8 de maio de 2012

DON PINA (REVOLUÇÃO MENTAL) - pensamentos em rimas e ritmos

Senhoras e senhores, damas e cavalheiros, é com muito orgulho que apresento DON PINA e a sua Revolução Mental

Sim, escrevi orgulho, porque o fulano é meu irmão, o que vai tornar um tanto difícil falar dele sem parecer tendencioso. No entanto, os trabalhos vão estar disponíveis aqui e podem vocês mesmos avaliar.

Demorei muito para apresentar aqui o Don Pina, mas antes tarde do que nunca. E se normalmente só apresento cinco músicas do artista, não importa o número de álbum que tenha lançado, e aqui apresento mais, devem compreender o porquê.


Don Pina é um rapper, letrista, produtor, editor e arranjador, que trabalhou todos os seus álbuns, tirando alguns temas que fez em parceria e que aparecem nos seus EPs; e este artigo é para falar do seu primeiro álbum Revolução Mental, lançado em 2010, e que podem baixar aqui, e para o qual escrevi (aproveito para auto-promover-me) algumas letras. A Revolução Mental é composta por 18 faixas musicais, no estado físico, no álbum para download, só podem ter acesso a 17.

MdP: Por quê a Revolução Mental, não te parece um título um tanto pretensioso? 

DON PINA: Por acaso, não! Porque a revolução mental que o título exprime é fundamentalmente aquela que aconteceu comigo. O que estou a fazer com este álbum é mostrar o amadurecimento mental que tive e esperar que isso inspire mais pessoas, tal como outros me inspiraram.


o dinheiro


MdP: Quem são aqueles que te inspiram?

DON PINA: As minhas inspirações vêm de várias fontes; as minhas influências musicais variam de origem, tanto vêm de uma música gregoriana como de uma música hip-hop, mas a "filosofia" expressa no álbum vem da orientação e da análise de alguns filósofos que leio, de líderes espirituais, escritores de auto-ajuda, da Bíblia, da observação do que se passa à minha volta, de ti também, por acaso, e até mesmo das coisas negativas que vejo, tendo em conta que me impelem para o lado oposto.


a lama da humanidade


MdP: Pois, falando em Bíblia... não achas contraditório que nas tuas letras critiques muito a religião (como no tema A Lama da Humanidade, onde a consideras o principal gerador de problemas dos homens) e no tema Sente a Dica, depois dizes que ela possui frases que ajudam, e ainda dizes que te inspira?

DON PINA: Não, não é contraditório de forma nenhuma. A Bíblia, tal como todos os outros livros, foi escrito pelo homem. Lá por não acreditar em Deus ou na religião, não quer dizer que não acredite na existência da Bíblia, e lá por achá-la um trabalho ficcional não significa que não tenha algumas frases educativas. Por exemplo, O Senhor dos Anéis é uma obra de ficção, todo o mundo sabe, mas tem os seus aspectos educativos. Aliás, mesmo os filósofos e líderes que referi, e tu inclusive, só me inspiram de uma certa maneira, muito do que defendem são patranhas e muito parece patranha.


MdP: Não tens medo de ferir sensibilidades com este álbum?

DON PINA: Já superei essa fase; é certo que com determinadas pessoas evito discutir determinados temas, mas como com o álbum não procuro impor nada a ninguém, apenas manifestar a minha opinião, e além disso quem for atrás do álbum vai fazê-lo porque quer, logo não, não me preocupo muito com a sensibilidade dos outros, principalmente porque não são dogmas as coisas que digo.

o fim do mundo


MdP: Mas por que escolheste o tríptico deus, dinheiro e o povo para este álbum? Praticamente 80% do álbum se trata disso.

DON PINA: Bom, desconfio que até os meus próximos trabalhos vão tratar do mesmo assunto. Pois, por enquanto, até onde consigo ver, o verdadeiro problema é o poder, que é personalizado pelo dinheiro, e criou-se diversos mecanismos para não se perder o poder, e a religião é a principal, porque mesmo sociedade que não usam dinheiro, por exemplo, as índias, usam a religião para manter o poder, de maneira que a religião e o dinheiro acabam por ser apenas meios. E tudo isso afecta principalmente o povo, por ser quem  sustenta o mito e quem mais sofre as consequências. E, ao contrário de ti que escreves e podes dissertar sobre um tema o quanto quiseres, eu só tenho um limite de 48 versos para sintetizar o que digo, e desse modo fica sempre muito por dizer. Além disso, sempre depois ao pensar sobre um assunto, descubro uma nova forma de abordagem sobre ele que me tinha escapado, de maneira que acabo sempre a voltar a ele. Em resumo: a mesma situação pode criar diferentes respostas, e, tal como na matemática, diferentes abordagens podem levar a mesma solução. Eu tento é não deixar de abordar os problemas, mesmo que no final não consiga chegar a solução.

quero voar daqui


MdP: Para quando o próximo álbum?

DON PINA: Neste Maio vou lançar a Visão Holística! Lancei antes uns EPs para servir de introdução. O novo álbum vai apresentar uma forma mais madura de abordagem e raciocínio. Pode-se dizer que é uma continuação da Revolução Mental, e se aqui eu manifestei a revolução que aconteceu em mim e comigo, já no próximo álbum, Efeito Dominó, quero mostrar mesmo isso. 

Portugal Hoje

downloads:
DON PINA - REVOLUÇÃO MENTAL (2010)
DON PINA - CAUSA JUSTA (EP 2012)



bónus
relatório (max poss ft patche di rima & don pina)

6 de maio de 2012

TRIPPING THE RIFT: THE MOVIE, 2009


Sempre que num título aparecer “The Movie”, não tenhas dúvida, ela é proveniente de alguma obra de um outro campo artístico, usualmente a nona arte ou a televisão, porque filmes baseados em livros (literatura, digamos assim) não trazem essa indicação.

Com isso quero dizer que Tripping… é uma série de televisão que, por acaso, nunca vi, mas pelo que vi no filme suponho ser ácido e satírico, um cruzamento bastardo de Futurama e South Park, mas que, no meu entender, só se limita a bulir com os famosos e não faz realmente uma crítica social, como o último, pelo menos no filme.

Tripping… não tem propriamente um argumento, é um conjunto de Sketches colados uns aos outros por uma desculpa cómica que pretende ser o argumento, que é a história do Arnie-1000, um palhaço robot que volta no tempo para matar Chode (o capitão da nave, que tem uma característica antagónica de todos os grandes capitães de ficção científica, por ser feio, porco e mau) com direito ao sotaque de Arnie e tudo, até algumas linhas como o famoso “I’ll be back!”. Pelo filme faz-se uma visita a Transilvânia, a terra do Conde Drácula, anda-se pelo Frankeinstein, pela Ilha de Tesouro, pela Donas de Casa Aborrecidas, quer dizer, Desesperadas, e provavelmente por algum outro filme ou série não alcançado pelos meus limites.

trailer

Tripping... leva-nos a viajar com estes personagens crus e egoístas, mas que prezam a amizade que sentem um pelo outro. As características físicas dos personagens reflectem o seu lado psicológico também, mas isso pouco importa. Da tripulação fazem parte, Chode, o capitão sacana; Gus, o robot gay; Whip, um camaleão preguiçoso; T'nuk Layor (royal kunt), uma minotaura invertida; Six, uma cyborg programada para sexo; e Bob, o computador que controla a nave e é agoráfobo. São estes que tripulam o Júpiter 42 e proporcionam-nos momentos de riso, principalmente pelo politicamente incorrecto.

O filme é bem cómico, não para ver com as crianças devido ao seu tema sem nenhum propósito moral e à sua linguagem e cariz sexual, mas acho que serve para passar uns bons minutos, mesmo que seja só para ouvir a imitação do sotaque do Arnie, pois não é nada de imperdível.

3 de maio de 2012

KANA SEKU KA TA DOBRADU - cronices crónicas

Alguns dos termos mais recorrentes nos discursos de quaisquer políticos, e também de comentaristas, jornalistas e críticos sociais: mudança de mentalidade, engajar para a mudança, encarar a responsabilidade (?), essas geralmente são as condições sine qua non que se apresentam para acontecer o desenvolvimento sustentável (termo emprestado de políticos europeus cujo significado parece que nem mesmo muitos deles entendem).

Simplifica-se assim os problemas do país nesta solução: mudar a mentalidade, o que só se pode conseguir pelo engajamento, porque hoje há a globalização e todos são responsáveis, devendo acompanhá-la para presidir a um desenvolvimento sustentável. Bonitas palavras para formar um conjunto, entretanto de tão batidas soam a oco, acabando por erroneamente parecer sem alma. A culpa não está, no entanto, no conjunto, mas naqueles que o entoam. Adolf Hitler já dizia: não tomem o povo por mais estúpido do que é. Acreditam mesmo que acreditamos que repetir esta novena vai mudar o país?

Eu concordo que seja necessário mudar a mentalidade, aliás, o passo mais básico de qualquer mudança passa por aí, mas não é falando constantemente disso que ela vai acontecer. Se se quer mudar a mentalidade tem de se apresentar alternativas ou indicações para o que se vai mudar, não é só falar e esperar que a mentalidade mude por si só.

Sociólogos competentes poderiam apresentar listas de plausíveis soluções para essas mudanças se as mentalidades dos governantes fossem bastante mudadas para pedir um estudo especializado, mas está-se muito mais ocupado a falar de mudanças do que a agir nesse sentido.

Não sou sociólogo, mas acredito ser competente, significando que pelo menos metade das propostas que vou apresentar poderá ser correcta. Porém, não se espere que em apenas uma página apresente infalíveis soluções para décadas de problemas, pelo que vou passo a passo apontar o dedo para os problemas.

Para começar, vou falar de um ponto.



KANA SEKU KA TA DOBRADU - Os Nossos Contos

A nossa corrupção mental começa no berço, ou então (para os que acharem isto muito precoce), na infância. Somo aleitados com contos maliciosos, sem propósitos morais, com a única finalidade de mostrar que o mundo é corrupto e vil e a melhor forma de sobressair é meter os outros em alhadas, mesmo que não venham daí nenhuns benefícios. (Encontram-se, é certo, contos excepcionais, que vêm imbuídos de moral, mas quantificando os nossos contos, vê-se que são poucos, quase inexistentes, sem dizer que não são populares).

O maior herói dos contos infantis é o Djon Bulidur. Características: é tão malcriado e desordeiro que até chega a percorrer o mundo todo à procura de quem é melhor que ele nessa arte (ou devia ter dito pior?), entretanto apresenta ares de um menino adorável, visto que conquista sempre a simpatia e a confiança daqueles com quem contacta. Os seus grandes feitos, entre outros, foram: matar uma criança e dá-la de comer a um pássaro (quando a ordem era para fazer o contrário), queimar a casa de uns casal de velhinhos que o abrigaram, partir as asas de um pássaro que lhe deu boleia, queimar os testículos de um benfeitor seu e levá-lo a matar o próprio filho quando este tentou vingar-se dele.

Tem outra versão de Djon Bulidur, sendo que para este o apelido bulidur não significa necessariamente brigão, agitador e desordeiro (bully), mas esperto e desembaraçado, todavia duvido que este seja o mesmo Djon que o primeiro, porquanto este é correcto, íntegro e inteligente, caçula de um par de gémeos, Pedro e Paulo (dois irmãos semi-estúpidos), e aquele é filho único (não sei precisar se órfão ou se fugido de casa).

Entretanto, a contraparte de Djon Bulidur, o malcriado, nas fábulas, é a Lebre. Uma criatura maliciosa e odiosa com que todos simpatizam porque, supostamente, é inteligente e sabe safar-se, perdendo apenas pela Tchoca (a perdiz). A Lebre engana o pobre tapado do Lobo, leva-o a sofrer inúmeras provações, inclusive enganou a própria Morte fazendo-lhe cobrar ao Lobo, tudo isso para mostrar o quanto é esperta e inteligente, quando na verdade é apenas má e o pobre Lobo é que é crédulo. E ao Lobo, cujas características principais são a estupidez e a gulodice, nunca correm bem as coisas, acaba sempre tramado e gostamos quando isso acontece porque ele é tolo e fraco, ou pelo menos assim o pintam.

A diferença entre os nossos contos e os contos europeus encontra-se fundamentalmente no facto de estes tentarem atribuir alguma moral à história, moldando o espírito das crianças desde cedo para o correcto, enquanto os nossos parecem mostrar apenas a mesma coisa: tramar os outros. Até que podia ser legítimo o ensino se fosse: tramar para não ser tramado – remetendo ao Bugs Bunny, - ou esteja atento aos tramadores para inverter o jogo – Tom & Jerry - mas infelizmente é: tramar apenas por tramar – Itchy & Scratchy d’Os Simpsons.

É possível alegar que os contos não espelham o espírito de um povo e, sendo assim, não tem fundamento o que aqui digo, assim como é possível dizer que os filhos não tendem a seguir a religião dos pais ou a adorar a sua equipa de futebol. Mas, na verdade, como diz uma publicidade da Rádio Clube Português: o que pensa começa no que ouve, as crianças são recipientes ou massas moldáveis cujas prováveis formas finais são aquelas que lhes damos nessa altura. Aliás, como diz Kant: A imensa maioria da humanidade considera a passagem à maioridade difícil e além do mais perigosa, porque aqueles tutores de bom grado tomaram a seu cargo a supervisão dela, ou mesmo até os adultos deixam-se guiar porque não querem a responsabilidade de pensar por si.

Agora, confrontando os nossos contos com a situação do nosso país e com a forma de agir dos que estão à cabeça do país e dos que se esforçam para lá chegar não será muito difícil estabelecer pontes alegóricas. Ou seja, um bom exercício era trocar as personagens dos contos pelas identidades públicas, ou mesmo por algum vizinho com quem não nos damos bem, ou usar essas personagens na situação real... e perceber-se-á como esta minha observação é justificável. Daí passo para a pergunta: por que não contamos outras histórias às nossas crianças?




Artigo publicado em 2010, no Jornal Kansaré.