É difícil medir a qualidade de vida, no entanto, para viver dentro dos parâmetros da boa vida da sociedade moderna, ou pelo menos como ela nos é publicitada, a qualidade de vida está proporcionalmente ligada à quantidade do dinheiro. Isto porque a nossa sociedade não premeia e nem leva em conta os valores espirituais (não confundir, por favor, com os valores religiosos), apenas os materiais. Vivemos num mundo de excesso e vivemos para o excesso, egoístas e hedonistas. Há empresas que fazem anualmente uma lista de cidades com melhor ou pior qualidade de vida (http://greensavers.sapo.pt/2015/03/04/as-cidades-com-melhor-e-pior-qualidade-de-vida-do-mundo-com-fotos/), lista essa baseada em comodidades ocidentais, como por exemplo, melhores hospitais, melhores serviços de transporte público, melhores praias, melhores discotecas, entres outros, mas sabemos que todas essas melhores coisas só podem se acedidas por quem tenha dinheiro, o que acaba por se resumir em: muito dinheiro, muita qualidade de vida. Os índios, por exemplo, a viverem na selva em plena comunhão com a natureza, com praias naturais, ar puro, alimentos não contaminados por químicos, não têm para nós uma boa qualidade de vida, porque não tem as comodidades que temos aqui. E quando vemos um habitat imaculado como o deles, o que fazemos? Expulsamo-los de lá e começamos a enviar turistas cobrando o uso do espaço.
A nossa sociedade está muito orientada para o dinheiro, o capitalismo impera e ficamos cegos para qualquer outra coisa que não seja o dinheiro. E achamos que não podemos viver sem o capitalismo, porque ele veste as capas da democracia, da liberdade e da justiça.
Não é raro pensarmos que sem o capitalismo, ou com outras alternativas, como o comunismo ou socialismo, perderemos a democracia e a liberdade, mas a verdade é que o capitalismo não nos deixa livres e subverte todos esses ideais citados. O dinheiro elege os presidentes e os governos, o dinheiro compra a justiça, o dinheiro corrompe a democracia, deixando o povo apenas com a ilusão de escolha.
Não é raro pensarmos que sem o capitalismo, ou com outras alternativas, como o comunismo ou socialismo, perderemos a democracia e a liberdade, mas a verdade é que o capitalismo não nos deixa livres e subverte todos esses ideais citados. O dinheiro elege os presidentes e os governos, o dinheiro compra a justiça, o dinheiro corrompe a democracia, deixando o povo apenas com a ilusão de escolha.
Henrique Monteiro - Gerações em Choque |
Vemos hoje e temos a certeza de que o capitalismo é um sistema gasto e ultrapassado, mas que só continua a imperar porque o poder está nas mãos daqueles que o publicitam como a única hipótese, e que se beneficiam realmente com essa crença. E sofremos hoje cada vez mais lavagem cerebral para não nos preocuparmos com o preocupante e nos atermos apenas ao supérfluo, facilitando a nossa manipulação e o aceitar simples das mentiras que nos impingem, continuando na letargia mental, sem trabalhar para as mudanças.
Há hoje alternativa para o dinheiro ou para o capitalismo?
Para o dinheiro dificilmente encontraremos alternativa, mas pra o capitalismo sim. É necessário haver uma transformação económica onde o dinheiro não seja o fim, mas apenas um meio, ou menos que isso, apenas uma ferramenta. Embora se diga que a Europa defende a igualdade, não é verdade; como é possível haver a igualdade se as pessoas só podem viver bem se tiverem poder de compra e os poucos que têm dinheiro usam-no para controlar os demais e limitar-lhes os passos? Uma sociedade sem dinheiro significaria que a economia subsistiria de permuta, mas a dimensão das sociedades modernas dificultaria a permuta. Há determinados trabalhos hoje que são puramente intelectual e que não geram produtos físicos passíveis de serem usados em permuta. Para compensar isso, teríamos de usar uma outra forma qualquer de equivalência, ou seja voltaríamos ao dinheiro.
Há uma organização chamada Projecto Vénus, que publicita finalidades humanitárias e faz observações críticas sobre o sistema de governo atual, dominado pelo capitalismo, pelo consumismo e pela busca desenfreada do lucro à custa do planeta. Ela acredita que possui a solução para os problemas do capitalismo: abolir o dinheiro e desenvolver a economia de recursos. No entanto, o Projeto Vénus em vez de dinheiro, fala de créditos, e os créditos seriam usados apenas para ter acesso aos recursos e não para criar a clivagem social como a que temos hoje e que tivemos desde sempre, na verdade, desde que o homem inventou o dinheiro. Muitas de ideias do Projecto Vénus são boas, mas as explanações sobre o sistema social que promove são fracas, parece o comunismo mas sem a maturação adequada.
Quanto ao capitalismo, Margaret Thatcher garantia ferinamente que não havia alternativa ao capitalismo, de tal maneira que o seu TINA (There Is No Alternative) passou a ser a oração preferida no Wall Street, dos bancos e, subsequentemente, dos governos pelo mundo fora. Mas há sim alternativas para o capitalismo e podem ser:
1. Fora do capitalismo: socialismo democrático, maior controlo do estado sobre as empresas, a economia e os mercados em benefícios das famílias e dos indivíduos, afinal se o estado somos nós, por que razão quem sai a ganhar são as empresas? No entanto, que não seja do tipo do controlo que assistimos atualmente, onde multinacionais multimilionárias fazem lobby junto aos governantes para obterem ferramentas para canibalizar as empresas mais pequenas, usando as máquinas do governo a seu favor. (Por exemplo, vemos agora o governo a cobrar coercivamente os cidadãos através do aparelho das finanças para pagar às grandes empresas, mas não faz essa cobrança para toda e qualquer empresa, mostrando assim como é manipulado e nós com ele).
2. Dentro do capitalismo: o cooperativismo, começado por Robert Owen e cuja maior expressão se encontra na Corporação Mondragon, pode ser a solução para o sistema que temos, na medida em que a distribuição dos benefícios é maior entre os intervenientes, em vez de cem pessoas trabalharem para uma enriquecer, neste sistema as cem dividem o lucro de maneira equitativa, o que beneficia os indivíduos em maior escala. Se pensarmos na Pirâmide de Maslow e confrontarmos com o sistema atual, vemos como dificilmente um empregado pode sentir-se motivado num emprego de que não gosta. Aliás, falamos de liberdade, mas considerando que a maior parte das pessoas está num emprego que não gosta só porque tem compromissos que só pode cumprir se possuir um salário facilmente concluímos que somos escravos nesta sociedade de liberdade.
O que podemos então fazer? Gerir as nossas vidas, evitar o consumismo exacerbado, usar economias alternativas e cuidar do nosso habitat. Se o dinheiro nos custa tanto a ganhar, não o devemos dar a qualquer vendedor que nos mostre um produto que só tem seis meses de vida (a conspiração da lâmpada). Se não temos poder para mudar as coisas no aspeto macro, mudemo-las no aspeto micro, mudemos as nossas formas de consumo. Contenhamo-nos.