E isso por
quê? Resposta simples: qualquer político que fale qualquer coisa sobre
beneficiar o povo é chamado logo de populista, o que é bastante mau,
porque ser chamado de populista é o pior insulto para a classe política. Vá-se lá entender a razão, pois quando um
político fala em nome da democracia (poder do povo), ele
chora geme, rasga as vestes e bate no peito, em altos brados e grandes prantos
de que está a trabalhar para o povo, pelo povo e com o povo… Porém, não quer ser
chamado de populista. Claro que não, visto que isso não é bom para os mercados.
Quando, no
entanto, um político fala de mercados,
as pessoas menos atentas pensam nos mercados que frequentam no seu dia-a-dia,
algumas até julgam que não ser bom para o
mercado significa que vai faltar pão, leite ou papel higiênico nos
supermercados, e isso assusta-as. Todavia,
o mercado de que os políticos falam é o mercado de ações, o mercado financeiro
gerido e controlado por uma elite capitalista de semideuses, onde se divertem a
controlar os governos soberanos (ou que se dizem soberanos, mas não o são de
verdade). Nesses
mercados o povo não entra, nem tem palavra. São os mercados onde a mercadoria é
o próprio dinheiro, mercados onde usam o dinheiro para fazer dinheiro,
um mercado que parece mais um casino, chamam-no de bolsa de valores, sede em Wall Street, onde os
semideuses (ou super-ricos) divertem-se a apostar sobre a estabilidade dos
países e das empresas menores para fazerem mais dinheiro ou perderem algum, e
aliás até chamam isso de jogar na bolsa - e é mesmo um jogo. E como se sabe, nos casinos a banca
ganha sempre, nesses mercados não é diferente, a banca ganha sempre, ou os
bancos, para usar um termo mais familiar. Quando os políticos dizem os
mercados, eles falam dos bancos, que são os seus gestores.
Os bancos
importam, as pessoas não. Vejamos o caso da Grécia: não vão deixar a Grécia
servir o seu povo, porque os mercados interessam mais do que o povo grego (e todos os demais), e
os média, ao serviço dos seus senhores, aterrorizam as pessoas com presságios macabros
e apocalípticos, fazendo-lhes acreditar que a existência dos bancos e da
ligação aos principais bancos do mundo (FMI e Banco Mundial) é fundamental para
a sua sobrevivência. Vergadas por este terrorismo governamental e institucional
as pessoas acabam por voltar-se contra aqueles que as querem beneficiar. O povo
grego tem medo de sair da União Europeia ou do Euro Grupo, e esse medo vai acabar
por levar-lhe a voltar-se contra o seu governo atual, que tem a infelicidade de
ser populista.
Os média ocidentais estão a trabalhar para isso. Quando entrevistam os gregos
na televisão, os entrevistados acham sempre que o governo deve ceder perante os
bancos, porque mostra o bom senso, nunca entrevistam ninguém que pareça entender e explique a manipulação que os bancos estão a fazer sobre os povos,
tanto o grego, como europeus e mundiais.
Se o governo
grego atual insistir na sua posição até ao ponto de rotura, ou voltar-se para
economias como a China ou a Rússia, o cenário mais plausível vai ser uma guerra
civil na Grécia. Quem se lembrar do risco da guerra civil que o Verão Quente teve
em Portugal decerto sabe que esses capitalistas e os grandes bancos não se
importam com os povos e ganham sempre, quer em clima de paz ou de guerra num
país. E eles têm este lema: se não podes viver
infeliz connosco, não viverás feliz com mais ninguém. Fizeram isso na
Indonésia, fizeram em Cuba, fizeram isso até na Rússia Comunista, estão a
fazê-lo na Ucrânia… e em muitos outros países do mundo.
As pessoas
não importam, os bancos sim. É o lema do governo atual. Estão a vender tudo, a
privatizar o país. Até os espaços públicos agora são privados, para andar de
carro temos de pagar o imposto de circulação, que é canalizado para empresas
privadas que fazem a manutenção das estradas, estradas essas que foram
construídas com nossos impostos, e em alguns casos pagamos ainda portagens
sobre estadas que construímos e para as quais pagamos a manutenção. Para
estacionar na rua tens de pagar a uma empresa qualquer, principalmente nos grandes
centros urbanos. Para ter um painel solar em casa tens de pagar não só pelo
painel com uma taxa para ter o direito de obter a luz do sol. Não tomas banho e
bem bebes água em casa sem pagar por ela (o problema não é pagar pela manutenção
da infraestrutura, mas pagar para que os privados tenham dinheiro para irem
brincar no casino que chamam de bolsa).
A TAP acabou
de ser vendida, porque dava prejuízo ao estado, disseram. Agora que foi vendido vai
passar a dar lucro ao estado? Não. Não vai, e não ouvi ninguém a falar disso. O
que ouvi foi que era necessário vender a TAP pelo bem da própria TAP, não pelo
bem do povo. Temos uma classe política que pensa mais nos mercados do que nas
pessoas e continuamos a fazer pouco dos políticos que assumem uma postura
populista.
Não vai ser
fácil para nenhum partido político ser populista,
quando esse partido que ser parabenizado pelos bancos donos da União Europeia como
bom aluno e cumpridor, porque a União Europeia não defende o povo, mas
interesses privados, aliás é só voltar para sua a origem para verificar isso. A União Europeia sempre foi uma
organização privada para interesses
privados, ela nasceu como Comunidade
Europeia do Carvão e do Aço, união de empresas específicas, depois
mascarou-se em união de países europeus. Agora a União Europeia encontra-se na
mão de dois bancos principais e a sua comissão, a TROIKA, que já não gosta deste nome, bancos
privados para interesses privados.
Como já pressagiou alguém: vai ser privatizado o país
inteiro, até chegar a um ponto onde as pessoas já não aguentem mais serem
preteridas, vai acontecer um novo 25 de Abril, onde tudo vai ser nacionalizado de
novo, para logo a seguir começar a caminhada das privatizações (mas para isso precisaríamos das Forças Armadas, o único grupo que os politicos temem mais do que os bancos). Afinal se há
alguma coisa em que o povo seja mestre é em ter memória curta e preguiça para
pensar por si.