Este artigo escrevi-o desde 2015,
mas ainda vai a tempo e vai ser como vou festejar o 24 de setembro, dia da independência da Guiné-Bissau.
Mais de 300.000.000 de Franco CFA, na
língua Euro, mais de 457.347,05. Quase meio milhão de euros foram utilizados para
reabilitar a Praça de Pindjiguiti e a estátua Mon di Timba ou Sinku Dedus.
O projeto era para ser todo
sustentável, respeitar o património e reavivar aquela área da cidade que,
devido à sua localização de difícil acesso para a maioria, principalmente à
noite, e com falta de programas ao redor que possam atrair pessoas para lá, é
praticamente deserta, sendo mais um espaço de passagem do que um espaço de
estar.
Para fazer um trabalho
sustentável é preciso mobilizar muito dinheiro, porque temos que pensar a longo
prazo… entendo a lógica, a sério. Só não entendi nada quando falaram que iriam
usar a calçada portuguesa para fazer parte do pavimento da praça, menos ainda quando a usaram. Desde quando
calçada portuguesa na Guiné-Bissau é sustentável? Em Portugal talvez seja, porque é
portuguesa, produz-se aqui e usa-se aqui, retirando o custo de transporte e
importação, e utiliza material local na construção local.
Porém, o que se vê no resultado
final parece ainda pior do que existia na altura, principalmente no que se
refere à estátua Mon di Timba e o busto de Amílcar Cabral, que, para começar,
não parece com Amílcar Cabral, pelo menos aquele que conheço pelas fotos (tem
súmbia, barbas e óculos, e fica por aí a semelhança), mas acreditando que as pessoas que o encomendaram, fizeram e inauguraram, conviveram com Cabral, não tenho muitos argumentos.
Quiseram fazer uma espécie de
espelho de água frente ao busto, para embelezar o espaço, no entanto, todos
sabemos que aquilo seria apenas mais um viveiro de mosquitos, mas fizeram-no na
mesma, e não sei agora, mas na altura ainda estava por utilizar.
457.347,05 Euros foram usados
para reabilitar uma estátua e o que se conseguiu foi torná-la pior do que
estava antes. Pode-se olhar para a foto e perceber os erros absurdos e ridículos,
tanto da decisão do arquiteto (se é que houve algum), como da parte dos
executores e ainda da fiscalização.
As pedras que anteriormente
revestiam a estátua Mon di Timba estavam perfeitamente alinhadas,
perfeitamente cortadas e fixas no corpo principal por parafusos. O que se fez
agora foi usar cola para fixar uns ladrilhos de aparência tão reles que
parecem comprados em saldo, numa sexta-feira 13, na Fera-di-Kirintim. Os mesmos
foram fixos sem grande cuidado (ou nenhum cuidado), sem alinhamentos, com a
cola a verter sobre eles, manchando-os. Vejam as fotos e poupo palavras.
As obras foram inauguradas no dia
03/08/2015 e as minhas fotos feitas em 01/12/2015, mas mesmo nas fotos da
inauguração que se podem encontrar na Internet, vê-se que a estátua não sofreu uma
degradação super-acelerada, mas que foi mesmo mal feita. O busto de Amílcar Cabral
parece ter sofrido ainda destino pior, com a escolha do ladrilho. Por Deus!,
feito em taipe talvez isso até ficasse mais bonito.
Tirando o desrespeito absoluto
pelo património histórico (e arquitetónico) nacional, a pergunta de 457.347,05
Euros é: onde meteram o raio do dinheiro?
Com todo esse dinheiro, eu
reabilitava a estátua era para ficar como na foto abaixo.