Um dia, por acaso, estava a acompanhar um debate filosófico entre o meu sobrinho, de sete anos, e o seu amigo, de uns nove ou dez, acerca da mentira, quando o amigo saiu com essa conclusão depois de analisadas as premissas e apresentados os argumentos: “os adultos também mentem, e muito mais do que as crianças”. Não manifestei a minha opinião, pois… onde estaria a solidariedade adultícia se eu confirmasse aos miúdos que eles tinham razão?
Numa analogia similar,
considerando que os países ricos são os adultos, e os pobres são os miúdos, cuja
opinião não é solicitada, nem levada em conta, eu percebo a solidariedade dos
G20 com os americanos na questão de invasão à Síria. Solidariedade sim, porque embora saibam que se trata do
interesse económico de um punhado de americanos superricos, aqueles que lucram imenso com a sua máquina de guerra (nada a ver com Van Damme), não vão agir em
contradição e tudo o que pedem é um aval da ONU (outro pau mandado dos States). Bem, mas compreende-se, os
países ricos têm interesse em não perder o seu domínio, e a melhor maneira de o não fazer é não embater de frente com o mais rico e poderoso deles. Sendo assim, os
G20, ou melhor os G19, vão, de qualquer forma apoiar o G1, ou quanto muito, não
fazer nada quando este decidir levar a sua avante. Trata-se da solidariedade
adultícia.
Pode ter havido ataque com gás sarin na Síria – como pode não ter –, pode ter sido um trabalho tanto do governo i-“legítimo” – como pode ter sido da oposição – (o i- é para dizer ao Passos Coelho que a legitimidade do governo, mesmo que tenha 100% de votos, perde-se quando põe em risco a sua população em benefício de interesses económicos alheios), mas numa coisa todos concordam, milhares de sírios desgraçados estão a morrer massacrados pela ganância de uns quantos. Pois vê-se que tanto do lado sírio como do americanos há muitas coisas a aparecerem que cheiram a completas manipulações.
Diz-se que há mais ou menos 110
mil mortos desde o início da guerra civil síria, mas isso não interessava aos
americanos, nem aos G19, são sírios, porra, nem pessoas são. No entanto, quando
se fala que uns 100 sírios morreram com gás sarin, levanta-se a América, toda
indignada: Isso é uma barbaridade! Pois, claro que é! Onde já se viu? Matem-se
com armas, com canhões, matem-se com garfadas no olho um do outro, aliás, até
podem usar a piada mortal dos Monty Python, matem-se à paulada, matem milhões,
matem bilhões, porra, mas não usem o gás, pois isso é barbaridade. Gás só é
permitido nas prisões americanas, ninguém mais deve usá-lo.
Obama vai atacar a síria, retaliação, disse ele. Mas que raio
fizeram os sírios à América para estes terem de retaliar?
Mas todos sabemos que o G1 não se
importa com o que os outros pensam, ele apenas faz, no entanto, do lado de cá, vejo
notícias sobre a crise síria que me deixam perplexos. Quem entende os média? Num
artigo dizem que existem provas que atestam o ataque em Síria com armas
químicas pelo governo, para logo no outro dizerem, em letras miúdas, que a ONU ainda
não fez exames conclusivas, para logo a seguir, voltarem a carga em letras garrafais
que houve provas e ADN sobre o uso do sarin e que o Cameron tem provas
conclusivas, como se não soubessem que Powell, Bush e Blair já tinham
apresentado provas conclusivas aquando do ataque ao Iraque? Por que carga d’água os média não usam a palavra “alegadamente” quando apresentam essas notícias em vez
de servi-las com factuais, sabendo que muitos nem pensam sobre o que ouvem e
partem logo do princípio que os jornalistas não mentem (ai, tenho de avisar o
meu sobrinho).
A Síria vai ser invadida para
fazer um cerco ao Irão? A Síria vai ser invadida para meter medo aos
norte-coreanos e aos iranianos? A Síria vai ser invadida porque, pelos visto, a
retirada das tropas de Afeganistão poderá criar desemprego para o milhares de mercenários
americanos? A Síria via ser invadida por uma posição estratégica contra a Rússia? A Síria será invadida para um teste cabal dos drones e robots de
combate?
Mas quem raio legitimou a América como a polícia do mundo?
Mas quem raio legitimou a América como a polícia do mundo?
Acho que essas (ou algo como
isso) deveriam ser algumas das questões que deviam ser levantadas e analisar a
legitimidade de um país invadir o outro. Invadam então Portugal, porque o
governo está a usar bombas decretatórias para liquidar a população... ai, por
favor, não invadam, estava só a brincar.
Que Obama pôde ter mudado alguma
da política americana… sim, ele pôde. No entanto, tal como já vaticinara, ele
tem de cumprir as promessas feitas as multinacionais que financiaram a sua
campanha, e ele é apenas um outro fantoche da grande e verdadeira América (os bancos e as
multinacionais).
Tentei aqui entender a crise
síria, mas continuo como quando comecei a escrever isto, não entendi nada.