Tem remakes que valem a pena ser feitos, quando há uma actualização do tema e perspectivas novas de exploração, mas a maioria dá aquela vontade de sair para a rua levantar os dois braços para o ceú, imaginando uma câmara em picado perfeito a afastar-se, e gritar: “por quê?”. Bem, este filme não é o caso, não porque sirva para alguma coisa, mas porque não se destruiu um bom filme neste remake.
I Spit on Your Grave (expressão que significa desrespeito absoluto, tendo em conta que quando mortos somos temporariamente boas pessoas), ganhou título em português, A Vingança de Jennifer, talvez por ausência de uma expressão equivalente na língua lusa, porém eu sugeria alternativas como Cago no Teu Cadáver, o que duvido que a censura deixaria passar. Bem, voltando ao tema.
Eu era muito jovem, na verdade, uma criança, quando vi o original pela primeira vez, deixou-me tremendamente chocado. Porém, há uns anos voltei a ver o filme… bem, o choque não foi assim tanto, talvez porque faltou-me a paciência para o filme, daí que o vi em velocidade 2x. O filme resume-se em duas palavras: sexploitation e snuff, e testa-nos os nervos durante a visualização. O que me arranca esta pergunta: por que raio as pessoas têm prazer em ver outras a serem violentadas?
I Spit on Your Grave (1978) é um bom filme no seu género, porque consegue o que quer: incomodar, mas não é um bom filme, cinematograficamente falando, pois tirando a violentada, mais ninguém convence, e talvez a violentada só convença porque criamos por ela empatia (ou pela sua personagem).
Mas, este post não era para falar do filme original, mas do remake. Tem um jogo que eu costumo fazer no imdb, que é, por exemplo, partir do nome de Van Damme e chegar a Matthew Broderick, sem ter que digitar nada, e em menos passos possíveis. E é assim: Van Damme contracenou com Dolph Lundgren (Máquinas de Guerra), este com Bruce Willis (Os Mercenários), e este com Tom Hanks (A Fogueira das Vaidades), e este com Denzel Washington (Filadélfia), e este com Matthew Broderick (Tempo de Glória). Pois, bem, eu estava a jogar este jogo (já não me lembro o que queria ligar) e fui parar ao I Spit on Your Grave: Unrated, a princípio nem percebi que o cartaz era diferente, o que mais me chamou a atenção foi o unrated, pois o o outro era day of the woman e foi assim que percebi que se tratava de um remake. Bem, despertou-me a curiosidade, afinal se até mesmo Piranhas ganhou remake, porque não este, vamos lá ver se a ousadia de hoje supera a dos anos 70.
trailer
trailer
Deixem-me dizer, deviam deixar o cultuado I Spit On Your Grave (1978) onde estava, porque este remake não só não traz nada de novo (tirando transformar a protagonista numa aprendiz de Jigsaw, o que se vê mesmo pelo cartaz do filme que respira a Saw), como os actores parecem bem pior ou tão maus como os primeiros (não posso precisar nada, porque vi o outro filme há uma coisa de três anos já).
Entretanto, o que se pode aprender com este filme:
1. Que as cidades do interior não são boas para as férias, porque a ausência de acção cria mandriões violentos.
2.. Que as mulheres não devem passar as férias sozinhas e que devem sempre ser acompanhadas do parceiro para não serem violentadas (e que o realizador não viu Eles, de Moreau).
3. Que as mulheres não devem vestir roupas curtas diante de homens desconhecidos, principalmente quando estão isoladas com eles.
4. Pá, não me lembro de um quarto.
4. Pá, não me lembro de um quarto.
No geral, despindo aquela violência gráfica toda (ah, nesse aspecto este remake mantém-se aquém do original), o tema é muito importante. Temos dois pontos fortes e actuais no filme: o voyeurismo e a objectificação sexual.
Com a Internet, o cinema e todos os meios áudio-visuais, sem falar das revistas e outdoors, a sociedade foi ficando cada vez mais sexualizada, e não estou a falar do aspecto psico-científico da palavra, mas sim do hedonismo. Por exemplo, os perfumes são vendidos com promessa de granjear mulheres (a propósito, aproveito para reclamar contra a Axe, pois andei usando mas não resultou como prometido; publicidade enganosa), carros, roupas, até mesmo uma caneta porta a promessa de uma vida sexual mais intensa, e notem que digo intenso e não melhor. Se antes só os homens primavam pela quantidade, hoje as mulheres também (e não tenho nada contra, pois só tenho ganhado com isso), e os registos dessas conquistas são deixados na net, para todo o mundo ver. A pornografia tornou o sexo entediante, de maneira que muitas pessoas já não se satisfazem com uma relação normal a duas (também nada contra) e daí partem para bondages e sadomasoquismo, sendo estes os normais, os anormais vão pelo estupro, pedofilia, necrofilia entre outras filias perigosas. Não pretendo, no entanto, que essas taras são frutos da pornografização da comunicação social, ou da sua erotização (para ser mais brando) visto que a história e a literatura atestam a sua existência antes mesmo do aparecimento dos irmãos Lumière. E essa parte voyeurístico-exicibionista é retratado pelo jovem que filma todas as cenas.
Com a Internet, o cinema e todos os meios áudio-visuais, sem falar das revistas e outdoors, a sociedade foi ficando cada vez mais sexualizada, e não estou a falar do aspecto psico-científico da palavra, mas sim do hedonismo. Por exemplo, os perfumes são vendidos com promessa de granjear mulheres (a propósito, aproveito para reclamar contra a Axe, pois andei usando mas não resultou como prometido; publicidade enganosa), carros, roupas, até mesmo uma caneta porta a promessa de uma vida sexual mais intensa, e notem que digo intenso e não melhor. Se antes só os homens primavam pela quantidade, hoje as mulheres também (e não tenho nada contra, pois só tenho ganhado com isso), e os registos dessas conquistas são deixados na net, para todo o mundo ver. A pornografia tornou o sexo entediante, de maneira que muitas pessoas já não se satisfazem com uma relação normal a duas (também nada contra) e daí partem para bondages e sadomasoquismo, sendo estes os normais, os anormais vão pelo estupro, pedofilia, necrofilia entre outras filias perigosas. Não pretendo, no entanto, que essas taras são frutos da pornografização da comunicação social, ou da sua erotização (para ser mais brando) visto que a história e a literatura atestam a sua existência antes mesmo do aparecimento dos irmãos Lumière. E essa parte voyeurístico-exicibionista é retratado pelo jovem que filma todas as cenas.
Voltando para o filme, outra coisa que vemos é um dos violadores ser um bom pai, bom esposo e representante da lei. Extrapolando as comparações, o pior género de hipócrita que existe, os doentios representantes da moral e da censura, disfarçados de religiões, de governos e de outras formas de opressão, mas que longe de olhares são os verdadeiros símbolos da perversão. Ficando só no filme, quebra-se o estereótipo de que só os jovens solteiros e punheteiros, ou maridos bêbados e violentos constituem perigos sexuais.
Enfim, para não me esticar mais, o filme não é grande coisa, aliás, é um nada, continuo a preferir original, mas pelo menos o tema continua actual, e o seu componente voyeurístico dá-lhe uns pontos positivos.