjo Papis Mariama Turé
Jorge Otinta
Luigi Scantamburlo
Sara Guerreiro
Orlando Mendes
Gustavo Lopes Pereira & Ana Filipa Lacerda



11 de outubro de 2016

TEREMOS EXCESSO DE JURISTAS NA GUINÉ-BISSAU?

No Encontro de Estudantes Guineenses em Coimbra (que decorreu nos dias 8 e 9 do corrente) surgiu esta observação, em tons quase anedóticos, de que temos na Guiné-Bissau um excedente de estudantes de Direito, ou mesmo de juristas (e também de estudantes de ciências políticas).

E daí a questão: com tantos doutores (ou serão Dr.?) da lei, com tantos cientistas políticos, como é que a situação política e legal do país se encontra absolutamente torta e desordenada, não sobrevivendo nem a observações empíricas? Será que estudam direito de forma errada?

Talvez seja este facto que crie esta predisposição de fazer piadas e de achar que nos nossos canteiros de juristas e de cientistas políticos deviam ser cultivadas outras profissões (ou devia dizer áreas académicas?) e crie esse, vou chamá-lo assim, “preconceito” em relação aos estudantes do direito. Preconceito que eles mesmo ajudam a sustentar, porque se consideram os mais lidos, mais conhecedores, mais bem-falantes e mais bem preparados para pôr as coisas a andar bem. E os dos outros cursos, ou profissões, acham que eles se consideram dessa maneira.

Mas a verdade é que, no caso da Guiné-Bissau, alguém acha que existe alguma possibilidade de termos menos estudantes de Direito, se uma das melhores ofertas em termos académicos continua a ser a Faculdade de Direito de Bissau, e durante muitos anos, foi basicamente a única oferta? Alguém acha que num país onde grassam problemas políticos e legais e onde parece que os juristas (olhem que nem digo advogados) são o que necessitamos para pôr as coisas nos eixos, não será essa a profissão mais desejada?

Eu sei que temos outros problemas e penso, às vezes, que não temos necessidade de tantos juristas e cientistas políticos na Guiné-Bissau, mas tal como não diria que temos excesso de médicos, de engenheiros agrónomos (que já foi o curso mais querido após a independência, porque era o curso de Cabral, mas que por causa das nossas políticas a quase totalidade desses profissionais estiveram e alguns ainda estão em risco de passar fome, enquanto um nova elite surgia), ou excesso de quaisquer outros tipos de profissionais, também não direi que temos excesso de juristas (aliás, eu sou arquiteto e quero trabalhar na Guiné-Bissau; um país onde cada um constrói a sua própria casa, que necessidade têm de mim?). Todavia, acredito que deve haver comedimento, só que não sei como fazê-lo sem pôr em questão liberdades individuais.

Enquanto continuar a parecer que a forma mais fácil e imediata de ter sucesso profissional na Guiné-Bissau é através de direito ou de ciências políticas, porque todos os anos (desculpem, queria dizer todas as semanas), os nossos políticos fornecem-nos materiais absurdos para debates e bate-bocas; e os nossos juristas clamam para si o domínio do conhecimento das leis escritas e a exclusividade de citação de memória dos artigos que a constituem, e os nossos cientistas políticos estudaram a política e sabem como ela funciona, dizem por sua vez que o entendimento está com eles, então os restantes e a população são obrigados a calar, embora utilizando apenas o senso comum consigam ver o irrisório de toda a situação.

E mais que isso, parece que a única forma de ganhar dinheiro na Guiné-Bissau é através da política e muitos fazem um ligação direta entre a política e o Direito, e também, as ciências políticas (afinal esta última até tem "política" no nome); muitos estudam direito por motivo errado.

Bem, a questão principal talvez deva ser, se se acredita que temos excesso de juristas (e de cientistas políticos), então o que é que temos em falta?, e o que se deve fazer para a suprir?

2 de junho de 2012

JUVENTUDE PERDIDA - A TRISTEZA DA JUVENTUDE ACADÉMICA

Estava a ver na TV o final do concerto dos Metallica no Rock In Rio, e um deles regurgitava água (ou uma bebida qualquer) e cuspia-a para cima dos espectadores todo eufóricos; no entanto, o pior aconteceu quando um deles abre a boca para receber o líquido expelido pelo seu ídolo, atitude doentia, submissa e pornográfica. Que eu me lembre, não há nenhuma sociedade onde cuspir em cima de alguém não seja um acto de desprezo (tirando algumas sub-sociedades sexuais sadomasoquistas).

Este incidente despoletou em mim uma série de reflexões, todas conectas, considerando que são todas manobras para manterem as pessoas ocupadas e abstraídas do realmente importante, que,  no entanto, vou apresentar em quatro grupos temáticos, sendo eles: a histeria colectiva, a juventude controlada, a submissão doentia e os novos deuses e a juventude académica; e vou começar pelo último.


A TRISTEZA DA JUVENTUDE ACADÉMICA

A única actividade que sei que a associação académica da minha universidade realiza é: festas! Ah, e quem está inscrito nela tem descontos no valor dos exames da segunda época e afins (ou seja, podes faltar as aulas e não entregar os trabalhos a tempo que terás descontos depois para o fazer mais tarde). É tudo o que eu sei… tem outras vantagens ou faz outras coisas? Talvez, mas em seis anos nunca tive conhecimento disso.

Mas, hey, como já verifiquei lá em cima, não pretendo falar mal da associação académica da minha universidade, não, longe de mim essa ideia, pretendo é falar mal do estado académico em geral.

Na minha terra, quando se ouve falar de uma semana académica é mesmo académica, e a adesão não costuma ser muita, geralmente apenas um terço da escola ou faculdade adere, metade ou mais fá-lo no último dia, que costuma ter mais actividades lúdicas; e essa fraca adesão dá-se exactamente porque na semana académica acontecem actividades científicas ou pseudo-científicas, palestras e debates sobre determinados temas que se consideram importantes, não obstante, convém dizer, acabem por ser apenas um exercício mental para alguns e nada realmente melhore.

os cartazes das semanas académicas
são todos deste género, publicitam copos
Posto isto, fez-me espécie quando, cá em Portugal, Europa (?), ao ouvir falar da semana académica dar conta de que académico não tem nada e que é apenas um motivo para agrupar jovens e dar-lhes de beber até cair em nome do espírito universitário. Até me admira que Portugal consiga ser mais desenvolvido que o meu país se os seus académicos são o que tenho visto: a maioria é borrachona, irresponsável e a semana académica é para mostrar aos bares de má fama de que precisam de se esforçar mais para manter a reputação. Senão vejamos: há bêbados e bebedores descontrolados nesses bares, também nas semanas académicas, há passadores e drogados nesses bares, nas semanas académicas idem, há sexo comprado nesses bares, e é aí que perdem, porque o há grátis nas semanas académicas (nada contra) e irresponsável ainda por cima, pois de tão mamados muitos acabam por pensar que o preservativo, quando se lembram dele, é pastilha elástica.


Não sei se as semanas académicas são uma tradição secular, embora duvide, considerando que antes as universidades costumavam estar sob as restritas ordens dos padres e confrades, e até antes do 25 de Abril (pelo que julgo saber) as restrições sobre ajuntamentos do género eram outras. Não, não quero e nem estou a justificar esses tempos, sou a favor da liberdade de se juntarem pessoas quando querem se juntar e sou a favor do afastamento das regras dos conventos das universidades, embora ainda tenhamos ficado com as togas e as bênçãos de fitas que mostram que apesar de ser um antro científico as universidades são ainda católicas no seu âmago, pelo menos as portuguesas (que são as que conheço).

Não levo o estado universitário tão a sério como antes, aliás tenho uma relação amor-ódio com ele, amor porque gosto de saber coisas e de estudar e ódio porque preciso de um canudo tutelado por um desses prostíbulos… desculpem, antros de saber para que esse conhecimento seja valorizado. Não consigo levar a sério uma instituição que é apenas uma desculpa para manter as pessoas ocupadas com coisas que nunca irão usar (enalteço assim os cursos técnicos) e cujo 80% de frequentadores, senão mais, estão ali não pelo amor ao saber, mas à pesca do estatuto. Sim, estatuto, ser universitário é ainda um título de respeito, porque associado a isso, no senso comum, vem a ideia de inteligência, conhecimento e responsabilidade, e não importa que tenhas menos disso do que um aluno do ciclo, é diferente a forma com as pessoas olham para ti e falam contigo. Eu já fui tratado diferente quando se descobriu que andava a frequentar mestrado, apesar das coisas que costumava dizer não se terem alterado, passaram a ser já ouvidas com mais atenção.

Antes de entrar para a universidade eu admirava muito os universitários, e quando maior o título mais eu admirava, depois que comecei a lidar com universitários piores do que eu, e uns tantos professores doutorados que andam a repetir pensamentos ultrapassados e obsoletos, arrogantes e quadrados, e que usam mais o argumentum ad verencundiam (sim, usei o latim para parecer mais inteligente, como fui ensinado a fazer), ou seja argumento da autoridade, do que um raciocínio lógico que realmente convença, comecei a perder cada vez mais o respeito que tenho para o meio.

A universidade é apenas um lugar para perpetuar estereótipos, boa parte deles disfarçados de científicos (não estou a dizer que todos os que para lá entram saem tão ou ainda mais vazios do que quando lá entraram, não, tem muitos bons estudantes – não alunos apenas – ali dentro) e a semana académica por conseguinte mostra a vacuidade do sistema. Quando vês pessoas com o traje universitário, podes desconfiar que vão faltar as aulas nesse dia e estarão num jardim qualquer a praxar ou a serem praxados ou numa confraternização (leia bebedeira) num bar qualquer.

Dizer-me que és licenciado ou doutorado era um motivo para te respeitar, academicamente falando, mas depois de a maior parte das pessoas mais inteligentes que eu conheço não serem universitários, e por conseguinte os mais estúpidos e irresponsáveis o serem, perdi o respeito pelo sistema. No entanto, ainda estou a estudar, e aconselho a qualquer um que possa que o faça, porque preciso de um canudo e só estou a estudar para o ganhar (pois conhecimentos encontro-os eu mesmo, procurando por eles), pois a nossa sociedade está desenhada para “facilitar” e valorizar quem tenha um.

Se as universidades e academias (tirando na semântica brasileira, ginásios) fossem lugares sérios, eu recomendaria que chamassem de outra coisas às semanas académicas, mas como um só espelha o outro… bah, que se lixe... eles precisam que os jovens se mantenham inactivos, ou activos a emborracharem-se do que a usar o tempo para pensar e procurar fazer coisas que realmente importem, pois bebem e drogam-se mais à vontade quando sabem que isso está sob a protecção de uma instituição universitária (feitores do progresso e do futuro), e a acreditar neste artigo da ciência hoje, o efeito nefasto ver-se-á principalmente no futuro.

23 de setembro de 2011

AI, PORRA!, PRAXES DE NOVO!!!

Não sei de quem é a foto, foi a primeira que 
encontrei na busca, e como explica bem
 o "espírito universitário"...
Dizem que faz parte do espírito universitário… a sério? Bem, se o espírito é sair à noite e beber até cair, bem… pá, porra, nem nesse contexto faz sentido. 

Não estou a dizer que é isso as praxes, mas o uniforme que dá direito de ser praxista é o mesmo uniforme que vai às noitadas abusar do álcool em nome da abertura do ano lectivo universitário. Não vou falar dos acidentes de trânsito, nem vou falar das viol(ent)ações que por vezes acontecem e que são camufladas em nome do “espírito universitário”, só quero apontar a esse desejo sadomasoquista que norteia os praxados e os praxistas. 

Eu sempre julguei que a universidade é para formar o curriculum, mas, também o carácter, por isso associo o espírito universitário ao espírito investigativo e não ao da folia, mas quem sou eu? 

Eu não gosto de praxes, e acho ridículos os praxistas que andam por aí a berrar, numa péssima imitação do Sargento Hartman (Full Metal Jacket, alguém viu?), eu sei que a maioria aproveita porque ou sabe ou acha que em toda a sua vida só terá aqueles caloiros para gritar com e dar ordens, que nunca irá mandar em mais ninguém na sua vida, e a vontade de MANDAR, de se sentir superior leva-o a ser asno com os jumentos que se põem à sua mercê. É uma ordem quase militarista a exigir obediência cega às vozes de um qualquer a brincar a ditador.

É o espírito universitário, o tanas, espírito sadomasoquista, isso sim. Desculpem-me os sadomasoquistas porque não fingem que o espírito deles é outra coisa, por exemplo… natalício. Mas, fazer o quê?, enquanto houverem universidades haverá sempre asnos a jumentearem jericos. Porém, pela sua quantidade, de certeza que vão dizer que quem tem problemas sou eu, por não achar gozo na humilhação pública dos outros em nome de brincadeira. 

EU… ODEIO… AS… PRAXES!!! Ponto.